Reformas curriculares dos Cursos Superiores de Música e a formação do professor de instrumento

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Transcrição:

Reformas curriculares dos Cursos Superiores de Música e a formação do professor de instrumento por Ana Lúcia Louro e Jusamara Souza A presente pesquisa foi desenvolvida em quatro fases tendo como objetivo geral revelar como é que se dá a formação do professor de instrumento em Instituições de Ensino Superior do Brasil. Na primeira fase contemplamos um levantamento da presença de disciplinas pedagógicas nos cursos de Bacharelado em Música; na segunda fase privilegiamos a busca sobre o interesse das instituições na formação do professor de instrumento e as possibilidades de formação deste profissional tanto nos cursos de Bacharelado como no de Licenciatura; na terceira fase foi feito um aprofundamento da análise das grades procurando caracterizar as disciplinas pedagógicas dos cursos de Bacharelado. na quarta e última fase almejamos compreender as idéias dos professores universitários em relação a formação do professor de professores de instrumento no nível superior. A formação do professor de instrumento foi compreendida como uma área de intersecção entre a formação do instrumentista, oferecida pelo Bacharelado, e do educador musical, oferecida pela Licenciatura. Ao buscar as relações entre os cursos de Bacharelado e Licenciatura este projeto de pesquisa se localiza em um imbricamento das sub-áreas de Práticas Interpretativas e Educação Musical. Um dos grandes desafios da sub-área de Práticas Interpretativas está na busca de alternativas de pesquisa no seu campo específico. Este projeto apresenta um esforço neste sentido no momento em que

tem como objeto de estudo o ensino de instrumento, focado na formação dos professores. Considerando o fato de que muitos professores de instrumento eram advindos do curso de Bacharelado e que muitos cursos estavam propondo reformas curriculares, colocamos a seguinte questão: Como as universidades estavam pensando em incluir disciplinas pedagógicas nos cursos de Bacharelado? Posteriormente tivemos como questão principal: Quais identidades profissionais do professor de instrumento estão presentes nas falas dos professores universitários? Esta mudança de foco ocorreu porque ao longo do processo da pesquisa foi constado que as identidades profissionais eram os conceitos que estabelecem a lógica a partir da qual se decide sobre a inclusão ou não de disciplinas pedagógicas na grade curricular. Partindo dessas indagações o projeto de pesquisa previa a realização de entrevistas e solicitação de materiais curriculares como instrumentos de coleta de dados que pudessem trazer subsídios para as discussões sobre reformas curriculares. Este relato apresenta uma análise global dos dados coletados entre 1996 e 1997 nas diferentes fases da pesquisa, resgatando os seus entrelaçamentos. Fase 1: A formação do professor de instrumento: levantamento da presença de disciplinas pedagógicas nos cursos de Bacharelado em Música 1 Até agosto de 1997 obtivemos treze documentos curriculares e foram feitas onze entrevistas. Estes dados foram classificados em quatro categorias: 1 Esta fase foi apresentada no Encontro Anual da ANPPOM de 1996 e publicada na revista EPRESSÃO em 1997. 2

Categoria A- Grades curriculares que não possuem disciplinas pedagógico-musicais no curso de Bacharelado: Universidade Federal do Pará, Universidade Estadual do Pará, Conservatório Brasileiro de Música, Universidade Estadual de Londrina, Faculdade Santa Marcelina e Universidade Cruzeiro do Sul. Categoria B- Grades curriculares que possuem disciplinas pedagógico-instrumentais optativas para o curso de Bacharelado: Universidade Federal de Uberlândia e Faculdade Carlos Gomes. Categoria C- Grades curriculares em discussão com inclinação para a colocação de disciplinas pedagógico-instrumentais no curso de Bacharelado: Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal de Pernambuco. Categoria D- Grades curriculares que apresentam disciplinas pedagógico-instrumentais no curso de Bacharelado: Universidade Federal de Santa Maria, Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal de Pelotas. Das treze grades curriculares analisadas cinco não apresentavam disciplinas pedagógicas, duas apresentavam disciplinas optativas, dois professores declararam que estava sendo pensada uma reformulação curricular onde estas disciplinas seriam colocadas e quatro apresentavam este tipo de disciplina. A inserção de disciplinas pedagógicas para a formação do professor de instrumento vai ao encontro de diversos autores. Como por exemplo Swanwick (1994) comenta: "Eu toco um instrumento; logo posso mostrar a você ou a qualquer um como tocá-lo. Mas a vida não é assim tão simples, e existe uma grande cumplicidade envolvida em qualquer transação educacional" (Swanwick, 1994, p.142) 3

