5 Caracterização Hidrogeológica

Documentos relacionados
Branca Arthur Delmonte CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA CIA MERCANTIL E INDUSTRIAL INGÁ. Elaboração de um Modelo Conceitual. Dissertação de Mestrado

DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO SOLO ATERROS DE RESÍDUOS

2.1. Levantamento do Histórico da Cia Mercantil e Industrial Ingá

COMUNICAÇÃO TÉCNICA Nº Os riscos de gases e vapores nocivos no subsolo. Marcela Maciel de Araújo

Coleta de dados de campo. Tratamento de dados de campo e Determinação de parâmetros. Geração de sistemas de fraturas

INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS APLICÁVEIS À BARRAGENS DE REJEITOS DA CONCEPÇÃO AO FECHAMENTO. Débora do Vale/ Giani Aragão/ Aline Queiroz / Luciano Santos

CONTAMINAÇÃO NA ÁGUA SUBTERRÂNEA PROVOCADA PELO LIXIVIADO DE ATERRO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

ESTUDO SOBRE SOLIDIFICAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO DE LODO DE LAVANDERIAS INDUSTRIAIS PARA FABRICAÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS ACÚSTICOS (RESSOADORES DE HELMHOLTZ)

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA. Introdução à metalurgia dos não ferrosos

SOLUÇÃO DO SOLO. Atributos físicos e químicos do solo -Aula 10- Prof. Alexandre Paiva da silva. Sólida Gasosa (CO 2.

Atributos químicos no perfil de solos cultivados com bananeira sob irrigação, no Projeto Formoso, Bom Jesus da Lapa, Bahia

6 Conclusões e Sugestões para Futuras Pesquisas

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental III-032 RETENÇÃO DE METAIS PESADOS NO SOLO DE COBERTURA DO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA NUCLEO DE GEOLOGIA PROPRIEDADES DO SOLO. Profa. Marciléia Silva do Carmo

Métodos de disposição final de resíduos sólidos no solo. Disposição final AVALIAÇÃO. Impactos ambientais. Lixão. Aterro Sanitário DOMICILIAR

Do Brasil Ltda AVALIAÇÃO E BIORREMEDIAÇÃO DO POLO DO ATUBA NA CONTAMINAÇÃO POR ÓLEOS MINERAIS

Uso de coberturas secas em resíduos

Propriedades Químicas

Contaminação das águas subterrâneas

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais

estas atividades deparam com a presença de amônia nos efluentes industriais e, em conseqüência, nos recursos hídricos. Desta forma, são desenvolvidos

INTERPRETAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE EFLUENTES GERADOS EM SISTEMAS DO TIPO REJEITO-COBERTURA

ÁREAS CONTAMINADAS NO CONCELHO DO SEIXAL

Transporte de contaminantes GEOTECNIA AMBIENTAL

ÁREAS CONTAMINADAS: GERENCIAMENTO E ESTUDO DE CASO. Otávio Eurico de Aquino Branco Abril de 2013

MODELAGEM DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NA ÁREA DO CAMPUS DA UFMG PROHBEN; AVALIAÇÃO PRELIMINAR.

CERÂMICA INCORPORADA COM RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS PROVENIENTE DA SERRAGEM DE BLOCOS UTILIZANDO TEAR MULTIFIO: CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

SECRETARIA DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE PORTARIA N.º 05/89 - SSMA

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DA CINZA DO BAGAÇO DA CANA DE AÇÚCAR DE UMA USINA SUCROALCOOLEIRA DE MINEIROS-GO

PROCESSOS DE RETENÇÃO E MOVIMENTO DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS E INORGÂNICOS EM SOLOS E AQUÍFEROS

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

III- 001 ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE ÍONS METÁLICOS POLUENTES ASSOCIADOS A UM ATERRO INDUSTRIAL NO MUNICÍPIO DE CUBATÃO SÃO PAULO

