ATAS DO II ENCONTRO NACIONAL DO GRUPO DE ESTUDOS DE LINGUAGEM DO CENTRO-OESTE: INTEGRAÇÃO LINGÜÍSTICA, ÉTNICA E SOCIAL

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Transcrição:

ATAS DO II ENCONTRO NACIONAL DO GRUPO DE ESTUDOS DE LINGUAGEM DO CENTRO-OESTE: INTEGRAÇÃO LINGÜÍSTICA, ÉTNICA E SOCIAL Denize Elena Garcia da Silva (Organizadora) Brasília 2004 Este artigo foi extraído do volume III das Atas (http://gelco.crucial.com.br/volume3.pdf). Para maiores informações visite http://gelco.crucial.com.br/index.html. 3

Componentes da Diretoria do Grupo de Estudos de Linguagem do Centro-Oeste GELCO Presidente Denize Elena Garcia da Silva (UnB) Vice-Presidente Maria Zaira Turchi (UFG) Primeira Secretária Gláucia Muniz Proença Lara (UFMS) Segunda Secretária Hilda Orquídea Hartman Lontra (UnB) Primeiro Tesoureiro Manoel Mourivaldo de Almeida (UFMT) Segunda Tesoureira Maria Raquel Galán (ULBRA/TO) E56 Encontro nacional do grupo de estudos de linguagem do Centro-Oeste: integração linguística, étnica e social (2. 2003 : Goiânia) Atas do II encontro nacional do grupo de estudos de linguagem do Centro-Oeste: integração linguística, étnica e social / Denize Elena Garcia da Silva / (organizadora). Brasília : Oficina Editorial do Instituto de Letras da UnB, 2004. 3v. 1. Linguística-Centro-Oeste. 2. Linguística-conferência. 3. Linguística aplicada. 4. Literatura. I. Silva, Denize Elena Garcia da. II. Título. CDU 801(817)(061.3) Endereço para correspondência: Grupo de Estudos de Linguagem do Centro-Oeste GELCO UnB IL LIV Campus Universitário Darcy Ribeiro ICC Norte, subsolo, módulo 20 CEP 70910-900 Brasília DF 4

VOGAIS LONGAS NA LÍNGUA LAKLÃNÕ (XOKLENG) 1 Nanblá Gakran (PG/UNICAMP) Thaís Alessandra Giannico (PG/UNICAMP) Valderes Aparecida Rinaldi (PG/UNICAMP) Ilda de Souza (PG/UNICAMP-UNIDERP) Abstract: In this paper it is presented a phonological analysis for vowels in an indigenous language from the South of Brazil named Laklãnõ (Xokleng). The corpus used for this analysis is based on the South American Indian Language Documentation Project Questionary by Kaufman & Berlin (1987). After analyzing homonyms/minimal pairs in this language followed by accurate acoustical tests it was possible to argue in favor of the existence of length vowels as phonemes in this language. Keywords: indigenous language; linguistics; phonetics/ phonology; vowels. 1.Estudo das vogais Neste trabalho apresentamos uma proposta de análise fonética e fonológica para as vogais da língua Laklãnõ (Xokleng). O material usado para a obtenção do corpus foi o South American Indian Language Documentation Project Questionary de Kaufman & Berlin (1987), acrescido de algumas palavras complementares que se fizeram necessárias para o prosseguimento da pesquisa. Após a transcrição fonética do corpus, nossa análise levou-nos à constatação de alguns fenômenos interessantes: a existência de um grande número de segmentos vocálicos, a existência de vogais nasais, a ocorrência de cópia de vogais. Ao depararmos com uma quantidade incomum de homônimos, levantamos a hipótese da existência de vogais longas na língua. Os estudos feitos através do programa Praat 2 possibilitaram uma análise acústica mais detalhada e precisa, que veio confirmar nossa hipótese. Desta forma elaboramos as Tabelas Fonética e Fonológica das vogais da língua Laklãnõ (Xokleng). Utilizamos os modelos propostos por Kenneth Pike (1947, apud Cristófaro Silva, 2001); Chomsky & Halle (1968, idem), Hyman (1975), Halle e Clements (1983). Revisitando estes teóricos, adotamos as concepções de fonética, fonologia e fone apresentados por Hyman 3. O resultado da análise inicial apontou para um quadro fonético constituído de 31 segmentos vocálicos, os quais estão especificados abaixo. Pica-pau Kligdjév Zj4hfM!mcYD9u D \ Boiar Txuntxũl [srts-!srt}9kt}] Gordura Tag [s`9f ] Exemplos: 1 Língua pertence à família lingüística Jê e ao tronco Macro-Jê. O nome Xokleng foi dado por pesquisadores estrangeiros, porém os índios desta etnia nunca se sentiram confortáveis com essa denominação. Assim, há alguns anos, esta comunidade iniciou um processo de re-denominação, considerando o verdadeiro nome, Laklãnõ. 2 Programa desenvolvido por Paul Boersma e David Weenink no Institute of Phonetic Sciences da University of Amsterdam. 3 Hyman (1975:1) define fonologia como o estudo do sistema de sons da língua, ou seja, ela estuda como os sons da fala se estruturam e funcionam nas línguas. A fonética (op.cit.:2) é o estudo das propriedades físicas dos sons que são produzidos e fones são unidades discretas ou segmentos fonéticos. 1404

