GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO

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Transcrição:

CAPÍTULO 2 GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO Jorge Abrahão de Castro Fábio Monteiro Vaz 1 INTRODUÇÃO A discussão a respeito do gasto com educação tem a ver com a verificação da importância, da magnitude e da sensibilidade política, econômica e social dos dispêndios monetários e não-monetários que viabilizam a provisão e a produção de bens e serviços educacionais à população, e que são realizados por diversos entes dos setores público e privado. A parte relativa ao setor privado compreende os gastos das famílias e indivíduos, associações, empresas privadas e entidades privadas sem fins lucrativos Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai), Serviço Nacional de Aprendizado Comercial (Senac), sindicatos, igrejas, clubes etc. No caso do setor privado, a percepção de sua importância e magnitude encontra sérios problemas sobretudo por causa da insuficiência de dados e da complexidade das informações, dada a forma descentralizada com que os gastos são realizados. No entanto, uma parte dessa insuficiência já pode ser sanada, pois, para o caso dos gastos das famílias a partir das informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, principalmente, a partir da última, que abrange todas as unidades da federação (UFs), será possível oferecer uma dinâmica e um perfil dos gastos para todas as famílias brasileiras. O objetivo deste trabalho, portanto, é investigar, ainda que de forma descritiva, a magnitude, a estrutura, a sensibilidade e a evolução dos gastos familiares que dão suporte à demanda por bens e serviços na área de educação, tomando como base a dinâmica temporal, as mudanças na renda, as características dos chefes e a localização geográfica da família. Especificamente, pretende-se avaliar a dimensão e a evolução dos gastos familiares com bens e serviços; estimar a distribuição dos gastos das famílias em cada uma das regiões metropolitanas (RMs), 08_Cap02.pmd 77

78 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ rurais e urbanas; analisar a estrutura dos gastos das famílias por tipo de bem ou serviço consumido; investigar a relação entre a demanda por bens e serviços e a renda familiar per capita; verificar como o volume de cada tipo de gasto e sua composição variam com as condições socioeconômicas das famílias; e investigar como a importância da composição dos gastos em cada área varia regionalmente. Para tanto, na primeira parte, apresentam-se alguns aspectos metodológicos necessários ao desenvolvimento do trabalho. Na segunda, analisa-se a evolução das despesas com educação nas nove principais RMs do país, mais Brasília e o município de Goiânia, destacando-se e explicando-se as mudanças na composição desses gastos e suas possíveis conseqüências para a desigualdade das despesas com educação. Na terceira, utilizam-se as informações da POF de 2002-2003 para analisar tanto a composição quanto a desigualdade nos gastos com educação para todo o país e a partir de recortes socioeconômicos e regionais. O trabalho faz também um breve estudo do impacto do setor público na provisão de serviços educacionais sobre a estrutura de despesas com educação das famílias. 2 ASPECTOS METODOLÓGICOS 2.1 Definições Antes de iniciar a análise, convém delinear melhor o que estamos considerando como despesas com educação das famílias. Segundo o IBGE, 1 constituem despesas com educação: Despesas efetuadas com mensalidades e outras despesas escolares com cursos regulares (pré-escolar, fundamental e médio), curso superior de graduação, outros cursos (curso supletivo, informática, cursos de idioma e outros), livros didáticos e revistas técnicas, artigos escolares (mochila escolar, merendeira etc.) (...) despesas com uniforme escolar, matrícula e outras despesas com educação. De acordo com essa definição, as despesas com educação incluem não somente os gastos com matrículas e mensalidades em cursos privados, mas também gastos de papelaria e outros tipos de despesas relacionadas à freqüência escolar, como livros didáticos e artigos escolares. Dessa forma, mesmo em famílias nas quais todos os membros que freqüentam escola estão no ensino público, é possível observar um certo nível de gastos com educação por causa dessas outras despesas não relativas a mensalidades escolares. 1. IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003: primeiros resultados. Rio de Janeiro: IBGE, 2004, p. 29. 08_Cap02.pmd 78

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 79 2.2 Compatibilização das informações das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003 Ao longo de suas três edições, a POF passou por diversas mudanças na forma de classificar e medir as despesas das famílias e na abrangência geográfica das informações. Enquanto as pesquisas de 1987-1988 e 1995-1996 foram realizadas apenas nas nove principais RMs do país, mais os municípios de Brasília e Goiânia, a pesquisa de 2002-2003 teve abrangência nacional, envolvendo inclusive domicílios nas áreas rurais. No que se refere à forma de mensuração das despesas, as pesquisas de 1987-1988 e 1995-1996 coletaram dados apenas das despesas monetárias das famílias, enquanto a pesquisa de 2002-2003 incluiu também formas não-monetárias de aquisição de mercadorias. Além disso, na última pesquisa, estimou-se um valor de aluguel daquelas famílias que moravam em domicílios próprios ou cedidos, e incorporou-se esse valor tanto nos rendimentos quanto nas despesas familiares. Não bastassem todas as referidas mudanças, houve também alterações na forma de classificação das despesas das famílias. As despesas referentes às contribuições previdenciárias dos trabalhadores domésticos, que nas duas primeiras edições da pesquisa eram contabilizadas no item manutenção do lar, do grupo de despesas com habitação, passaram, na POF de 2002-2003, para o item de contribuições trabalhistas, do grupo de outras despesas correntes. No caso das despesas relativas à aquisição de veículos, enquanto eram contabilizadas no item de aumento de ativo nas pesquisas de 1987-1988 e 1995-1996 (e, portanto, fora do cálculo das despesas correntes), na POF de 2002-2003 elas passaram a ser contabilizadas no grupo de despesas com transporte (e, assim, incluídas no cálculo das despesas correntes). Dessa forma, qualquer análise comparativa entre as três edições da POF sem os devidos ajustes seria enganosa, pois estaria comparando informações completamente diferentes. Para resolver o problema, adotou-se neste trabalho uma série de compatibilizações das informações da POF nas suas três edições. Deve-se frisar que tais compatibilizações foram utilizadas apenas para gerar as informações da seção 3 deste trabalho. A análise feita na seção 4 para a POF de 2002-2003 preservou a estrutura original da pesquisa do IBGE, tanto no que se refere à sua extensão geográfica quanto em relação à sua forma de medir e classificar as despesas familiares. As informações apresentadas na seção 3 e aquelas apresentadas na seção 4, portanto, não são diretamente comparáveis. 08_Cap02.pmd 79

