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Secretariado Nacional 22 de Fevereiro de 2006

Procurou-se dar uma dimensão ao Relatório que não se quedasse apenas pelos aspectos quantitativos das convenções publicadas mas que, na medida do possível, focasse alguns indícios qualitativos veiculados ou não pelos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho publicados no decurso de 2005. Para a UGT, continua a ser um objectivo abranger o maior número de trabalhadores e empresas por instrumentos de regulamentação colectivas negociais de forma a repor, pelo menos, a situação quantitativa que prevaleceu antes da entrada em vigor do Código do Trabalho. Contudo, o esforço negocial de revisão e actualização das convenções contém, também, como objectivo central, a melhoria dos textos, o tratamento adequado das matérias e a resolução das solicitações emergentes no contexto sócio-económico actual. Muitas das convenções sectoriais, que ainda se encontram desactualizadas, prevaleceram durante muitos anos como exemplo do imobilismo em que se encontrava (e se encontra) a negociação colectiva em Portugal, mas não podem ser pretexto para tentativas grosseiras de aniquilamento, pois representam o resultado de um bom acordo efectuado há anos. A negociação continua a ser a única forma privilegiada para modificar textos e estabelecer consensos. O conflito, seja de que natureza for, adia sempre a solução e prejudica as partes. Neste sentido a UGT empenhou-se no Acordo Bilateral entre Confederações com assento na Comissão Permanente de Concertação Social visando a dinamização da Contratação Colectiva, em Janeiro de 2005. A observação de situações concretas que poderão caracterizar o avanço da regulamentação colectiva negocial é fundamental para avaliar em cada momento o estado da negociação colectiva em Portugal. O número de instrumentos concluídos e publicados (insiste-se na publicação por ser essa a vontade das partes contrariada por vezes por excesso de zelo burocrático) é muito importante, como ainda passou a ter relevância conhecer as alterações relativas verificadas na distribuição do tipo de convenções ou a persistência de situações de incapacidade negocial e de resolução de conflitos que afectam, por inteiro, sectores de actividade. Também é necessário perceber a não inclusão de algumas normas em novas convenções publicados em 2005, consideradas indispensáveis pelos empregadores no momento da discussão do Código do Trabalho, transformadas em instrumento de polémica na revisão das convenções sectoriais (caducidade, adaptabilidade do tempo de trabalho, etc.) mas que passam completamente despercebidas, por omissão, nos instrumentos de regulamentação colectiva negociais surgidos no decurso do último ano. 1

1. CONVENÇÕES PUBLICADAS E TRABALHADORES ABRANGIDOS Durante o ano de 2005 foram publicados 254 instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, tendo sido abrangidos por alterações salariais 1.074.029 trabalhadores, contra 162 IRCT e 600.469 trabalhadores, registados em 2004, mas ainda distante dos valores apurados em 2003 que abrangeram 1.512.278 trabalhadores. Quadro 1 IRCT publicados ANO 2003 2004 2005 N.º IRCT 342 162 254 Fonte: DGERT Entre as convenções publicadas destacam-se algumas com um número significativo de trabalhadores: ACT das Instituições de Crédito (53.255 trabalhadores); CCT Comércio de Lisboa (24.000 trabalhadores); CCT da Construção Civil (300.000 trabalhadores); CCT das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas (33.657 trabalhadores); CCT dos Seguros (10.994 trabalhadores); CCT das IPSS (70.000 trabalhadores). CCT da Indústria e Comércio de Madeira (60.000 trabalhadores) Em contrapartida, relevam-se pela negativa, entre os vários sectores sem resultados na negociação colectiva em 2005, as convenções para a Indústria Têxtil e Vestuário (desde 2003), Indústria de Calçado (desde 2003), Indústria, Reparação e Comércio Automóvel (desde 2001), Indústria Química (desde 2003), Indústrias Gráficas e Transformadoras de Papel (desde 1999) e Indústria de Cerâmica (desde 2000), entre outras. De sublinhar que os sectores mencionados (com excepção do comércio automóvel) integram-se na indústria transformadora, o que também não constitui uma surpresa por ter sido o grupo patronal ideologicamente mais determinado em aplicar as disposições mais polémicas do Código do Trabalho. A situação não termina nos grandes sectores alastrando-se a regulamentações colectivas de trabalho locais e regionais. Desde há algum tempo que anualmente é detectável o desaparecimento de dezenas de convenções. Salvaguardando-se os casos de acordos negociais plurianuais ou de convenções que os parceiros entenderam não publicar por diversos motivos, entre eles o excesso de procedimentos arbitrários a que por vezes se encontram submetidos, há convenções em situação de litígio que podem ultrapassar uma década sem acordo e consequente publicação. Quadro 2 Convenções que deixaram de se publicar ANO 2004 2003 2002 N.º de convenções 35 74 45 2

