AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS EM GRÃOS DE SOJA E FEIJÃO CULTIVADOS EM SOLO SUPLEMENTADO COM LODO DE ESGOTO

Documentos relacionados
Impacto Ambiental do Uso Agrícola do Lodo de Esgoto: Descrição do Estudo

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

Engª. Agrª. M.Sc: Edimara Polidoro Taiane Mota Camargo

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

OBJETIVO SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DA ADUBAÇÃO NPKS MINERAL (QUÍMICA) POR ORGÂNICA COM E. GALINHA MAIS PALHA DE CAFÉ

15 AVALIAÇÃO DOS PRODUTOS SEED E CROP+ EM

Eficiência agronômica de inoculante líquido composto de bactérias do gênero AzospirÜ!um

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL VALORIZA. VALORIZA/Fundação Procafé

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

LEANDRO ZANCANARO LUIS CARLOS TESSARO JOEL HILLESHEIM LEONARDO VILELA

CÁLCULOS DE FECHAMENTO DE FORMULAÇÕES E RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO

Avaliação da eficiência agronômica de inoculante líquido contendo bactérias do gênero Azospirilium

Adubação na Cultura de Milho

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÃO E FONTES DE FERTILIZANTES NA CULTURA DA SOJA 1

ADUBAÇÃO NPK DO ALGODOEIRO ADENSADO DE SAFRINHA NO CERRADO DE GOIÁS *1 INTRODUÇÃO

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA E VIABILIDADE TÉCNICA DO PROGRAMA FOLIAR KIMBERLIT EM SOJA

CALAGEM E GESSAGEM DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE RORAIMA 1 INTRODUÇÃO

6 CALAGEM E ADUBAÇÃO

A Cultura do Algodoeiro

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

EFEITO DA CALAGEM E ADUBAÇÃO COM MICRONUTRIENTES NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE GOIÁS (*)

A cultura da soja. Recomendação de correção e adubação

Recomendação de Correção de Solo e Adubação de Feijão Ac. Felipe Augusto Stella Ac. João Vicente Bragança Boschiglia Ac. Luana Machado Simão

OBSERVAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A ADUBAÇÃO FOLIAR EM FEIJOEIRO (Phaseolus vulgaris L.) I ( 1 ).

FERTILIDADE DO SOLO INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DE SOLO E RECOMENDAÇÃO DA ADUBAÇÃO

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

Gestão da fertilidade do solo no sistema soja e milho

Comportamento de plantas de açaizeiro em relação a diferentes doses de NPK na fase de formação e produção

CLAUDINEI KURTZ Eng. Agrônomo, Dr. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

Balanço de nutrientes em sistemas de produção soja-milho* Equipe Fundação MT Leandro Zancanaro

BPUFs para milho em Mato Grosso do Sul informações locais. Eng. Agr. M.Sc. Douglas de Castilho Gitti

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

OBJETIVOS. Substituição parcial adubação mineral NPKS por orgânica com esterco de curral (Bacia leiteira confinamentos = Disponibiliade)

AGRISUS - RELATÓRIO MARÇO DE 2012

POTENCIAL DE ROCHAS SILICÁTICAS NO FORNECIMENTO DE NUTRIENTES PARA MILHETO. 1. MACRONUTRIENTES (1)

Experimento Correção de P (safra 2010/11 a 2015/16)

RELATÓRIO DE PESQUISA 11 17

o custo elevado dos fertilizantes fosfatados solúveis em água

Palavras-chave: química do solo, mobilização mecânica, práticas conservacionistas

Protocolo. Enxofre. Resposta da cultura da sojaa fontes e doses deenxofre

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 637

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus Experimental de Dracena Curso de Zootecnia Disciplina: Fertilidade do solo e fertilizantes

Protocolo. Boro. Cultivo de soja sobre doses de boro em solo de textura média

AVALIAÇÃO AGRONÔMICA DOS FOSFATOS NATURAIS DE ARAD, DE DAOUI E DE GAFSA EM RELAÇÃO AO SUPERFOSFATO TRIPLO. Resumo

Resposta das culturas à adubação potássica:

Protocolo. Programas de Nutrição. Performance de programas de nutrição para incremento de produtividade em solo de textura leve