Anterior Central Posterior Oral Nasal Oral Nasal Oral Nasal Alta hh9 h} 009 0}09 tt9 t} H T Média-alta dd9 d}d}9 nn9 n} Central??} Média-baixa DD9 D} NN9 N} 5} Baixa ``9 `} TABELA 1: QUADRO FONÉTICO DAS VOGAIS O número de segmentos vocálicos registrados a partir da transcrição fonética do corpus exigiu uma análise mais cuidadosa e detalhada para a definição do quadro fonológico da língua. Utilizando todos os recursos disponíveis, passamos a investigar os segmentos que no momento da transcrição causaram mais discussão e deixaram dúvidas quanto a sua existência enquanto fonema: A) vogal oral alta anterior não-arredondada vogal oral + ou - alta anterior não arredondada Pêlo Kágki [j?j-!jh] Tudo Nãli Z!m`}kH\ Ali Tagki [!s`j-jh] Como Hãlikekũ [g`}-kh-!jd-jt}] TABELA 2: DISTRIBUIÇÃO COMPLEMENTAR DOS FONES Zh\dZH\ No tabela acima, verificamos que os fones Zh\ e ZH\ estão em distribuição complementar. O ZH\ocorre em posição átona, tanto em sílabas no meio de palavras quanto em sílabas finais. O Zh\ ocorre em posição tônica, também em sílabas no meio de palavras e em sílabas no final de palavras. Zh\ e ZH\ ocorrem nos mesmos ambientes, porém,.h. é condicionado pela prosódia. Ambos Zh\ e ZH\ são alofones de.h. No caso deste trabalho, nosso informante e co-autor acredita na existência de dois fonemas: / i / e / I /. Como esta é uma descrição preliminar da língua, optamos por um só fonema e dois alofones, pois não encontramos evidências que comprovassem a intuição do falante. Há que se observar ainda, que o fone.h. é pouco freqüente na língua Laklãnõ (Xokleng). 1405

B) vogal nasal central média baixa não arredondada vogal nasal central média não arredondada Z5}\ e Z?}\ estão em variação livre. São alofones de um mesmo fonema, pois ocorrem no mesmo contexto, como pode ser visto abaixo. Virar Zókójãn ZCN-jN-!I5}mŒ\}}ZCN-jN-!I?}mŒ\ Macaco Kójãl ZjN- I? k? \}ZjNI5}k`\} ZjNI? k? \ TABELA 3: DISTRIBUIÇÃO COMPLEMENTAR DOS FONES / 5} / e /?}/ O fonema escolhido para representar este segmento vocálico, foi o chuá nasal.?}., pois neste corpus, o Z5}\ somente foi encontrado em variação com o Z?}\, enquanto o Z?}\ ocorre em todos os ambientes. Também não foi constatada a ocorrência de nenhum par mínimo, fato que reforça a suspeita sobre sua existência enquanto fonema da língua. C) vogal oral alta posterior arredondada vogal nasal alta posterior arredondada vogal oral + ou - alta posterior arredondada vogal nasal + ou alta posterior arredondada Os fones Zt\.Zt}\ e ZT\ / ZT}\ estão em situação semelhante à dos fones Zh\ e ZH\, ou seja, Zt\eZt}\ são encontrados em posição tônica enquanto ZT\ e ZT}\ estão em posição átona em final de palavra e de sílaba e em situação pré e pós-tônica. Sendo assim, os fonemas escolhidos para representar tais fones foram.t.e.t}. no caso das nasais. Excluídos os fones ZH\+ Z5\, ZT\e ZT}\, chegamos aos fonemas vocálicos da língua Laklãnõ (Xokleng), mostrados no quadro abaixo. \ Anterior Central Posterior Oral Nasal Oral Nasal Oral Nasal Alta hh9 h} 009 0}0}9 tt9 t} Média-alta dd9 d}d}9 nn9 n} Central??} Média-baixa DD9 D} NN9 N} Baixa ``9 `} TABELA 4: QUADRO FONOLÓGICO DAS VOGAIS 2. Fonemas vocálicos da língua Laklãnõ (Xokleng) 1406