1.1. Tipo de convenções colectivas de trabalho publicadas No que respeita ao tipo de convenções publicadas, os valores apurados estão próximo da normalização, confirmando-se o aumento dos acordos de empresa relativamente aos outros tipos de convenção. Quadro 3 Distribuição por tipo de Convenção Convenções N.º % ACT 28 11,1 AE 73 29,0 CCT 151 59,9 Total 252 100,0 Nos anos normais de 2000 e 2001, os acordos de empresa representaram, respectivamente, 27,8% e 27,7%, do número total das convenções celebradas. 1.2. Tipo de instrumentos de regulamentação colectiva negociais e não negociais publicados Consideram-se apenas os últimos anos três anos na medida em que houve uma alteração legislativa que catapultou para a ribalta o papel dos agentes do Estado na emissão de regulamentos de extensão a partir de Dezembro de 2003. Os resultados foram catastróficos em 2004 e não melhoraram significativamente em 2005, ao ponto de não ser possível a emissão de regulamentos de extensão acompanhar a publicação de convenções na proporção de um para duas, ocorrida em 2003, enquanto se mantiverem os procedimentos administrativos praticados pelos agentes do ministério responsável pela área laboral. Quadro 4 Distribuição dos IRCT negociais e não negociais Ano/IRCT ACT AE CCT Arbitragem Voluntária Arbitragem Obrigatória PE/RE PRT/RCM 2003 30 80 232 0 0 151 1 2004 15 46 100 0 0 4 1 2005 28 74 151 1 0 55 1 1.3. Tempo de publicação dos Regulamentos de Extensão Apesar de o quadro seguinte ser uma amostra não deixa de ser significativa porquanto abrange mais de metade dos RE publicados em 2005, desde Janeiro até ao início do mês de Junho. Sabendo-se que os regulamentos de extensão não podem ter eficácia retroactiva e que a maior parte das empresas e dos trabalhadores são abrangidos pela extensão das convenções, não existe um só exemplo de um regulamento de extensão que tivesse sido publicado nos cinco meses posteriores à convenção que lhe deu origem. Pior ainda: há um regulamento publicado 22 3

meses depois da convenção que lhe diz respeito. Cerca de 40% são publicados um ano depois das convenções e no seu conjunto o tempo médio para publicação foi de 10 meses. Quadro 5 Tempo de publicação dos RE (Regulamentos de Extensão) Tempo <5 meses >5 <8 meses >8 <10 meses >10 <12 meses >12 meses N.º de RE 0 9 6 3 11 2. CONTEÚDOS DOS INSTRUMENTOS DE REGULAMENTAÇÃO COLECTIVA DE TRABALHO 2.1. Tipo de textos publicados O que nos interessa mais registar, como foi referido na nota introdutória, para além do aumento da taxa de cobertura da regulamentação colectiva de trabalho envolvendo mais empresas e trabalhadores, é a actualização do conteúdo das convenções que é, nesta perspectiva de modernização, a única forma de os parceiros renovarem expressamente a vontade negocial. No ano de 2005, 34,9% das convenções publicadas foram revisões globais contra 29,6% do ano anterior. Assume alguma relevância a publicação de novas convenções que não ultrapassaram nestes dois anos, após a publicação do Código do Trabalho, um valor relativo da ordem dos 8%. O fenómeno é uma consequência normal do dinamismo económico-social que caracteriza a actividade humana. No entanto o aparecimento de novos textos não tem um denominador comum: as convenções aparecem pelas mais diversas razões ao nível do sector, do acordo colectivo de trabalho ou do acordo de empresa. O que há provavelmente de novo é o acordo com a média empresa. Parte substancial das novas convenções são acordos de empresa (AE) e alguns destes foram estabelecidos com empresas de média dimensão que se vão juntar aos acordos feitos com as grandes empresas há mais de duas décadas. Quadro 6 Tipo de texto publicado Ano Alterações Salariais Alterações Salariais e Texto Revisão Global Novos IRCT Consolidado 2004 16 84 48 13 2005 97 46 88 21 2.2. Período médio de vigência das tabelas salariais É lugar comum, todos os anos, a negociação atrasar-se (e consequentemente os seus resultados) devido a factores que a influenciam directamente. Nos últimos anos tem havido um compasso de espera promovido pelas associações dos empregadores mais influentes, no sentido de aguardarem os resultados da administração pública para os incutirem na negociação do sector privado. A estratégia não tem resultado ao nível do valor salarial mas tem consequências no aumento médio da eficácia das tabelas salariais. De facto, o ano de 2005 4