CALAGEM, GESSAGEM E MANEJO DA ADUBAÇÃO EM MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis

EFEITO DE FONTES E DOSE DE NITROGÊNIO APLICADOS NO MILHO SAFRINHA NA PRODUTIVIDADE DO MILHO SAFRINHA E NA SOJA SUBSEQUENTE 1

Arranjo espacial de plantas em diferentes cultivares de milho

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

Recomendação de adubação para soja

IRRIGAÇÃO BRANCA NA FORMAÇÃO DO CAFEEIRO

CALAGEM SUPERFICIAL E INCORPORADA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MILHO SAFRINHA AO LONGO DE CINCO ANOS

Atributos químicos no perfil de solos cultivados com bananeira sob irrigação, no Projeto Formoso, Bom Jesus da Lapa, Bahia

PROPRIEDADES QUÍMICAS DE UM LATOSSOLO ÁCIDO AFETADAS PELA APLICAÇÃO E REAPLICAÇÃO DE RESÍDUO DE RECICLAGEM DE PAPEL INTRODUÇÃO

Enriquecimento de substrato com adubação NPK para produção de mudas de alface

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO CERRADO

ADUBAÇÃO DA MAMONEIRA DA CULTIVAR BRS ENERGIA.

CANA-DE-AÇÚCAR: COMPORTAMENTO DE VARIEDADES EM PIRACICABA, SP 0

Protocolo. Dinâmica do K. Dinâmica do potássio em solo de textura arenosa

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE UM POLIFOSFATO SULFORADO (PTC) NO ALGODOEIRO EM SOLO DE GOIÂNIA-GO *

PESQUISA COM ADUBAÇAO E CALAGEM PARA SOJA NA REGIAO DE BALSAS, MA

EFEITO DE MÉTODOS DE APLICAÇÃO DE CALCÁRIO SOBRE ORENDIMENTO DEGRÃos DESOJA, EM PLANTIO DIRETOl

A CULTURA DO MILHO: CORREÇÃO, ADUBAÇÃO E ESTUDO DE CASO

1O que é. O setor agrícola familiar apresenta uma demanda

A melhor escolha em qualquer situação

Feijão. 9.3 Calagem e Adubação

FLORORGAN EM FEIJOEIRO

Resposta de Cultivares de Milho a Variação de Espaçamento Entrelinhas.

Protocolo Gessagem. Doses de gesso agrícola e seu residual para o sistema de produção soja/milho safrinha

EFEITOS DA OMISSÃO DE NUTRIENTES NOS COMPONENTES DE PRODUTIVIDADE DO ARROZ EM LATOSSOLOS DO NORDESTE PARAENSE

Calagem no Sistema Plantio Direto para Correção da Acidez e Suprimento de Ca e Mg como Nutrientes

EFEITOS DA FERTILIZAÇÃO COM NITROGÊNIO E POTÁSSIO FOLIAR NO DESENVOLVIMENTO DO FEIJOEIRO NO MUNICÍPIO DE INCONFIDENTES- MG.

ATIVIDADES DE INSTALAÇÃO DO GLOBAL MAIZE PROJECT

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

EFEITO DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NO SULCO DE PLANTIO NO DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS DE SORGO

Fertilidade de Solos

POTENCIAL DE ROCHAS SILICÁTICAS POTÁSSICAS NO FORNECIMENTO DE MICRONUTRIENTES PARA SOJA

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

AVALIAÇÃO DA FITOMASSA E COMPRIMENTO DAS RAÍZES DA MAMONEIRA BRS NORDESTINA INFLUENCIADOS PELA FERTILIZAÇÃO ORGÂNICA

DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO MILHO SAFRINHA, FONTES E MODOS DE APLICAÇÃO DE FÓSFORO EM SISTEMA DE SUCESSÃO COM SOJA NO ESTADO DO MATO GROSSO

Palavras-chave: cultivares de milho, efeito residual de adubos.