O SOLO COMO F0RNECEDOR DE NUTRIENTES

ELEMENTOS-TRAÇO NO AQUÍFERO MACACU, RIO DE JANEIRO BRASIL

METAIS POTENCIALMENTE TÓXICOS EM SOLOS DE GARIMPO DA CIDADE DE POCONÉ-MT

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Processos Químicos 2

INFLUÊNCIA DE CÁDMIO EM SOLUÇÃO MONOESPÉCIE E MULTIESPÉCIE NA SORÇÃO DE METAIS EM LATOSSOLO VERMELHO DISTRÓFICO HÚMICO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO UTILIZADO EM CAMADAS DE COBERTURA NO ATERRO SANITÁRIO DE CAUCAIA-CEARÁ

PROJETO E IMPLANTAÇÃO DE UM LISÍMETRO EM ESCALA EXPERIMENTAL PARA ESTUDOS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS RESUMO

SOLO. Matéria orgânica. Análise Granulométrica

EPUSP Engenharia Ambiental ADSORÇÃO. PEF3304 Poluição do Solo

IT-1302.R-1 - INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA REQUERIMENTO DE LICENÇAS PARA ATERROS SANITÁRIOS

Cavas de Mina: Uso para disposição de resíduos Possibilidades e Restrições Riscos de contaminação e cuidados ambientais relacionados à disposição de r

CAPÍTULO 2 ÁREA DE ESTUDOS A proposta do Sítio Controlado de Geofísica Rasa - SCGR

5 Apresentação e Discussão dos Resultados

3 APRESENTAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E DO PROBLEMA

Oportunidades e Soluções em Lodo de ETEs.

INTEMPERISMO QUÍMICO MUDANÇAS QUÍMICAS DE MINERAIS DA SUA FORMA MAIS INSTÁVEL PARA MAIS ESTÁVEL

Resíduos Sólidos e Águas Subterrâneas

A importância do descarte correto de EPI s

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO DISCIPLINA SEMINÁRIOS EM CIÊNCIA DO SOLO II

CONCEITO DE SOLO CONCEITO DE SOLO. Solos Residuais 21/09/2017. Definições e Conceitos de Solo. Centro Universitário do Triângulo

Estrutura da Apresentação

MONITORAMENTO EDÁFICO HÍDRICO

PORTARIA N º 017, DE 04 DE MARÇO DE 2016.

Dinâmica ambiental de herbicidas

Divisão Ambiental Prazer em servir melhor!

CAPÍTULO 2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS Clima Relevo Hidrografia Solos Vegetação... 13

Capacidade de Atenuação do Solo de Fundo da Lagoa de Estabilização de Lixiviado do Aterro Sanitário do Município de Carazinho - RS

Mananciais de Abastecimento. João Karlos Locastro contato:

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS CINZAS DO CARVÃO PARA CLASSIFICAÇÃO QUANTO SUA PERICULOSIDADE

4 A Baía de Guanabara

BOLETIM ANALÍTICO 85569/2013 PARECER TECNICO PARECER TÉCNICO DE CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS COM BASE NOS CRITÉRIOS DA NBR :2004.

2 Transporte de Contaminantes nos Solos

SANEAMENTO E AMBIENTE: 3º ENCONTRO DA ENGENHARIA. Confinamento de Resíduos Industriais: técnicas e materiais

Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos

Espacialização do Subsolo com Dados de Sondagens a Percussão e Mista Através do Software RockWorks

Ocorrência de nitrato no sistema aquífero Bauru e sua relação com a ocupação urbana no município de Marília.

Geoquímica de Superfície Bases conceituais Interação lito, hidro, pedo e bio-esferas

16 Efluentes/Processos de tratamento 56 Processos oxidativos avançados 58 Flotação 59 Descargas de efluentes após tratamentos químicos 59 Reúso da águ

INTERESSE PELA UTILIZAÇÃO DE MICRONUTRIENTES

ESCOPO DA ACREDITAÇÃO ABNT NBR ISO/IEC ENSAIO

PUA Plano de Uso da Água na Mineração. Votorantim Metais Holding Unidade Vazante - MG

BLOCO V ÁGUA COMO RECURSO NO MOMENTO ATUAL. Temas: Escassez. Perda de qualidade do recurso (água) Impacto ambiental

Qualidade e Conservação Ambiental TH041

2) Como ocorre um processo de contaminação?

