D DESTAQUE CONTAS PÚBLICAS Gastos com pessoal engordam com novas entidades no défice Contas públicas As novas regras europeias obrigaram a incluir no défice 268 novas entidades. As despesas com pessoal sobem, alterando a percepção sobre o impacto dos cortes salariais. Pág: 6 Área: 23,00 x 27,40 cm² Corte: 1 de 5 ALGUNS EXEMPLOS DE ENTIDADES Marta Moitinho Oliveira e Margarida Peixoto marta.oliveira@economico.pt As despesas com pessoal das Administrações Públicas vão aumentar no próximo ano devido ao alargamento do número de entidades que passaram a contar para o défice. Só em 2013, estes gastos cresceram 3,4 mil milhões de euros. O efeito é estatístico, mas altera a percepção sobre os impactos da política de contenção salarial praticada nos últimos anos pelo Governo. As novas regras do Sistema Europeu de Contas (SEC 2010) obrigaram a incluir 268 novas entidades nas Administrações Públicas, tornando o universo mais transparente. Isto significa que, no momento de calcular o défice, os resultados daquelas entidades passam a contar. Desta forma, as despesas com pessoal em contabilidade nacional passaram a integrar novos montantes de acordo com a lista actualizada de entidades que contam para o perímetro das contas públicas. O impacto desta alteração é já visível para os anos mais re- DESPESAS COM PESSOAL (EM % DO PIB) 15,0 13,5 12,0 10,5 9,0 1995 Fonte: INE centes. Por exemplo, em 2013, o ano para o qual há já dados fechados, a revisão no nível das despesas com pessoal foi de cerca de 3.400 milhões de euros entre a base anterior em SEC95 e os novos resultados em SEC2010, reflectindo o efeito da nova delimitação do sector institucional das Administrações O SEC 2010 veio mostrar uma realidade diferente: entre 1995 e 2013, o peso das despesas com pessoal no PIB passou de 12,5% para 12,4%, apesar dos cortes salariais aplicados aos funcionários públicos desde 2011. O peso das despesas com pessoal no PIB saltou de 10,7% para 12,4% devido às novas regras do sistema europeu de contas. SEC 2010 SEC 1995 2013 Públicas, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE) ao Diário Económico. Este acréscimo elevou o peso das despesas com pessoal no PIB de 10,7% para 12,4%. Comasregrasantigasafactura com o pessoal tinha baixado de 12,5% do PIB em 1995 para 10,7% do PIB em 2013 - uma tendência que era atribuída à redução do numero de trabalhadores e aos cortes salariais nos anos mais recentes. Já o SEC 2010 veio mostrar uma realidade diferente: entre 1995 e 2013, o peso das despesas com pessoal no PIB passou de 12,5% para 12,4%, apesar dos cortes salariais. Isto significa que a nova série não evidencia o impacto da redução remuneratória. Pedro Ramos, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, reconhece que com a inclusão de novas entidades o valor pago em despesas com pessoal registado em contas nacionais aumenta. No entanto, ressalva que uma despesa que era contabilizada de uma maneira passa a ser contabilizada de outra. E lembra que o agravamento das despesas com pessoal não significa um montante idêntico de aumento do défice. É que, as entidadesnaáreadasaúdeintegradas agora pela primeira vez - como os hospitais - já eram totalmente financiadas pelo Orçamento do Estado, mas a verba saía de outra rubrica e com esse montante eram pagos os salários. Noutras situações, em que o Orçamento do Estado financiava apenas uma parte daquela entidade, a diferença entre o orçamento total desse serviço e o que era pago pelo Orçamento afectará agora as contas públicas: se for défice, pesa nas contas, se for excedente, ajuda. PALAVRA-CHAVE O que é o SEC 2010? O novo Sistema Europeu de Contas entrou em vigor em Setembro e estabelece um conjunto de regras iguais para todos os países da União Europeia. Tratam-se de regras comuns sobre a contabilização das operações nas respectivas contas nacionais. A uniformização das regras permite a comparabilidade dos países. Uma das regras tem a ver com o registo da integração de fundos de pensões na esfera pública. Agora, os países não podem registar de uma só vez a receita, no ano da transferência, e passam a distribuí-la pelos anos em que têm despesa com os novos pensionistas.