80 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ As compatibilizações efetuadas na POF para a geração das informações da seção 3 foram as seguintes: a) Na POF de 2002-2003, que tem abrangência nacional, foram selecionadas apenas as unidades de consumo (famílias) que estavam nas áreas geográficas cobertas pelas edições anteriores da pesquisa; a saber, as nove principais RMs mais Brasília e o município de Goiânia. Com isso, analisaram-se as informações de 13.707 famílias em 1987-1988, 16.060 famílias em 1995-1996 e 7.245 famílias em 2002-2003. b) Na POF de 2002-2003 excluíram-se tanto das despesas quanto dos rendimentos familiares as despesas/rendimentos adquiridos de forma não-monetária pelas famílias. Isso foi feito também para o aluguel estimado dos domicílios próprios ou cedidos, cujo valor deixou de contar como rendimento e como despesa com habitação para as famílias. c) As despesas das POFs de 1987-1988 e 1995-1996 referentes às contribuições previdenciárias dos trabalhadores domésticos, antes contabilizadas no grupo de despesas com habitação, passaram a seguir a classificação dada pela POF de 2002-2003 e foram colocadas no item de contribuições trabalhistas, do grupo de outras despesas correntes. d) Por fim, as despesas correspondentes à aquisição de veículos, que na POF de 2002-2003 foram contabilizadas no grupo de transportes, passaram a seguir a classificação utilizada nas duas primeiras edições da pesquisa, e foram deslocadas para fora das despesas correntes, dentro do grupo de despesas com aumento de ativo. 2.3 Classificação das despesas com educação Ao longo do trabalho utilizou-se uma decomposição própria das despesas com educação diferente daquela sugerida pelo plano tabular do IBGE. O principal motivo para essa opção é que a classificação sugerida pelo IBGE decompõe as despesas com educação em poucos itens. Ela não separa os gastos com cursos regulares por nível de ensino (ensino fundamental, médio etc.) e junta todos os cursos não-regulares (cursos de idiomas, esporte e lazer, pós-graduação etc.) num balaio só. Embora se tenha elaborado uma decomposição das despesas com educação mais desagregada a partir dos itens de despesas da POF de 2002-2003 (ver Classificação II no anexo), a análise comparativa com as POFs anteriores exigiu o agrupamento de algumas informações para a criação de uma outra classificação das despesas com educação (ver Classificação I no anexo). Isso foi necessário porque, embora a POF de 2002-2003 tenha contado com 216 itens de despesas com 08_Cap02.pmd 80

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 81 educação, as POFs de 1995-1996 e 1987-1988 contaram com apenas 58 e 38 itens respectivamente. Só para dar um exemplo, enquanto na POF de 1987-1988 existia apenas um item para indicar os gastos com cursos regulares, na POF de 2002-2003 havia sete itens para indicar esses mesmos gastos, o que permitiu a identificação daqueles que foram destinados ao ensino fundamental, ao ensino médio, ao ensino superior e ao ensino pré-escolar. 3 EVOLUÇÃO DO GASTO DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO: COMPARAÇÕES ENTRE AS POFs DE 1987-1988, 1995-1996 E 2002-2003 Nesta seção faremos uma análise da evolução dos gastos com educação a partir das informações coletadas nas três edições da POF. Para isso, evitou-se a utilização de valores monetários nas comparações das despesas familiares entre as pesquisas, por causa da fragilidade dos métodos de atualização do valor real de tais despesas. A série histórica do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) (índice considerado adequado para o deflacionamento das despesas da POF) com desagrupamento para itens e subitens de despesas inicia-se apenas em julho de 1989, sendo posterior, portanto, à primeira edição da POF. Assim, a análise desta seção priorizou a comparação da participação das despesas com educação em relação às despesas correntes, uma vez que esse tipo de análise foge de qualquer comparação monetária de gastos entre as edições da POF. Nas tabelas referentes à desigualdade dos gastos com educação, utilizou-se o ordenamento das famílias segundo o seu nível de rendimento familiar per capita, isto é, da renda da família dividida pelo número de membros. 3.1 Evolução geral do gasto das famílias com educação Como mostra a tabela 1, os gastos das famílias com educação aumentaram sua participação no total das despesas correntes entre 1987-1988 e 2002-2003. Enquanto em 1987-1988 representavam cerca de 3,2% das despesas correntes, em 2002-2003 eles passaram a equivaler a 5,5% dessas despesas. Tal resultado foi bastante significativo, uma vez que as despesas com educação constituíram o grupo que registrou o maior aumento de participação entre 1987-1988 e 2002-2003, seguido das outras despesas correntes (que compreendem principalmente despesas com impostos, contribuições trabalhistas, serviços bancários etc.), habitação, higiene e saúde. Parte desse crescimento só foi possível por causa da menor participação dos gastos com alimentação e vestuário nas despesas correntes das famílias. Os gastos com alimentação, que representavam cerca de 22,2% das despesas correntes em 1987-1988, caíram para 18,7% em 2002-2003, ao 08_Cap02.pmd 81

82 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ TABELA 1 Composição da despesa corrente familiar (Em % das despesas correntes) Itens de despesas 1987-1988 (a) 1995-1996 (b) 2002-2003 (c) (b-a)/a (c-b)/b (c-a)/a Despesas correntes 100,00 100,00 100,00 0,00 0,00 0,00 Alimentação 22,16 20,45 18,70 0,08 0,09 0,16 Habitação 18,55 25,12 23,44 0,35 0,07 0,26 Vestuário 11,29 5,78 5,06 0,49 0,13 0,55 Transporte 13,08 12,07 13,12 0,08 0,09 0,00 Higiene 1,67 1,66 2,05 0,00 0,23 0,23 Saúde 6,29 8,00 6,91 0,27 0,14 0,10 Educação 3,16 4,26 5,50 0,35 0,29 0,74 Cultura 3,76 3,09 3,02 0,18 0,02 0,20 Fumo 1,32 1,23 0,67 0,07 0,46 0,49 Serviços pessoais 1,36 1,43 1,19 0,05 0,17 0,13 Despesas diversas 4,73 4,32 3,09 0,09 0,28 0,35 Outras despesas correntes 12,62 12,58 17,24 0,00 0,37 0,37 Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. passo que a participação dos gastos com vestuário diminuiu de 11,3% em 1987-1988 para 5,0% em 2002-2003. Apesar de o gasto com educação ter se expandido e se aproximado dos gastos com saúde, a sua participação na despesa familiar continuou bem inferior à participação dos gastos com habitação, alimentação e transporte. Essa relativa baixa participação dos gastos com educação na estrutura de despesa familiar pode ser atribuída à forte participação do setor público na provisão dos serviços de educação. Os serviços públicos, por serem gratuitos, têm impacto significativo nas cestas de consumo das famílias, mas impacto limitado nos seus gastos monetários. Um aumento na provisão de serviços públicos de educação só tem impacto na estrutura de gastos das famílias em função da demanda por gastos em bens complementares, como, por exemplo, o aumento de gastos com materiais didáticos e escolares e outros gastos relacionados. A tabela 2 mostra que, em paralelo ao crescimento dos gastos com educação na estrutura de despesa familiar, houve também um aumento da participação dos 08_Cap02.pmd 82