foi o pior de sempre comparado com os últimos 5 anos, registando-se um período médio de eficácia das tabelas anteriores de 20,4 meses, quando deveria ser de pouco mais de 12 meses. Os empregadores sabem que a imagem negativa de valores salariais desactualizados se repercute directamente nos sindicatos. A burocracia, que decorre da lei e das exigências colocadas pelo ministério responsável pela área laboral, em alguns casos muito próximo da homologação dos instrumentos à boa maneira corporativa, tem sido um aliado natural da situação artificialmente criada. Quadro 7 Período médio de vigência das tabelas salariais Anos 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Período médio de eficácia (meses) 16,9 16,5 17,4 14,1 17,1 20,4 Fonte: DGERT 2.3. Valores salariais O principal indicador aceite para a actualização salarial tem sido a inflação. Neste sentido, durante o processo negocial as partes têm dado importância ao último valor conhecido da inflação projectando-o no período de duração das tabelas salariais a acordar. Assim, não é de estranhar que a variação média intertabelas anualizado em 2005 tenha sido inferior ao valor verificado em 2004, porquanto se perspectivou um cenário de ligeira diminuição do valor previsto para a inflação. Logo, com inflação mais baixa maior é a contenção na actualização salarial. Contudo, nos dois últimos anos as retribuições convencionais não foram totalmente erodidas pela inflação. Comparando o aumento médio das tabelas convencionais em 2005 (2,7%) com a inflação média verificada no final do ano (2,3%) resulta uma variação média deflacionada positiva de 0,4. Quadro 8 Variação médias das tabelas salariais Anos 2002 2003 2004 2005 Aumento médio convencional 3.4 2.8 2.9 2.7 Taxa de inflação 3.6 3.3 2.4 2.3 Aumentos reais -0,2-0,5 0,5 0,4 Fonte: UGT com base nos dados do Banco de Portugal/DGERT Os aumentos verificados de 2002 a 2005 foram fortemente afectados pelos desvios entre a inflação prevista e a inflação verificada, sempre em prejuizo dos trabalhadores. 5

2.4. Vigência e Caducidade A partir de uma amostra, de razoável dimensão, constata-se que metade das convenções tem uma vigência de clausulado de 24 a 36 meses, e ao contrário do seria de esperar, são as convenções com um período de vigência menor que admitem a caducidade. Outra constatação muito interessante relaciona-se com o mecanismo de sobrevigência. Cerca de 70% das convenções recusa a disposição legal sobre o tema e adopta o princípio da substituição de uma convenção por outra, incluindo-se neste exemplo algumas das novas convenções publicadas. 3. CONCLUSÕES Tanto pelo número de trabalhadores abrangidos como pelo número de convenções publicadas, o ano de 2005 foi melhor do que 2004, como consequência de um maior empenhamento dos parceiros sociais, mas ainda ficou aquém dos resultados dos últimos anos que precederam a publicação do Código do Trabalho. Outra conclusão a retirar é o facto de a abrangência das convenções se ficar muitas das vezes pela sua aplicação automática, isto é, ter por destinatários as empresas filiadas na associação do sector de actividade e os trabalhadores sindicalizados ao seu serviço (e por efeito colateral, os não sindicalizados). Esta situação só é possível devido à não publicação de regulamentos de extensão requeridos pelas partes na altura dos depósitos das convenções. Comparativamente, o número de RE publicados representou 1/3 do número de CCT de 2005, demorando em média 10 meses para serem publicados, o que lhes retira qualquer eficácia nos sectores, promove a concorrência desleal entre as empresas e põe em causa a credibilidade da acção sindical. Outro aspecto negativo a extrair da regulamentação convencionada em 2005 está relacionado com a eficácia das tabelas salariais para a qual estabelecemos uma correlação com a demora de publicação dos RE. Nos últimos três anos o período médio de eficácia das tabelas passou de 14,1 meses para o recorde de 20,4 meses (!). São situações que concorrem para a baixa qualidade da regulamentação colectiva convencionada a que se tem de pôr cobro. Entre os aspectos que mais obstam à negociação colectiva são as convenções que não se renovam. Todos os anos, e de há muito tempo pois não é um fenómeno novo, há sectores que desaparecem das publicações. Algumas causas estão devidamente identificadas: extinção ou desactivação das associações patronais, substituição da convenção sectorial por acordos de empresa ou acordos colectivos de trabalho e, por muito polémico que o assunto seja, atropelos 6

grosseiros ao direito de negociação colectiva por parte dos empregadores ou associações de empregadores que afectam milhares de trabalhadores. Em 2005, há um défice negocial que atinge, pelo menos, seis centenas de milhar de trabalhadores que se juntam aos trabalhadores da administração pública. O défice acumulado é muito maior. Pelo lado positivo tem de se registar o aumento médio das retribuições que nos últimos dois anos foi superior à inflação média, permitindo uma ligeira recuperação salarial das retribuições abrangidas pela negociação colectiva. De assinalar também é o número absoluto e relativo de convenções globais publicadas, o que é um bom indicador e um bom exemplo da prática da negociação colectiva renovada, e se recomenda para 2006 para que não seja uma ocorrência fortuita. Também se regista como positivo o enriquecimento das convenções acordadas em 2004 e 2005, quer por via da revisão global quer em termos de matérias incluídas. A tão propalada sobrevigência não foi impeditiva de as partes concluírem acordos sendo de realçar que foram, maioritariamente, os empregadores a ceder, ficando demonstrado, neste ano, que a disposição legal não tem a importância para as associações de empregadores e para os empregadores, que as confederações patronais fizeram crer. Se por um lado 2005 confirmou, mais uma vez, que é necessário alterar as regras e os procedimentos para que ocorra uma verdadeira negociação na Administração Pública, tanto ao nível da actualização salarial como das condições de trabalho e dos direitos e dos deveres dos trabalhadores, há a registar a publicação de convenções e o início das negociações em institutos e empresas tuteladas pelo estado e pelas autarquias. 7