Mas será que esta problemática estava restrita a questão da inserção ou não de disciplinas pedagógicas nos cursos de Bacharelado? Fase 2: A formação do professor de instrumento: Qual curso deve formar o professor de instrumento? 2 Mas quem é mesmo este professor de instrumento sobre o qual estamos pesquisando? Inicialmente ele foi definido como aquele profissional que dá aulas de instrumento em casa ou em escola especificamente musical. Ao se definir o perfil do professor de instrumento em formação como objeto da pesquisa houve uma clara intenção de se afastar do ambiente da escola fundamental e média. Uma vez que, como afirma Souza (1997), existe uma diferença considerável entre as realidades vividas no ambiente da escola fundamental e média e em outros ambientes de ensino de música. Além disso, desde o princípio o foco da investigação voltou-se para as disciplinas pedagógicas dos cursos de Bacharelado. No entanto, ao longo da pesquisa, não foi desconsiderado o fato de que nos currículos de muitos cursos este tipo de profissional seria formado no curso de Licenciatura. Nos questionários enviados às universidades e na análise curricular buscou-se verificar a preocupação das instituições em formar o professor de instrumento conforme aquele perfil que se havia definido. Em relação a preocupação com a formação do professor de instrumento, dentre as quatorze instituições pesquisadas, cinco responderam ao questionário que não era sua preocupação a formação deste perfil profissional e nove instituições disseram que se 2 Esta fase 2 foi apresentada no Encontro anual da ABEM de 1997 e publicada na série FUNDAMENTOS 4 em 1998. 4

preocupavam com a formação deste tipo de profissional. Cabe destacar que duas instituições disseram que a formação do professor de instrumento se daria na Licenciatura e que a Fundação Lusíadas (Santos SP) propôs um curso de Licenciatura em Instrumento. Então a solução de colocar disciplinas pedagógicas no Bacharelado para formar o professor de instrumento não é a única possível, mas dentro destas opção como se caracterizam estas disciplinas? Fase 3: Profissão professor de instrumento: Como se caracterizam as disciplinas pedagógicas dos cursos de Bacharelado? 3 Para uma análise mais profunda das disciplinas pedagógicas das grades curriculares dos cursos de Bacharelado, que estariam contribuindo para a formação de uma competência pedagógica do bacharelando, estabeleceu-se três categorias: Disciplinas Pedagógicas Gerais: Nos nomes destas disciplinas não aparecem referências à especificidade do ensino da música, como por exemplo Psicologia da Educação e Didática. Disciplinas Pedagógicas Musicais: Nestas disciplinas existe alguma referência, em sua denominação, à especificidade do ensino musical. Alguns exemplos seriam: Didática Musical ou Metodologia do Ensino da Música. Nesta categoria os nomes das disciplinas não se referem a um instrumento específico. 3 A fase 3 foi apresentada no Encontro anual da ABEM de 1998 e publicada na revista EPRESSÃO de 1999. 5

Disciplinas Pedagógicas Músico-instrumentais: Nestas disciplinas o nome específico de um instrumento é referenciado. Como por exemplo: Metodologia do Ensino de Piano ou Pedagogia dos Instrumentos de Sopro. Instituição Disciplinas Pedagógicas nas grades dos cursos de Bacharelado Federais Gerais Musicais Musico-Instrumentais UFBA UFG UFMG UFPEL UFSM UFU UFPA UFPE. Estaduais UDESC UNICAMP Uni. Est Pa Particulares CBM Com. Niterói FMCGomes Sta. Marcelina Unirio 6