3 Cia Mercantil e Industrial Ingá 3.1. Localização da Área

Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar Unidade Acadêmica de Ciência e Tecnologia Ambiental. Campus Pombal

CONTAMINAÇÃO DE SOLOS: LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

CHORUME DE ATERRO NÃO É ESGOTO PRECISA DE TRATAMENTO ADEQUADO

SOLUÇÃO DO SOLO. Atributos físicos e químicos do solo -Aula 10- Prof. Josinaldo Lopes Araujo Rocha

Geotécnica Ambiental. Aula 1 : Introdução a Geotecnia

PROBLEMAS COM METAIS PESADOS

Trabalhamos com uma equipe técnica multidisciplinar que atua nas diversas áreas da Geologia e Meio Ambiente.

Aterro Sanitário (pequeno, médio e grande porte)

Dinâmica ambiental de herbicidas

Geotécnica Ambiental. Aula 2: Revisão sobre solos

Adivane Terezinha Costa. Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Geologia

CONTAMINAÇÃO DE SOLOS: LEGISLAÇÃO APLICÁVEL. Otávio Eurico de Aquino Branco Maio de 2016

Escrito por Administrator Qua, 06 de Outubro de :31 - Última atualização Qui, 11 de Novembro de :55

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus Campina Grande-PB

PRODUÇÃO DE COAGULANTE FÉRRICO A PARTIR DE REJEITOS DA MINERAÇÃO DE CARVÃO. 21/08 24/08 de 2011.

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DA CAMADA DE COBERTURA DE CÉLULAS ENCERRADAS DO ATERRO SANITÁRIO DE CAUCAIA-CEARÁ

clorados, continuam a migrar através do nível d água e da zona saturada até que seja atingida uma barreira impermeável (Alvarez-Cohen, 1993).

RAMBOLL ENVIRON BRASIL GERENCIAMENTO DE ÁREA CONTAMINADA POR METAIS

ENGIE BRASIL ENERGIA S/A COMPLEXO TERMELÉTRICO JORGE LACERDA - CTJL

Remediação para Postos de Serviço

Conjunto de técnicas (ou tecnologias) ligadas à informação espacial, que engloba a coleta, tratamento e análise de dados.

Centro de Inovação e Tecnologia

CÁTIONS NO SOLO. PAULO ROBERTO ERNANI, Ph.D. Professor da UDESC Bolsista do CNPq

Transcrição:

105 5 Caracterização Hidrogeológica A área da Cia Mercantil e Industrial Ingá, caracterizada por abrigar atividade de produção de zinco, entre 1962 e 1998, chegou a representar 30% do mercado nacional, decretando falência dois anos mais tarde. Na época de sua instalação, ainda não havia a preocupação com os impactos ambientais. Não existia legislação de licenciamento ambiental, que atualmente determina a viabilidade de determinada atividade em um local específico. Esta leva em consideração as características de projeto, das instalações, das técnicas construtivas, do terreno que irá abrigar o empreendimento, bem como de suas cercanias, analisando os possíveis impactos diretos e indiretos e as medidas mitigadoras propostas, determinando assim a possibilidade de implantação da atividade. A área que abrigava a antiga indústria de zinco, possui características que inviabilizariam sua implantação, da maneira como ocorreu, considerando a legislação atual, em função das técnicas construtivas e de operação. O mangue, que na época foi parcialmente aterrado com uma mistura do rejeito do processo industrial e aterro, localizado na porção leste do terreno, está ligado ao Saco de Engenho, que representa uma importante ligação da rede hídrica superficial da bacia com a baía de Sepetiba, tornando-se assim um grande canal de transporte de contaminantes provenientes da produção, para o mar. Uma vez que na época não havia o devido controle, a atividade foi instalada e como pode ser claramente constatado, através de uma análise superficial da área, houve uma grande degradação da área, com contaminação por diferentes compostos em diferentes compartimentos, principalmente considerando o processo de extração do zinco, apresentado no item 3.3 Processo Industrial, que utilizava diversos insumos pesados, mal manejados que acabaram no solo e águas subterrâneas. A fim de se determinar os níveis de contaminação da área foi realizada uma série de estudos, abrangendo coletas de amostras superficiais, como apresentado no item 4.4 Contaminação Superficial, onde observou-se altas concentrações de zinco e uma presença marcante do cádmio, altamente nocivo a saúde humana.

