Estimativa De Emissões De Gases De Efeito Estufa (GEE), Com Metodologia GHG Protocol, Para O Deslocamento Casa-Trabalho Estudo De Caso

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Transcrição:

56 Estimativa De Emissões De Gases De Efeito Estufa (GEE), Com Metodologia GHG Protocol, Para O Deslocamento Casa-Trabalho Estudo De Caso Pedro Dalseno Paduan Acadêmica do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto Wesley Aparecido Saltarelli Engenheiro Ambiental, mestre em Ciências pelo Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC-USP) Anderson Manzoli Coordenador e docente do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto Resumo O setor de transportes apresenta um crescimento muito rápido de emissões de gases se comparado com os outros setores energéticos. Os gases emitidos trazem problemas ambientais, como o agravamento do efeito estufa, principalmente. Pensando nisso, o presente trabalho tem como finalidade estimar a emissão de de veículos automotores, no translado casa-trabalho de funcionários de uma empresa, em Monte Alto SP, utilizando a metodologia do GHG Protocol. Além disso, calculou-se a quantidade e área necessária de plantio de árvores, com o intuito de mitigação de tais emissões. Palavras-chaves: Mobilidade Urbana, Gases de Efeito Estufa, GHG Protocol Abstract The transport sector has a very rapid growth in gas emissions compared to other energy sectors. The gases emitted bring environmental problems, such as the worsening of the greenhouse effect, mainly. Thinking about this, the present work aims to estimate the emission of automotive vehicles, in the home-work route of employees of a company, in Monte Alto -SP, using the methodology of the GHG Protocol. In addition, the amount and area needed to plant trees were calculated with the purpose of mitigating these emissions. Keywords: Urban Mobility, Greenhouse Gases, GHG Protocol Introdução A energia utilizada nos sistemas de transporte irá dobrar até 2050, segundo o IEA (2009), sendo que o principal responsável pela emissão de dióxido de carbono ( ) em sistemas de transportes é o transporte privado. Com isso, ações de mitigação dessas emissões ou medidas para redução são importantes para o controle desse aumento. A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída pela Lei Nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009, foi uma medida adotada pelo Brasil, de caráter nacional e voluntário, com a finalidade de

57 definir metas para a redução das emissões, para a contribuição da proteção do sistema climático global através da harmonização do desenvolvimento sustentável, com o crescimento econômico e social. Nessa política, o país adotará ações de mitigação das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), tendo como base o desenvolvimento dos inventários dos GEE, como importantes indicadores de sustentabilidade (LEMOS et al, 2015). A mitigação das mudanças climáticas se dá com a utilização de atividades alternativas com o intuito de eliminar ou diminuir as emissões de GEEs referente a uma atividade (FLIZIKOWSKI, 2012). A elevada emissão desses gases poluentes na atmosfera é o princípio de muitos problemas ambientais. Sabemos que o aquecimento global é um fenômeno natural e benéfico, ajudando no controle da temperatura média do planeta (MOLION,2008). Pode-se observar que a intensa interferência do homem com a natureza, particularmente nas regiões mais densamente urbanizadas, faz que ocorram grandes mudanças no microclima dessas regiões, como exemplo, ilhas de calor (MANZOLI, 2009). O que nos preocupa é o agravamento do efeito estufa, sendo um dos fatores de contribuição a concentração de dióxido de carbono ( ). A emissão deste, juntamente com a do metano ( ), do óxido nitroso ( ), vem aumentando devido às atividades humanas, e ultrapassando os valores limites estimados, segundo o quarto relatório de avaliação do GP12 do IPCC, de 2007. A realização de inventários possibilita as instituições a ajudarem no combate ao aquecimento global, traçando o perfil das emissões e, por fim, estabelecer metas e planos para a mitigação e gestão das emissões de gases de efeito estufa. A redução das emissões não é tão simples, pois os setores críticos, como indústrias, transportes e produção de energia, precisam mudar a sua forma de atuação radicalmente. Segundo YU 2004, os inventários de emissões de gases poluentes refletem as três dimensões da sustentabilidade, sendo eles o componente econômico que é motivado pelo mercado de carbono, o social, pois em sua maioria são dirigidos para as comunidades locais, e, o ecológico, devido ao reflorestamento ou conservação florestal e mitigação das emissões. Assim, o Desenvolvimento Sustentável busca harmonizar o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Com isso, para o acompanhamento do desenvolvimento de políticas e orientação de soluções adequadas, os indicadores de sustentabilidade são cada vez mais necessários (TEIXEIRA, 2012). O inventário de emissões de Gases de Efeito Estufa é um tipo de indicador de sustentabilidade que através de análises, determina-se as fontes das atividades produtivas e a quantidade de GEE emitida. Para a quantificação e a organização de dados usa-se como bases