ABSORÇÃO FOLIAR. Prof. Josinaldo Lopes Araujo. Plantas cultivadas dividem-se em: Folhas Caule Raízes

Manejo da Fertilidade do Solo para implantação do sistema ILP

AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO

A EXPERIÊNCIA DO AGRICULTOR/ PESQUISADOR NA BUSCA DA ALTA PRODUTIVIDADE

SUMÁRIO. Capítulo 1 ESCOPO DA FERTILIDADE DO SOLO... 1

TEOR DE ÓLEO E RENDIMENTO DE MAMONA BRS NORDESTINA EM SISTEMA DE OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

Adubação do Milho Safrinha. Aildson Pereira Duarte Instituto Agronômico (IAC), Campinas

Cultura da Soja Recomendação de Correção e Adubação

Inoculação e Coinoculação na Cultura da Soja

Transcrição:

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS EM GRÃOS DE SOJA E FEIJÃO CULTIVADOS EM SOLO SUPLEMENTADO COM LODO DE ESGOTO R. F. Vieira 1, D. Perez 2, C. M. M. S. Silva 1 1 Embrapa Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP: 13820-000, Jaguariúna, SP, Brasil. 2 Embrapa Solos, Rua Jardim Botânico, 1024, CEP 22460-000, RJ, Brasil. e-mail:rosana@cnpma.embrapa.br RESUMO Avaliações dos grãos de soja colhidos de plantas cultivadas em solo onde o lodo foi aplicado pela primeira vez, como fonte de P, não têm demonstrado diferenças nos teores de metais pesados em relação aos tratamentos onde o lodo não foi aplicado. Tais resultados foram verificados para os elementos Mn, Fe, Zn e Cu. Cádmio, Pb e Ni não foram detectados em nenhum dos tratamentos, uma vez que estavam, possivelmente, abaixo do limite de detecção desta técnica. No feijão, os grãos também colhidos de plantas cultivadas em área onde o lodo foi aplicado pela primeira vez, como fonte de N e, portanto, em maiores quantidades, os teores de Mn, Fe, Zn e Cu não diferiram entre os tratamentos, enquanto os teores de Cd, Pb, Co e Cr estavam abaixo do limite de detecção da técnica. No entanto, para o elemento Ni, foram encontrados 6,51mg kg -1 de matéria seca de grãos colhidos no tratamento com lodo. No tratamento testemunha os valores deste elemento estavam abaixo do limite de detecção da técnica. Nos locais em que o lodo foi aplicado em dose duas vezes maior do que a calculada em função das necessidades da cultura em N, o teor de Ni nos grãos também dobrou. Os dados obtidos com os grãos de feijão revelam que o cultivo desta leguminosa, em áreas onde o lodo é aplicado com freqüência, deveria ter o valor nutricional dos seus grãos sempre monitorados, uma vez que a ingestão oral tolerável deste elemento não tem sido estabelecida. INTRODUÇÃO Com o aumento da população urbana e, conseqüentemente, da produção de lodo de esgoto, torna-se cada vez mais premente a busca de alternativas ambientalmente corretas para a sua destinação. A aplicação deste composto em solos agrícolas vem surgindo como uma técnica promissora, em decorrência dos seus benefícios nas propriedades físicas e químicas do solo. O lodo de esgoto, porém, pode conter uma variedade de substâncias ou elementos que podem ser tóxicos aos microrganismos do solo e às próprias plantas. Uma das maiores preocupações com a utilização do biossólido na agricultura advém do fato de que elementos como os metais pesados possam passar a fazer parte da cadeia alimentar. Embora no Brasil já exista uma série de pesquisas demonstrando o efeito benéfico da aplicação do lodo em diferentes culturas, pouco tem sido feito com leguminosas de grãos e, principalmente com os possíveis aumentos de metais nas partes comestíveis da planta.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido durante dois anos agrícolas seguidos, com a aplicação do biossólido somente sendo realizada no primeiro ano. O primeiro plantio foi feito em novembro de 2000, no campo experimental da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, SP, em um solo classificado como Latossolo Vermelho distroférrico, textura areia/argilosa, com a seguinte composição química: ph (CaCl 2 ) 4,4; P 8 mg dm -3 (método da resina); K 1,2 mmol c dm -3 ; Ca 11 mmol c dm -3 ; Mg 6 mmol c dm -3 ; H + Al 58 mmol c dm -3 ; CTC 76,2 mmol c dm -3 ; V 24 (%) e MO 28 g dm 3. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições e os seguintes tratamentos: ausência de adubação química ou lodo de esgoto (testemunha); adubação química completa (AQ); inoculação mais dose 0 de lodo (I + L0); inoculação mais dose 1 de lodo ( I + L1); inoculação mais dose 2 de lodo (I + L2); inoculação mais dose 3 de lodo (I + L3); inoculação mais adubação química, exceto a nitrogenada (I + AQ). O P (superfosfato simples) e o K (cloreto de potássio) foram aplicados, respectivamente, nas doses de 80 kg P 2 O 5 ha -1 e 60 kg K 2 O ha -1. A uréia, na dose de 40 kg N ha -1, foi aplicada aos 20, 40 e 60 dias da semeadura da soja. A adubação foi feita de acordo com a análise de solo e as recomendações feitas pelo Instituto Agronômico de Campinas, SP. As doses de lodo de esgoto, também proveniente de Barueri, foram calculadas conforme já descrito para o experimento conduzido em casa de vegetação. A segunda dose, 3 t ha -1 (dose 2) forneceria a quantidade de P adequada para a produção da soja neste solo, ou seja, 80 kg P 2 O 5 ha -1. A primeira dose, 1,5 t ha -1 (dose 1) e a terceira dose, 6 t ha -1 (dose 3) foram, respectivamente, a metade e o dobro da dose 2. Em decorrência do baixo teor de potássio no lodo, as parcelas suplementadas com a menor e com a dose intermediária do biossólido receberam cloreto de potássio para atingir a dose recomendada de 60 kg K 2 O ha -1. O lodo foi distribuído uniformemente na superfície do solo e incorporado à profundidade de 0 20 cm com enxada rotativa. As características químicas do lodo são descritas na Tabela 1. Tabela 1. Características químicas do lodo de esgoto utilizado. Parâmetros Unidades Valores Fósforo g kg -1 11,5 Potássio g kg -1 8,3 Sódio g kg -1 4,0 Cádmio mg kg -1 9,2 Chumbo mg kg -1 151 Cobre mg kg -1 707 Cromo total mg kg -1 597 Níquel mg kg -1 268 Zinco mg kg -1 2314 ph 7,0 Umidade % 76,7 Nitrogênio Kjeldahl g kg -1 40,7 Boro mg kg -1 9,0 Enxofre g kg -1 11,7 Manganês mg kg -1 168 Ferro g kg -1 22,9 Magnésio g kg -1 2,5 Alumínio g kg -1 9,51 Cálcio g kg -1 17