Como se pode observar no quadro acima, foram constatados vinte e oito fonemas vocálicos na língua Laklãnõ (Xokleng). A língua possui três vogais orais anteriores, três centrais e três posteriores, cada uma com sua correspondente simétrica nasal. Vale ressaltar que a simetria apontada anteriormente não se aplica às vogais longas. As vogais nasais exercem uma influência sobre as consoantes, nasalizando-as, ou seja, a vogal nasal provoca um espalhamento de seu traço nasal nas adjacências. Exemplos: Colocar pena na flexa Zãn ZC`}mŒ\ Lavar Zag [C`fM] Borrachudo Txẽ ZsRd}\ Quati Txe ZsRd\ Asa Zãl [C?}k? ] Casca Zál [C?k? ] Caeté Ty Zs09\ Morrer Ty [s0] 2.3. Vogais longas Conforme dito anteriormente, a existência de um número elevado de homônimos levou-nos a considerar a hipótese da existência de vogais longas na língua. Em um primeiro momento analisamos somente pares mínimos, os quais confirmaram nossa hipótese e um dos exemplos é apresentado abaixo..d9. Coração Ze [Cd:] Favo Ze [Cd] FIGURA 1: Espectrograma da palavra coração [Cd:] 1407

FIGURA 2: Espectrograma da palavra favo [Cd:] Como o enfoque deste trabalho não é somente fonético, mas também fonológico, foi necessário verificar o comportamento destes fonemas longos em ambientes diferentes uma vez que a incidência destes recai em sua maioria em final de palavras 1. Um experimento foi elaborado, consistindo de gravações e análises através do Praat, de sentenças veículo nas quais a vogal longa era seguida de palavras iniciadas por obstruintes, pré e pós-nasais, aproximantes, além de vogais. Tendo em vista a dificuldade da construção de sentenças com alguns ambientes dada a estrutura da língua, valemo-nos do uso de logatomas 2, respeitando a estrutura silábica da língua. O comportamento observado foi bastante favorável e constatamos que as vogais mantêm suas características longas nos diversos ambientes. Observe exemplo abaixo com vogal longa seguida de oclusiva. FIGURA 3: Espectrograma da sentença Morro pequeno [jkd}9j`srhm] 1 É importante mencionar que, embora em número reduzido, também foram encontrados exemplos de vogal longa no meio palavras. 2 Logatomas utilizados no experimento: apa, epe, ipi opo e upu. 1408

FIGURA 4: Espectrograma da sentença Minha cabeça é pequena [d}i}jkd}j`srhm] Conforme pôde ser observado através dos espectrogramas acima, as vogais longas matem-se longas mesmo dentro de sentenças, não somente em casos isolados como podia ser pensado anteriormente..d}9. Cabeça Klẽ [j4d}] Morro Klẽ [j4d}9] 6.CONCLUSÃO Este estudo mostrou que na língua Lakãnõ (Xokleng) há uma predominância dos fonemas vocálicos. Foram encontrados 31 fones e 28 fonemas para esta língua, dentre os quais 10 são fonemas longos. As vogais nasais produzem um espalhamento de seu traço de nasalidade para as adjacências. Desta forma, contrariamente ao que acontece em português, as consoantes são nasalisadas pelas vogais. Mesmo havendo uma grande discussão na literatura em torno das vogais longas em línguas Jê, defendendo a hipótese de sua não existência, optamos por acreditar na intuição do falante nativo que afirma que em sua língua elas existem, mas ainda mais forte esta evidência se torna após as análises acústicas desenvolvidas no experimento realizado. 1409

7. BIBLIOGRAFIA BUBLITZ, T. (1994). Análise fonológica preliminar da língua Xokleng. Dissertação de Mestrado. Brasília: Universidade de Brasília. CABRAL, Ana Suely A. C. (1996). Notas sobre a fonologia segmental do Jo é. In Moara Revista dos cursos de pós-graduação em letras.pará: UFPA. nº 4, p. 23-46. CAGLIARI, L. C. (1998). Análise fonológica introdução à teoria e a prática com especial destaque para o modelo fonêmico. Campinas, SP: Parte I CALLOU, D. & LEITE, Y. (2001).Iniciação a fonética e Fonologia. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. COUTO, H. H. do (1995). Fonologia & Fonologia do português. Brasília: Editora Theasaurus. HALLE, M. & CLEMENTS, N. (1983). Problem book in phonology. Cambridge. MA., MIT Press. HYMAN, L. M. (1975) Phonology theory and analysis. USA. KAUFMAN & BERLIN (1987). South American Indian Language Documentation Project Questionary. University of Pittsburgh & University of California at Berkeley. MATTOSO CÂMARA Jr, J. (1954). Princípios de Lingüística Geral. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica. MATTOSO CÂMARA Jr, J. (1977). Para o estudo da fonêmica portuguesa. Petrópolis, Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica. MUSSALIM, F. BENTES, A.C. (2003). Introdução à Lingüística Domínios e Fronteiras. 3ª ed. São Paulo: Cortez. SAVILLE-TROIKE, M. (1989).The Ethnography of communication: an introduction. Oxford, England: Basil Blackwell. SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do Português: Roteiro de Estudos e Guia de Exercícios 1410