Pág: 7 Área: 23,00 x 27,79 cm² Corte: 2 de 5 PONTOS CHAVE As despesas com pessoal das Administrações Públicas vão aumentar no próximo ano devido à inclusão de 268 novas entidades no perímetro do Estado, ou seja, passam a contar para o défice. Só em 2013, estes gastos cresceram 3,4 mil milhões de euros. Entre 1995 e 2013, o peso das despesas com pessoal no PIB passou de 12,5% para 12,4%, apesar dos cortes salariais aplicados aos funcionários públicos desde 2011. Com a entrada em vigor das novas regras a dívida pública portuguesa aumentou 35,5 mil milhões de euros. QUEPASSARAMPARAAORLADOESTADO Murad Sezer / Reuters Marcelo del Pozo / Reuters Finanças avaliam se todos os trabalhadores sofrem cortes São 268 as entidades reclassificadas de acordo com as novas regras de contabilidade europeia. Aqui ficam alguns exemplos como a Extra Explosivos da Trafaria; a EDIA Empresa de Desenvolvimento e Infra- -estruturas do Alqueva; a Anacom, Autoridade Nacional das Comunicações é um dos reguladores que só agora passa para o perímetro; a Fundação Centro Cultural de Belém ou ainda o Centro Hospitalar Lisboa Norte, vulgo Hospital de Santa Maria. Várias entidades que foram agora integradas já aplicavam cortes, mas outras não. Margarida Peixoto Marta Moitinho Oliveira margarida.peixoto@economico.pt O Ministério das Finanças está a estudar se os trabalhadores das 268 entidades que acabaram de ser integradas nas contas públicas são afectados pelos cortes salariais, apurou o Diário Económico. A lista completa das entidades que integraram o perímetro das Administrações Públicas só foi conhecida esta semana e nem os técnicos das Finanças sabem ainda todas as implicações desta alteração. A partir de Setembro, o número de entidades consideradas parte das Administrações Públicas aumentou. Isto quer dizer que todas as regras remuneratórias que foram criadas para o universo dos funcionários públicos passam a ser também aplicadas aos trabalhadores destas entidades? A resposta ainda não existe. Ao que o Diário Económico apurou, a questão já tinha sido detectada pelos técnicos das Finanças, mas está ainda a ser estudada em detalhe. Um dos focos de atenção está, neste momento, nos reguladores. Há casos que estão já hoje excepcionados, como por exemplo o Banco de Portugal, e que assim deverão continuar (porque está na alçada do Banco Central Europeu). Mas há reguladores que só agora passaram para o perímetro, como a Anacom. É preciso verificar, caso a caso, que normas já estavam a ser aplicadas. No caso da Anacom, fonte oficial disse ao Diário Económico que não muda nada na sua gestão, porque já estavam a ser aplicadas todas as regras da Função Pública, incluindo os cortes salariais. Mas há outros casos mais difíceis de resolver, como por exemplo o da FLAD - Fundação Luso- -Americana para o Desenvolvimento. Esta entidade entrou no perímetro das Administrações Públicas unicamente porque o seu conselho de administração é escolhido pelo Governo - é o critério do controlo político da instituição, que não existia nas anteriores regras de contabilização europeias (SEC95) e que foi criado no âmbito do Sistema Europeu de Contas 2010 (SEC2010). A FLAD é uma organização de direito privado que não recebe dinheiros públicos desde 1991 e cujos trabalhadores não são, por isso, funcionários públicos. Hoje, não estão sujeitos aos cortes salariais, apurou o Diário Económico. Contudo, a dúvida já foi levantada na própria organização. Contactado pelo Diário Económico, o responsável pelas relações institucionais da organização, Bruno Ventura, diz apenas que a FLAD está a apreciar o impacto que pode ter dentro da Fundação. A lei de redução remuneratória na Função Pública que está em vigor desde 13 de Setembro (e que recupera os cortes da era de Sócrates, que se aplicam a salários superiores a 1.500 euros) abrange as fundações públicas de direito público e privado. Ao que o Económico apurou, a nível técnico considera-se que o mais plausível é manter a norma tal como está e fazer os ajustamentos que se considerem necessários no âmbito da discussão do Orçamento do Estado do próximo ano, no Parlamento. CORTES SALARIAIS 1.500 euros Este é o valor a partir do qual são aplicados cortes salariais aos funcionários públicos. A taxa varia entre 3% e 10%. REVERSÃO 20% No próximo ano os cortes serão revertidosem20%paratodosos funcionários públicos abrangidos pelas reduções remuneratórias.
