INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE 1 DE 10
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INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE 3 DE 10 CESPES Núcleo de Estudos de Línguas e Culturas dos Povos Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela Estrada Nacional N.º 100, Lobito-Benguela Bairo da Nossa Senhora da Graça Email: cespes.benguela@unipiaget-angola.org http://www.piagetbenguela.org/index.php (Working Paper - versão Electrónica)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE PÁG.4 DE 10 INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE Luís Chimuco Aspectos introdutórios Angola é um país africano onde reina uma variedade de línguas nacionais. Porém, a língua tida como oficial é o português. O primeiro contacto desta língua europeia com as nossas línguas bantu deu-se em 1482 com a chegada dos portugueses ao território angolano. Deste contacto resultou uma variedade linguística do português falado em Angola e, sobre esta realidade, Amélia Mingas escreve: (...) uma nova realidade linguística em Angola, a que chamamos português de Angola ou angolano, à semelhança do que aconteceu ao brasileiro ou ao crioulo. Embora em estado embrionário, o angolano apresenta já especificidades próprias (...). Pensamos que, no nosso país, o português de Angola sobrepor-se-á ao português padrão como língua segunda dos Angolanos. Embora esta variedade tipicamente angolana satisfaça as necessidades comunicativas do país, vale ressaltar que no sector educativo a interferência destas línguas bantu na língua de escolarização (português) tem fomentado graves problemas uma vez que não facilita o enraizamento estrutural da língua veicular provocando, desta forma, o insucesso escolar. Nos centros urbanos, reconhece-se que o processo de unificação da língua apresenta menos dificuldades. Contudo, o mesmo não se pode dizer das zonas rurais onde o baixo índice de escolaridade é ainda gritante. Nestas áreas, o português padrão frequentemente desaparece quando se sai do ambiente escolar e acaba por permanecer num patamar pouco definido, sujeitando-se a todo o tipo de interferências. Mesmo sendo o português o meio de comunicação por excelência, as falhas que se constatam na oralidade e na escrita são
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE 5 DE 10 primárias. É bem verdade que não falar o português padrão não é sinónimo de falar mal ou de não ter competências para o fazer, todavia os resultados do ensino-aprendizagem não estarão de acordo com os objectivos propostos. Doutra forma diríamos que embora o português falado em Angola facilite a comunicação entre os membros da comunidade, não podemos descurar o facto da não existência de uma norma que regule esta variedade pelo que se torna imperiosa a obediência ao Português Europeu. Ivo Castro, professor de Linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na sua Introdução à História do Português, de 2006, refere que, para além das duas grandes variantes bem definidas a portuguesa e a brasileira, existem outras duas variantes em formação, a angolana e a moçambicana, sendo de esperar que estas também se individualizem normativamente quando estabilizarem. No entanto, neste momento, não há ainda expressão institucional, nem instrumentos prescritivos consagrados que fixem as características dessas novas normas. O que se conhece são aspectos típicos da oralidade que frequentemente afloram no discurso escrito. Podemos ainda avançar que para se ter domínio de uma língua, não basta conhecer as suas regras gramaticais. É necessário que na sua aprendizagem o aluno seja exposto a ela de uma forma correcta e contextualizada. Ao aprender uma L2 o indivíduo tende a transferir as formas e significados da L1 e as dificuldades ou facilidades de aprender uma língua é consequência directa das diferenças e/ou semelhanças que existem entre a L1 e a L2 (Maria Luísa Alvarez, 2008) I. Algumas particularidades do Português Angolano: Pronomes O Português Angolano (PA) é amplamente influenciado pelas línguas bantu faladas em Angola quer a nível sintáctico como semântico, fonético como morfológico ou ainda no domínio lexical. No que diz respeito aos pronomes, por exemplo, os de objecto directo, indirecto, pronomes reflexivos e ainda os recíprocos surgem sempre à esquerda do radical verbal (antes
