Estudo microclimático do Parque Chico Mendes e seu entorno, no município de São Paulo/SP 1

Documentos relacionados
Caracterização microclimática da Embrapa Soja

A TEMPERATURA E A UMIDADE DO AR EM NOVA ANDRADINA/MS EM AGOSTO DE 2008 ÀS 20h 1

Relação entre umidade relativa do ar, cobertura vegetal e uso do solo no Parque Estadual de Intervales (PEI) e seu entorno, São Paulo, Brasil 1.

A cidade e o campo: características térmicas e higrométricas em Rosana/SP - Brasil 1

CONFORTO AMBIENTAL Aula 2

MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS ESQUEMA P/ EXPLICAÇÃO DOS MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS SECAS

Boletim Climatológico do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Verão de 2019

CAMPO TERMICO EM UMA ÁREA DE MATA E SEU ENTORNO NA ÁREA URBANA DE PONTA GROSSA PR

Clima: seus elementos e fatores de influência. Professor Fernando Rocha

Tr a b a l h o On l in e

VARIAÇÃO DO CLIMA E PROCESSO DE URBANIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO REGIONAL ISIDORO NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE/MG

Dados ambientais. Previsão do tempo. Imagem de satélite GOES

Estudo sobre as características climáticas na área urbana do município de Carapicuíba, São Paulo. Bruna de Abreu. Universidade de São Paulo

Módulo 19. Elementos do clima Prof. Lucas Guide 1º ano EM

Vegetação Amenizadora da Poluição Industrial no Bairro Cidade Industrial de Curitiba / PR

UMIDADE RELATIVA DO AR NO MUNICÍPIO DE ASSÚ: ESTUDO DE CASO DAS ILHAS SECAS NO DIA 19/11/2014

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CONCEITOS INICIAIS. Professor: Emerson Galvani

CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE TEMPO E CLIMA

CAMPO TERMO-HIGROMÉTRICO E O FATOR DE VISÃO DO CÉU NOS CÂNIONS URBANOS DE PONTA GROSSA-PR

1. INTRODUÇÃO 2. UMIDADE

1. FATORES CLIMÁTICOS

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA UMIDADE RELATIVA DO AR DO PICO DA BANDEIRA, PARQUE NACIONAL ALTO CAPARAÓ, BRASIL.

Departamento de Engenharia de Biossistemas - ESALQ/USP LCE Física do Ambiente Agrícola Prova Final 2010/II NOME:

Boletim do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Dezembro de 2018

Previsão de Vento em Altíssima Resolução em Região de Topografia Complexa. RELATÓRIO DO PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIBIC/CNPq/INPE)

Como estudar o o tempo?

Estado do Tempo e Clima

JANEIRO / 2013 Versão 1.0 N O 1

Fatores climáticos importantes, Climas e vegetações da América Latina:

Clima tempo atmosférico

TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS. Estratégias por TRY e Normais Climatológicas. M.Sc. Arq. Elena M. D. Oliveira

V. 07, N. 08, 2011 Categoria: Resumo Expandido USO E OCUPAÇÃO NA CIDADE DE TRÊS LAGOAS/MS E SUAS INFLUÊNCIAS NO CAMPO TÉRMICO LOCAL

ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO NA CIDADE DE EUCLIDES DA CUNHA PAULISTA SP

Perfil de temperatura do ar e do solo para uma área com vegetação e sem vegetação em um pomar de mangas em Cuiaraná-PA

COMPORTAMENTO DE ALGUNS ELEMENTOS CLIMÁTICOS EM RELAÇÃO À COBERTURA DO SOLO NUMA AREA URBANA NO MUNICÍPIO DE ANANINDEUA - PA

CONCEITO I) TEMPERATURA E PRESSÃO REGIÕES EQUATORIAIS BAIXA PRESSÃO REGIÕES POLARES AR FRIO MAIS DENSO PESADO ALTA PRESSÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

INFORMATIVO CLIMÁTICO

AVALIAÇÃO DA TEMPERATURA DO SOLO NA ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA PRINCIPAL DA UFJF, JUIZ DE FORA, MG

MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO NOÇÕES SOBRE A ATMOSFERA TERRESTRE

MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

Unidade: S. Bernardo - Ensino Fundamental. AT. Geografia 2º Trimestre Gabarito. Prof. Sueli Onofre

INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL NO AMBIENTE INTERNO: ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÉLULAS DE TESTE

ESTAÇÃO DO VERÃO. Características gerais e como foi o Verão de 2018/2019 em Bauru. O verão é representado pelo trimestre dezembro/janeiro/fevereiro;

Clima de Passo Fundo

Troposfera: é a camada que se estende do solo terrestre (nível do mar) até atingir 12 quilômetros de altitude. Conforme a altitude se eleva, a

METEOROLOGIA CAPÍTULOS

Recursos hídricos. Especificidade do clima português

Nº: VALOR DA AT: 2.0

As influências do fluxo de ventos e das trocas térmicas por radiação nos registros da temperatura externa do ar

CLIMAS DO BRASIL Profº Gustavo Silva de Souza

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Meteorologia e Climatologia. Professor Filipe

COLÉGIO BATISTA ÁGAPE CLIMA E VEGETAÇÃO 3 BIMESTRE PROFA. GABRIELA COUTO

Ambiente de produção de flores e plantas ornamentais

VARIAÇÕES DO PADRÃO TÉRMICO DE OURINHOS E SUAS RELAÇÕES COM AS ATIVIDADES URBANAS

Chuva de mais de 100 mm causa estragos em Lajedinho - BA em dezembro de 2013

Boletim Climatológico do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Primavera de 2018

Temperatura TEMPERATURA DO AR E DO SOLO. Temperatura do ar e do solo Fatores determinantes

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.

Geografia Capítulo 5. Climatologia INTRODUÇÃO

Origem da atmosfera. Fim da acresção material; Gases foram liberados e ficaram presos à Terra pela ação da gravidade; e

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


EXERCÍCIO ÁREAS E ÍNDICES. Elisa Furian

Definição. é uma ciência que estuda o. tempo atmosférico e suas variações ao longo do. dia, sendo também conhecido como

Universidade de São Paulo Departamento de Geografia FLG CLIMATOLOGIA I. Umidade do ar

Atrito na Camada Limite atrito interno

ESTUDO MICROCLIMÁTICO DA PRAÇA DO DERBY E ENTORNO, RECIFE-PE

MICROCLIMA E CONFORTO TÉRMICO DE UM FRAGMENTO FLORESTAL NA CIDADE DE CURITIBA-PR, BRASIL

COMPORTAMENTO DE ALGUNS PARÂMETROS ATMOSFÉRICOS SOBRE UM SOLO DESCOBERTO, PARA DOIS DIFERENTES PERÍODOS DO ANO, EM MOSSORÓ - RN RESUMO

R.: R.: 03- A latitude quadro: R.: R.:

Novembro de 2012 Sumário

Clima: Composição da atmosfera, elementos e fatores climáticos. Lucas Mendes Objetivo - 3º ano Frente 1 - Módulos 12 e 13

O CONFORTO TÉRMICO EM BAIRROS COM DIFERENTES PADRÕES DE CONSTRUÇÕES EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP - Brasil 1

Massas de Ar e Frentes. Capítulo 10 Leslie Musk

HIDROLOGIA AULA semestre - Engenharia Civil EVAPOTRANSPIRAÇÃO. Profª. Priscila Pini

CONFORTO AMBIENTAL PROVA 1. M.Sc. Arq. Elena M. D. Oliveira

e a Interferência Humana. Vegetais: classificação e situação atual.

Atividade do 3º trimestre - Disciplina: Geografia MARATONA DE EXERCÍCIOS REVISÃO DE N1 GABARITO

Dinâmica Climática. Capítulo 7

INFORMATIVO CLIMÁTICO

PROJETO DE LEI Nº, DE 2015

Boletim do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Abril de 2019

SERT ANÁLISE: CONFORTO AMBIENTAL

ANÁLISE MICROCLIMÁTICA DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL POUSADA DAS ARARAS SERRANÓPOLIS-GO

COMPARAÇÃO DE VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS OBSERVADAS EM DUAS CIDADES DO SERTÃO PARAIBANO

Hidrologia. 3 - Coleta de Dados de Interesse para a Hidrologia 3.1. Introdução 3.2. Sistemas clássicos Estações meteorológicas

2ª Bimestre 1º Prova. Capítulos 7, 8 e 9. Climas e Formações Vegetais.