106 5.1. Modelagem Estratigráfica Vem crescendo nos últimos anos, em resposta as demandas tecnológicas e estimulada pelo incremento da capacidade gráfica computacional, a modelagem numérica tridimensional de corpos geológicos. A modelagem geológica permite que a partir de informações pontuais, como boletins de sondagem, sobre a estratigrafia da área de estudo, obtenha-se através do método do inverso da distancia, uma aproximação da configuração das camadas geológicas. Através da modelagem estratigráficas espera-se obter uma aproximação satisfatória das camadas e suas características, que possibilite posteriormente outras avaliações, como a modelagem de fluxo subterrâneo. Utilizando os dados das sondagens realizadas em campo, localização e as camadas estratigráficas, como entrada no programa RockWorks, foi possível elaborar um modelo tridimensional e seus perfis estratigráficos, além de um mapas de situação e potenciométrico. Foram inseridas no programa RockWorks, informações de 92 sondagens realizadas em todo o entorno da Bacia de Rejeitos, como apresentado na Figura 5.1, que contém ainda os pontos de topografia da Pilha de Rejeitos. Planta Industrial Pilha Figura 5.1: Modelo de superfície da área Cia. Mercantil e Industrial Ingá

Figura 5.2: Modelo de superfície da área Cia. Mercantil e Industrial Ingá em escala de cor sobreposto a imagem de satélite 107

108 Através do modelo altimétrico apresentado nas Figuras 5.1 e 5.2, pode-se observar que a grande pilha de rejeitos proveniente do processamento de minério de zinco, constitui a porção mais alta do terreno, e o mangue a mais baixa, ao lado do Saco de Engenho. Através dos dados de sondagem, é possível gerar o modelo estratigráfico da área, apresentados nas Figuras 5.3 e 5.4. Pilha a Pilha Canal Sul b Figura 5.3: Modelo estratigráfico da Cia Mercantil e Industrial Ingá

109 Analisando as camadas separadamente, é possível observar a predominância de argila mole, solo argilo silte arenoso e areno argilo siltoso, que tem características parecidas. a b c

110 d e f Figura 5.4: Camadas estratigráficas. a Pilha; b Aterro; c Argila Mole; d Argilo silte arenoso; e Areno argilo siltoso; f residual. Também foram elaborados cortes de perfis, com a finalidade de analisar na parte interna do modelo a disposição e o comportamento das camadas estratigráficas.

111 a b Figura 5.5: Vista dos perfis estratigráficos. a Localização do cortes; b Cortes das camadas estratigráficas

112 a b Figura 5.6: Vista dos perfis estratigráficos. a Localização do cortes; b Cortes das camadas estratigráficas

113 a b Figura 5.7: Vista dos perfis estratigráficos. a Localização do cortes; b Cortes das camadas estratigráficas

114 a b Figura 5.8: Vista dos perfis estratigráficos. a Localização do cortes; b Cortes das camadas estratigráficas

115 a b Figura 5.9: Vista dos perfis estratigráficos. a Localização do cortes; b Cortes das camadas estratigráficas Analisando as informações contidas nos perfis estratigráficos do modelo, é possível observar que informações observadas em campo, estão bem representadas no modelo. A camada de rejeito, no modelo denominada pilha, representada em