A área experimental foi de aproximadamente 2610 m 2 com quatro blocos de 290 m 2. Cada parcela experimental (20 m 2 ) foi constituída por oito linhas de 5 m separadas por 0,5 m e com aproximadamente 20 sementes por metro. As parcelas experimentais foram distanciadas 5 m entre si para evitar contaminação. As duas linhas externas foram utilizadas como bordaduras e as duas centrais para obtenção da produção. As outras linhas foram usadas nas colheitas periódicas de plantas para as várias avaliações. No primeiro plantio as sementes (IAC 22) foram inoculadas com inoculante oleoso conforme a recomendação do fabricante para a cultura da soja no primeiro ano. O experimento com a cultura do feijão, a campo, foi montado no período da seca, em 26 de abril de 2000, no campo experimental da Embrapa Meio Ambiente, em um Latossolo Vermelho distroférrrico, textura média/argilosa, com a seguinte composição química: MO 26 g dm -3 ; ph (CaCl 2 ) 5.2; P (método da resina) 14 mg dm -3 ; K 1,3 mmol c dm -3 ; Ca 24 mmol c dm -3 ; Mg 18 mmol c dm -3 ; H + Al 42 mmol c dm -3 ; SB 44,3 mmol c dm -3 ; CTC 86,5 mmol c dm -3 ; V 51 %; B 0,20 mg dm -3 ; Cu 0,8 mg dm -3 ; Fe 54 mg dm -3 ; Mn 3,1 mg dm -3 ; Zn 1,1 mg dm -3. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com quatro repetições e os seguintes tratamentos: a. parcelas testemunha sem adubação química ou lodo de esgoto, b. parcelas com adubação química completa, c. parcelas com adubação química + `start de N (10 kg ha -1 ) + Mo aos 25 dias da emergência, d. parcelas com lodo de esgoto em dose calculada para fornecer à cultura o mesmo teor de N do tratamento b; e. parcelas com o dobro da dose de lodo do tratamento d, f. parcelas com adubação química + `start de N + inoculação, g. parcelas com a metade da dose de lodo do tratamento d + inoculação e h. parcelas com ¼ da dose de lodo do tratamento d + inoculação. O P (superfosfato simples), o K (cloreto de potássio) e o N (uréia) foram aplicados, respectivamente, nas doses de 40 kg P 2 O 5, 60 kg K 2 O e 70 kg de N. O N foi aplicado como sulfato de amônio na semeadura (10 kg N ha -1 ) e na forma de uréia aos 15 (20 kg N ha -1 ) e 30 dias da emergência (40 kg N ha -1 ). O Mo do tratamento c foi aplicado na dose de 60 g ha -1 em pulverização, utilizando-se molibdato de sódio, aos 25 dias após a emergência das plantas. As doses de lodo de esgoto aplicadas foram calculadas baseadas no teor de N do biossólido e no requerimento do feijoeiro neste nutriente. Baseado em ensaios preliminares tomou-se como base uma fração de mineralização do lodo de 30%. A quantidade de N presente no biossólido e que seria potencialmente disponível para a cultura foi estimada pela seguinte fórmula: Ndisp = 30/100 (Nk Nam) +1/2Nam + Nnit onde: Ndisp = nitrogênio disponível em kg kg -1 de lodo; Nk = nitrogênio contido no lodo de esgoto (método Kjeldahl); Nam = teor de N-amoniacal contido no lodo de esgoto; Nnit = teor de N-nítrico contido no lodo de esgoto. A dose final de lodo, na base seca, foi calculada utilizando-se a fórmula: dose de lodo (kg ha -1 ) = N-recomendado (kg ha -1 )/ N-disponível no lodo (kg kg -1 de lodo).

As doses, na base seca, relativas aos tratamento d` e e` foram, respectivamente, 6,83 (dose 1) e 13,66 (dose 2) t de lodo ha -1, e de 3,41 (dose 3) e 1,71t de lodo ha -1 (dose 4) nos tratamentos g` e h`. Em decorrência do baixo teor de potássio no lodo, todas as parcelas suplementadas com o biossólido receberam cloreto de potássio para atingir a dose recomendada de 60 kg K 2 O ha -1. O lodo foi distribuído uniformemente na superfície do solo e incorporado à profundidade de 0 20 cm com enxada rotativa. O biossólido foi proveniente da Estação de Tratamento de Lodo de Barueri e apresentou as características químicas descritas na Tabela 1. A área experimental foi de aproximadamente 2065 m 2 com quatro blocos de 295 m 2. Cada parcela experimental (15 m 2 ) foi constituída por seis linhas de 5 m separadas por 0,5 m e com aproximadamente 12 sementes por metro. As duas linhas mais externas foram utilizadas como bordaduras e as duas mais centrais para obtenção do rendimento. As outras linhas foram usadas nas colheitas periódicas de plantas para as várias avaliações. As parcelas conforme também realizado no experimento de soja foram separadas de 5m para evitar contaminação. As sementes (variedade carioca) foram inoculadas com inoculante turfoso oriundo do CENA, Piracicaba e aplicado conforme recomendação (1 kg 50 kg 1 de semente). RESULTADOS E DISCUSSÃO Análises de vários elementos nos grãos da soja, colhida nos dois anos agrícolas, não demonstraram diferenças acentuadas quanto aos teores de Ca, Mg, K, B, Mn, Fe, Zn e Cu, nos diferentes tratamentos (Tabela 2). O Cd, o Pb e o Ni estavam abaixo do limite de detecção da técnica em todos os tratamentos. Houve, porém, aumento dos teores de Mo nos grãos, quando a soja foi cultivada nas parcelas com lodo de esgoto. A concentração deste elemento nos grãos aumentou com as doses de lodo. No segundo ano, observou-se esta mesma tendência, fator importante quando se considera a fixação biológica do N 2, uma vez que aumento nos teores de Mo no solo ou mesmo nas sementes podem aumentar a eficiência desse processo simbiótico. Tabela 2. Teores de alguns elementos (mg kg -1 ) nos grãos de soja. Ano agrícola 2000/2001 Ca Mg K B Mo Mn Fe Zn Cu Testemunha 2410 a 2423 a 12867 b 18,20 a 0,42 c * 150 a 41,07 a 11,08 a AQ 2273 a 2327 a 13233 ab 12,53 c - 2 * 160 a 37,23 a - I + L1 2417 a 2462 a 14300 ab 16,02 ab 0,58 bc * 158 a 39,55 a 11,52 a I + L2 2275 a 2460 a 14667 a 15,20 bc 0,75 ab * 141 a 39,85 a 10,62 a I + L3 2370 a 2455 a 13925 ab 14,35 bv 0,83 a * 147 a 39,95 a 10,97 a Ano agrícola 2001/2002 Ca Mg K B Mo Mn Fe Zn Cu Testemunha 2147 a 2225 a 13950 a 10,08 ab - 18,47 a 87,37 a 32,47 ab 9,37 a AQ 2167 a 2237 a 14425 a 10,52 a 1,60 a 19,55 a 134,20 a 32,30 ab 10,21 a I + L1 2030 a 2170 a 12350b 9,71 ab - 18,15 a 167,00 a 30,90 b 8,99 a I + L2 2153 a 2217 a 14550 a 9,32 b 1,26 b 18,75 a 128,12 a 34,12 a 9,55 a I + L3 2117 a 2203 a 14267 a 9,26 b 1,66 a 18,20 a - 34,60 a 9,05 a 1 Médias seguidas pela mesma letra minúscula, na coluna, dentro de cada ano agrícola não diferem significativamente entre si (Duncan, P 0,05). Para saber significado das abreviaturas ver tabela 4 2 - Resultados variáveis * Análise não realizada

