Análise da Resposta da República Federativa do Brasil a respeito das Medidas Cautelares deferidas pela CIDH.



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Porto Alegre, 24 de março de 2014. Ao Sr. Secretário Executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA 889 F Street, NW - Washington, DC - 20006-EUA Referência: REPRESENTAÇÃO por Violação dos Direitos Humanos no Presídio Central de Porto Alegre (PCPA) - MC-8-13 Brasil Análise da Resposta da República Federativa do Brasil a respeito das Medidas Cautelares deferidas pela CIDH. A dignidade das pessoas encarceradas foi aniquilada e colocada totalmente de lado. Condições de vida como estas que temos aqui são a prova da falta de civilidade nacional". Ministro Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça em visita ao Presídio Central de Porto Alegre, em 17/03/2014. Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul AJURIS, Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia IBAPE, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS), Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais ITEC, Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do

2 Sul CREMERS, Clínica de Direitos Humanos UniRitter, Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, Conselho da Comunidade para Assistência aos Apenados das Casas Prisionais Pertencentes às Jurisdições da Vara De Execuções Criminais e Vara De Execução de Penas e Medidas Alternativas De Porto Alegre, Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Sul OAB/RS, Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do SUL ADPERGS, Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul AMPRS, entidades signatárias da representação por Violações dos Direitos Humanos no Presídio Central de Porto Alegre vêm, respeitosamente, manifestar-se no prazo concedido por esta Comissão, em Resposta as informações enviadas pela República Federativa do Brasil em fevereiro de 2014, nos termos seguintes: I - CONSIDERAÇÕES INICIAIS. 1.1 Ingresso do CREA O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS) solicita o ingresso no polo ativo da presente representação. As entidades signatárias concordam com este ingresso, requerendo que o CREA seja notificado dos próximos atos relativos à tramitação, através do e-mail: gabinete@crea-rs.org.br. 1.2 - Pedido de visita in loco A situação degradante do PCPA segue inalterada com a manutenção do mesmo estado de violações de Direitos Humanos noticiadas na petição a esta Comissão Interamericana. As entidades signatárias entendem que se torna imperioso a tomada de medidas efetivas para a construção de uma solução das

3 violações apresentadas, porquanto carecem de comprovação efetiva as alegações do Estado brasileiro. O Estado lança mão de argumentos expeditos, desacompanhados de provas ou cronograma factível, em que não há descrição acerca do desenvolvimento de cada etapa. Nesse contexto, impõe-se a necessidade de averiguação in loco diante da notória gravidade e a necessidade de tomada de medidas urgentes. Em face disso, as entidades signatárias requerem a realização de investigação in loco (art. 39 do Regulamento) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, atribuição prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (arts. 48, 2), nas dependências do Presídio Central de Porto Alegre, para fins de constatação in loco da fragilidade dos argumentos, bem como da ausência de medidas efetivas tomadas pela República Federativa do Brasil em sua resposta, no dia 3 de fevereiro de 2014. II DAS CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA RESPOSTA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 2.1 Das Medidas Deferidas e do Contexto da resposta Em 30 de dezembro de 2013, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos decidiu através da Resolução n.14, conceder a medida cautelar 8-13 em favor das pessoas privadas de liberdade no Presídio Central de Porto Alegre, em conformidade com o art. 25 do regulamento do CIDH. Em suma, a Comissão considerou que as pessoas privadas de liberdade no Presídio Central de Porto Alegre/RS se encontram em situação de gravidade e urgência, isto, pois, suas vidas e integridades pessoais estão em grave risco. Portanto, impôs as seguintes medidas a serem adotadas pelo Governo: a) Adote as medidas necessárias para salvaguardar a vida e a integridade pessoal dos internos do Presídio Central de Porto Alegre;

4 b) Assegure condições de higiene no recinto e proporcione tratamentos médicos adequados para os internos, de acordo com as patologias que estes apresentem; c) Implemente medidas afim de recuperar o controle de segurança em todas as áreas do PCPA, seguindo os padrões internacionais de direitos humanos e resguardando a vida e integridade pessoal de todos os internos e, em particular, garantindo que sejam os agentes das forças de segurança do Estado os encarregados das funções de segurança interna e assegurando que não sejam conferidas funções disciplinares, de controle ou de segurança aos internos; d) Implemente um plano de contingência e disponibilize extintores de incêndio e outras ferramentas necessárias; e) Tome ações imediatas para reduzir substancialmente a lotação no interior do PCPA. Em resposta, a República Federativa do Brasil apresentou relatório com considerações a respeito das medidas impostas pela Comissão, no dia 3 de fevereiro de 2014. As entidades signatárias apresentam a resposta dentro da prorrogação que foi solicitada para a CIDH no dia 24 de março de 2014, considerando que foi necessário aguardar pelo encontro realizado no dia 27/03/2014, entre os integrantes do Fórum da Questão Penitenciária e os órgãos governamentais brasileiros, reunião que tinha por objetivo ouvir as medidas que foram tomadas para atender às medidas cautelares concedidas e solucionar as violações denunciadas no presente caso. Nessa reunião, efetivada à convite da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, na sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, entretanto, não compareceram importantes órgãos nacionais ligados ao tema, como representação do Ministério da Justiça do Brasil e do Departamento Penitenciário Nacional, responsável pela gestão de importantes recursos financeiros como o Fundo Penitenciário Nacional (o FUNPEN). Estas ausências, marcantes porque o convite fora formulado por integrantes do próprio