58 padrões e protocolos. Desenvolvido pela parceria entre dois institutos, o WRI (World Resources Institute) e o WBSCD (World Business Council for Sustainable Development), o GHG Protocol é compatível com as metodologias de quantificação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), oferecendo subsídios para a quantificação de emissões de GEE. Essa metodologia foi adaptada a realidade brasileira, estabelecendo o Programa Brasileiro GHG Protocol, sendo desenvolvido pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade de Fundação Getúlio Vargas (GVces), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), juntamente com o WRI e WBSCD, que apoia as instituições a realizarem os seus inventários. Além dos gases citados anteriormente como causadores da intensificação do Efeito Estufa ( ), o Programa Brasileiro GHG Protocol, leva em consideração as emissões de de hexafluoreto de enxofre ( e gases das famílias dos hidrofluorocarbonetos (HFCs) e perfluorocarboneto (PFCs)(GVces, 2009). Para o presente estudo será estimado apenas a emissão referente ao gás carbônico, metano e óxido nitroso. Quanto à cidade de Monte Alto, SP, objeto deste estudo, parte do seu desenvolvimento urbano está associado à grande quantidade de indústrias instaladas no município. A movimentação diária de funcionários até as empresas que trabalham provoca a intensificação do trânsito no distrito industrial e a poluição atmosférica. Assim, a estimativa da quantidade de gás carbônico emitido pelo deslocamento dos funcionários até o local de trabalho poderá ser utilizada como ferramenta para otimização das formas de deslocamento e transporte dos trabalhadores, e por consequência o desenvolvimento de políticas dentro das empresas e prefeituras visando a redução de emissão de gases poluentes. O objetivo do trabalho é estimar a emissão de emitido por veículos automotores, no trajeto realizado pelos funcionários de uma indústria no percurso de sua residência até o trabalho, sem considerar o deslocamento no horário de almoço, durante o período de um ano. Compreende dentre os objetivos específicos, o cálculo da área necessária para a compensação dessas emissões por meio de plantio de árvores em áreas públicas. Os resultados obtidos serão apresentados à empresa em questão, sendo um indicador para tomadas decisões e motivando o desenvolvimento de uma consciência a respeito dos problemas ambientais.

59 1. Metodologia 1.1 Levantamento de Dados O levantamento de dados foi feito através de uma entrevista com os funcionários da empresa em questão. Obtendo os tipos de veículos (automóveis, motocicletas, ônibus e bicicleta) e combustíveis (etanol, gasolina e diesel) usados no deslocamento, e também a quantidade de passageiros por veículo, o bairro e a cidade de origem dos trabalhadores. A quantidade de funcionários entrevistados foi calculada utilizando uma calculadora amostral on-line. 1.2 Cálculo da distância média O cálculo da distância média de percurso dos funcionários foi feito com recursos do Google Maps. Para os funcionários residentes no município de Monte Alto, utilizou-se a distância do centro geográfico de cada bairro até o local de trabalho. E para os residentes das cidades vizinhas, utilizou-se a distância entre o centro geográfico da cidade em questão até a empresa. 1.3 Consumo de Combustível O consumo de combustível varia para cada tipo de veículo utilizado, portanto a base de cálculo para o consumo foi o inventário do ano de 2016, o qual os dados já estão embutidos na planilha usada como ferramenta para o cálculo. Os fatores de emissão de utilizados na ferramenta, para o uso de gasolina, por tipo de veículo, só contempla as emissões da Gasolina A (pura) presente na Gasolina Comum (que também contém Etanol Anidro em sua mistura). Já os fatores de emissão de e, por sua vez, levam em conta as emissões da Gasolina Comum (mistura de Gasolina A com Etanol Anidro) (GVces, 2009). Na Tabela 1, observa-se os fatores de emissão utilizados para a estimativa. Fator de emissão Combustível Unidade Gasolina Automotiva (pura) 2,21 0,0008 0,000258 kggee/l Etanol Hidratado 1,46 0,000384 0,0000128 kggee/l Etanol Anidro 1,526 0,000224 0,0000134 kggee/l Tabela 1: Fatores de emissão