D DESTAQUE CONTAS PÚBLICAS Pág: 8 Área: 23,00 x 27,79 cm² Corte: 3 de 5 Paulo Alexandre Coelho DÉFICE AGRAVADO Para este ano o défice deverá atingir os 4,8% do PIB e a dívida os 127,8%. 12 Défice Dívida 150 10 8 6 120 4 2 0 2010 Fonte: INE 90 2011 2012* 2013 2014* * Previsão Ministério das Finanças O Governo chegou a temer que a dívida da CP fosse integrada nas contas deste ano. Afinal, entrou em 2010. Novas regras prejudicam dívida no passado e suavizam impacto em 2014 Contabilidade O ano em que se verificou o maior aumento foi em 2010 com a inclusão da CP na dívida pública. Margarida Peixoto e Marta Moitinho Oliveira margarida.peixoto@economico.pt Com a entrada em vigor das novas regras de contabilidade da Europa, a dívida pública portuguesa acabou por ser prejudicada no passado, suavizando o efeito no rácio da dívida face ao PIB deste ano. 2010, com a inclusão da CP nas contas, foi o ano em que o efeito foi mais negativo. Este ano, o rácio até desceu. A partir do momento em que o Sistema Europeu de Contas 2010 (SEC 2010) chegou ao terreno houve 268 entidades que passaram a fazer parte do perímetro das Administrações Públicas. A dívida de cada uma destas entidades passou a ser classificada como dívida pública, fazendo crescer o valor que é agora reportado como sendo responsabilidade da República portuguesa. Em 2014, o efeito das novas regras acabou por não ser negativo: o Ministério das Finanças reviu em baixa a estimativa para o final deste ano. Em Agosto esperava uma dívida pública de 130,9% do PIB, segundo as regras antigas (o SEC95), já em Setembro enviou um número mais pequeno ao Instituto Nacional de Estatística (INE): 127,8% do PIB. A perspectiva chegou a ser mais negativa quando o Governo ainda temia que a CP fosse IMPACTODOSEC2010 classificada nas contas deste ano. Afinal, foi incluída nas contas em 2010-e a dívida desse ano disparou 11.047 milhões de euros com o seu contributo. O INE adianta que, neste caso concreto, o que esteve em causa foi o critério de mercantilidade. Com as regras antigas, se as receitas da entidade sob avaliação cobrissem 50% dos custos, excluindo os gastos com juros, esta ficava fora do perímetro. Agora os gastos com juros também contam no bolo dos custos, tornando o critério mais exigente. Da inclusão da dívida da CP e A introdução das novas regras fez subir o valor da dívida pública. 2010 2011 2012 2013 Impacto do SEC 2010 11.047 10.935 7.421 6.077 Dívida pública 173.063 195.690 211.784 219.225 Valores em milhões de euros Fonte: INE de outras empresas resultam dois efeitos: por um lado, o valor torna-se mais fidedigno do peso do endividamento que os contribuintes, de uma forma ou de outra, têm de suportar. Aliás, para contabilizar este aumento de transparência faltaria somar a dívida que foi incluída por causa de empresas que entraram nos últimos anos nas contas (como foi o caso do Metro de Lisboa e de quase todas as empresas de transporte) mas cujo motivo não teve que ver com a revisão da metodologia. Mas por outro lado, estas alterações de perímetro das Administrações Públicas tornam difícil de avaliar a dinâmica da dívida que resulta das opções recentes do Governo - até porque o valor do impacto isolado da introdução do SEC 2010 no número da dívida deste ano não foi ainda revelado pelo Governo. MERCADOS Indiferentes às novas regras Os mercados não reagiram à revisão da série do défice e da dívida provocada pela alteração das regras europeias de contas nacionais. Os investidores estão, neste momento, mais concentrados nas decisões do Banco Central Europeu (ver págs. 10 e 11), que acabou de apresentar um conjunto de medidas de combate à deflação e para recuperar a economia da zona euro. Além disso, os analistas sabem que esta é uma alteração estatística, que afectou todos os países da União Europeia.
Pág: 9 Área: 5,39 x 27,98 cm² Corte: 4 de 5 OS CRITÉRIOS DO SEC2010 1. Vendas abaixo dos custos de produção As entidades que apresentam um valor de vendas 50% abaixo dos custos de produção são incluídas no défice. A regra já existia na versão do SEC95, mas foi apurada comosec2010.osjurospagos passaram a contar para o cálculo dos custos de produção. Foi por este motivo que a CP foi integrada. 2. Procura assegurada pelas Administrações Públicas As entidades cuja produção é vendida às Administrações Públicas, ou cujos preços são impostos pelas Administrações Públicas, contam para o défice. Quando os preços não são economicamente significativos acontece o mesmo. Daí a inclusão dos Hospitais EPE. 3. Quando o controlo é exercido pela Administração Pública Se uma holding pública actua como agente das Administrações Públicas para fins de políticas públicas como, por exemplo, para a distribuição de verbas então deve ser incluída nas contas públicas. Este foi o caso da Parpública e da FLAD, onde o conselho de administração é escolhido pelo Governo. 4. Pequenas holdins sem actividade de gestão corrente As holdings detidas por entidades públicas com um reduzido número de pessoas ao serviço e que não tenham actividades de gestão corrente das subsidiárias são integradas nas contas públicas. É o caso dos Fundos de Garantia de Depósitos controlados pelas AP e sem autonomia de decisão. 5. Reguladores de mercados que aplicam taxas As unidades que cobram taxas que podem ser consideradas como imposto, não podem contar comasmesmasparaocálculo das receitas. Desta forma a maioria dos reguladores de mercado passa a estar integrada, com a excepção dos reguladores financeiros. É o caso da Anacom.
Pág: 1 ID: 55989883 03-10-2014 Área: 23,00 x 4,49 cm² Corte: 5 de 5 Pessoal custa mais 3,4 mil milhões com novas empresas no Estado As novas regras europeias obrigaram o Estado a incluir 268 novas entidades no défice e isso significa um agravamento das despesas com pessoal da ordem dos 3,4 mil milhões de euros. As finanças avaliam agora se alargam os cortes salariais a estas empresas e entidades públicas.