5 governo federal brasileiro, revelam que é necessário construir um comprometimento maior dos órgãos envolvidos mormente daqueles detentores dos recursos públicos disponíveis e vinculados para resolver a questão penitenciária do PCPA e do Brasil. 2.2 - Da adoção de medidas necessárias para salvaguardar a vida e a integridade pessoal dos internos do Presídio Central de Porto Alegre 2.2.1 Das Mortes suspeitas. Em relação às medidas a serem adotadas, conforme o item a, a União alega, fl. 06 do documento principal e fl.05 do Anexo I, que entre os anos de 2011 e 2013, houve redução substancial nos índices de óbitos de presos no interior do Presídio Central em comparação com os anos de 2008 a 2010, e que tais medidas estariam apresentadas de acordo com o Anexo I da resposta do Estado brasileiro. O referido Anexo, por sua vez, dispõe a relação dos 16 apenados que faleceram nas dependências da Casa Prisional, entre os anos de 2011 e 2013 (fl. 05), sem, no entanto, mencionar as causas mortis dos mesmos. De forma surreal, informa que neste período não há nenhum registro de ocorrência de homicídio, e que apenas um dos casos, referente ao apenado falecido Douglas Cunha Silveira, é objeto de apreciação pelo Poder Judiciário, por haver fortes indícios da ocorrência de homicídio. A relação dos nomes dos 16 apenados que faleceram no interior do Presídio Central de Porto Alegre, segundo informações da União, fl. 05, Anexo I, é a seguinte:

6 Neste contexto, as informações apresentadas pela União quanto à causa mortis dos demais apenados são insuficientes e não aprofundam a questão, pois de acordo com informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul, com o juiz Sidinei Brzuska, existem atualmente mais quatro ocorrências de mortes onde há suspeitas de homicídio, além do caso de Douglas Cunha Silveira, que foram omitidas pelo Estado, sendo estas, a dos apenados falecidos: Carlos Eduardo Wolf dos Santos (Anexo I) 1, André Garcia (Anexo II) 2, 1 Anexo I - 2 Ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais, Ofício número 3029/2013, de 13 de maio de 2013, Porto Alegre/RS, referente à Certidão de Óbito de Carlos Eduardo Wolf dos Santos. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska. 2 Anexo II Ofício número 4714/2014, Secretaria de Segurança Pública/Departamento Médico-Legal, em atenção ao Ofício 07/2014-GAB de 22 de janeiro de 2014, Porto Alegre/RS, referente ao auto de necropsia do apenado André Garcia, falecido em 28 de julho de 2013. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska.

7 Lucas Mendel Honatel (Anexo III) 3, Adriano de Lima (Anexo IV) 4, todos mencionados pelo Estado brasileiro (fl. 06 do documento principal e fl. 05, Anexo I, ambos da União), mas sem menção da suspeita de homicídio. No caso do apenado morto Carlos Eduardo Wolf dos Santos (Anexo I), falecido no Hospital Vila Nova Porto Alegre/Rio Grande do Sul, em 10 de maio de 2013 por intoxicação aguda por carbamazepina e diazepam, (cf. fl.2. Anexo I), existe a suspeita de intoxicação forçada, o que levou à morte o detento. Foto 1 do apenado morto Carlos Eduardo Wolf dos Santos: Foto 2 do apenado morto Carlos Eduardo Wolf dos Santos: 3 Anexo III Auto de Necropsia, N do laudo 40621/2011, Secretaria de Segurança Pública/Departamento Médico-Legal, referente ao falecimento de Lucas Mendel Honatel em 17 de setembro de 2011. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska. 4 Anexo IV - Auto de Necropsia, N do laudo 1612/2012, Secretaria de Segurança Pública/Departamento Médico-Legal, referente ao falecimento de Adriano de Lima, em 17 de setembro de 2011. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska.

8 Quanto ao apenado André Garcia (Anexo II), falecido em 28 de julho de 2013, a causa da morte aparece como indeterminada, sem qualquer lesão aparente, considerando prejudicada a análise quanto aos quesitos terceiro qual o instrumento ou o meio que produziu a morte e quarto se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel (conf. fl. 2, do Anexo II), apontando a presença de cocaína e metilecgonina no material analisado, fl. 4. Resta saber, como este apenado veio a óbito dentro do PCPA, tendo sido constatada a presença de cocaína no laudo de necropsia? Estas perguntas evidentemente devem ser objeto da devida investigação pela República Federativa do Brasil, que deve considerar a morte como suspeita e proceder a sua investigação. Deve, igualmente, tomar medidas de prevenção para casos futuros.

9 Foto 1 do apenado morto André Garcia: Foto 2 do apenado morto André Garcia:

10 O apenado Lucas Mendel Honatel (Anexo III), falecido em 17 de setembro de 2011, apresentou resultado positivo para a presença de cocaína na amostra de sangue colhida e, no que tange aos questionamentos terceiro qual o instrumento ou o meio que produziu a morte e quarto se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel, a resposta foi considerada prejudicado (cf. fls. 1 e 2, do Anexo III), persistindo assim, a suspeita de intoxicação forçada. Foto 1 do apenado morto Lucas Mendel Honatel:

11 Foto 2 do apenado morto Lucas Mendel Honatel: As fotos de Lucas Mendel foram retiradas logo após a sua chegada no hospital de Pronto Socorro, em Porto Alegre. O nome do apenado consta na relação das 16 mortes de detentos ocorridas no PCPA, apresentadas pela União em seu Anexo I, fl. 05, no entanto, o Estado se limita a reconhecer a morte, mas não apura os fatos, como, por exemplo, a presença de cocaína no sangue de Lucas Mendel.

12 O caso do apenado morto Adriano de Lima (Anexo IV), falecido em 10 de janeiro de 2012, apontada a causa da morte por edema agudo de pulmão, considerando prejudicada a análise quanto aos quesitos terceiro qual o instrumento ou o meio que produziu a morte e quarto se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel e, finalmente, apontando a presença de cocaína e metilecgonina no material analisado (cf. fls. 1, 2 e 5, do Anexo IV). Foto 1 do apenado morto Adriano de Lima:

13 Foto 2 do apenado morto Adriano de Lima: As fotos do apenado morto Adriano de Lima, assim como as de Lucas Mendel, foram tiradas no momento em que o cadáver chegou ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS). Nota-se grande similitude nas 4 (quatros) mortes citadas acima, o que pode ser verificado pelas fotos apresentadas, bem como pelos laudos de necropsia, principalmente ao fato de que 3 dos 4 apenados mortos apontaram cocaína no sangue analisado, já no que tange ao primeiro caso apontou morte por intoxicação aguda por carbomazepina e diazepam, persistindo a suspeita de homicídio por intoxicação forçada em todos 4 (quatro) os casos.