116 vermelho, concentra-se na parte central, referente ao local de depósito, e no fundo da bacia de contenção dos efluentes líquidos, na forma de sedimentos. Outra informação que pode ser obtida através da análise do modelo, refere-se a camada de aterro, bastante estreita de aproximadamente 1 m, ficando um pouco mais espessa a oeste da área, na região dos prédios administrativos. As camadas de argila mole, solo argilo silte arenoso e areno argilo siltoso, estão distribuídas por toda a área, sendo que a primeira, característica da área do Saco de Engenho, apresenta uma espessura média constante de 3 a 4 m. 5.2. Análises Químicas Solo As amostras de solo foram analisadas segundo a NBR 10.004 e classificadas de acordo com a Tabela 5.1, com o objetivo de identificar se este material funciona como fonte de contaminação liberando Zinco e Cádmio para o aqüífero e finalmente avaliar a necessidade de impermeabilização da camada. A Tabela 5.2 apresenta as concentrações de zinco e cádmio, solubilizados e lixiviados encontrados através do método de PIXE, nas amostras de solo coletadas na área da Cia Mercantil e Industrial Ingá. Estes resultados foram comparados aos indicados pela NBR 10.004, em seus Anexos F e G, que seguem apresentados na Tabela 5.4, e permitem a Classificação do material de acordo com as classes de resíduos sólidos. Tabela 5.1: Padrões NBR 10.004 Anexos F e G Elemento Solubilizado Lixiviado mg/l mg/l Cd 0,005 0,5 Zn 5 - Tabela 5.2: zinco e cádmio solubilizado e lixiviado Poço Amostra Solubilizado Solubilizado Lixiviado Lixiviado mg CD/l mg ZN/l mg CD/l mg ZN/l PO-01 1 0,006 11,65 0,000 5,54 PO-01 3 0,013 15,05 0,005 12,58 PO-01 5 0,029 24,67 0,004 11,23 PO-01 7 0,106 12,59 0,001 1,25 PO-01 9 0,060 17,65 0,007 3,09 PO-01 11 0,057 19,04 0,017 20,31 PO-01 13 0,041 11,80 0,019 217,80 PO-01 15 0,000 12,44 0,005 6,01

117 Poço Amostra Solubilizado Solubilizado Lixiviado Lixiviado mg CD/l mg ZN/l mg CD/l mg ZN/l PO-01 17 0,013 64,62 0,005 18,18 PO-02 19 0,000 3,36 0,002 1,18 PO-02 21 0,016 12,35 0,010 74,84 PO-02 23 0,023 14,33 0,004 37,08 PO-02 25 0,000 0,49 0,008 13,24 PO-02 27 0,007 41,40 0,007 26,11 PO-03 29 0,015 48,52 0,000 25,87 PO-03 31 0,014 45,90 0,000 1,47 PO-03 33 0,014 8,41 0,002 2,95 PO-03 35 0,011 30,70 0,000 7,91 PO-04 37 0,020 11,85 0,005 1,27 PO-04 39 0,003 11,43 0,007 6,59 PO-04 41 0,015 1,97 0,018 3,44 PO-05 43 0,011 12,00 0,000 6,91 PO-05 45 0,035 8,92 0,002 1,13 PO-05 47 0,046 164,37 0,000 1,13 PO-06 49 0,010 67,07 0,000 1,43 PO-07 51 0,016 264,10 0,000 11,93 PO-07 53 0,008 73,01 0,000 2,16 PO-07 55 0,005 11,21 0,000 1,55 PO-08 57 0,030 687,26 0,000 1,92 PO-08 59 0,030 14,01 0,014 4,22 PO-09 61 0,003 24,07 0,001 6,33 PO-09 63 0,077 12,29 0,001 1,43 PO-09 65 0,000 2,19 0,001 1,44 PO-10 67 0,000 27,50 0,004 1,28 PO-10 69 0,000 22,47 0,003 1,03 PO-11 71 0,071 25,39 0,001 1,52 PO-11 73 0,008 1,89 0,002 1,57 PO-12 75 0,020 2,00 - - PO-12 77 0,012 2,52 - - PO-12 79 0,014 2,44 0,001 1,57 PO-13 81 - - 0,007 1,36 PO-13 83 0,000 30,51 0,005 19,99 PO-14 85 0,005 2,11 0,002 1,67 PO-14 87 - - 0,004 1,24 PO-15 89 - - 0,000 1,39 PO-15 91 0,014 2,26 0,008 1,24 PO-16 93 0,000 0,00 0,000 1,39 PO-16 95 0,014 2,59 0,000 1,15 PO-17 97 0,039 125,03 0,014 1,43 PO-17 99 0,015 8,39 0,000 1,46 PO-17 101 0,040 114,19 0,001 1,10 PO-17 103 0,000 77,17 0,000 1,23 PO-17 105 0,000 168,57 0,004 1,59 PO-18 107 0,000 6,57 0,003 1,01 PO-18 109 0,002 2,64 0,003 1,19 PO-18 111 0,003 2,60 0,002 1,02 PO-19 113 0,003 3,20 0,000 1,38 PO-19 115 0,006 1,04 0,002 1,33 PO-19 117 0,000 2,52 0,003 1,79