Figura 1 Altimetria média de Minas Gerais. (Autor: Carlos Wagner G A Coelho)

ARBORIZAÇÃO E OS NÍVEIS DE DESCONFORTO TÉRMICO NO MUNÍCIPIO DE VIÇOSA-MG

AS ÁREAS VERDES PÚBLICAS NO CENTRO DA CIDADE DE ATIBAIA-SP

Dezembro de 2012 Sumário

1) Observe a imagem a seguir:

NOÇÕES DE HIDROLOGIA

ACA-223: Climatologia 1. Climatologia Física: Elementos e Controles do Clima: Variabilidade Diurna e Sazonal

ATIVIDADE ON-LINE DISCIPLINA: Redação. PROFESSOR: Dinário Série: 1ª Série Ensino Médio Atividade para dia: / /2017

Transcrição:

Estudo microclimático do Parque Chico Mendes e seu entorno, no município de São Paulo/SP 1 Fernando Rocha Reis Emerson Galvani Universidade de São Paulo USP Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas FFLCH Departamento de Geografa DG E-mail: fernando.reis@usp.br INTRODUÇÃO O estudo microclimático visa entender a dinâmica atmosférica numa escala menor de análise climatológica, permitindo identificar as pequenas influências que ocorrem na baixa troposfera, próximo à superfície, tais como as diferenciações geradas por diversos usos do solo, seja ele urbano ou rural. No entanto, ele não pode e nem deve ser dissociado de uma análise que contemple as escalas maiores, como a escala regional, que procura entender as relações provocadas por um conjunto de fatores da superfície e os fatores atmosféricos que geram uma circulação geral da atmosfera que provoca 1 Esse trabalho foi elaborado a partir dos resultados do trabalho de pesquisa de iniciação científica intitulado: Estudo microclimático do Parque Chico Mendes e seu entorno, no município de São Paulo/SP financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP, Nº Processo: 2013/04484-2, sob orientação do Prof. Dr. Emerson Galvani.

influências diretas sobre o microclima de um determinado local, nesse caso, o do Parque Chico Mendes. O Parque Chico Mendes (figura 1) está localizado na zona leste da cidade de São Paulo, sua área abrange 61.600m² e representa uma importante área verde remanescente de mata atlântica, com algumas espécies exóticas de fauna e flora. Nele foi realizado o estudo microclimático da sua área e do seu entorno, entre os dias 18 a 22 de março de 2013, buscando identificar as diferenças termo-higrométricas, na área interna, de transição parque-área externa e externa do parque. Figura 1 Mapa de localização do Parque Chico Mendes, no distrito da Vila Curuçá, no Município de São Paulo. O parque é considerado uma área verde, pois se enquadra nas características descritas por Buccheri Filho e Nucci (2006, p. 50)

As áreas verdes são um tipo especial de espaços livres onde o elemento fundamental de composição é a vegetação. Elas devem satisfazer três objetivos principais: ecológico-ambiental, estético e de lazer. Vegetação e solo permeável (sem laje) devem ocupar, pelo menos, 70% da área; devem servir à população, propiciando um uso e condições para recreação. O Parque Chico Mendes responde as características descritas por Buccheri Filho e Nucci (2006), pois ele tem como elemento fundamental de composição a vegetação e atende os três objetivos principais: ecológico-ambiental, estético e de lazer. Os parques são áreas verdes que possuem função social, por ser lugar do encontro e do lazer e possui funções ambientais, como regulador do clima urbano, como afirma Costa (2013, p. 96) os parques além de possuírem uma função social e simbólica (recreação, local de encontro, espaço para realização de caminhadas), também se caracterizam como reguladores do clima urbano, principalmente no que diz respeito aos valores de temperatura e umidade do ar. O clima urbano inclui as áreas verdes da cidade, pois essas áreas estão inseridas no espaço urbano e são produzidas através de projetos urbanísticos, como cita Amorim e Lima (2006, p. 71) As áreas verdes são uma das variáveis integrantes da estrutura urbana e a preservação dessas áreas esta relacionada com seu uso e sua integração na dinâmica da cidade, que são reflexos das ações humanas e estão vinculados ao processo histórico, traduzido na atenção do poder público no que diz à implantação e manutenção desses espaços na malha urbana. O clima urbano incluiu essas áreas, como cita Monteiro (1976, p. 116), o clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização. Portanto, o estudo microclimático do Parque Chico Mendes, pode ser caracterizado como um estudo do clima urbano, pois é um estudo que abrange um dado espaço terrestre e a sua urbanização, área do entorno e o próprio parque que não deixa de estar inserido na urbanização, não sendo somente um dado espaço terrestre, e sim um espaço modificado e produzido pela sociedade, no processo de urbanização.