14 O caso do Douglas Cunha Silveira (Anexo V) 5, único caso mencionado pelo Estado brasileiro como suspeito de homicídio, pois segundo o disposto na fl. 06 do documento principal e fl. 05, Anexo I, da União, há fortes indícios da ocorrência de homicídio), vê-se que a morte ocorreu em 04 de março de 2011, por asfixia mecânica de etiologia indeterminada, com detecção de carbamazepina, cocaína e clorpromazina no material analisado, segundo o perito responsável (fls. 1, 2 e 9, do Anexo V). Nota-se, que a substancia carbamazepina também foi encontrada no material analisado do apenado morto Carlos Eduardo Wolf dos Santos (Anexo I). 5 Anexo V - Secretaria de Segurança Pública/Instituto Geral de Perícias/Departamento de Identificação; Ocorrência PC305/2011/100809. Assunto: Resultado de Identificação POS MORTEM 108/2011 11 Delegacia de Polícia de Porto Alegre, datado de 16 de março de 2011. Documento seguido do Auto de Necropsia referente ao falecimento do apenado Douglas Cunha Silveira. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska.

15 Ressalta-se ainda, o falecimento do apenado, oriundo do Presídio Central de Porto Alegre, Paulo Jesus de Moraes (Anexo VI) 6 em 29 de dezembro de 2013. Até o presente momento não há laudo de necropsia que informe a causa da morte do detento falecido. Da mesma forma, registramos a ocorrência envolvendo o apenado Daysson Rodriguez Lopes (Anexo VII) 7, vítima de esfaqueamento nas dependências do Presídio Central de Porto Alegre em 2014, e que no momento se encontra na Unidade de Tratamento Intensivo. Foto 1 do apenado Daysson Rodriguez Lopes em 2014: 6 Anexo VI Fotografias e Boletim de Ocorrência, N 15957, datado de 30 de dezembro de 2013, referente ao falecimento do apenado Paulo Jesus de Moraes, no dia 29 de dezembro de 2013, na Cidade de Porto Alegre/RS. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska. 7 Anexo VII Fotos do apenado Daysson Rodriguez Lopes, esfaqueado nas dependências do Presídio Central de Porto Alegre em 2014. Informações colhidas na Vara de Execuções Criminais do Estado do Rio Grande do Sul Juiz Sidinei Brzuska.

16 Foto 2 do apenado Daysson Rodriguez Lopes em 2014: Ressalta-se que o apenado foi vítima de esfaqueamento no pescoço em 2014, e encontra-se na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), na cidade de Porto Alegre. 2.2.2 Das outras medidas apresentadas Da necessidade de monitorar cada óbito no sistema Na resposta o Estado aponta como medidas consideradas importantes para salvaguardar a vida e a integridade pessoal dos internos do Presídio Central de Porto Alegre: a instituição do Sistema Nacional de Prevenção de Combate a Tortura (SNPCT), por meio da Lei n 12.847, de 2 de agosto em 2013; de forma complementar a este, aponta a criação do Mecanismo Estadual de Monitoramento no Estado do Rio Grande do Sul, tendo como objeto o Expediente administrativo SPI n 133.93-1000/13-3, que se encontra em tramite como proposta de anteprojeto de

17 lei; a criação da Câmara Técnica do Sistema Prisional junto ao Gabinete de Gestão Integrada do Estado do Rio Grande do Sul; e o projeto de Lei n 346/2013, ainda em tramite na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, (fls. 6 e 7 da resposta da União). O Estado Brasileiro, a toda evidência, não demonstrou de que forma estas medidas estão efetivamente reduzindo da mortalidade no PCPA, considerando que algumas delas ainda se encontram em fases incipientes e outras são simples anteprojetos. Em relação ao Sistema Nacional de Prevenção de Combate a Tortura (SNPCT), por meio da Lei n 12.847, de 2 de agosto em 2013, embora a lei tenha entrado em vigor em agosto de 2013, o sistema e seus mecanismos preventivos sequer foram implementados! O descaso do Estado brasileiro é tamanho que o mesmo trata mortes suspeitas, violação mais grave à vida, com a apresentação de um mero anteprojeto de lei, sem a realização de investigações que mirassem a busca da elucidação dos fatos! Portanto, a resposta do Brasil não trouxe dados concretos que comprovassem minimamente o controle, e mais que isso o zelo da administração prisional nas galerias, e com a integridade dos seres humanos, isto é, nos locais onde os presos estão suscetíveis a homicídios. Ainda informa a República Federativa do Brasil que as entidades signatárias, dentre as quais encontram associações do Poder Público, tem a prerrogativa de processar, julgar de determinar penas a perpetradores de crimes. A menção de que dentre as entidades signatárias encontram-se associações que representam integrantes de entes do Poder Público (AJURIS, AMPRS, ADPERGS), fl. 6, aos quais caberiam responsabilidades de processar, julgar e determinar penas a perpetradores de crime, apenas reforça o argumento do descaso do Estado brasileiro com a questão prisional, enfatizando a necessidade da intervenção internacional! Note-se que o Estado não toma as providências para averiguar os óbitos adicionais referidos na Representação, limitando-se a uma tentativa de deslocar sua responsabilidade para os órgãos referidos.