118 Poço Amostra Solubilizado Solubilizado Lixiviado Lixiviado mg CD/l mg ZN/l mg CD/l mg ZN/l PO-20 119 0,000 0,68 0,003 1,45 PO-20 121 0,002 3,48 0,001 1,34 De acordo com os resultados apresentados na Tabela 5.2, as amostras de solo coletadas na área de Cia Mercantil e Industrial Ingá, não podem ser caracterizadas como Classe I Resíduo Perigoso, uma vez que todos os resultados das análises de lixiviação (NBR 10.005), apresentaram valores abaixo do limite máximo, da Tabela 5.1. Foram portanto, definidas como Classe II A Resíduo Não Inerte, com exceção das amostras 19, 25 (PO-02), 65 (PO-09), 85 (PO-14), 93 (PO-16), 109, 111 (PO-18), 113, 117 (PO-19), 119 e 121 (PO-20), que enquadram-se na Classe II B Resíduo Inerte, e as amostras 81, 87 e 89, que não puderam ser analisadas para o parâmetro de solubilidade de Zinco e Cádmio. A relação entre as concentrações em solução e adsorvidas é dada pelo coeficiente de distribuição sólido-solução (K d ), obtido através de bacht test, permitindo assim o calculo do concentração de determinados elementos no solo. Segundo Soares (2004), embora um pouco simplista, este índice é utilizado por vários modelos químicos e permite estimativas da quantidade de metal dissolvida na solução do solo e previsão de sua mobilidade, assim como o potencial de perda por lixiviação e absorção pelas plantas. Os valores de K d tem dependência direta com atributos do solo como o ph, teor e tipo de materiais de argila, teor de matéria orgânica, natureza do contaminante, entre outros, sendo adotados pelos órgãos ambientais valores padrões. Para o cálculo das concentrações de Zinco e Cádmio nas amostras de solo da Cia Mercantil e Industrial Ingá, foi adotado o valor de 137 l/kg, proposto pela CETESB, utilizando como referência o estudo de coeficiente de distribuição de metais pesados em solos do estado de São Paulo de Soares (2004). A Tabela 5.4 apresenta as concentrações no solo, de zinco e cádmio, que foram comparados aos valores orientadores da Resolução CONAMA nº 420/2009, da Tabela 5.3, classificados da seguinte maneira: Valor de Investigação - VI É a concentração de determinada substância no solo ou na água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana, considerando um cenário de exposição padronizado.