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 83 TABELA 2 Composição das despesas com educação (Em % das despesas com educação) Itens de despesas 1987-1988 (a) 1995-1996 (b) 2002-2003 (c) (b-a)/a (c-b)/b (c-a)/a Educação 100,00 100,00 100,00 0,00 0,00 0,00 Cursos regulares 44,80 64,27 66,47 0,43 0,03 0,48 Outros cursos 16,14 17,06 20,17 0,06 0,18 0,25 Livros didáticos e revistas técnicas 8,51 3,72 3,39 0,56 0,09 0,60 Artigos escolares 15,52 8,79 4,85 0,43 0,45 0,69 Taxas e contribuições 1,67 0,83 0,56 0,50 0,32 0,66 Outros gastos 13,36 5,34 4,55 0,60 0,15 0,66 Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. gastos com cursos regulares (cursos pré-escolares e cursos regulares dos ensinos fundamental, médio e superior) e outros cursos nas despesas com educação das famílias. Os gastos com cursos regulares, que representavam 44,8% das despesas com educação em 1987-1988, passaram a responder por 66,5% dessas despesas em 2002-2003. Se pensarmos que o aumento dos gastos com cursos regulares está relacionado à expansão dos serviços privados de educação, então o crescimento dos gastos com educação dentro da estrutura de despesa familiar que se observa entre 1987-1988 e 2002-2003 possivelmente tem relação com a expansão do ensino superior privado observada nesse período. O gráfico 1 ilustra melhor essa afirmação. Nele percebe-se que, enquanto o número de matrículas no ensino superior público cresceu 79,8% entre 1987 e 2002, o total de matrículas no ensino superior privado mais do que dobrou no período (crescimento de 174,2%). Com isso, as matrículas do ensino superior privado representaram em 2002 quase 70% das matrículas do ano. O mesmo fenômeno, por outro lado, não foi verificado nos ensinos fundamental e médio. No ensino fundamental a participação das escolas privadas no total de matrículas caiu de 12,2% em 1991 para 9,2% em 2002 (inclusive com queda no número absoluto de matrículas), e no ensino médio a participação dessas escolas no total de matrículas declinou de 27,0% 2 em 1991 para 12,9% em 2002. Se a expansão das matrículas no ensino superior privado foi um fator importante para determinar o crescimento dos gastos familiares com educação entre 1987-1988 e 2002-2003, ela não foi suficiente, em contrapartida, para explicar o 2. MEC/Inep. Dados disponíveis em http://www.inep.gov.br 08_Cap02.pmd 83

84 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ GRÁFICO 1 Evolução da matrícula no ensino superior por dependência administrativa 2.428.258 584.965 885.590 1987 700.540 1.059.163 1.051.665 1987 1995 2002 Fonte: MEC/Inep. Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. Pública Privada aumento desses gastos entre 1987-1988 e 1995-1996. Isso porque o processo de expansão acelerado das matrículas no ensino superior privado ocorre apenas a partir de 1997; portanto, depois da pesquisa realizada no biênio 1995-1996. Em 1995, assim como em 1987, o ensino superior privado era responsável por pouco mais de 60% das matrículas do ensino superior. Se não houve grande expansão do ensino privado entre 1987 e 1995, o que poderia explicar o crescimento observado nos gastos com educação entre esses dois anos? Uma razão possível pode ser encontrada no gráfico 2. Tomando-se a evolução dos preços relativos com educação a partir do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) (índice de preços da educação dividido pelo índice geral de preços) e a evolução dos preços GRÁFICO 2 Evolução dos preços relativos com educação e cursos regulares (Base = janeiro de 1990) 300 250 200 150 100 50 0 jan/87 jan/88 jan/89 Fontes: IBGE/SNIPC e Fipe. jan/90 jan/91 jan/92 jan/93 jan/94 jan/95 jan/96 jan/97 jan/98 jan/99 jan/00 jan/01 jan/02 jan/03 IPC-Fipe educação jan/04 jan/05 jan/06 IPCA cursos 08_Cap02.pmd 84

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 85 relativos com cursos regulares a partir do IPCA, percebe-se que os preços relacionados à educação e aos cursos regulares cresceram bem mais que a inflação entre 1987 e 1996. Dessa forma, é possível concluir que o crescimento das despesas com educação das famílias entre 1987-1988 e 2002-2003 foi provocado por dois fatores: primeiro, o aumento dos preços relativos com educação observado no período, em especial os das mensalidades escolares em todos os níveis de ensino, que contribuiu para o aumento das despesas com educação entre 1987-1988 e 1995-1996; e segundo, a expansão do ensino superior privado, que se desenvolveu com maior intensidade a partir de 1997 e que concorreu para o aumento das despesas com educação entre 1995-1996 e 2002-2003. 3.2 Mudanças na desigualdade do gasto familiar O gráfico 3 mostra como evoluiu a participação dos gastos com educação nas famílias localizadas em diferentes décimos da distribuição de renda da sociedade, e fornece duas informações importantes: uma relativa às diferenças nos gastos com educação entre famílias situadas em diferentes locais da distribuição de renda e outra relativa às mudanças ocorridas nos gastos com educação ao longo do tempo. No que se refere à primeira informação, é possível notar que a participação dos gastos com educação nas despesas correntes é maior para as famílias com renda familiar per capita mais alta, com exceção daquelas situadas no último décimo da distribuição de renda. Para as famílias desse último décimo, a participação dos gastos com educação cai em relação às famílias situadas no décimo imediatamente anterior. Em 1987-1988, por exemplo, os gastos com educação enquanto proporção GRÁFICO 3 Evolução das despesas com educação por décimos de renda familiar per capita (Em % das despesas correntes) 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1-1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. 1987-1988 1995-1996 2002-2003 08_Cap02.pmd 85