18 O Estado brasileiro, e em especial a administração penitenciária, tendo em vista o processo interno de apuração e contabilização de causa mortis, é o grande responsável pela inviabilização da atuação das entidades e, em última análise, é aquele que impede sejam apontadas as devidas responsabilidades. Basta ver que a maioria dos óbitos que ocorrem dentro do PCPA são noticiados como morte natural, mesmo havendo indícios de morte violenta ou provocada. Nos casos de overdose e/ou overdose induzida, há registro apenas de suspeita de homicídio. Também há casos de mortes evitáveis, que ocorrem fora das dependências da Casa Prisional, em geral em hospitais conveniados, e simplesmente não são contabilizadas. Os casos, enfim, são apurados apenas eventualmente, mediante iniciativa dos familiares das vítimas, e o aludido descaso no correto registro dos óbitos só faz dificultar/impossibilitar a atuação investigativa do Ministério Público e a correspondente elucidação do fatos perante o Poder Judiciário, relegando a grande maioria à zona de invisibilidade, à chamada cifra oculta. Ressaltamos que alguns casos, ao longo dos anos, já foram objeto de ações de reparação no Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul (estado-membro da República Federativa), concluindo pela omissão do Estado no seu dever de prestar assistência à saúde dos apenados e em protegê-los de violências físicas. É possível verificar nas decisões 8, já citadas no documento de Petição com Informações adicionais sobre a Situação do Presídio Central de Porto Alegre à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 18 de setembro de 2013, que 8 Citam-se os casos: Apelação Cível Nº 70053883575, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 14/08/2013 (referente a morte de detento por "eletroplessão"). Processo n.º 001/1.05.2270892-0, objeto de Recurso de Apelação n.º 70046309177, ajuizado no ano de 2005 e julgado em 2011, (responsabilização do Estado pelo não fornecimento de tratamento e medicamentos a detento portador de HIV). Recurso de Apelação n.º 70051667269, julgado em 27 de fevereiro de 2013 pelo Tribunal de Justiça do Estado, oriundo de Ação Indenizatória ajuizada no ano de 2006 (por falta de tratamento em um caso de tuberculose). Habeas Corpus n.º70017990862, julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado em 21 de dezembro de 2006. Recurso de Apelação n.º 70044030427, julgado em 13 de dezembro de 2012, nos autos de Ação Indenizatória ajuizada em 2009 (responsabilização do Estado pelo desrespeito ao dever de guarda e proteção de detento morto por asfixia mecânica), in Petição com Informações adicionais sobre a Situação do Presídio Central de Porto Alegre à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 18 de setembro de 2013. Disponível: http://www.ajuris.org.br/sitenovo/wpcontent/uploads/2013/09/novas_informacoes.pdf. Acesso em: 17 de mar. de 2013 (grifo nosso).

19 segue a omissão e negligência do Estado em garantir a vida dos detentos, em razão das deficiências estruturais do sistema penitenciário. A situação, diferentemente do que aponta a resposta enviada pelo Estado brasileiro, é crítica, tal como indicado no Ofício do Juiz da Vara da Fiscalização dos Presídios Dr. Sidinei José Brzuska, que originou procedimento na Comissão de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Relator Umberto Guaspari Sudbrack - Acórdão número 5661-11/000020-7 (Anexo VIII) 9, que trata dos homicídios ocorridos no interior do sistema penitenciário do Estado do Rio Grande do Sul e das falhas do Poder Público na proteção dos presos e apuração dos fatos, datado de 7 de maio de 2013. 2.1.3. Das condições higiênicas Insalubridade e contaminação De outra forma, o nível de insalubridade, precariedade e contaminação, por exemplo, continuam os mesmos, de acordo com o Relatório Final da Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre realizada em 28 de outubro de 2013 10, (Anexo IX), fl. 4: Os pátios que visitamos, dos Pavilhões A, B e C, não diferem muito entre si, têm o mesmo tamanho e encontram-se mais ou menos nas mesmas condições, a saber, sujos e sem qualquer estrutura para receber as pessoas que a eles acorrem. (...). 9 Anexo VIII Ofício do Juiz da Vara da Fiscalização dos Presídios Dr. Sidinei José Brzuska, que originou procedimento na Comissão de Direitos Humanos do Tribunal de Justica do Rio Grande do Sul. Relator Umberto Guaspari Sudbrack - Acórdão número 5661-11/000020-7. Homicídios ocorridos no interior do sistema penitenciário do Estado. Falhas do Poder Público na proteção dos presos e apuração dos fatos. 7 de mai. de 2013. 10 Anexo IX - Relatório Final da Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre, realizada em 28 de outubro de 2013. Integrantes da visita: Luciano Preto (Ministério Público); Gilmar Bortolotto (Ministério Público); Irineu Koch (Diretor da Susepe); Jéferson Fernandes (ALRS); Irvan Antunes (Defensoria Pública); Roque Soares Reckziegel (GT APAC); Gerson Fernandes Rodrigues (GT APAC). Segundo informação do próprio relatório: não seria possível uma visita que abrangesse todo o complexo do PCPA, em face da sua extensão, de comum acordo com o Diretor, acertamos os locais a serem visitados. Ficou deliberado, assim, que a visita abrangeria os seguintes locais: Pátios dos Pavilhões A, B e C; Sala de visitas, Plantão, Enfermaria, Cozinha e Galerias, 2ª do A; 2ª do B e 2ª do D.

20 A rede de esgoto, face à deterioração dos canos de água servida oriunda das celas e banheiro, verte in natura no pátio em quase todas as colunas do Pavilhão. Tal situação é um atentado à salubridade, pois fezes, urina e outros dejetos humanos são despejados pelos canos no chão escorrendo pelo pátio, mercê de cobertores e toalhas colocadas à volta das colunas com o objetivo de evitar o transbordamento. Se houve reforma da tubulação de esgoto nesses pátios, a mesma não atingiu os objetivos e precisa ser refeita, pois a água servida jorra dos canos diretamente para o pátio. O estado de higiene dos pátios é deplorável. Viceja o lixo, o mau cheiro e carece de instalações sanitárias para a utilização de presos e visitas quando estão nos pátios. Considerando que o número de presos por galeria fica em torno de 300, e que cada preso, em dia determinado, receba uma visita, temos algo em torno de 600 pessoas para utilizar 3 vasos sanitários, os quais se encontram em precárias condições. São mais ou menos 200 pessoas para cada vaso sanitário, o que fala por si só. (grifo nosso). O Relatório (Anexo IX) apontou diversas violações no que diz respeito a instalações elétricas, hidráulicas, salubridade e condições dignas de permanência nos pavilhões visitados, fls. 9, 10 e 11: 2ª Galeria do Pavilhão A: A primeira galeria que inspecionamos foi a 2ª Galeria do Pavilhão A, ocupada por aproximadamente 300 apenados. As celas não possuem grades na portas, havendo circulação livre na galeria, local onde permanecem os presos a maior parte do dia.