60 1.4 Cálculo da emissão de A metodologia utilizada neste estudo foi o GHG Protocol, com o auxílio de uma ferramenta disponibilizada gratuitamente no site da Fundação Getúlio Vargas.A ferramenta em questão atende as normas ISO e as metodologias de quantificação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), além de ser muito flexívele facilmente adaptada de acordo com o empreendimento ou instituição a ser estudada. (GVces, 2009) sendo: O método GHG Protocol segue seis passos básicos para a realização do inventário, 1. Definição dos limites organizacionais do inventário: é feito a escolha da abordagem para os levantamentos e consolidações das emissões, considerando as participações societárias e controle da instituição; 2. Definição dos limites operacionais: se trata das identificações das emissões de GEE, sendo classificadas entre diretas e indiretas, divididas em três escopos; 3. Seleção da metodologia de cálculo e fatores de emissão: escolhe-se a ferramenta e fatores para a realidade da instituição, tentando garantir ao máximo a precisão das estimativas de emissões; 4. Coleta de dados: é a fase que se faz o levantamento de todos os dados necessários para a utilização das ferramentas escolhidas, respeitando as definições do escopo; 5. Aplicação das ferramentas de cálculo; 6. Elaboração do relatório: busca sintetizar os dados e resultados obtidos para a elaboração de estratégias de gestão para medidas de redução das emissões (GVces, 2009). 1.5 Compensação Segundo o IBGE, os biomas da região que abrange o município de Monte Alto, são Cerrado e a Mata Atlântica, portanto o plantio deve conter espécies desses dois biomas mantendo a vegetação nativa do local de estudo. De acordo com a Resolução do SMA 08/2008, o plantio deve seguir um projeto de recuperação florestal, contendo um número mínimo de espécies a fim de garantir a diversidade elevada e compatível com o tipo de vegetação nativa. Para tal plantio faz-se

61 necessário a elaboração de um projeto de recuperação florestal, contendo porcentagens relativas de diversas espécies nativas. O espaçamento segue esquemas específicos para garantir o melhor desenvolvimento das espécies, sendo 3 m x 2,5 m, ou seja, 1.333 mudas por hectare (BAITELO, 1990). A proporção a ser utilizada no cálculo de compensação das emissões dos gases será de 7,14 árvores por toneladas de gás carbônico equivalente ( ) (LACERDA et al, 2009). 2. Resultados 2.1 Região de estudo A região de estudo é a cidade de Monte Alto, localizada no interior do Estado de São Paulo, Região Sudeste do país, Figura 1. Com uma população estimada, para o ano de 2016, em 49.721 habitantes, em uma área 346,950 km² o que resulta em uma densidade demográfica 134,61 hab/km² (IBGE, 2016). A frota de veículos em 2015, segundo o IBGE, é de 37.447 veículos. Sendo 17.492 automóveis, o que corresponde em a 46% da frota. Figura 1: Localização e limites do município de Monte Alto SP A empresa temsede no Distrito Industrial de Monte Alto. Em 2017, época que foi realizada a pesquisa, a empresa possuía 138 funcionários. No ano de 2016 a empresa operou durante 254 dias.a única via de acesso é pela Avenida Dr. José de Paula Eduardo. Não há linhas de ônibus urbano que contemplam o endereço, ou as proximidades do endereço. 2.2 Levantamento de dados Para o cálculo amostral, que teve o objetivo de determinar a quantidade de funcionários entrevistados garantindo uma maior confiabilidade à pesquisa, foi utilizada uma calculadora amostral on-line, que tem como basena Equação 1:

62 Sendo: Equação1: Fórmula de cálculo amostral n - amostra calculada N população Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança p - verdadeira probabilidade do evento e - erro amostral A pesquisa nos mostrou que 97% dos veículos têm como origem bairros da cidade de Monte Alto e 96% dos funcionários são da cidade da empresa. Essa diferença se dá devido aos funcionários que vão de carona para o trabalho. 2.3 Tipos de meio de transportes e combustíveis A motocicleta é o meio de transporte mais utilizado pelos funcionários da empresa, sendo 57% contra 42% de automóveis, 1% de bicicleta e 0% de ônibus, pois não há linhas de ônibus urbano que contemple o local da indústria em questão, resultados expressos no Gráfico 1. Gráfico 1: Tipos de transportes utilizados

63 Considerando apenas os moradores de Monte Alto o veículo mais utilizado ainda continua sendo a motocicleta, 59%, seguida pelo automóvel com 40% dos funcionários utilizando, 1% para bicicleta e 0% para ônibus, como apresenta o Gráfico 2. Gráfico 2: Transportes de funcionários com origem na cidade Já os funcionários residentes nas cidades vizinhas de Monte Alto, utilizam 100% o automóvel como veículo para o deslocamento. 2.4 Tipos de combustíveis A gasolina é o tipo de combustível mais utilizado entre os funcionários da empresa, seguido do etanol, sendo 88% e 11%, respectivamente. O 1% fica por conta dos trabalhadores que utilizam a bicicleta como meio de transporte até o destino. Quando consideramos apenas os automóveis o combustível mais utilizado continua sendo a gasolina, mas há uma queda para 76%. Já o etanol sobe para 24% nos automóveis. No Gráfico 3, observa-se o consumo de combustível em função da quantidade de dias trabalhados, distribuído nos meses ao longo do ano de 2016, em litros.

64 Gráfico 3: Consumo de combustíveis O mês de agosto representa o mês de maior consumo de combustíveis dos funcionários, devido a maior quantidade de dias trabalhados, sendo neste mês 23 dias. O consumo foi de 1248,19 l, enquanto nos meses de janeiro, fevereiro, abril, outubro e novembro, com 20 dias trabalhados foram de 1085,38 l. 2.5 Distâncias médias As distâncias médias foram calculadas para os funcionários que residem em Monte Alto separadamente dos que residem em cidades vizinhas. Os cálculos consideraram os centros geográficos de cada bairro de Monte Alto, e o centro geográfico de cada cidade vizinha. Os residentes da cidade percorrem uma média de 4,44 km, considerando um desvio padrão de 1,67 km. Em contrapartida, os que residem fora da cidade percorrem em média 22,40 km, com um desvio padrão de 9,19 km. 2.6 Emissão de A emissão dos gases é estimada com a unidade, tonelada de equivalente, esta significa que a quantidade dos outros gases emitidos, além do fazendo equivalência com o, assim podendo ser compatibilizados., são corrigidos, A ferramenta GHG Protocol abrange várias atividades geradoras de da entidade a ser analisada. Desse modo o cálculo de emissão para este trabalho, utilizou apenas a seção referente ao Deslocamento Casa-Trabalho (Seção 7), encontrada no Escopo 3. Nesta seção há três maneiras de cálculo, e foi utilizada a opção 3, que utiliza como dados o tipo e ano da frota, a distância média percorrida e a quantidade de dias trabalhados.