Assim observa-se que existem muitas soluções nos diferentes cursos para o bacharel adquirir competências pedagógicas. Destaca-se as grades curriculares com a presença dos três tipos de disciplina, como da UFU por exemplo. Este tipo de solução parece estar relacionado com questionamentos como o apresentado por Mark (1998) que considera que o dilema básico da formação do professor de música está na: (...) Característica híbrida dos programas de ensino que representam um cruzamento mais ou menos bem sucedido entre a transmição de experiências musicais, competências didático pedagógicas, e conhecimentos musicológicos. (Mark, 1998, p.4) Se o dilema básico da formação do professor de instrumento está, como o afirmado por Mark, em um caracterização híbrida, será que a grande questão a ser buscada quando discutimos reformas curriculares em cursos superiores de música não é a dos perfis profissionais, por estes apresentarem igualmente características híbridas? Fase 4: Profissão professor de instrumento: Dialogando sobre identidades profissionais 4 Durante o V Encontro Anual da ABEM foram realizadas oito entrevistas 5 com professores universitários 6 abordando suas concepções sobre as identidades profissionais do professor de instrumento e sua visões sobre as disciplinas pedagógicas dos Curso de 4 Esta fase 4 esta proposta para ser apresentada no Encontro anual da ABEM de 1999. 5 Estas entrevistas foram realizadas pela auxiliar de pesquisa Daniela Machado 6 No presente texto não estão indicadas as autorias das falas para preservar as identidades e o anonimato dos entrevistados. 7

Bacharelado em Música. Todos os cursos contatados encontravam-se em um processo de avaliação interna e reestruturação do currículo. Nas narrativas dos professores universitários há uma grande preocupação com a defasagem dos currículos em relação por exemplo à música popular e à necessidade de estabelecer currículos mínimos, mais enxutos. As propostas discutem o oferecimento de disciplinas eletivas suficientes para que o aluno decida a sua área de interesse que gostaria de seguir (pesquisa, etnomusicologia, informática da música, etc.), possibilitando um trânsito maior dos alunos em disciplinas de outras áreas como psicologia, antropologia ou computação/informática. É visível também a preocupação de muitos professores com a permanência do éthos do instrumentista que parece não acompanhar os tempos atuais. Uma professora entrevistada assim se expressa:...o aluno, hoje, ele quer aprender piano prá quê? Prá ser concertista? Você vai fazer Bacharelado prá quê? Você vai ser concertista? (...) o adulto, ele vai estudar piano prá quê? Depois da fase adulta, ele tem praticamente uma vida profissional. A preocupação de que o profissional instrumentista tenha também uma formação pedagógica está muito presente nos depoimentos pois, tem-se a convicção de que isto é importante, uma vez que os instrumentistas, na maioria deles, dão aula de música também. Para habilitar o professor de instrumento ou instrumentista, existe uma preocupação dele ter uma formação sólida na área pedagógica através de disciplinas que contemplem a formação do professor. Algumas universidades, embora não ofereçam disciplinas pedagógicas músicoinstrumentais, incentivam os alunos da graduação a atuarem sob a orientação de 8