86 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ das despesas correntes das famílias situadas no último décimo eram similares àqueles observados nas famílias situadas no 6º décimo da distribuição de renda. Tal comportamento peculiar pode ser explicado pelo fato de que, por serem tão mais ricas, o volume de despesas correntes dessas famílias ultrapassa em muito as suas necessidades de despesas com educação. Em 2002-2003, por exemplo, enquanto o volume de despesas correntes das famílias situadas no último décimo era 63% superior ao das famílias situadas no décimo anterior, o volume de gastos com educação era apenas 12% superior. Outra explicação para o fato de o percentual de gastos com educação do décimo superior ser inferior ao do 9º décimo pode ser encontrada na composição demográfica dessas famílias. No Brasil, famílias mais velhas têm renda superior à das famílias mais jovens. Como é nas famílias mais jovens que se concentra o maior número de pessoas que estão freqüentando a escola, então pode ser que no décimo superior o percentual de gastos com educação seja baixo por causa do menor número de pessoas em atividade escolar. O fato de as famílias mais ricas desembolsarem um percentual maior de suas despesas com educação está relacionado à natureza do ensino freqüentado pelos seus membros. As famílias mais ricas tendem a colocar seus membros no ensino privado, já que essas escolas, pelo menos até o ensino médio, são consideradas melhores que as do ensino público. Dessa forma, além de arcar com as despesas usuais de materiais didáticos e escolares, essas famílias têm de pagar mensalidades escolares. Some-se a isso o fato de o ensino superior, privado ou público, ser de acesso preferencial das famílias situadas nos estratos mais altos de renda. Assim, os gastos com educação entre as famílias mais ricas, enquanto participação das despesas correntes, tende a ser maior do que o observado nas famílias mais pobres. A segunda informação fornecida pelo gráfico 3 mostra que os gastos com educação evoluíram de forma diferenciada entre 1987-1988 e 2002-2003 para as famílias situadas no topo e na base da distribuição de renda. Enquanto para as famílias situadas até o 4º décimo da distribuição não se observaram alterações significativas na participação dos gastos com educação nas despesas correntes (que continuaram a representar algo entre 2% e 3% dessas despesas), para as famílias situadas a partir do 5º décimo da distribuição observa-se um crescimento do gasto com educação na estrutura da despesa familiar. Os gastos com educação das famílias situadas no 9 º décimo de renda, por exemplo, que representavam 4,1% das despesas correntes em 1987-1988, mais do que dobram sua participação em 2002-2003, quando passam a representar 8,6% das despesas correntes das famílias desse décimo. Conforme visto na seção anterior, grande parte do crescimento das despesas 08_Cap02.pmd 86

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 87 com educação das famílias mais ricas pode ser atribuída à expansão do ensino superior privado observada entre 1995-1996 e 2002-2003. Embora a análise da participação dos gastos com educação nas despesas correntes seja importante para se entenderem os deslocamentos ocorridos na estrutura da despesa familiar, ela pouco nos diz a respeito da real desigualdade existente na distribuição de despesas da sociedade. Como estamos observando uma proporção, não são só as diferenças na participação dos gastos com educação que determinam a desigualdade das despesas com educação. Deve-se considerar também o volume de despesas correntes das famílias com distintos níveis de renda familiar per capita. Para entender isso, imaginem-se duas famílias com rendas familiares per capita diferentes, mas com uma proporção semelhante de gastos com educação em relação às despesas correntes (digamos 5%). Embora essas duas famílias atribuam a mesma importância aos gastos com educação, é de se esperar que a família mais rica tenha um volume de despesas correntes maior e, portanto, um gasto monetário com educação também mais alto. Uma análise da desigualdade dos gastos pode ser desenvolvida a partir da interpretação da razão 20+/20 (a razão entre os gastos correntes de 20% das famílias mais ricas e os gastos de 20% das famílias mais pobres). Essa razão corresponde a quantas vezes o gasto monetário das famílias mais ricas é superior ao das famílias mais pobres. Se a razão é igual a 1 para determinado item de despesa, significa que as famílias mais ricas gastam nesse item exatamente o mesmo que as famílias mais pobres. Se a razão é igual a 2, então as famílias mais ricas gastam nesse item o dobro do valor desembolsado pelas famílias mais pobres. Quanto maior for o valor do gasto dos mais ricos em relação ao dos mais pobres, mais desigual é a distribuição de despesas de uma sociedade. Dadas as observações anteriores, a primeira constatação que se pode fazer da tabela 3 é que o volume de gastos das famílias mais ricas em relação ao das mais pobres varia muito conforme o item de despesa que se analisa. Enquanto as famílias mais ricas gastavam 34,4 e 24,5 vezes o valor da despesa das famílias mais pobres em outras despesas correntes e educação, seus gastos em fumo e alimentação representavam apenas 1,7 e 3,0 vezes o valor da despesa das famílias mais pobres. A segunda e mais importante constatação que se pode fazer da tabela 3 é que as despesas com educação que já era um dos grupos com maior desigualdade de gastos entre as famílias em 1987-1988 aumentaram ainda mais essa discrepância, ficando atrás apenas dos gastos com outras despesas correntes em 2002-2003. Enquanto em 1987-1988 as despesas com educação das famílias mais ricas representavam 11,9 vezes o gasto realizado pelas famílias mais pobres, em 2002-2003 a 08_Cap02.pmd 87

88 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ TABELA 3 Razão 20+/20 da renda familiar e dos itens de despesas correntes Itens de despesas 1987-1988 (a) 1995-1996 (b) 2002-2003 (c) (b-a)/a (c-b)/b (c-a)/a) Renda familiar 14,37 16,15 16,88 0,12 0,05 0,18 Despesas correntes 7,50 7,59 7,23 0,01 0,05 0,04 Alimentação 2,74 3,06 3,00 0,12 0,02 0,10 Habitação 7,61 7,63 5,70 0,00 0,25 0,25 Vestuário 7,15 5,88 4,50 0,18 0,24 0,37 Transporte 13,11 8,30 7,87 0,37 0,05 0,40 Higiene 4,63 4,41 3,76 0,05 0,15 0,19 Saúde 9,49 9,26 10,67 0,02 0,15 0,12 Educação 11,92 18,36 24,46 0,54 0,33 1,05 Cultura 16,42 16,86 12,88 0,03 0,24 0,22 Fumo 1,69 1,85 1,69 0,09 0,09 0,00 Serviços pessoais 8,95 10,04 8,75 0,12 0,13 0,02 Despesas diversas 20,21 18,52 10,92 0,08 0,41 0,46 Outras despesas correntes 32,97 43,90 34,42 0,33 0,22 0,04 Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. razão aumentou para 24,5 vezes. Esse foi, sem dúvida, o item de despesa que registrou o maior crescimento na desigualdade de gastos entre 1987-1988 e 2002-2003. Enquanto a razão 20+/20 para a maior parte dos itens de despesas pouco variou ou mesmo diminuiu no período em questão, no caso das despesas com educação esta proporção mais que dobrou. Já quando se observa a desigualdade de gastos no interior do grupo de educação, o que se verifica na tabela 4 é que o crescimento da desigualdade ocorreu praticamente por causa do aumento dos gastos das famílias mais ricas em mensalidades de cursos regulares. Enquanto os gastos dessas famílias com cursos regulares em 1987-1988 representavam 13,9 vezes o gasto das famílias mais pobres, em 2002-2003 passaram a representar 44,5 vezes. Esse crescimento expressivo, observado na razão 20+/20 para os gastos com cursos regulares, não foi registrado na razão 20+/20 de nenhum dos outros itens de despesa com educação, que, pelo contrário, até diminuíram no período em questão. 08_Cap02.pmd 88