As áreas verdes apresentam grande relevância para o clima urbano, sendo uma das características principais o conforto térmico que elas proporcionam em relação à área externa de sua circunvizinhança e por isso, é de extrema importância tentar entender as inter-relações da área interna do parque com o seu entorno, através da análise de dados dos atributos do clima de temperatura e umidade relativa do ar. OBJETIVOS O estudo microclimático do Parque Chico Mendes e seu entorno, teve como objetivo analisar quantitativamente os atributos do clima, comparar os dados de temperatura e umidade relativa do ar, dentro do parque, na área de transição parque-área externa e a área externa. Podendo assim inferir o quanto o parque é importante para região e o seu efeito benéfico para o microclima local e para população que dele faz uso. METODOLOGIA Devido à necessidade da coleta de dados primários, realizou-se trabalho de campo para instalação dos equipamentos em cinco pontos com diferentes usos do solo, sendo instalados dois termo-higrômetros na área interna do parque, por ser representativo das características local, com predominância de vegetação arbórea; um na área de transição parque-área externa, representativo das características internas e externas ao parque, instalado numa residência vizinha e dois na área externa, representativo das características de uso do solo distintas das do parque, com predomínio de áreas impermeabilizadas com pouquíssima vegetação.

Os cinco termo-higrômetros (modelo HT-500) foram utilizados para medir a temperatura e umidade relativa do ar. Esse equipamento possui uma escala de 0 a 100% para umidade relativa do ar com precisão de aproximadamente 3% e de -40ºC a 70 C para a temperatura do ar com precisão de aproximadamente 1,0 C. Foram utilizados também cinco mini-abrigos meteorológicos, para proteger os termo-higrômetros da exposição à radiação solar, chuva e para fixá-los e quatro hastes de ferro para fixar os mini-abrigos meteorológicos no topo da haste numa altura de aproximadamente 1 m em relação ao solo e ainda comparou-se os dados coletados em campo com o de uma Estação Meteorológica Oficial do Centro de Gerenciamento de Emergências CGE, órgão da prefeitura de São Paulo, que está instalada na subprefeitura do Itaim Paulista e Curuçá a aproximadamente 1.800 metros de distância parque. Instalou-se os equipamentos na área interna, de transição e área externa do parque e eles foram programadas para coletar os dados de temperatura e umidade relativa do ar a cada 5 minutos, dois dias antes, no dia e dois dias depois do Equinócio de Outono. Após a coleta dos dados, eles foram trabalhados e interpretados com objetivo de revelar as diferenças que ocorrem em pontos de coleta com diferentes usos do solo. RESULTADOS Os pontos da área interna do parque apresentaram temperaturas do ar mais amenas e umidade relativa do ar mais elevadas em relação aos pontos da área de transição e área externa. Identificou-se que durante a atuação da Alta Subtropical do Atlântico Sul as diferenças termo-higrométricas foram mais significativas do que durante a passagem da Frente Fria, no entanto, a passagem da frente diminui as diferenças entre os pontos, mas não mascara. Dessa forma, identificamos que ocorreram diferenças médias de temperatura do ar que chegaram a 5,4ºC e de umidade relativa do ar que chegaram a 28,9% dos pontos

da área interna do parque em relação a área externa, durante o período que compreendeu o Equinócio de Outono de 18 a 22 de março de 2013. Figura 2 Variação média da temperatura do ar entre os dias 18 a 22 de março de 2013. Na (figura 2), é possível notar que na primeira situação, nos dias 18 e 19 de março de 2013 as maiores diferenças médias térmicas não excederam 2,2ºC e as menores 0,2ºC e que as diferenças médias hígricas não excederam 14,8% e as menores 5%, como pode ser visto na (figura 3). Isso pode ser explicado pela atuação do sistema frontal associado a ZCOU que gerou instabilidade, chuva e nebulosidade. Isso influenciou diretamente no balanço de radiação e consequentemente nas diferenças de temperatura e umidade relativa do ar entre os pontos, fazendo com que todos os pontos não sofressem grandes diferenças. No entanto, a atuação do sistema frontal associado a ZCOU não mascarou as diferenças entre os pontos da área interna do parque (P1 e P2), área de transição parque-área externa (P3) e da área externa (P4, P5 e EMA).