professores, em forma de estágio supervisionado, nos Cursos de extensão de musicalização infantil, onde têm a oportunidade de obter a prática de dar aulas de instrumento para crianças. O não oferecimento de disciplinas pedagógicas para o curso de Bacharelado, em alguns casos surge como um grande problema a ser enfrentado. Isto, porque essas pessoas de Bacharelado tornam-se professoras na universidade, e os alunos reclamam da falta [de preparo], da gravidade da metodologia... exatamente, porque a questão da técnica, eles dominam, mas a questão metodológica, sempre há uma cobrança muito grande. 5. Contribuições para as atuais reformas curriculares e novas pesquisas Esta pesquisa, desenvolvida em quatro fases, tentou revelar como é que se dá a formação do professor de instrumento. A questão a qual buscamos refletir centrava-se na formação do professor de instrumento, nas disciplinas pedagógicas do Bacharelado e na identidade profissionais que move a lógica das decisões curriculares. Essa discussão parece oportuna uma vez que os cursos, já em 1996, se encontravam em processo de mudança curricular. Os depoimentos analisados na quarta fase revelaram que esse processo de mudança na universidade, envolvendo todos os professores, torna-se um trabalho difícil de administrar pelas ideologias diferentes e pelas diversidades de concepções sobre a formação profissional no curso de música. A análise dos dados qualitativos desta última fase da investigação possibilitou identificar os argumentos que justificam as re-estruturações curriculares interpretadas em um primeiro momento com grades, tipologia das disciplinas, números de semestres e carga horária, indicando as diferentes opções de se compor um caminho profissional. 9

Finalmente, pensar nas relações da pedagogia com o curso de Bacharelado é um exercício de acompanhar as reinvidicações atuais de uma área em crise diante de novos conteúdos (música popular, novas tecnologias) e diante das múltiplas identidades de músicos que estão surgindo. Todas estas questões se tornam ainda mais relevantes no momento atual onde todos os cursos de Graduação em Música estão desafiados a reformular seus currículos baseados nas diretrizes curriculares para a área. Esta pesquisa buscou contribuir não só para as reformas curriculares em andamento mas também para a pesquisa na Educação Musical no Ensino Superior. Muitas pesquisas ainda podem ser feitas a partir deste estudo, como por exemplo investigações sobre a migração de alunos dos cursos de Bacharelado para a Licenciatura ou da Licenciatura para o Bacharelado e investigações sobre as diversas identidades profissionais do professor de instrumento, entre a performance e a pedagogia, entre ser músico e professor. 10

Bibliografia: FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira (1998) Licenciatura e Bacharelado em Música. Considerações sobre os Currículos de Música da Universidade do Estado de Santa Catarina -UDEC. Polifonia - Revista Semestral dos Cursos de Música da FAAM, n.2,p.30-35. GT de Ensino Superior (1998), VII Encontro Anual da ABEM, Recife, página única, editoração eletrônica, www.demac.ufu.br/abem. LAMAS, Berenice Sica (1997) As artistas: recortes do feminino no mundo das artes. Porto Alegre: Artes e Ofícios. LOURO, Ana Lúcia (1997) Disciplinas pedagógicas no curso de bacharelado em Música Expressão - Revista do centro de Artes e Letras - UFSM, v.1 (1-2), Santa Maria, p.17-20. LOURO, Ana Lúcia (1998) Formação do professor de instrumento: grades curriculares dos cursos de bacharelado Fundamentos da Educação Musical ABEM, v.4, Salvador, p.106-109. LOURO, Ana Lúcia & SOUZA, Jusamara (1999) Professor de Instrumento - Como a Performance Convive com a Pedagogia? Expressão - Revista do centro de Artes e Letras - UFSM, v.3, Santa Maria, p.110-116. MARK, Desmond (1998) The Music Teacher s Dilemma- Musician or Teacher? International Journal of Music Education p.3-21. NIESSEN. Andreas (1995) Künstler, Pädagoge, Manager? Musiklehrerinnen und Musiklehrer zwischen Anspruch und Wirklichkeit, Musik und Unterricht, v. 32, p. 59. SOUZA, Jusamara (1997) Da formação dos profissionais em música nos cursos de Licenciatura. In: I Seminário sobre o ensino superior de artes e design no Brasil- CEEARTES Salvador: MEC, p.13-20. SWANWICK, Keith (1994) Musical Knowledge: Intuition, Analises and Music Education. London: Routledge. 11

Guia para continuar Programação da ANPPOM 1999 Informação dos Participantes Saída dos Anais da ANPPOM