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 89 TABELA 4 Razão 20+/20 dos itens de despesas com educação Itens de despesas 1987-1988 (a) 1995-1996 (b) 2002-2003 (c) (b-a)/a (c-b)/b (c-a)/a Educação 11,92 18,36 24,46 0,54 0,33 1,05 Cursos regulares 13,90 27,29 44,46 0,96 0,63 2,20 Outros cursos 33,20 18,22 29,24 0,45 0,60 0,12 Livros didáticos e revistas técnicas 15,08 13,33 13,25 0,12 0,01 0,12 Artigos escolares 3,88 4,01 2,29 0,03 0,43 0,41 Taxas e contribuições 9,50 17,13 7,28 0,80 0,58 0,23 Outros gastos 16,47 18,26 6,11 0,11 0,67 0,63 Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. 3.3 Evolução das despesas com educação segundo a escolaridade do chefe de família O gráfico 4 mostra a evolução das despesas com educação segundo a escolaridade do chefe de família. Com base nas informações do gráfico, o crescimento das despesas com educação observado entre 1987-1988 e 2002-2003 para o conjunto das regiões metropolitanas foi impulsionado sobretudo pelo aumento nos gastos com educação das famílias cujos chefes tinham 11 ou mais anos de estudo. Nas famílias cujos chefes tinham menos de 11 anos de estudo, os gastos com educação como proporção das despesas correntes ou cresceu inicialmente entre 1987-1988 e 1995-1996 para depois diminuir, ou então diminuiu entre 1987-1988 e 2002-2003. GRÁFICO 4 Evolução das despesas com educação segundo a escolaridade do chefe de família (Em % das despesas correntes) 9 8 7 6 5 4 3 2 1 - Sem instrução 1 a 3 anos de estudo 4 a 7 8 a 10 11 11 e + Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. 1987-1988 1995-1996 2002-2003 08_Cap02.pmd 89

90 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ Já para aquelas famílias cujos chefes tinham 11 ou mais anos de estudo, os gastos com educação cresceram continuamente no referido período. 3.4 Evolução regional das despesas com educação Grosso modo, a evolução regional das despesas com educação seguiu em maior ou menor intensidade as tendências verificadas para o conjunto das RMs De acordo com o gráfico 5, as despesas com educação enquanto proporção das despesas correntes aumentaram em todas as RMs entre 1987-1988 e 2002-2003. Os maiores crescimentos foram observados em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e São Paulo. Nas RMs do Norte e do Nordeste, por outro lado, após um crescimento inicial nos gastos com educação entre 1987-1988 e 1995-1996, observa-se um pequeno declínio na participação desse item de despesa entre 1995-1996 e 2002-2003. Em todas as RMs o aumento observado nas despesas com educação foi provocado pelo crescimento mais que proporcional nos gastos com cursos regulares. Assim, a distribuição de gastos com educação entre as RMs, que era relativamente homogênea em 1987-1988, tornou-se mais desigual com o passar dos anos. Enquanto em 1987-1988 o percentual de gastos com educação nas RMs se situava próximo de 3%, em 2002-2003 os percentuais oscilaram de um máximo de 6,9% em Goiânia a um mínimo de 4,5% em Porto Alegre. GRÁFICO 5 Evolução das despesas com educação por região metropolitana (Em % das despesas correntes) 8 7 6 5 4 3 2 1 - Belém Fortaleza Recife Salvador Rio de Janeiro Belo Horizonte São Paulo Curitiba Porto Alegre Goiânia Brasília Fonte: Elaboração própria a partir das POFs de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003. 1987-1988 1995-1996 2002-2003 4 PERFIL DOS GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO NA POF DE 2002-2003 Nesta seção trataremos da importância dos gastos com educação na composição da despesa familiar e discutiremos como esse gasto se distribui entre famílias com 08_Cap02.pmd 90

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 91 diferentes níveis de rendimentos familiares per capita. Em seguida, analisaremos a composição das despesas com educação a partir de alguns recortes socioeconômicos e regionais. Por fim, faremos uma breve análise do impacto do setor público na provisão de serviços educacionais sobre a estrutura de despesas com educação das famílias. Nas tabelas e gráficos em que foram utilizados valores de despesas em reais, manteve-se a data de referência para o valor real dessas despesas estabelecido pelo IBGE (15 de janeiro de 2003). A ordenação das famílias entre estratos mais pobres e mais ricos foi feita por meio das comparações de suas respectivas rendas familiares per capita. 4.1 Gastos das famílias em educação em comparação com os demais gastos familiares Conforme mostra a tabela 5, as famílias gastaram em 2002-2003 em média R$ 59,86 mensais em itens de despesas com educação, o que representou 3,6% das despesas correntes das famílias. Embora o percentual seja relativamente pequeno em com- TABELA 5 Brasil: razão 20+/20 e composição da despesa corrente familiar Itens de despesas Valor % % não-monetário Razão 20+/20 Despesas correntes 1.658,26 100,00 16,49 7,07 Alimentação 304,12 18,34 8,68 2,44 Habitação 520,21 31,37 42,92 5,87 Vestuário 83,21 5,02 9,53 4,34 Transporte 270,16 16,29 3,97 14,39 Higiene 31,80 1,92 5,13 3,69 Saúde 95,14 5,74-11,27 Educação 59,86 3,61 2,00 29,93 Cultura 34,95 2,11 3,73 17,29 Fumo 10,20 0,62 1,69 2,15 Serviços pessoais 14,85 0,90-10,58 Despesas diversas 40,81 2,46 0,71 12,41 Outras despesas correntes 192,97 11,64 0,27 50,96 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. 08_Cap02.pmd 91