Na segunda situação, entre os dias 20 a 22 de março de 2013 as maiores diferenças média de temperatura do ar chegaram a 5,4ºC e as menores a 0,2ºC e que as diferenças média de umidade relativa do ar não chegaram a 28,9% e as menores 3,4 %, como pode ser visto na (figura 3). Isso devido a atuação da ASAS, que diminuiu a nebulosidade, já que esse sistema resulta em condições de tempo estável, como foi explicitado acima. Consequentemente as diferenças de temperatura e umidade relativa do ar entre os pontos foram mais expressivas, revelando a influencia dos diferentes usos do solo urbano. Os pontos 1 e 2 são os que apresentaram as menores médias de temperatura do ar, isso pode ser explicado pelo fato deles estarem localizados no interior do parque, protegidos pelo dossel das árvores, que diminui de forma significativa a incidência de radiação direta, além disso, esses pontos por estarem envoltos por vegetação, acabam sofrendo menor influencia dos ventos, fluxo de automóveis e radiação solar. A vegetação se comporta como um isolante, que causa sombra e não expõe tanto o solo, filtrando dessa forma os elementos perturbadores descritos anteriormente, atenuando o rápido aquecimento solo e do ar. O ponto 3, localizado na área transição parque-área externa apresenta médias de temperatura do ar mais elevadas do que o ponto 1 e 2, sobretudo no período diurno e médias de temperatura do ar menos elevadas do que os pontos 4 e 5. Esse ponto por está localizado nas proximidades do parque a menos de 5 metros de distância, sofre influência direta da vegetação, mas também sofre influência direta do tipo de uso do solo onde ele se encontra. Por não estar em uma área com predomínio exclusivo de construções e área vegetada, ele se comporta diferente dos pontos 1 e 2 área interna do parque e dos pontos 4 e 5 área externa do parque. O ponto 3 sofre influências da área externa a Sul, como circulação de veículos, solo impermeabilizado, ausência de vegetação e também sofre influências a Norte, como a ausência de circulação de veículos, solo coberto por serrapilheira e predomínio de vegetação arbórea. Os fatores descritos, contribuem de forma direta nas temperaturas do ar, fazendo com que as

mesmas não se elevem da mesma forma que os pontos 4 e 5, mas também não fiquem abaixo das temperaturas do ar dos pontos 1 e 2, com exceção dos período noturno, especificamente durante o final da noite e início da madrugada. Os pontos 4, 5 são os que apresentaram as maiores médias de temperatura do ar, eles estão localizados na área externa do parque, que sofre maiores influências atmosféricas. Nesses pontos a presença de vegetação arbórea é praticamente inexistente, isso é um fator que contribui para o aquecimento do solo e do ar, pois a incidência de radiação direta é maior, o deslocamento e influência dos ventos também, uma vez que não há nenhuma barreira. A EMA localizada na área externa do parque, aproximadamente a 1.800 metros de distância, apresentou médias de temperatura do ar em geral maiores que as dos pontos 1 e 2 e menores que as dos pontos 4 e 5 e similares as do ponto 3, sendo essas na maioria das vezes maiores que a da ponto 3. Os fatores que geraram as médias de temperatura mais elevadas em relação aos pontos 1 e 2, a pequena quantidade de vegetação no entorno do local onde está instalada a EMA e por consequência a incidência de radiação direta no local, que aquece o ar e material de forma mais rápida, no entanto existe uma quantidade de árvores no entorno e um córrego nas proximidades da EMA que pode contribuir para o aumento da evaporação, que evita o aquecimento rápido do ar. O uso do solo nesses pontos é diferente dos demais, o ponto 4 apresenta solo totalmente impermeabilizado, o ponto 5 há presença de gramíneas e a EMA apresenta pouca vegetação. Ambos estão próximos a vias de circulação de veículos. Portanto, a inexistência de filtros naturais, como os existentes nos pontos 1 e 2 acabam por influenciar de forma significativa nas temperaturas do ar desses pontos. No que diz respeito a umidade relativa do ar a (figura 3), o gráfico foi elaborado a partir do cálculo das médias de umidade relativa do ar.