21 Os banheiros são coletivos, havendo 6 vasos sanitários e 6 chuveiros. Isso enseja uma taxa de ocupação de 50 pessoas por vaso sanitário e/ ou por chuveiro. Cada galeria tem capacidade prevista de aproximadamente até 150 presos. A estrutura está comprometida, com problemas de infiltração de esgoto e instalações elétricas expostas. O ambiente é insalubre. 2ª Galeria do pavilhão B: Composta de celas com instalação sanitária com capacidade para 8 presos, essas celas abrigam, todavia, 16 a 20 presos. As celas não possuem grades, o ambiente é igualmente úmido, mal-cheiroso e muito sujo, tanto no corredor da galeria quanto nas celas se percebeu a presença de insetos, especialmente de baratas. As celas possuem cozinhas improvisadas para fazer o remendo, ou seja, melhorar a comida servida pela instituição com aquilo que os visitantes trazem. Como há infiltração de água proveniente das instalações sanitárias do andar de cima, em praticamente todas as celas, para evitar o gotejamento proveniente do teto, a criatividade dos presos elabora aparadores com plásticos. Outra constatação foi a grande incidência de gatos (ligações clandestinas) na rede elétrica, para os mais diversos usos, os quais se constituem em ameaça constante de incêndio por curtocircuito. 2ª Galeria do pavilhão D: Igualmente, composta de celas com instalação sanitária com capacidade para 8 presos, essas celas abrigam, todavia, de 16

22 a 20 presos. Também chamou a atenção a presença de baratas. Observa-se que as galerias foram esvaziadas para que a comitiva pudesse realizar a visita, por razões de segurança. Quanto às instalações elétrica e hidráulica, mostram-se extremamente comprometidas. (grifo nosso). Fotos obtidas durante a Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre, realizada em 28 de outubro de 2013 (cf. Anexo IX):

23 A falta de estrutura no PCPA foi atestada pelas Instituições que verificaram in loco as condições sanitárias mínimas e insalubres, a habitação precária, a falta de acesso à saúde. Da mesma forma, nota-se que as Galerias permanecem sem qualquer controle Estatal, visto a inexistência de grades nas celas, mantendo a livre circulação dos apenados. O domínio de facções criminosas, em razão da notória gestão compartilhada, enseja casos de mortes dentro do sistema carcerário, não havendo comprovação de qualquer reforma ou melhoria significativa na situação degradante do Presídio Central de Porto Alegre. Portanto, impossível afirmar que as medidas tomadas pela República Federativa do Brasil, até o momento, podem vir a solucionar os problemas dos óbitos pelo não acesso ao direito à saúde, mortes evitáveis, bem como as mortes violentas em decorrência da administração compartilhada entre o controle Estatal das galerias e as ações das facções. 2.3 - Da saúde no Presídio Central de Porto Alegre - item b das medidas

24 De acordo com a fl.8 do documento enviado pela República Federativa do Brasil o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), instituído em 2003, teve duas iniciativas complementares em 2014. A primeira estabelecida pela Portaria Interministerial n 1/MS/MJ, em 2 de janeiro de 2014, institui a Política Nacional de Atenção Integral às Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em suma, tal medida tem como objetivo, a princípio, dar um aporte financeiro, aumento de equipes de profissionais e a qualificação do repasse dos medicamentos e de estrutura física do servido ofertado. No entanto, o Estado brasileiro não apresenta uma data ou um cronograma capaz de suprir a urgência, nem aproximada, para dar início a efetivação destas medidas, o que torna incerta a eficácia da Portaria. Como se não bastasse o referido acima, o artigo 21 da Portaria Interministerial, n 1, de 2 de janeiro de 2014, a União, fl. 06 do Anexo VII, dispõe que Os entes Federativos terão o prazo de até 31 de dezembro de 2016 para efetuar as medidas necessárias de adequação de suas ações e seus serviços para que seja implementada a PNAISP conforme as regras previstas nesta Portaria., o que demonstra a falta de percepção da urgência e da gravidade da situação. A resposta da República Federativa do Brasil, por sua vez, menciona a existência de equipe médica diversificada, com 37 profissionais (fl. 14 do documento principal e, fl. 10 e 11 do Anexo I) que atenderiam 24 horas (fl. 1, Anexo I). No entanto, o Estado não apresentou documentos comprobatórios com relação ao controle da carga horária de tais profissionais, principalmente os que atuam pelo referido Hospital Vila Nova (Hospital conveniado com o Município de Porto Alegre para o atendimento dos apenados). Por exemplo, não há a demonstração fática do período de trabalho de tais profissionais e sequer o tempo em que ficam à disposição no atendimento médico em relação ao PCPA. Entretanto, o Relatório Final da Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre realizada em 28 de outubro de 2013 (Anexo IX), fl.8, revela o

25 contrário do referido pelo Estado brasileiro, isto é, a absoluta precariedade em que o atendimento a saúde é realizado no PCPA: 1) Enfermaria e ambulatório Ainda, com base em dados fornecidos pela Direção do Presídio, a enfermaria conta com: 8 médicos; 2 enfermeiros; 13 auxiliares de enfermagem; 4 dentistas; 1 farmacêutico; 1 assistente social; 1 nutricionista; 1 psicólogo e 1 bioquímico. Tais dados demonstram o reduzido contingente de profissionais da saúde atuando nas dependências do Presídio, considerando que no dia da inspeção o número era de 4.300 presos. Lembrando, que o número de equipes médicas necessárias, conforme já disposto por estas entidades signatárias em documentos anteriores, seria de 8 equipes atuando nas Unidade Básica de Saúde (UBS), tendo assim, uma equipe para cada 500 apenados. Diante destes fatos, há a mera disposição de possíveis profissionais, conforme as tabelas do Anexo I, fls. 10 e 11, da União, e que mesmo assim demonstra-se insuficiente, inclusive no que tange a estrutura física da UBS. É impossível o alegado atendimento de 24 horas, uma vez que aponta apenas 1 psiquiatra de 20 horas, 1 nutricionista de 40 horas, 8 médicos de 20 horas, 1 enfermeira de 40 horas, dentre outros. A lista informada com os nomes dos profissionais de saúde, e suas respectivas cargas horárias, deve ser rigorosamente conferida pela entidade responsável pela fiscalização. A segunda medida mencionada pela União, fl. 8 do documento principal, não se enquadra no caso em tela, uma vez que se trata da Portaria Interministerial n 210/MJ/SPM, que cria a Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (grifo nosso). O Estado apresenta o Programa de Atenção Integral à Saúde Prisional. Entretanto, o alto número de atendimentos (136.682) em 2013 causa estranheza