92 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ paração aos gastos com habitação, alimentação, transporte e outras despesas correntes (todos representando uma fatia de mais de 10% das despesas correntes), isso se deve em parte à forte participação do setor público na provisão de serviços de educação. Nem todo esse gasto teve a forma de despesas monetárias: 2% dos gastos das famílias com educação foram realizados por meios não-monetários (doação, retirada de negócio, troca, produção própria ou outros meios). Em comparação com os demais itens de despesas correntes, o percentual de gastos não-monetários com educação ficou bem abaixo daquele observado para os itens de habitação, vestuário, alimentação e higiene. No que se refere à desigualdade de gastos medida pela razão 20+/20, as informações da tabela 5 confirmam para todo o Brasil os resultados encontrados para as nove principais RMs do país, mais Brasília e o município de Goiânia em 2002-2003 (ver tabela 3). Depois das outras despesas correntes, as despesas com educação representaram o item de despesa com maior desigualdade de gastos entre as famílias mais ricas e as mais pobres. Em média, as famílias mais ricas gastaram quase 30 vezes o valor desembolsado em educação pelas famílias mais pobres. Conforme mostra o gráfico 6, além de as famílias mais ricas terem mais recursos para gastar com educação, elas também destinaram uma parcela maior de suas despesas correntes a esse tipo de gasto. Enquanto as famílias até o 4º décimo da distribuição de renda destinaram à educação menos de 1,5% de suas despesas correntes, as famílias no penúltimo e no último décimo da distribuição de renda investiram com educação, respectivamente, 5,4% e 4,8% de suas despesas correntes. Assim, o gasto médio mensal das famílias situadas no último décimo foi de R$ 257,73, GRÁFICO 6 Brasil: despesas com educação por décimos de renda familiar per capita (Em % e valor das despesas correntes) 6 5,4 5 4,8 (Valor em R$) 300 257,7 250 4 3 2 1 0 1,1 5,6 1 1,2 8,0 2 1,4 11,2 3 1,5 13,5 4 1,9 19,1 5 3,4 2,9 148,5 2,2 42,3 65,5 27,1 6 7 8 9 10 200 150 100 50 0 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. % das despesas correntes Valor 08_Cap02.pmd 92

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 93 bem superior, portanto, aos R$ 5,58 mensais gastos pelas famílias do primeiro décimo de renda. A decomposição dos gastos com educação, conforme mostra a tabela 6, dá uma idéia geral de quais itens de educação foram mais importantes para as famílias e quais itens mais contribuíram para a desigualdade nos gastos com educação. De acordo com a tabela 6, cerca de 1/3 dos gastos das famílias com educação se destinou a despesas com ensino superior, seguido das despesas com ensino fundamental (15,8%) e ensino médio (8,9%). Entre os itens de despesas com educação, aquele com maior percentual de gastos não-monetários foi o de livros didáticos e revistas técnicas: quase 23% das aquisições foram feitas dessa forma. Quando se observa mais detidamente o local de aquisição desses itens, nota-se que mais de 80% foram adquiridos nos próprios estabelecimentos de ensino, provavelmente devido à mobilização da comunidade TABELA 6 Brasil: razão 20+/20 e composição das despesas com educação Itens de despesas Valor % % não-monetário Razão 20+/20 Educação 59,86 100,00 2,00 29,93 Pré-escola 3,01 5,03-32,89 Ensino fundamental 9,46 15,81-95,28 Ensino médio 5,30 8,86-236,11 Ensino superior 19,97 33,36-284,07 Pós-graduação 1,53 2,56 - a Cursos de esporte e lazer 1,93 3,22-136,58 Cursos de treinamento 2,27 3,80-13,56 Cursos de idiomas 2,29 3,83-860,30 Outros cursos 3,25 5,43-35,08 Livros didáticos e revistas técnicas 2,61 4,36 22,97 5,90 Artigos escolares 4,25 7,10 3,89 2,19 Taxas e contribuições 0,42 0,70 0,04 11,28 Outros gastos 3,56 5,94 12,07 9,51 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. a Valor da razão muito elevado (maior que mil). 08_Cap02.pmd 93

94 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ para a doação de livros didáticos ou como resultado de programas governamentais de apoio aos estudantes. Os itens de despesas com educação que mais se destacaram no que se refere à desigualdade de gastos entre as famílias foram com cursos de pós-graduação, seguidos dos gastos com cursos de idiomas, ensino superior, ensino médio e cursos de esporte e lazer. As despesas das famílias mais pobres em cursos de pós-graduação foram praticamente nulas, ao passo que o gasto das famílias mais ricas em cursos de idiomas superou 800 vezes o gasto das famílias mais pobres. Interessante notar também que a desigualdade da distribuição de gastos entre os mais ricos e os mais pobres se aprofunda conforme se avança no nível de ensino. Enquanto as famílias mais ricas gastavam 33 vezes o valor desembolsado pelos mais pobres na pré-escola, a razão aumentou para 95 vezes no ensino fundamental, 236 vezes no ensino médio e 284 vezes no ensino superior. Por outro lado, no que se refere aos gastos com artigos escolares e livros didáticos, as despesas das famílias mais ricas não foram tão discrepantes daquelas efetuadas pelas famílias mais pobres: as primeiras gastaram 2,2 e 5,9 vezes, respectivamente, o valor gasto pelas segundas. 4.2 Determinantes socioeconômicos dos gastos das famílias com educação 4.2.1 Gastos com educação e cor/raça do chefe de família O gráfico 7 mostra que, independentemente da cor do chefe de família, a parcela das despesas correntes destinada à educação cresce com a renda familiar per capita. Entretanto, embora as despesas com educação sejam semelhantes para as famílias GRÁFICO 7 Despesas com educação segundo a cor/raça do chefe, por décimos de renda familiar per capita per capita (Em % das despesas correntes) 6 5,6 5 4,8 4,8 4,3 4 3 3,6 3,0 3,1 2,6 2,1 2,3 2,0 2 1,0 1,2 1,2 1,3 1,5 1,4 1,6 1,7 1,4 1-1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. Brancos Negros 08_Cap02.pmd 94