Figura 3 Variação média da umidade relativa do ar entre os dias 18 a 22 de março de 2013. Os pontos 1 e 2 foram os que apresentaram as maiores médias de umidade relativa do ar. O que gerou o elevado nível de umidade relativa do ar é o fato desses pontos estarem na área interna do parque, onde predomina vegetação arbórea, que funciona como isolante, fazendo com que a entrada de energia na mata seja menor e a quantidade dissipada também. Assim, o aquecimento do ar na área interna do parque, com mata e dossel semi-fechado é menor do que em locais onde não há presença do dossel, nos quais a radiação não encontra nenhuma barreira e aquece o solo e o ar de forma mais rápida, elevando a temperatura do ar e dissipando a umidade presente, já que atua o calor sensível (aquecimento do ar) e latente (evaporação). Além disso, segundo Reis (2009, p. 88) as plantas para obterem uma fotossíntese máxima expõem ao máximo sua superfície foliar a radiação solar, isto faz com que seus estômatos se abram para entrada de luz e dióxido de carbono. Os estômatos constituem uma estrutura alveolar com espaços cheios de ar saturado com vapor d'água, que

ao se abrirem formam uma superfície de transpiração, que faz com que ocorra evaporação da água, deixando o ar mais saturado. Esses fatores fazem com que a umidade relativa do ar nesses dois pontos se mantenha alta em relação aos outros. Os pontos 3, 4, 5 e EMA são os que apresentaram as menores médias de umidade relativa do ar. Nesses pontos a presença de vegetação arbórea é ínfima, um dos filtros que inibem a incidência de radiação direta, contribuindo dessa forma para maior aquecimento do solo e do ar, assim, a umidade relativa do ar nesses pontos é dissipada de forma mais rápida. Diante dos resultados apresentados e analisados nos quatro períodos, é possível notar que a área externa é mais alterada e apresenta as maiores temperaturas do ar e as menores umidade relativa do ar, pois o material constituinte desses pontos e do seu entorno acaba por modificar seu microclima, como cita Monteiro (2004, p. 8) em relação às cidades, a cidade modifica o clima através de alteração da superfície e do aumento da produção de calor, complementado por modificações na ventilação, na umidade e nas precipitações. Dessa forma, nota-se que a alteração na superfície externa é bem significativa em relação a interna, contudo, não significa que a área interna do parque não foi alterada, ela foi, mas não de forma tão significativa como a área externa. Isso corrobora com a ideia inicial do projeto, que tinha como objetivo identificar o quão importante o Parque Chico Mendes é para região. Ele é um equipamento urbano importante para região, além de ser uma área que desempenham um papel de lazer e recreação para população, ela também tem condições microclimáticas benéficas, como temperaturas mais amenas e umidades mais elevadas do que a região do entorno.

BIBLIOGRAFIA AMORIM, M. C. de C. T.; LIMA, V. A importância das áreas verdes para a qualidade ambiental das cidades. Revista Formação. Presidente Prudente SP, n. 13, p. 69-82, 2006. COSTA, E. R. da. O campo termo-higrométrico do Parque Itaimbé/Santa Maria/RS em situação atmosférica de domínio da Massa Polar Atlântica no Inverno. Revista Formação. Presidente Prudente SP. v. 1, n. 20, p. 94 110, 2013. BUCCHERI FILHO, A. T.; NUCCI, J. C. Espaços livres, áreas verdes e cobertura vegetal no bairro Alto da XV, Curitiba/PR. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo - SP, n. 18, p. 48-59, 2006. MONTEIRO, C. A. de F. Teoria e Clima Urbano. Tese de livre docência, FFLCH- USP, 1976. MONTEIRO, M. B. C. de A. Comparação do perfil vertical da temperatura e umidade relativa do ar em fragmentos de mata atlântica no interior e arredores da cidade de São Paulo, SP. Trabalho de Graduação Individual TGI, FFLCH-USP, 2004.

REIS, F. R. A influência da vegetação no microclima do parque Chico Mendes. In: 2º Seminário de Áreas Verdes - Contribuição à Qualidade Ambiental da Cidade, 2009. São Paulo SP, p. 84-90, 2009.