Regis de Morais Corações em Luz Campinas-SP 2003
Sumário O QUE É SANTIDADE? (Advertência)...13 PRECE DE SANTO AGOSTINHO (Meditações)...17 Oração de São Francisco de Assis... 19 1. Senhor... 21 2. Fazei de mim um instrumento da vossa paz... 22 3. Onde haja ódio, que eu possa semear o amor... 24 4. Que eu possa semear perdão onde haja injúria... 27 5. Fé onde haja dúvida... 30 6. Verdade onde haja mentira... 33 7. Possa eu semear esperança onde haja desespero... 36 8. Luz onde haja treva... 40 9. União onde haja discórdia... 43 10. Alegria onde haja tristeza... 47 11. Ó divino Mestre!... 50 12. Permiti que eu não procure tanto ser consolado quanto consolar... 53 13. Compreendido quanto compreender... 57 14. Amado quanto amar... 61 15. Porque é dando que recebemos... 64 16. Perdoando é que somos perdoados... 68 17. Morrendo é que nascemos para a vida eterna... 71 PRECE DE SANTO AGOSTINHO (Meditações)...75 Santo Agostinho... 77 Tarde te amei... 79 1. Eternidade e tempo humano... 81 2. Divina presença... 85 3. Nos labirintos do desejo... 88 11
Regis de Morais 4. O pórtico dos sentidos (I)... 91 5. O pórtico dos sentidos (II)... 94 6. O pórtico dos sentidos (III)... 97 7. O Pórtico dos sentidos (IV)... 98 8. O pórtico dos sentidos (V)... 99 9. Deixando a palavra com Santo Agostinho (como conclusão)...102 PRECE DE UMA CAMPONESA DE MADAGASCAR (Meditações)... 103 A camponesa...105 Oração de uma camponesa de Madagascar...107 1. As duas grandiosidades...109 2. A chama e o silêncio...112 3. As mãos...115 4. O clímax da humildade e do amor...118 5. Acordes de gratidão...121 12
O QUE É SANTIDADE? (ADVERTÊNCIA) Há um processo desenvolvido pelo Vaticano e que este próprio diz ser minuciosamente investigatório e burocrático, o qual pode levar uma figura religiosa à condição de venerável, depois à de beato ou beata e, finalmente, à condição de santo. Naturalmente que tal processo de canonização assume grande importância para o mundo católico romano, sendo também compreensível que a parte não-católica do mundo tenha opiniões diferentes sobre o referido processo. Talvez em razão de tais opiniões, muitos se neguem a falar de Francisco de Assis, Agostinho ou Tomás de Aquino, como santos. Precisamos, no entanto, buscar entender de forma mais teológica e menos organizacional a santificação. O Apóstolo Paulo, por exemplo, aconselhava aos membros de diversas igrejas: Santificai a vossa vida, sendo comum, no cristianismo primitivo, fazer-se referência às assembleias que se reuniam nas catacumbas e em outros locais como a comunhão dos santos. É interessante lembrarmo-nos de que as palavras santo e santidade têm etimologia ligada à noção de são e à de saúde, voltando-se, é certo, ambos os termos para a saúde espiritual. No correr dos tempos, santificação passou a corresponder à ideia de purificação, esta última com foco no grau de virtudes alcançado e evidenciado por alguém. A palavra mockcha, 13
Regis de Morais que designa o estado de santificado, aponta para um ser humano cuja vida é inteira e harmonicamente norteada pelos princípios de sua fé. O teólogo e exegeta P. Bonhard, na obra Vocabulário Bíblico (Allmen, J. J. von. S. Paulo: ASTE, 1972) diz-nos que o vocábulo santo, apesar de diferenças superficiais de sentido que tem em diferentes religiões, tem três fundamentos comuns a todos os credos: a) a ideia de separação, em termos de reserva incomum de virtudes; b) a noção de consagração, ligada à primeira ideia, mas indicando a capacidade de dedicar-se toda uma vida ao cultivo de uma fé; c) a ideia de poder; não o poder material, mas o espiritual que atua sobre os destinos humanos. Considerados estes pontos, vemos que teologicamente o conceito de santidade ou o de santificação não tem, necessariamente, de estar ligado aos processos oficiais de canonização do Vaticano. Eis por que ninguém, imaginamos, tem dúvida de que a vida de São Francisco de Assis tenha sido uma vida santificada, embora ele mesmo se considerasse muito distante de qualquer perfeição. Foi ele, como os fatos têm demonstrado, alguém distanciado do comum dos homens por uma reserva incomum de virtudes; foi um religioso de tão absoluta consagração à sua fé que sua vida é, até hoje, um risco de luz sobre a terra dos homens; da mesma forma, seria um desvario negarmos o poder espiritual que Francisco até hoje tem sobre espíritos sensíveis e verdadeiramente servos de Deus. 14
Corações em Luz Assim, podem ser avaliadas quantíssimas almas santificadas como Clemente de Roma, Aurelius Agostinus, Sadhu Sundar Sing o apóstolo dos pés sangrentos, Albert Schweitzer, Madre Tereza de Calcutá e tantos outros, inclusive anônimos santificados. O processo vaticano de canonização seguirá respeitado pelos católicos romanos como, de resto, deve ser; mas devemos ter nossa mente e coração abertos para mais ampla conceituação de santidade como a que nos é oferecida pelos Evangelhos, por todo o Novo Testamento bíblico e pela melhor teologia contemporânea. Os temas deste livro serão preces um dia pronunciadas por almas santificadas, que devemos repetir, vivendo o sentido de cada palavra para o cotidiano deste nosso turbulento mundo que inicia novo século e novo milênio do calendário cristão. Há de observar-se que, intencionalmente, não situamos as preces aqui meditadas em sua ordem cronológica. Afinal, São Francisco de Assis viveu no século XIII, tendo vivido bem antes (precisamente nos séculos IV e V) Santo Agostinho, sendo que a camponesa de Madagascar é figura que, ao que tudo indica, ornamenta o século XX. Outra observação que deve ser feita pelo leitor é a de que o que nos foi principal critério de escolha das preces foi o próprio conteúdo de grandeza destas, de vez que neste livro temos dois vultos celebrizados pela história e o vulto quase anônimo (nem por isso menos belo e grandioso) da lavoureira da ilha de Madagascar. Inúmeras outras preces poderiam ter sido escolhidas, aqui, para nossa meditação; graças ao bom Deus é grande o número de iluminados, históricos ou sem história, que um dia se dirigi- 15
Regis de Morais ram de alma aberta ao Todo-poderoso. Escolhemos, no entanto, estas preces por ligações espirituais e intensamente afetivas que com elas temos cultivado no silêncio de nossas meditações ao longo da vida. Convido o leitor a que venha ver conosco as paisagens dessas almas iluminadas e abençoadas por Deus. 16
MEDITAÇÕES PRECE DE SANTO AGOSTINHO
ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvidas, que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado. Compreender que ser compreendido. Amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna. Amém! 19