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 95 com chefes brancos e negros situadas até o 4º décimo de renda, as famílias com chefes negros situadas a partir do 6º décimo de renda gastam um percentual ligeiramente inferior àquele gasto pelas famílias chefiadas por brancos. 4.2.2 Gastos em educação e escolaridade do chefe de família No que se refere à escolaridade do chefe de família, o gráfico 8 mostra que existe uma relação entre a instrução e a parcela das despesas correntes destinada à educação. Quanto maior o nível de escolaridade do chefe de família, maior a parcela das despesas correntes destinada à educação. Enquanto o percentual dos gastos com educação para as famílias com chefes sem instrução era de 1,2%, as famílias chefiadas por pessoas com mais de 11 anos de estudo gastavam o equivalente a 6,1% de suas despesas correntes com educação. Isso é um indício de que os chefes de família mais instruídos valorizariam mais as despesas com educação de seus filhos. Apesar da aparente relação entre o nível de escolaridade do chefe de família e a participação dos gastos com educação nas despesas correntes, as informações dadas pelo gráfico 8 não são suficientes para comprovar a hipótese de que os chefes de famílias mais instruídos valorizariam mais as despesas com educação de seus filhos do que as outras famílias. Isso porque o gráfico 8 poderia estar simplesmente refletindo uma relação entre o nível de escolaridade do chefe e o valor da renda familiar per capita. Afinal de contas, se as pessoas com maiores níveis de escolaridade tendem a auferir maiores rendimentos, e as famílias com maiores rendimentos tendem a gastar mais com educação, o que garante que o gráfico 8 não estaria refletindo uma relação entre a renda familiar e a escolaridade do chefe? A dúvida pode ser esclarecida pelo gráfico 9. Excetuando-se o 1º quinto de renda, todas as famílias chefiadas por pessoas com 11 anos ou mais de estudos GRÁFICO 8 Despesas com educação segundo a escolaridade do chefe de família (Em % das despesas correntes) 7 6 6,1 5 4 3 2 1-1,2 Sem instrução 1,5 1,9 1 a 3 anos de estudo 2,7 4 a 7 8 a 10 11 12 e + 4,2 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. 08_Cap02.pmd 95

96 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ GRÁFICO 9 Despesas com educação segundo a escolaridade do chefe de família, por quintos de renda familiar per capita (Em % das despesas correntes) 7 6 5 4 3 2 1-1 2 3 4 5 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. Sem instrução 1 a 3 anos de estudo 4 a 7 8 a 10 11 12 e + apresentaram um percentual de gastos com educação maior do que aquele apresentado pelas famílias chefiadas por pessoas com pouca ou nenhuma instrução, independentemente de sua localização na distribuição de renda. Para as famílias cujos chefes tinham menos de 8 anos de estudo, mesmo para aquelas situadas nos quintos superiores da distribuição de renda, o gasto com educação não chegou a 3% das despesas correntes. Tais números contrastam com o resultado apresentado pelas famílias cujos chefes tinham mais de 11 anos de estudo quando, já a partir do 2º quinto, as despesas com educação representaram um percentual próximo ou superior a 5% das despesas correntes. Dessa forma, é possível concluir que não é apenas a renda familiar per capita que influi nas despesas familiares com educação, mas também a escolaridade do chefe. Chefes de família mais escolarizados incentivariam a escolarização dos seus filhos. Além de terem gastado mais com educação, as famílias cujos chefes têm 11 anos ou mais de estudo também destinaram uma parcela maior desse gasto para cursos regulares. Conforme mostra a tabela 7, as famílias chefiadas por pessoas com 11 anos ou mais de estudo gastaram para todos os níveis de ensino regular (pré-escola e ensinos fundamental, médio e superior) um percentual de suas despesas com educação superior ao das famílias cujos chefes tinham pouca ou nenhuma instrução. O mesmo pode ser observado com cursos de idiomas e de esporte e lazer, com os quais as famílias com chefes mais escolarizados também tiveram um percentual maior de gastos. Por outro lado, as famílias com chefes com pouca ou nenhuma instrução concentraram uma parcela maior de suas despesas em artigos escolares e em livros didáticos e revistas técnicas. Outra constatação possibilitada pela tabela 7 é que as famílias chefiadas por pessoas com pouca ou nenhuma escolaridade procuraram compensar parcialmente o 08_Cap02.pmd 96

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 97 TABELA 7 Composição das despesas com educação segundo a escolaridade do chefe (Em % das despesas com educação) Nível de instrução do chefe de família Sem Instrução Anos de estudo 1 a 3 4 a 7 8 a 10 11 12 e + Educação 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Pré-escola 2,25 2,43 4,26 6,87 4,92 5,25 Ensino fundamental 4,53 7,77 9,74 11,72 16,49 19,17 Ensino médio 1,94 3,94 6,52 6,35 8,66 10,84 Ensino superior 23,94 21,39 29,68 28,02 35,79 34,90 Pós-graduação 0,65 0,97 0,55 0,50 1,30 4,22 Cursos de esporte e lazer 0,81 1,95 2,58 2,86 2,59 3,91 Cursos de treinamento 8,76 10,73 6,88 8,27 3,73 1,55 Cursos de idiomas 1,95 1,34 2,10 2,84 3,56 5,04 Outros cursos 4,42 6,68 6,56 6,96 6,11 4,71 Livros didáticos e revistas técnicas 11,90 8,72 5,76 4,75 4,02 3,33 Artigos escolares 24,15 21,73 14,25 11,52 6,31 2,95 Taxas e contribuições 1,16 1,23 1,41 0,93 0,67 0,44 Outros gastos 13,54 11,13 9,73 8,40 5,84 3,68 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. gasto menor em cursos regulares reservando uma fatia maior de suas despesas a cursos de treinamento (digitação, cursos de informática, cursos profissionalizantes etc.). 4.3 Diferenças regionais nos gastos das famílias com educação Como mostra o gráfico 10, existem algumas diferenças regionais nos gastos com educação. Enquanto no Sudeste o gasto com educação representava 4,1% das despesas correntes, o percentual era de 2,1% e 3,0% nas regiões Norte e Nordeste, respectivamente. Além das diferenças regionais dos gastos com educação, pode-se ver pela tabela 8 que também a composição das despesas variou conforme a região. Em relação às demais regiões, o Norte e o Nordeste concentraram um percentual maior de seus gastos nos níveis mais baixos de ensino (pré-escola e ensino fundamental no Norte, e pré-escola, ensino fundamental e ensino médio no Nordeste) e em despesas com livros didáticos e artigos escolares. Sudeste, Sul e Centro-Oeste, por outro lado, apresentaram uma composição de gastos com educação mais parecida, com percentuais bem mais elevados de despesas com ensino superior. 08_Cap02.pmd 97