26 entre as entidades signatárias, pois é inverossímil o alcance da totalidade da população carcerária do PCPA durante a primeira e a segunda edição do Mutirão em Saúde. Como dito acima, o Presídio Central necessitaria de 8 equipes médicas para atender a todos os apenados, contando com o intenso fluxo de pessoas, que seria de aproximadamente 120 movimentações, por dia, das quais entram, em média, 42 presos diariamente 11. Vale ressaltar que em última fiscalização feita pelo CREMERS foi verificada somente uma equipe de saúde no PCPA, mantida pela SUSEPE, constando um médico, uma enfermeira, um farmacêutico, uma nutricionista, dois dentistas, uma assistente social, uma psicóloga e três técnicos de enfermagem. Em decorrência disto, há flagrante contradição entre as informações prestadas pelo Estado brasileiro e os relatórios das entidades de fiscalização que compõem o Fórum da Questão Penitenciária. Destaca-se ainda, que o Estado brasileiro apenas relatou a alegada melhora da situação, sem comprovar documentalmente o número de profissionais contratados, carga horária, escala de serviço, equipamentos e medicamentos adquiridos, ou seja, as informações prestadas não são apresentadas de modo a que possam ser devidamente avaliadas. Há a menção de custeio de medicação e insumos, mas não houve comprovação em relação à forma em que se dá o custeio, assim como não se comprovou como ocorre a entrega e controle dos insumos e medicação. O Estado garante a distribuição de medicamentos, mas não informa se esta distribuição supre 11 Anexo IX - Relatório Final da Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre, realizada em 28 de outubro de 2013. Integrantes da visita: Luciano Preto (Ministério Público); Gilmar Bortolotto (Ministério Público); Irineu Koch (Diretor da Susepe); Jéferson Fernandes (ALRS); Irvan Antunes (Defensoria Pública); Roque Soares Reckziegel (GT APAC); Gerson Fernandes Rodrigues (GT APAC). Segundo informação do próprio relatório: não seria possível uma visita que abrangesse todo o complexo do PCPA, em face da sua extensão, de comum acordo com o Diretor, acertamos os locais a serem visitados. Ficou deliberado, assim, que a visita abrangeria os seguintes locais: Pátios dos Pavilhões A, B e C; Sala de visitas, Plantão, Enfermaria, Cozinha e Galerias, 2ª do A; 2ª do B e 2ª do D.fl. 7.

27 as necessidades de todos os detentos, e, para o caso de tratamento prolongado ou constante, como é o caso da tuberculose e do HIV, o Estado não traz dados que comprovem se o tratamento é feito em sua totalidade, ou se o apenado abandona o tratamento antes de finalizá-lo. De acordo com o relatório do CREMERS em 2013, o tratamento da tuberculose, sofria risco de descontinuidade, pois o apenado era impedido, muitas vezes pelo prefeito da galeria, de ir até a USB diariamente, o que corrobora o frágil controle estatal da prisão. Assim como, na Resposta da União em 2013, a porcentagem de apenados com HIV e que, de fato, recebiam tratamento era irrisória, as informações dispostas em fevereiro de 2014, não apontam o número de detentos portadores do vírus, consequentemente daqueles que dão início à terapia antirretroviral, e aqueles que mantêm o tratamento. Conforme informações fornecidas pessoalmente aos signatários, em visita, atualmente são 147 pessoas diagnosticadas, e 132 em tratamento. No que tange aos exames de Raio X, de pesquisa de Baar, Programa de controle da tuberculose, Programa de atenção a Hepatite, Programa de controle ao HIV e Atendimentos diversos, não é possível informar a veracidade dos fatos alegados no documento, uma vez que, conforme mencionado nas Considerações Iniciais, solicitamos a visita in loco nas dependências da Casa Prisional. Verifica-se, portanto, que as informações prestadas pelo Estado carecem de comprovação e demonstram o descumprimento da medida cautelar deferida. 2.4 - Da atividade realizada pelos chaveiros - item c das medidas O Estado do Rio Grande do Sul reitera que as pessoas privadas de liberdade do PCPA exercem inúmeras atividades internas de trabalho, mas que nenhuma delas se enquadra ou substitui funções do estado. Fl. 15.

28 Informa, ademais, que nenhuma atividade operacional ou de circulação está sob o controle dos presos na referida unidade, sendo que o controle da movimentação dos presos que ultrapassam a área destinada a sua localização (galeria) ocorrer por meio da atuação dos servidores públicos da Polícia Militar. Fl.15. Em relação às funções disciplinares, de controle ou de segurança aos internos, o Estado (cf. fl.15, do documento principal e, fl. 11 do Anexo I) informa que os apenados não exercem nenhuma atividade que se enquadre ou substitua a função do Estado. As entidades reiteram a afirmação de que os detentos ainda exercem a função de chaveiro, ou fazendo e distribuindo as refeições entre outras funções nas dependências do Presídio Central. Foto Dr. Sidinei Brzuska: Foto obtida na Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre, realizada em 28 de outubro de 2013 (cf. Anexo IX):

29 Segundo informações dispostas na Petição com Informações Adicionais sobre a situação do Presídio Central de Porto Alegre, em 2013, o número de chaveiros na Casa Prisional é elevado, e acarreta sérios riscos ao apenado: No presídio central são cerca de 70 chaveiros. Ele é um preso que se sujeita a fazer uma atividade, que a rigor seria do Estado, a de abrir e fechar as grades das entradas das galerias. É alguém que está à serviço da administração prisional do Estado para realizar um típica atividade estatal, que é vista pelos demais presos como um agente prisional, na mesma lista dos delatores e que recebe um veredicto: a pena de morte. Todos estes presos no Presídio Central ficam separados dos demais presos em um pavilhão especial, no pavilhão G, totalizando 173 presos, e no alojamento da cozinha geral 63 presos, totalizando 236 presos. O perigo para o preso trabalhador, mas especialmente para o chaveiro, nasce quando ele é transferido para o semiaberto. Ali é o local de acerto de contas com estes presos..