Os teores de Mn, Fe, Zn e Cu dos grãos de feijão provenientes do primeiro plantio não diferiram entre os tratamentos (Tabela 3). Os teores de Cr, Co, Cd e Pb estavam em concentrações abaixo do limite de detecção da técnica empregada. Os teores de Ni nos grãos também estavam em concentrações abaixo do limite de detecção da técnica empregada, à exceção daqueles provenientes dos tratamentos com as três maiores doses de lodo. Para as doses 1, 2 e 3 de lodo, as concentrações de Ni nos grãos foram de, respectivamente, 6,51, 12,47 e 4,31 mg kg -1 de grãos. Os resultados obtidos no ano de 2001 para as concentrações de diferentes elementos nos grãos, também foram obtidas no segundo ano de cultivo, inclusive para os teores de níquel; no caso deste elemento, embora as concentrações nos grãos ainda estivessem relacionados às doses de lodo, elas foram menores que as obtidas no primeiro cultivo. Tabela 3. Teores de alguns elementos nos grãos de feijão (mg kg -1 ). Ano 2001 Mn Fe Zn Cu Cr Co Ni Cd Pb Testemunha 14,37-41,03 8,27 * 1 * * * * NPK 14,70 60,60 34,27 7,67 * * * * * NPK + Mo 13,63 60,30 35,70 8,28 * * * * * Inoculada + PK 15,13 61,07 34,73 8,04 * * * * * Lodo 1 14,30 55,17 35,17 8,19 * * 6,51 * * Lodo 2 16,13 51,87 34,40 7,75 * * 12,47 * * Inoculada + Lodo 3 15,27 61,57 35,63 7,71 * * 4,31 * * Inoculada + Lodo 4 13,47 64,70 35,73 8,28 * * * * * Ano 2002 Mn Fe Zn Cu Cr Co Ni Cd Pb Testemunha 14,57 73,80 37,63 9,26 * * * * * NPK 15,00 60,67 36,13 8,13 * * * * * NPK + Mo 13,70-2 35,37 8,68 * * * * * Inoculada + PK 14,97 65,93 40,83 8,90 * * * * * Lodo 1 16,57 61,13 38,60 8,84 * * * * Lodo 2 16,53-38,70 9,60 * * * * Inoculada + Lodo 3 15,10-35,57 8,89 * * * * Inoculada + Lodo 4 15,20 69,47 38,43 9,04 * * 1,71 * * 1 Teores abaixo do limite da técnica utilizada 2 Resultados variáveis