119 Tabela 5.3: Valores orientadores* CONAMA nº 420 de 2009 Elemento Investigação Industrial Água Subterrânea mg/kg µg/l Ba 750 700 Cd 20 5 Fe - 2450 Mn - 400 Ni 130 20 Pb 900 10 Zn 2000 1050 * O valor orientador de Intervenção Industrial é a concentração de determinada substância no solo ou na água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana, considerado um cenário de exposição genérico, sendo o cenário aplicável a área o industrial. Tabela 5.4: zinco e cádmio no solo Poço Amostra Concentração mg CD/kg solo mg ZN/kg solo Poço Amostra Concentração mg CD/kg solo mg ZN/kg solo PO-01 1 1,32 1596,63 PO-09 63 17,08 1683,51 PO-01 3 2,90 2062,11 PO-09 65 0,00 299,88 PO-01 5 6,44 3380,33 PO-10 67 0,00 3768,02 PO-01 7 23,68 1724,34 PO-10 69 0,00 3078,68 PO-01 9 13,37 2417,84 PO-11 71 15,78 3478,01 PO-01 11 12,74 2608,04 PO-11 73 1,79 259,12 PO-01 13 9,15 1617,12 PO-12 75 4,36 274,17 PO-01 15 0,00 1704,09 PO-12 77 2,58 345,20 PO-01 17 2,87 8853,49 PO-12 79 3,15 334,96 PO-02 19 0,00 460,12 PO-13 81 - - PO-02 21 3,59 1692,50 PO-13 83 0,00 4180,41 PO-02 23 5,10 1963,11 PO-14 85 1,03 289,69 PO-02 25 0,06 67,48 PO-14 87 - - PO-02 27 1,49 5672,42 PO-15 89 - - PO-03 29 3,32 6647,29 PO-15 91 3,05 310,21 PO-03 31 3,15 6288,61 PO-16 93 0,00 0,00 PO-03 33 3,13 1152,17 PO-16 95 3,23 354,81 PO-03 35 2,49 4205,96 PO-17 97 8,64 17128,60 PO-04 37 4,40 1623,27 PO-17 99 3,41 1149,69 PO-04 39 0,75 1565,39 PO-17 101 9,00 15644,46 PO-04 41 3,27 269,37 PO-17 103 0,00 10572,15 PO-05 43 2,38 1643,99 PO-17 105 0,00 23094,16 PO-05 45 7,69 1222,03 PO-18 107 0,00 900,60 PO-05 47 10,22 22519,30 PO-18 109 0,53 361,93 PO-06 49 2,33 9187,93 PO-18 111 0,76 356,88 PO-07 51 3,55 36181,14 PO-19 113 0,58 438,43 PO-07 53 1,88 10003,05 PO-19 115 1,36 142,58 PO-07 55 1,20 1535,97 PO-19 117 0,00 344,95 PO-08 57 6,62 94154,92 PO-20 119 0,00 93,61 PO-08 59 6,60 1918,71 PO-20 121 0,42 477,18 PO-09 61 0,70 3297,26

120 Como pode ser observado nos resultados apresentados na Tabela 5.4, apenas o poços de monitoramento PO-01, apresentou contaminação por cádmio acima do valor de intervenção, enquanto que apenas os PO-04, PO-12, PO-14, PO-15, PO-16, PO- 18, PO-19 e PO-20 não apresentaram contaminação por Zinco acima do limite de intervenção. Os poços PO-05, PO-07, PO-08 e PO-17 localizados próximo ao mangue e ao canal norte, em pontos onde houve algum tipo de ruptura no dique, de acordo com observações durante as sondagens, facilitando o fluxo da bacia de efluentes, apresentaram as maiores concentrações de zinco. 5.3. Potenciometria Com base nas informações de nível d água apresentadas nos boletins de sondagens e com o auxílio da ferramenta de elaboração de mapa potenciométrico do programa RockWorks, foi desenvolvido o mapa apresentado na Figura 5.10. No mapa, as cores quentes representam os níveis potenciométricos mais elevados, enquanto os mais baixos são representados pelas cores frias, sendo o nível mais baixo representado pelo roxo. A direção de drenagem subterrânea indica um fluxo em direção ao quadrante norte-leste com tendência a leste, em direção ao e Saco do Engenho. Durante os estudos desenvolvidos na área da Cia Mercantil e Industrial Ingá, diversos levantamentos de dados relacionados ao comportamento das águas subterrâneas, bem como os seus níveis de contaminação por conseqüência do uso dos insumos utilizados na produção de zinco, sem as devidas precauções ambientais.