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE PÁG.6 DE 10 do verbo) nas línguas bantu reflectindo, tal situação, no português falado em Angola ou ocorre a substituição de um pronome pelo outro como atestam os exemplos abaixo apresentados. 1 -Substituição de um pronome pelo outro Os pronomes clíticos de objecto directo o, a, os, as são muito raros no PA. Estes são sistematicamente substituídos pelas formas pronominais de sujeito do Português Europeu (PE) eu, tu, eles, elas ou pela forma clítica de objecto indirecto lhe. Ex. PA: Deixa ele falar! PE: Deixa-o falar! PA: Não lhe vi. PE: Não o vi. frase. 2- Colocação dos pronomes na frase O PA diverge do PE também no que respeita à ordem de colocação dos pronomes na 2.1- Pronomes objectos Efectivamente, as formas acentuadas de objecto do pa seguem o padrão do pe (i.e. após o verbo), mas as formas clíticas de objecto directo e indirecto divergem claramente do padrão europeu, pois surgem tipicamente antes do verbo. Ex. PA: A minha irmã me deu um presente. PE: A minha irmã deu-me um presente. PA: Eu te amo. PE: Eu amo-te. 2.2- Pronomes reflexivos e recíprocos
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE 7 DE 10 A influência de substrato no uso de pronomes pessoais reflexivos e recíprocos no pa é também visível tanto na sua colocação bem como na sua flexão, ou seja, no facto de parecer existir apenas uma forma para todas as pessoas, i.e. se. Ex. PA: A menina se feriu. PE: A menina feriu-se. PA: Nós conseguimos se entender. PE: Nós conseguimos entender-nos. Ou Nós conseguimo-nos entender. Curiosamente, há casos em que o próprio pronome reflexo simplesmente desaparece. PA: A Ana sentou durante muito tempo./ajoelhei diante da cruz. PE: A Ana sentou-se durante muito tempo./ajoelhei- me diante da cruz. II. Regras da Sintaxe de Colocação dos Pronomes na Frase Numa frase, o pronome pode aparecer antes do verbo (próclise), a meio do verbo (mesóclise) e depois do verbo (ênclise). 1- Antes do verbo: Em frases negativas; Ex: Não me chamo António. /Nunca te vi na escola. Em frases interrogativas iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos; Ex: Como te chamas? / Onde o encontraste? Depois das conjunções ou locuções subordinativas: Ex: Quando o vires, diz-me algo. Depois dos advérbios já, ainda, bem, só, sempre, também, talvez, etc. Ex: Já o tinha ajudado. /Sempre te avisei. Depois das preposições para, de, por, sem, até. Ex: Leva o anel para te lembrares de mim. /Tudo lhe faz mal. Depois dos pronomes indefinidos todo/a/s, tudo, alguém, nada, ninguém. Ex: Nada o ajudará a melhorar. /Ninguém os prejudicará.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE PÁG.8 DE 10 2- Depois do verbo: Sem que se verifique o disposto no ponto 1, o pronome deve sempre aparecer depois do verbo. Ex: Amo-te bastante (é errado dizer: Te amo bastante). 3-A meio do verbo No futuro e no condicional, sem que se verifique o previsto no ponto 1, o pronome deve aparecer a meio do verbo. Ex: Venderei o meu livro à Elsinha. /Vendê-lo-ei à Elsinha. Daria dinheiro ao meu filho se tivesse. /Dar-lhe-ia dinheiro se tivesse. Conclusões O ensino da língua portuguesa alicerça-se em dois pontos: o texto e a gramática. Normalmente é a gramática que levanta sérios constrangimentos nas aulas de Língua Portuguesa. Porém, apesar disso, ela ocupa lugar de destaque pelo facto de tanto os alunos como os professores a associarem ao falar bem e escrever bem e o que naturalmente suscita grande motivação aos alunos. Mas o facto de haver grande prazer nas aulas de gramática não implica a existência de competências gramaticais ou comunicativas devidamente desenvolvidas, pois, infelizmente, o ensino da gramática assenta ainda na demonstração das regras e na memorização dos conceitos que formulam essas regras pondo de parte o seu enquadramento comunicativo ou discursivo. Portanto, cabe-nos recomendar que o ensino da gramática não deve ser dissociado do estudo do texto permitindo desta forma o desenvolvimento de competências comunicativas. Memorizar regras não é suficiente; é necessário que o aluno saiba contextualizar tais regras dentro de um discurso. Bibliografia GASPAR, Lisete Paulo Osório Reina Pereira, A Língua Portuguesa e o seu Ensino em Angola, Dialogarts, Rio de Janeiro, 2012.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS BANTU NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: PRONOMINALIZAÇÃO A SINTAXE DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES NA FRASE 9 DE 10 MINGAS, A.A., Interferência do Kimbundu no Português falado em Lwanda, Caxinde, Editorial Livraria, 2000. VALENTE, P.F.J., Gramática Umbundu: A língua do Centro de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, 1964.
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