98 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ GRÁFICO 10 Despesas com educação por grande região geográfica (Em % das despesas correntes) 4,5 4,1 4,0 4,1 3,5 3,5 3,0 3,1 3,5 3,0 3,0 3,1 2,5 2,1 2,0 2,1 1,5 1,0 0,5 - Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. TABELA 8 Composição das despesas com educação por grande região geográfica (Em % das despesas com educação) Região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Educação 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Pré-escola 6,11 7,16 4,94 4,02 3,39 Ensino fundamental 14,42 21,51 15,87 11,88 13,03 Ensino médio 6,29 11,90 8,50 7,97 9,00 Ensino superior 22,24 19,61 34,70 38,80 41,25 Pós-graduação 2,15 0,90 2,90 3,26 1,49 Cursos de esporte e lazer 2,03 2,09 3,68 2,86 2,53 Cursos de treinamento 4,19 2,56 4,06 3,93 3,38 Cursos de idiomas 3,41 2,68 4,11 3,64 4,03 Outros cursos 5,65 5,32 5,28 6,60 4,41 Livros didáticos e revistas técnicas 6,48 8,30 3,75 3,24 3,66 Artigos escolares 19,54 10,85 5,41 7,54 8,99 Taxas e contribuições 1,03 1,05 0,53 1,02 0,71 Outros gastos 6,46 6,07 6,26 5,25 4,13 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. Outro dado que influiu muito no nível e na composição das despesas com educação foi o local de moradia das famílias. As famílias situadas nas regiões metropolitanas e nas regiões urbanas não-metropolitanas gastaram um percentual bem maior de suas despesas correntes com educação do que as famílias que viviam no meio rural (4,3% e 3,4%, respectivamente, para as famílias que moravam nas áreas metropolitanas e urbanas não-metropolitanas, contra 1,4% das famílias situadas 08_Cap02.pmd 98

GASTOS DAS FAMÍLIAS COM EDUCAÇÃO 99 nas áreas rurais). Além disso, dos gastos com educação das famílias que viviam no meio rural, mais de 20% foram adquiridos de forma não-monetária (contra menos de 2% para as famílias que viviam no meio urbano). Uma das razões para o baixo percentual de gastos com educação das famílias das zonas rurais tem a ver com a própria disponibilidade de serviços de educação nessas áreas geográficas. Como há pouca oferta de serviços de educação nessas áreas, principalmente aqueles de natureza privada, os gastos dessas famílias com cursos regulares é bastante baixo. Isso pode ser percebido na tabela 9. Nela vê-se que a composição das despesas com educação das famílias que moravam nas áreas metropolitanas e urbanas nãometropolitanas foi bem parecida. Para essas famílias, a maior parte das despesas com educação destinou-se aos cursos regulares, em especial aos de ensino fundamental e ensino superior. No caso das famílias moradoras das áreas rurais, por outro lado, a maior parte das despesas com educação se destinou aos gastos com artigos escolares e livros didáticos. TABELA 9 Composição das despesas com educação por área geográfica (Em % das despesas com educação) Área geográfica Metropolitano Urbano não-metropolitano Rural Educação 100,00 100,00 100,00 Pré-escola 6,22 3,98 1,98 Ensino fundamental 18,11 14,02 5,92 Ensino médio 9,15 8,88 3,52 Ensino superior 31,77 35,87 19,39 Pós-graduação 3,27 1,92 0,91 Cursos de esporte e lazer 3,67 2,87 1,34 Cursos de treinamento 3,26 4,31 4,53 Cursos de idiomas 4,36 3,39 1,84 Outros cursos 5,84 5,14 2,95 Livros didáticos e revistas técnicas 3,89 4,30 13,51 Artigos escolares 4,98 8,23 24,76 Taxas e contribuições 0,55 0,82 1,07 Outros gastos 4,92 6,26 18,28 Fonte: Elaboração própria a partir da POF de 2002-2003. 08_Cap02.pmd 99

100 JORGE ABRAHÃO DE CASTRO FÁBIO MONTEIRO VAZ 4.4 Gastos com educação segundo a dependência administrativa do estabelecimento escolar (pública ou privada) Com o intuito de analisar o impacto dos serviços públicos de educação sobre a estrutura de despesa familiar, procurou-se isolar o efeito da dependência administrativa do estabelecimento escolar dos demais efeitos que poderiam porventura afetar as informações. Para tanto, foi necessário eliminar da análise as famílias que não cumpriam determinados requisitos. Para se avaliar o impacto do setor público na provisão de ensino fundamental, por exemplo, consideraram-se apenas as famílias em que todos os membros que freqüentavam a escola estavam ou no ensino fundamental privado ou no ensino fundamental público. Casos intermediários com alguns membros freqüentando escolas privadas e outros freqüentando escolas públicas foram descartados. Também foram desconsiderados os casos em que havia membros freqüentando diferentes níveis de ensino (alguns no ensino fundamental e outros no ensino médio ou superior). Embora isso tenha eliminado muitas famílias, permitiu uma análise mais limpa do efeito do setor público sobre as despesas das famílias com educação. Em toda a distribuição de renda da sociedade há pessoas que freqüentam escolas privadas e pessoas que freqüentam escolas públicas. Ainda que seja razoável supor que as famílias com renda familiar mais alta tenham condições mais favoráveis de matricular seus membros em escolas particulares, nem todas optam por fazê-lo. Da mesma forma, embora o acesso ao ensino privado só seja possível por meio de um gasto monetário que para muitas famílias pobres constitui um ônus exagerado, alguns desses pais preferem arcar com esse ônus por imaginar que estão dando a seus filhos condições de vida melhores do que aquelas que tiveram. Assim, especificamente no caso do ensino fundamental, foi possível analisar o impacto dos serviços públicos de educação nas despesas das famílias situadas em diferentes quintos de renda. Conforme mostra o gráfico 11, independentemente do quinto de renda em que se encontravam, as famílias cujos membros freqüentaram o ensino fundamental público destinaram cerca de 1% de suas despesas correntes à educação, a maior parte em cursos de treinamento e artigos escolares. No caso das famílias cujos membros freqüentaram o ensino fundamental privado, as despesas com educação enquanto proporção das despesas correntes foram substancialmente maiores, mesmo para aquelas situadas no 1º quinto de renda. Além disso, ao contrário do que foi observado para as famílias cujos membros freqüentaram a escola pública, a participação das despesas com educação variou substancialmente com o nível de renda das famílias. O percentual de gastos com 08_Cap02.pmd 100