Figura 5.10: Mapa potenciométrico 121

122 5.4. Plumas de Contaminação Nesta etapa, foram elaboradas com o auxílio do programa RockWorks, as plumas de contaminação, considerando o mapeamento subsuperficial da concentração de Cádmio e Zinco em solo e águas subterrâneas, sem considerar características específicas de cada camada estratigráfica e de fluxo, apesar de suas influencias serem visíveis através de uma análise crítica dos modelos. Segundo Elbachá (1989), as principais influencias no transporte de contaminantes no solo, estão relacionadas as seguintes variáveis: - Solo - tipo de solo, mineralogia, distribuição granulométrica, estrutura do solo, capacidade de troca iônica, tipo de íons adsorvidos e tipo e teor de matéria orgânica presente; - Contaminantes - tipo e concentração, densidade, viscosidade, ph, polaridade, solubilidade, demanda bioquímica de oxigênio e demanda química de oxigênio do contaminante e outras substâncias presentes; - Meio - condições hidrogeológicas, condições aeróbicas/anaeróbias, temperatura, microorganismos presentes, potencial de óxido-redução. Os metais são cátions que, em sua maioria apresentam mobilidade razoavelmente limitada no solo e na água subterrânea por causa da troca catiônica e da sorção na superfície dos grãos minerais (Fetter, 1993). Segundo Dougy e Volk (1983), são móveis na água subterrânea se a relação Eh-pH é tal, que os íons solúveis existam e o solo tenha baixa capacidade de troca catiônica. As condições que promovem a mobilidade incluem a acidificação, solos arenosos com baixa quantidade de matéria orgânica e a ausência de argila. Demuelenaere, através de análise geoquímica observou que nos metais Cd e Zn os mecanismos de interação mais importantes são os fenômenos de adsorção e troca catiônica. Com base nas informações das sondagens e nos resultados das análises químicas, foram elaboradas no programa RockWorks, representações das plumas de contaminação de Zinco e Cádmio, considerando isoconcentração, em solo e águas subterrâneas. Foi utilizado o algoritmo do inverso da distância, através do qual gerouse uma malha de pontos exportados em dxf, possibilitando a elaboração dos mapas apresentados a seguir na Figuras 5.11, 5.12, 5.13 e 5.14.

Figura 5.11: Pluma de contaminação de cádmio em águas subterrâneas 123

Figura 5.12: Pluma de contaminação de zinco em águas subterrâneas 124

Figura 5.13: Pluma de contaminação de cádmio no solo 125

Figura 5.14: Pluma de contaminação de zinco no solo 126

127 Como pode ser observado na Figura 5.11 as maiores concentrações de Cádmio localizam-se na área entre o dique e o mangue, seguindo as expectativas em função do sentido do fluxo de águas subterrâneas e no canal norte, no poço de monitoramento PO-17, onde durante as sondagens foi identificado uma ruptura no dique. Nos pontos próximos da área da eletrólise de ferro, também há uma alta concentração de cádmio, devido a proximidade da planta industrial. A Figura 5.12, mostra o mesmo processo para zinco, no dique próximo ao mangue e próximo ao canal norte no ponto de ruptura. No solo, como pode ser visto na Figura 5.13, o cádmio apresenta suas maiores concentrações no dique, próximo ao mangue e à planta industrial. As concentrações de zinco são bastante elevadas em toda a área da Cia Mercantil e Industrial Ingá, no entanto as maiores concentrações estão no meio do dique, no mangue do Saco do Engenho, como apresentado na Figura 5.14.