65 O resultado obtido foi de 23,047, no ano de 2016. Considera-se que os funcionários cumpram sua hora de almoço no refeitório da empresa analisada, ou seja, só foi contabilizado o deslocamento de ida e volta do trabalho, sem eventuais realizados no horário de almoço. 2.7 Compensações das Emissões Utilizando-se a proporção citada anteriormente entre a quantidade de mudas de árvores necessárias para a neutralização de uma tonelada de equivalente, 7,14:1. Obtevese o resultado necessário de plantio de 165 mudas de árvores nativas, seguindo as recomendações da Resolução de SMA 08/2008 para reflorestamento. A área aproximada necessária para o plantio é de 0,124 hectare, ou 1240 m². Sugere-se como áreas de plantio praças públicas, clube da cidade ou áreas de preservação permanentes (APP's). Conclusões A ferramenta mostra-se um importante indicador para análises aprofundadas dentro e fora das instituições que utilizaram. Em relação ao ambiente empresarial que foi aplicada o estudo, pode-se ampliar para as diversas áreas e atividades, assim identificando as principais fontes de emissão para serem tratadas com prioridade para a redução. Além de traçar metas de responsabilidade sócio ambiental para serem alcançadas pelos funcionários. Outro benefício são as oportunidades no mercado de carbono que a empresa pode explorar, pois com a divulgação dos resultados há uma melhora diante aos investidores que consideram a sustentabilidade um fator importante para tomadas de decisão. Em relação à cidade que a empresa está instalada, a ferramenta auxilia nas tomadas de decisões referentes à mobilidade urbana, como no traçado de linhas de transporte urbano para atenderem os principais polos poluidores da cidade, diminuindo a intensa movimentação do transporte privado nessas regiões, assim faz-se um planejamento sustentável da cidade. Há a possibilidade de parcerias com instituições para medidas de mitigações de emissões.

66 Também se sugere o estudo da implantação de ciclovias que contemplem o Distrito Industrial da cidade, incentivando o uso de transportes alternativos. O estímulo ao uso de caronas também é visto como medida de mitigação. Referências BAITELLO, J.B. Como plantar árvores nativas. São Paulo, Guia Rural, 1990. CETESB (2017) Relatórios de Emissões Veiculares do Estado de São Paulo. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/veicular/relatorios-e-publicacoes/>, acesso em março de 2017. CETESB (2017)1º Inventário de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa Diretos e Indiretos do Estado de São Paulo: Período 1990 a 2008. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/inventario-gee-sp/>, acesso em março de 2017. DE ABREU, Mônica Cavalcanti Sá; ALBUQUERQUE, Aline Mota; DE FREITAS, Ana Rita Pinheiro. Uso Do Greenhouse Gas Protocol Para Mensurar Emissões De Gases Do Efeito Estufa E Desenvolver Projetos De Mitigação. Revista Pretexto, v. 16, n. 2, p. 11-30, 2015. FLIZIKOWSKI, LIZ CAMILA Estimativa de emissões de dióxido de carbono na construção civil e neutralização com espécies florestais. (2013). FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Estudos em Sustentabilidade. (2009). http://www.fgv.br/ces/ghg. Acesso em: 07 de março de 2017 IBGE. (2017) Cidades, São Paulo, Ribeirão Preto Infográficos. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=354340&search=saopaulo ribeirao-preto infograficos:-dados-gerais-do-municipio>, acesso em abril de 2017. LACERDA J. S.; COUTO H.T.Z.; HIROTA M.M.; PASISHNYK N. e POLIZEL J.L. Estimativa da Biomassa e Carbono em Áreas Restauradas com Plantio de Essências Nativas. (2009) Universidade de São Paulo. Disponível em:<http://cmq.esalq.usp.br/wiki/lib/exe/fetch.php?media=publico:metrvm:metrvm-2009- n05.pdf>, acesso em abril de 2017. LEMOS, C. F.; MIRANDA, A. dos S.; OLIVEIRA, R. H. de. Cálculo do Dióxido de Carbono Equivalente ( e) das Atividades Antropogênicas na Universidade Federal de Viçosa Florestal Ano-Base de 2011. XII Congresso Nacional de Meio Ambiente de Poços de Caldas. MANZOLI, Anderson. Análise das emissões veiculares em trajetos urbanos curtos com localização por GPS. 2009. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. 1º Inventário Nacional de emissões atmosféricas por veículos automotores rodoviários. 2011 Disponível em:<http://www.mma.gov.br/estruturas/163/_publicacao/163_publicacao27072011055200.pd f >. Acesso em: 29/03/2017.

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