30 Tal questão escancara a negligência do Estado brasileiro em relação à segurança dos detentos e demonstra pela negativa de algo materialmente comprovado, fotografado, portanto incontroverso desde a inicial que a Comissão deve ter a máxima cautela na apreciação das veracidade das providências que se dizem tomadas e que foram referidas pelo Estado Brasileiro em suas manifestações. Resta saber, diante dos fatos e das comprovações in loco da existência do uso de apenados para a realização da atividade de chaveiros, qual é a posição da União sobre a manutenção desta prática que, inclusive, é repudiada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. 2.5- Do plano de prevenção de incêndio - item d das medidas Consta no documento que o Estado tomou medidas no que tange a prevenção de incêndios, instalando hidrantes em toda a área do presídio e extintores em pontos estratégicos, contando com rede de mangueiras suficientes, e que o local conta com uma brigada de combate a incêndio, com o total de 12 policiais militares do quadro de corpo de bombeiros (...) permitindo a pronta intervenção no combate de sinistro, informa ainda a aquisição de novos 123 extintores de incêndio (cf. fl. 17 do documento principal e, fls. 1, 12 e 13 Anexo I). Ocorre que o alegado plano de prevenção e combate a incêndio (fl.17) não informa os nomes dos profissionais que estariam atuando na brigada de incêndio, turnos e cargas horárias destes. Tampouco menciona o número de instalações dos hidrantes, laudo técnico do engenheiro responsável, informações sobre o alcance das mangueiras, bem como quantos seriam os pontos estratégicos cobertos. Em relação aos 123 extintores de incêndio mencionados pelo Estado, frisa-se que não foi informado a quais das 5 classes pertencem, bem como em caso de incêndio dentro dos pavilhões, quais seriam os procedimentos tomados para fins de evacuação. Por outro lado, não há qualquer informação se algum detento está preparado para usar os extintores, principalmente aqueles que trabalham no PCPA.

31 Segundo o Relatório Final da Visita de Inspeção ao Presídio Central de Porto Alegre realizada em 28 de outubro de 2013, (Anexo IX), fl. 12, quanto ao Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI), o Diretor do PCPA informou que: - há mangueiras de incêndios nos acessos às galerias. - que na Força Tarefa da BM existem policiais que pertencem ao Corpo de Bombeiros e que esses têm um Plano de Emergência para caso de incêndio. Solicitado, esclareceu que o Plano de Emergência consiste em um plano de manejo dos presos, caso haja incêndio no estabelecimento, nada mais sendo acrescentado nesse sentido. O mesmo relatório conclui que, fl. 13: O PPCI simplesmente não existe e as medidas emergenciais em caso de um incêndio são pífias, assim como os equipamentos para combate a incêndio. Nesse particular, sugerimos seja oficiado pelo FIC à Secretaria de Segurança Pública, bem como ao Superintendente da Susepe, e ao Comando da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros, para informar a situação do PPCI, eis que informado no documento enviado em resposta ao of.35/2013 da SDH da Presidência da República, que solicitava informações para responder à representação feita pela AJURIS e outras entidades junto a CIDH da OEA. Por fim, apontamos que o Estado apresentou um plano de prevenção e combate de incêndio genérico e ineficaz. Não há o detalhamento fundamental para a efetivação do plano. Não há a comprovação se os hidrantes e extintores instalados são adequados para a localidade e para o número de presos. Da mesma forma, não se demonstrou se a Brigada de combate de incêndio atende aos requisitos legais.

32 2.6 - Da Abertura de vagas item e das medidas cautelares Preliminarmente, o Estado brasileiro anuncia a criação de novas vagas no sistema penitenciário do Rio Grande do Sul, a fim de reduzir a superlotação: 1) Penitenciária modulada de Estadual de Montenegro: 500 vagas março de 2014; 2) Penitenciária Estadual de Venâncio Aires: 529 vagas abril de 2014; 3) Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas: 250 vagas julho de 2014; 4) Penitenciária Estadual de Canoas I: 393 vagas setembro de 2014; 5) Penitenciária Estadual de Guaíba: 672 vagas novembro de 2014; 6) Penitenciária Estadual de canoas II, III e IV: 2.415 vagas dezembro de 2014; Informa que o objetivo para estas vagas é conferir nova destinação ao PCPA, assim como qualificar todo o sistema prisional do Estado, havendo assim diversos projetos em andamentos (fl. 5 do documento principal): Ressalta que para o ano de 2015, 1.495 novas vagas serão destinadas ao regime semiaberto no Estado.

33 Segundo estas informações dispostas pelo Estado, o total de vagas chegaria a 4.759 até dezembro de 2014, no entanto, não comprovou o início das obras, bem como seu atual andamento. O mesmo ocorre com as obras com previsão de entrega para o ano de 2015 nas demais Penitenciárias e Cadeias Públicas mencionadas nos Anexos I e II, onde não há comprovação de início de obras, até mesmo de processos licitatórios. É notório que a União apresenta por diversas vezes um quadro geral das medidas tomadas nos Estabelecimentos Penitenciários do Estado do Rio Grande do Sul para fins de comprovar seus intentos em reduzir a superlotação no Presídio Central de Porto Alegre. Ocorre que, tal método, acaba por gerar um acúmulo de informações desnecessárias, e que não colaboram para a percepção de alguma possível melhoria. Portanto, realizada uma breve análise no saite da Superintendência dos Serviços Penitenciários do estado do Rio Grande do Sul (SUSEPE) foi possível constatar o quadro alarmante de superlotação, e não apenas no PCPA, mas em todo o Estado do Rio Grande do Sul. Expondo a gravidade do problema, e gerando dúvidas sobre se as medidas de aberturas de novas vagas, tanto para o ano de 2014, quanto para o ano de 2015, mesmo que efetivadas, poderão alcançar solução ao quadro de superlotação. Gráfico dos Cárceres superlotados no Estado do Rio Grande do Sul, inclusive o PCPA (Anexo X) 12, de acordo com o saite da Superintendência dos Serviços Penitenciários do estado do Rio Grande do Sul (SUSEPE): 12 Anexo X Gráficos superlotação.

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37 ESTATÍSTICAS GERAIS Número total de presídios 87 Número total de presídios com superlotação 58 Número total de presídios com vagas disponíveis 29 Capacidade de engenharia total no RS 17628 População carcerária total 25946 Número total de detentos excedentes consideradas as vagas disponíveis 8318 Número total de detentos excedentes consideradas apenas a diferença entre a capacidade de engenharia e a população carcerária 9444

38 Número total de vagas disponíveis 1126 Número total de vagas faltantes 7192 Número total de vagas preenchidas 16502 Conclui-se que das 87 Casas Prisionais analisadas, 66,66% (58 no total) estão em situação de superlotação, e que apenas 33,33% (29 no total) não se encontra em situação de superlotação no Estado do Rio Grande do Sul, segundo informações do saite da SUSEPE. Existe na resposta da União menção de abertura de vagas em penitenciárias femininas, as quais não se enquadram nas possibilidades de melhoria para a situação do Presídio Central de Porto Alegre. No caso das 2.069 vagas já existentes no Presídio Central de Porto Alegre, o Estado as contabiliza, mas não informa, por exemplo, os fatores de insalubridade e segurança, o que impossibilita a verificação do número real da capacidade da Casa Prisional. Diante destas análises, concluímos que o Estado não pode apresentar tais previsões como se estas fossem a solução concreta para problema da superlotação, ainda que se pudesse acreditar na sua concretização nos prazos informados. III Informações necessárias do Estado Brasileiro Para um adequado monitoramento das medidas que foram determinadas pela CIDH é necessário que o Estado Brasileiro forneça os seguintes esclarecimentos

39 (que até serão pedidos diretamente pelos peticionários, mas que também precisam ser requisitados para garantia do seu atendimento por meio dessa honorável Comissão e com a força da sua autoridade): 3.1 - Informações quanto à saúde Quanto à nova unidade básica de saúde que estaria em implantação no PCPA, considerando a letra b das medidas cautelares deferidas ("b) assegurar condições de higiene no recinto e proporcionar tratamentos médicos adequados para os internos de acordo com as patologias que estes apresentem" - MC-8-13), os peticionários pedem que se determine ao Estado Brasileiro: (i)- Que sejam indicadas quais são as medidas novas no âmbito da saúde prisional, que estão sendo implementadas após o deferimento da MC 8-13 pela CIDH; (ii)- Sobre os profissionais da área de saúde (os já existentes e os novos) que apresente quadro contendo: a) nome de cada um; b) qualificação profissional, com a indicação de especialidade; c) carga horária para atuação no PCPA; d) grade de horário (onde fique claro turnos/períodos nos quais cada profissional deve ser encontrado em atividade no PCPA); e) tipos de medicamentos disponibilizados na farmácia do PCPA; f) esclarecimento sobre a possibilidade/forma de entrada de outros medicamentos (receitados fora do PCPA e eventualmente não dispensados pela farmácia interna); g) modo de distribuição dos medicamentos, isto é, como é assegurado que eles cheguem aos presos/pacientes; h) como, no caso específico da tuberculose, está sendo garantida a continuidade do longo tratamento que é sempre necessário nesses casos. 3.2 - Novas vagas Para o adequado enfrentamento da questão da superlotação, consoante a MC 8-13, no sentido de e) tomar ações imediatas para reduzir substancialmente a

40 lotação no interior do PCPA", considerando que o cronograma informado na primeira resposta do Estado não se efetivou, os peticionários pedem os seguintes esclarecimentos: - Que seja apresentado um novo cronograma contendo o prazo inicialmente previsto e o novo prazo indicado para conclusão de cada unidade, com o cronograma de cada etapa e a informação da exata etapa que está sendo executada; - Que seja informado o número previsto de servidores para cada nova unidade, divididos por área de atuação necessária à entrada em operação, como o número de agentes penitenciários; número de médicos; número de enfermeiros; número de brigadistas de incêndio; etc.; - Que seja informado sobre a existência desses funcionários nos quadros do Estado ou, não sendo esse o caso, sobre a forma e o estágio da contratação dos mesmos; - Que seja apresentado, para além do cronograma de entrega dos prédios das novas unidades propostas, também um cronograma contendo as datas em que estarão integralmente equipadas cada uma dessas novas unidades, também com quadro de funcionários disponível e, portanto, aptas ao recebimento de presos; - Que seja informado sobre em que medida a UNIÃO (ente federativo interno) está colaborando com recursos financeiros diretamente dispensados para a finalidade do atendimento às medidas cautelares da MC 8-13, também com esclarecimento sobre a utilização, ou não (e, neste caso, por que não), de algum valor oriundo dos volumosos recursos financeiros disponíveis e vinculados existentes no Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN. Caso não esteja ocorrendo qualquer colaboração financeira da União também pedimos sejam explicitamente informados quais são os motivos;

41 - Que seja informado quais são os projetos do Estado do Rio Grande do Sul que tramitam no plano federal e quais foram executados nos últimos anos, visando a melhora do sistema penitenciário local. 3.3 Administração do PCPA Quanto à administração do PCPA, no sentido de averiguar o cumprimento das cautelares concedidas para ("a) garantir as medidas necessárias para salvaguardar a vida e a integridade pessoal dos internos no Presídio Central de Porto Alegre") os peticionários pedem: - Que seja informado o que está sendo feito para eliminar a gestão compartilhada no PCPA, isto é, para eliminação do sistema de Plantões, auxiliares e chaveiros; - Que seja informado como está sendo garantido que cada preso tenha a alimentação diária suficiente, tendo em vista que as panelas contendo os alimentos são entregues à porta de cada galeria aos cuidados das lideranças gestoras (presos) responsáveis por cada galeria; - Que seja informado o que está sendo feito para eliminar as subcantinas no interior de cada galeria, comércio explorado pelas lideranças gestoras (presos) responsáveis por cada galeria. 3.4 Monitoramento de Mortes Solicitamos que seja determinado ao governo Brasileiro um monitoramento das mortes suspeitas no PCPA. Para isto, requer-se que todas as mortes ocorridas no PCPA ou no deslocamento para o Hospital, ou no Hospital, sejam tratadas como suspeitas. Para isto os peticionários requerem: