Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça.

Documentos relacionados

Avaliação dos destinos turísticos das ilhas dos Açores com base em modelos gravitacionais

Potencial demográfico e área de pressão urbana como critérios de distribuição de fundos pelas autarquias locais

Neves, Hélder; Cruz, Ana Rita; Correia, Antónia Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional. URI:

Estudo da forma dos seixos rolados de algumas cascalheiras da região desde Coimbra até ao mar.

Kuarenta: documentário e centenário para uma República comunitária


[Recensão a] ARISTÓTELES - Obras Completas. História dos animais, I, tradução de M. F. S. Silva. URI:

O granito de S. Gens e o jazigo de caulino da Senhora da Hora (Porto)

Repúblicas do Baco e das Marias do Loureiro: genealogia e processo

Veloso, Maria Teresa Nobre; Marques, Maria Alegria Fernandes Centro de História da Sociedade e da Cultura. URI:


Esteves, Ana Margarida; Patrão, Diana; Gamboias, Hugo; Teixeira, Liliana Editorial do Departamento de Arquitectura

Relatórios Modelo de Petrografia

Guarda-sol :exortação á mocidade futurista precedida dum prefácio ás frontarias : abaixo a cor! bendita a lua! fora!

AMBIENTES MAGMÁTICOS

Composição química: 74,2% de SiO 2 (rocha ácida) e mais de de Al 2 O 3, K 2 O e Na 2 O.

Melo, Joana; Sebastião, Joana; Brandão, Rui; Simões, Vânia Editorial do Departamento de Arquitectura. URI:

Pinto, A. F. Ferreira Museu e Laboratório mineralógico e geológico; Centro de Estudos Geológicos

URI: /26954

Accessed : 1-Nov :46:33

quartzo ( 25%), biotita ( 18%), cordierita (18 %), K-feldspato ( 10%), granada (7 %), plagioclásio ( 3%) Minerais Acessórios: zircão, apatita, opacos

SOBRE UM GRANITO ORBICULAR DA SERRA DA ESTRELA

Agregados de minerais

Relatórios Modelo de Petrografia


URI: /26963

Apêndice VIII Teste diagnóstico da componente de Geologia. Formação das Rochas Magmáticas

POR NEFTALI DA COSTA FONSECA. Nestas notas procura fazer-se uma síntese geológico-genética


GEOLOGIA GERAL GEOGRAFIA

CONSOLIDAÇÃO DE MAGMAS

Andrade, Miguel Montenegro de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos.

RELATÓRIO CRÍTICO. A monumentalidade do Mosteiro de Santa Maria de Arouca, e sua riqueza geológica

2. A figura 2 representa, de modo esquemático, um fenómeno físico que pode ocorrer numa câmara magmática.

Diferenciação magmática

ROCHAS ÍGNEAS. Identificação Macroscópica

Uma introdução (ou uma conclusão?) à cidade grega = [Recensão a] HANSEN, H. M. Polis. Une introduction à la cité grecque

è Reconhecer a importância das rochas no fornecimento de informações sobre o passado da Terra.

URI: /36856

Agrupamento de Escolas da Sertã

Abertura da exposição de antiguidades egípcias do Museu Nacional de Arqueologia. URI: /24235

Identificação macroscópica de Rochas Metamórficas. Portugal - Praia de Almograve

ROCHAS ÍGNEAS ENG1202-LABORATÓRIO DE GEOLOGIA. Prof. Patrício Pires 20/03/2012

Encontros Culturais em São Cristóvão de Lafões: Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, 10 e 11 de Maio de URI:

MINERALOGIA DOS SOLOS COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DOS SOLOS

U3 PROCESSOS E MATERIAIS GEOLÓGICOS IMPORTANTES EM AMBIENTES TERRESTRES II MINERALOGIA E TEXTURAS DAS R. METAMÓRFICAS

Quais os principais agentes de metamorfismo? Qual a relação entre o metamorfismo e a tectónica de placas?

AVALIAÇÕES QUÍMICA, MINERALÓGICA E FÍSICA DE UM TIPO DE ROCHA DA EMPRESA SULCAMAR

As recentes descobertas em S. Miguel da Mota (Alandroal): nas imediações do Santuário de Endovélico

Reis, Claudio Henrique; Amorim, Raul Reis Imprensa da Universidade de Coimbra; RISCOS - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL. DPV 053 Geologia e Pedologia

Sulfureto (S2-) Catiões (alguns exemplos, raio dado em 10-8 cm) 1,81 1,84. 2) Semi-metais (Ar, arsénio, Bi, bismuto, Sb, antimónio) Grafite (C)

[Recensão a] Francisco Régis Lopes Ramos, A poeira do passado. Tempo, saudade e cultura material. URI:

ROCHAS ERUPTIVAS DA PENíNSULA DE MACAU E DAS ILHAS DE TAIPA E COLOANE POR

ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Análise da cobertura vegetal, espaços livres e áreas verdes da área urbana de Ponta Grossa - PR utilizando imagem de satélite de alta resolução

[Recensão a] André Evangelista Marques, Da Representação Documental à Materialidade do Espaço. Território da Diocese de Braga (séculos IX-XI)

A importância dos minerais de argila: Estrutura e Características. Luiz Paulo Eng. Agrônomo

MAPA DE TEXTURAS DE MINÉRIOS

A Meteorização Química das Rochas e o Ambiente. 32º Curso de Atualização de Professores de Geociências

Gastropodes terrestres fósseis do quaternário da ilha de Porto-Santo.

Ficha de Avaliação Refira as características dos iões Fe 2+ e Mg 2+ que possibilitam a sua intersubstituição,

Museu e Laboratório mineralógico e geológico; Centro de Estudos Geológicos

O metamorfismo é caracterizado por: mudanças mineralógicas crescimento de novos minerais sem adição de novo material (processo isoquímico);


J. PAULA SANTOS Geólogo da J. E. N.

[Recensão a] ALEXANDRINO E. SEVERINO - Fernando Pessoa na África do Sul. A formação inglesa de Fernando Pessoa Autor(es): R., A. C.

Reintrodução das línguas e cultura clássicas no sistema educativo português

Bibliotecária de universidade brasileira: testemunho de experiência. URI: /36995

Magmas e formação de rochas ígneas

Uma análise comparativa entre o método GNSS de PPP e os métodos geodésicos convencionais

Rochas metamórficas 1

Considerações sobre amostragem de rochas


TIPOS DE ROCHAS. Magmáticas provenientes do arrefecimento e solidificação do magma.

Universidade Federal do Paraná Departamento de Construção Civil. Universidade Federal do Paraná Departamento de Construção Civil

Mineral. é um sólido natural, inorgânico, homogêneo, de composição química definida, com estrutura cristalina.

Fundamentos de mineralogia e o ciclo de geração das rochas

INTERPRETAÇÃO PRELIMINAR DE DADOS ISOTÓPICOS DE CARBONO EM ÁGUAS MINERAIS DA REGIÃO DAS BEIRAS. M. J. F. MORAIS (1) e J. SILAR (2)

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MINERALÓGICAS E PETROGRÁFICAS DOS GNAISSES GRANÍTICOS DA REGIÃO DE ALFENAS - MG E SUA APLICAÇÃO NO SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS

OS GRANITOS DE VILA POUCA DE AGUIAR

URI: /25623

MÁRMORES E GRANITOS. LIDER Produtos e Serviços Dezembro 2014 INTRODUÇÃO

Actividade Laboratorial

GRANITO CINZA DE GUIMARÃES

Reis, Carlos; Bernardes, José Augusto Cardoso; Santana, Maria Helena Imprensa da Universidade de Coimbra. URI:

Geologia Noções básicas. Profa. Dra. Andrea Sell Dyminski UFPR 2010

Exame de algumas rochas das visinhanças da Nascente de águas termais de Valadares do Minho (Monsão)

As amostras submetidas a esses ensaios foram designadas e agrupadas conforme mostrado na Tabela VI.4.

Andrade, M. Montenegro de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos.

Resultam da consolidação ou arrefecimento do magma

Magmas e formação de rochas ígneas

Estudo mineralógico, petrográfico e geoquímico do processo pós-magmático do granito de Freixiosa-Mesquitela, Mangualde, Portugal: dados preliminares

Ficha de Trabalho de Biologia e Geologia (ano 2)

Campo Aplitopegmatítico Litinífero do Barroso-Alvão. Os seus diferentes minerais de lítio e a sua melhor aplicação

ESTUDO DA GÊNESE DA MINERALIZAÇÃO URANÍFERA DA MINA DA CACHOEIRA, LAGOA REAL, BA, COMO AUXÍLIO NA DESCOBERTA E COMPREENSÃO DE JAZIDAS MINERAIS

Aspectos geológicos da colónia de Moçambique: estudo de algumas rochas.

Composição do solo. Luciane Costa de Oliveira


Transcrição:

Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça Autor(es): Publicado por: URL persistente: Neiva, J. M. Cotelo Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos http://hdl.handle.net/10316.2/38008 Accessed : 8-Jun-2018 14:11:07 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt

PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA N. 35 Memórias e Notícias SUMÁRIO J. M. Cotelo Neiva Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça. Miguel Montenegro de Andrade Sobre a ocorrência de doleritos pigeoníticos em Boila (Moçambique). Miguel Montenegro de Andrade Um riolito de Marracuene, Moçambique. Marília Xavier de Morais Contribuição para o conhecimento geoquímico das cassiterites portuguesas. J. Custódio de Morais Furnas dos Açores. 1953

Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça por J. M. Cotelo Neiva Professor da Universidade de Coimbra A rocha dominante na Urgeiriça é o granito porfiróide de duas micas em que a biotite predomina. No contacto com o importante filão de minérios uraníferos, que a Companhia Portuguesa do Radium, L. da ali explora, o granito sofreu profundas modificações devido a metamorfismo hidrotermal quando da génese daquele filão. E de essas modificações que o granito sofreu por contacto que me ocuparei neste trabalho, pois não só têm interesse para o estudo genético do jazigo de minérios uraníferos mas também para a prospecção destes minérios Estudei amostras colhidas em 1936 pelo Prof. Custódio de Morais e outras íiltimamente colhidas por mim quando efectuei observações de campo ( 1 ). Granito porfiróide da Urgeiriça O granito porfiróide inalterado, que constitui a maior parte dos afloramentos de rochas quártzicas da Urgeiriça, foi por nó3 (1) À Ex. ma direcção da Companhia Portuguesa do Radium, L. da e aos Ex. mos Senhores Eng. J. Birne e Dr. J. Cameron, respectivamente director técnico e chefe da secção de geologia daquela Empresa, os meus agradecimentos pelas atenções dispensadas quando da minha visita às minas da Urgeiriça e por me terem facultado a colheita de diversas amostras.

4 descrito em outro trabalho ( 1 ). Contudo, como é da comparação deste granito com a mesma rocha alterada por contacto com o filão metalífero que surgirão as nossas considerações e conclusões, repetirei aqui o seu estudo. Macroscopia É um granito de grão grosseiro com abundantes fenocristais de feldspato (microclina) no geral com macia de Carlsbad. Não é difícil distinguir à lupa o feldspato potássico da plagioclase por serem frequentemente visíveis nesta as macias polissintéticas. O quartzo, granular, é grosseiro. A biotite e a moscovite ressaltam pelo brilho das faces de clivagem. Microscopia Tem textura porfiróide de base hipautomórfica- -granular grosseira. Os fenocristais são de microclina, hipidiomorfos, com numerosas inclusões de oligoclase, biotite e algumas de moscovite e quartzo (Est. I fig. 1) que lhe conferem, por vezes, pela sua orientação, aspecto poiquilítico. As inclusões dominam em direcções paralelas às faces principais dos fenocristais. Estes mostram-se albitizados (microclina-micropertite), com aspectos de albitização que variam do venado ao pontual. Na massa fundamental, de grão grosseiro, ocorrem: microclina? alotriomorfa, albitizada; plagioclase, do tipo oligoclase, hipídio a alotriomorfa, no geral maclada segundo a lei da albite e por vezes com o complexo albite Carlsbad, ligeiramente sericitizada na porção central dos cristais; biotite, alotriomorfa, pleocróica (ϒ = castanho pinhão, α = β = amarelo palha), com profusas inclusões de zircão com halos negros pleocróicos (Est. I fig. 2), e, quando ligeiramente cloritizada, com acículos e grânulos de rútilo e alguns de magnetite; moscovite, em menor quantidade do que a biotite, intercrescendo por vezes com este mineral, mas no geral ligeiramente ulterior; quartzo, por vezes incluso na microclina, mas com a sua geração principal ulterior a todos os minerais da rocha, de que mostra inclusões, tendo extinção ligeiramente ondulante e inclusões de rútilo; apatite, granular, inclusa no quartzo e alguma individualizada. ( 1 ) Cotelo Neiva, J. M., 1953 Granitos da Urgeiriça Memórias e Notícias, publ. do Mus. e Lab. Min. e Geol. da Universidade de Coimbra, N. 34.

5 Trata-se de granito porfiróide de duas micas em que a biotite predomina, e que apresenta a seguinte moda: % Quartzo... 28,39 Microclina... 49,93 Oligoclase... 16,03 Biotite... 3,41 Moscovite... 2,24 100,00 Granito porfiróide alterado por contacto com o filão de minérios uraniferos da Urgeiriça Macroscopia Os fenocristais de microclina têm cor vermelha suja, bem como alguma microclina da massa de grão grosseiro que envolve aqueles fenocristais. Esta massa, além de conter microclina, é fundamentalmente constituída por quartzo de granulado idêntico ao do granito inalterado, por lamelas de mica branca e por sericite de tonalidade verde muito clara que forma agregados compactos no lugar dos feldspatos. Microscopia Mantém se a textura da rocha inalterada. A microclina vê-se intensa e parcialmente sericitizada (Ests. n e III), sericitização que se efectuou da periferia para o centro dos cristais. E a porção central de diversos cristais que ainda se mantém. Contudo, nestas porções há pigmentos ferríferos avermelhados que penetraram clivagens e fracturas constituindo frequentemente muito finas vénulas (Est. ii fig. 1; Est. IV fig. 2). Também se reconhecem alguns aspectos de siiicificação, em que o quartzo penetrou a microclina em finas vénulas que lembram arabescos. Da plagioclase não se observam cristais visto terem sido totalmente sericitizados. A biotite transformou-se numa mica branca (Est. III; Est. iv fig. 1), muito ligeiramente pleocróica (ϒ = verde muito claro; α = β = branco), com cores de polarização idênticas às da moscovite mas pràticamente uniaxial, a bauerite (biotite descolorida). Mostra inclusões de zircão sem halos pleocróicos, que foram absorvidos ou dissolvidos, e de acículos de rútilo.

6 A moscovite é mais abundante do que no granito inalterado. Distingue-se da biotite baueritizada pela figura de interferência e por serem em pequena quantidade as inclusões de zircão. Vêem-se alguns aspectos de sericitização centrípeta da moscovite. O quartzo apresenta as mesmas características que no granito inalterado, mas vê-se sericitizado nos bordos de alguns cristais, por vezes em plagas ainda extensas, e penetrado por pigmentos ferríferos avermelhados Ocorrem pequenos cristais individualizados e alongados de apatite com inclusões de zircão. A sericite forma conjuntos que semelham feltro (Ests. n e m; Est. iv fig. 1), e, por vezes, toma arranjo parcialmente esferolítico. Os pigmentos ferríferos são de natureza hematítica. A composição volumétrica real desta rocha é a seguinte: Modificações que o granito sofreu no contacto com o filão de minérios uraníferos Descritos o granito dominante na região e a sua porção mais alterada no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça, vou procurar interpretar, tomando por termo de comparação a rocha inalterada, as modificações que esta sofreu por contacto com aquele filão. Embora genèricamente esteja convencido que a lei de igual volume não se pode verificar num senso restrito, mesmo no metamorfismo regional, e, portanto, ainda menos no metamorfismo hidrotermal, vou supor, por a textura da rocha ter ficado totalmente preservada e também por esquema simplista, que o metasomatismo que o granito sofreu obedeceu àquela lei. Para se poder fazer a comparação das modificações químicas e de composição mineralógica que o granito sofreu, apresento a seguir uma série de quadros.

7 No quadro I refiro as análises químicas ( 1 ) da rocha inalterada e da rocha alterada: ( 1 ) Ao Ex. mo Senhor Eng. J. Guimarães dos Santos, Director do Serviço de Fomento Mineiro, agradeço reconhecido o haver mandado realizar, no Serviço que superiormente dirige, as análises químicas das rochas da Urgeiriça. Os valores de UO 3 foram determinados no Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra pelos Drs. Duarte Guimarães e Reis Torgal.

No quadro II aquelas análises estão recalculadas para 100% depois de haver subtraído H 2 O : 8

9 Para o quadro III as análises foram recalculadas de forma a darem-nos a composição química de 1 m 3 de cada uma das rochas :

10 0 quadro IV, deduzido do quadro III, mostra as adições e as subtracções que se efectuaram na alteração metasomática do granito :

11 Para comparação das composições mineralógicas volumétricas reais concatenamos as modas no quadro Y :

12 Mas, neste quadro, sabendo se que a mica branca, exceptuando a sericite, entra na proporção de 7,76%, e não sendo possível, ao determinar a composição volumétrica pela platina integradora, distinguir a moscovite da bauerite (biotite totalmente descolorida), admito, na porção alterada, a ocorrência de bauerite numa proporção Pràticamente semelhante à da biotite no granito inalterado, 3,34%, deduzindo para a moscovite 4,42%, o que não deve estar longe da verdade pelo exame cuidado das lâminas delgadas. Conhecendo o peso específico das amostras, cuidadosamente determinado, calculei a composição mineralógica real de 1 m 3 de cada uma das rochas (quadro VI):

13 E a partir deste quadro deduzi o quadro VII, de que constam as principais modificações mineralógicas (adições e subtracções) que o granito sofreu por metasomatismo hidrotermal ocasionado quando da génese do filão de minérios uraníferos da Urgeiriça: Da comparação dos quadros IV e VII, isto é, das modificações químicas e mineralógicas que o granito sofreu por metasomatismo, ressaltam diversas conclusões: Assim, o aumento em Si O 2 explica-se, em parte, por quartzo de neoformação hidrotermal. Mas o grande aumento em quartzo não se pode explicar somente por simples adição, pois esta só deve ter originado um aumento de cerca de 2/5 do quartzo recém-formado. Os outros 3,5 de aumento em quartzo originaram-se provavelmente quando da moscovitização e da sericitização dos feldspatos. O aumento em Fe 2 O 3 é explicável pelos numerosos pigmentos ferríferos, hematíticos, que impregnaram a microclina não sericitizada e, por vezes, algumas porções desta e da oligoclase sericitizadas. E natural que o aumento em Mn lhe esteja correlacionado. O aumento em K 2 O é explicável por alguma moscovite de ueoformação e, em grande parte, pela sericitização dos feldspatos.

14 Os aumentos em P 2 O 5 e UO 3 explicam se por muito ligeiro aumento de apatite e ocorrência de algum mineral uranífero fosfatado, naturalmente metatorbernite. As alterações micáceas e a ocorrência de alguma moscovite de neoformação explicam o aumento em H 2 O+. As diminuições em Ti O 2, Mg O e da maior parte do Fe O são compreensiveis pela baueritização da biotite. Foram mobilizados pelas soluções hidrotermais ascendentes. As diminuições em Na 2 O, Ca O e Al 2 O 3 resultam da oligoclase ter sido totalmente sericitizada e da sericitização parcial e abundante da microclina albitizada. As principais modificações que o granito sofreu por contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça decrescem a partir do contacto com o filão e são muitas vezes quase ou práticamente nulas a cinco metros, em média, de distância daquele contacto. Não considero a albitização da microclina, com formação de micropertites, como inerente às actividades hidrotermais filoneanas, mas anterior, por se estender Pràticamente a todo o maciço, granítico, e contemporânea de fases de mais alta temperatura. As modificações que o granito sofreu foram: baueritização, moscovitização, sericitização, silicificação, fosfatizações e pigmentação ferrífera. Destas modificações, as mais importantes macroscopicamente pela sua extensão foram: a pigmentação ferrífera, a baueritização, a sericitização e a silicificação. Baueritização A alteração da biotite para uma mica branca foi total e acompanhada de dissolução ou reabsorção dos halos pleocróicos dos pequenos cristais de zircão, que apresenta como inclusões, e de exsudação de alguns grânulos e acículos de rutilo. Deu-se a descoloração da biotite, mas a birrefriugência mantém-se constante. Referi em outro trabalho aspectos de baueritização da biotite do granito no contacto com pegmatites graníticas complexas ( 1 ). ( 1 ) Cotelo Neiva, J. M, 1949 Jazigos Portugueses de Cassiterite e de Volframite. Com. Serv. Geol. de Portugal, t. xxv.

15 A exsudação de óxidos de ferro é constante na baueritização. Suponho a baueritização efectuada por acção de soluções hidrotermais alcalinas. Moscovitização Algumas porções de cristais de oligoclase e de microclina alteraram-se para pequenas plagas alotriomorfas de moscovite. Suponho essa substituição simultânea da introdução de algum quartzo. A moscovitização pode ser produzida por soluções hidrotermais tanto ácidas como alcalinas. Creio-a, neste caso, efectuada por solução alcalina devido a adjunção de algum potássio. Sericitização Foi total na plagioclase, o que mostra ser este mineral mais facilmente sericitizado do que os feldspatos potássicos. A microclina mostra-se intensamente sericitizada, mas não totalmente. O quartzo também se mostra sericitizado nos bordos dos cristais, por vezes intensamente. Vêem-se também alguns aspectos de sericitização centrípeta da moscovite e da biotite baueritizada, e penetração destas micas pela sericite. A sericitização dos feldspatos é concomitante de alguma silicificação. A faixa de intensa sericitização atinge frequentemente a espessura de 2 metros para cada lado do filão. E natural que a sericitização se deva a acção de solução hidrotermal alcalina a temperatura superior a 100 C., pois na Urgeiriça envolveu adição de algum potássio e migração do sódio e do cálcio dos feldspatos. Silicificação No geral a moscovitização e a sericitização.foram acompanhadas de libertação de sílica sob forma de quartzo. E, assim, tiveram importância na sua formação as soluções alcalinas. Mas também houve adição de alguma sílica, e esta é provável tenha resultado de solução hidrotermal onde estavam também presentes os álcalis. Fosfatizaçôes Considero dois tipos de fosfatização pois formaram-se dois minerais fosfatados diferentes: apatite e metatorbernite,

16 A apatite é, incontestàvelmente, mais abundante no granito metasomatizado do que no inalterado. A ocorrência de metatorbernite suponho a pela existência de 0,05 % de U O 3 na análise, o que corresponderá no granito alterado à ocorrência de 0,08% de metatorbernite. A apatite formar-se-ia de solução hidrotermal ácida rica em mineralizadores (fase mista pneumatolítico-hidrotermal), que invadiu o granito encaixante. A metatorbernite teria a sua génese a temperatura mais baixa e a partir de solução hidrotermal que penetrou fendas capilares e subcapilares do granito. Pigmentação ferrífera A pigmentação ferrífera foi intensa, pois conferiu aos fenocristais de microclina e a algumas porções não seritizadas deste mineral, na massa de grão grosseiro, a cor vermelha suja. O pigmento ferrífero é constituído por hematite. Por isomorfismo é natural que Mn ocorra no pigmento hematítico. A pigmentação ferrífera foi anterior à baueritização e à sericitização. Encontram-se algumas porções de granito fortemente impregnadas por pigmento hematítico, em que a biotite se conserva inalterada e os feldspatos não sofreram sericitização. Por vezes a pigmentação ferrífera encontra-se, em diversos locais, ainda à distância de 10 m. do filão. Pelas relações entre os diversos minerais conclui-se que a ordem pela qual se teriam efectuado os fenómenos de metasomatismo do granito seria: l. fosfatização apatítica; 2. pigmentação ferrífera; 3. moscovitização e silicificação ; 4, baueritização; 5. sericitização e silicificação; 6. silicificação; 7. fosfatização uranífera. Interesse, para a prospecção mineira, das modificações do granito no contacto com os filões de minérios uraníferos São de grande interesse para a prospecção mineira as modificações nítidas, bem definidas, que as rochas encaixantes de um jazigo hidrotermal, pneumatolítico ou pegmatítico sofreram quando

17 da formação de este, pois essas modificações podem-se generalizar a idênticas rochas encaixantes de jazigos do mesmo tipo e da mesma substância. E assim, são de grande importância algumas das modificações referidas no caso dos jazigos de minérios uraníferos. A sericitização dos feldspatos e do quartzo, a pigmentação ferrífera dos feldspatos e a baueritização da biotite são típicas modificações que o granito sofreu não só no contacto com o filão da Urgeiriça mas também em contacto com outros filões de minérios uraníferos, por exemplo em Reboleiro, Alto da Várzea, Carrasca, Vilar Seco, Rãs, Terranho, Moreira do Rei, etc. E essas modificações são bem visíveis no granito da proximidade dos filões, quer nos afloramentos e nos trabalhos mineiros, quer nos testemunhos das sondagens efectuadas. Por isso, será de suma importância localizar nos afloramentos graníticos do Maciço Hespérico essas zonas com aspectos conjuntos de profusa sericitização dos feldspatos e do quartzo, abundante pigmentação ferrífera dos feldspatos e intensa baueritização da biotite, e prospectá-las inicialmente por contadores de Geiger e por contadores de cintilação. E de esperar que se obtenham bons resultados na prospecção destas áreas, de forma a levar à descoberta de novos jazigos de minérios uraníferos. Conclusões 1) As adições e subtracções de minerais que por m 3 o granito sofreu no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça foram :

18 2) As adições e subtracções químicas que por m 3 o granito sofreu, no referido contacto, foram: 3) As modificações que o granito sofreu por contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça foram: baueritização, moscovitização, sericitização, silicificação, fosfatizações e pigmentação ferrífera. 4) As mais importantes alterações foram: a pigmentação ferrífera, a baueritização, a sericitização e a silicificação. 5) A faixa de intensa sericitização atinge frequentemente a largura de 2 m. de cada lado do filão. A faixa de pigmentação ferrífera é mais larga e, por vezes, encontra-se ainda à distância de 10 m. do filão. 6) A ordem pela qual se teriam efectuado os fenómenos de matasomatismo do granito seria: l. fosfatização apatítica; 2. pigmentação ferrífera; 3. moscovitização e silicificação; 4. baueritização; 5. sericitização e

19 silicificação; 6. silicificação; 7. fosfatização uranífera. 7) Baueritização Foi tofcal da biotite, acompanhada por dissolução ou reabsorção dos halos dos pequenos cristais de zircão inclusos. A baueritização implica quimicamente migração de Ti O 2, Mg O, Fe O e, provavelmente, de substâncias radioaetivas. Moscovitização Efectuou-se nalgumas porções de cristais de oligoclase e de microclina, o que trouxe certo aumento em H 2 O + e K 2 O e algum decréscimo em Ca O, Na 2 O e Al 2 O 3. Serieitização Foi total da oligoclase, parcial da microclina e do quartzo (neste nos bordos dos cristais) e também de alguma moscovite e de alguma bauerite. Traz como consequência química aumento em K 2 O e H 2 O+ e diminuição em Na 2 O, Ca O e Al 2 O 3. Silicificação Parte foi concomitante da moscovitização e da sericitização, em que houve libertação de quartzo (cerca de 3/5 do aumento em quartzo); outra parte corresponde a adição deste mineral (cerca de 2/5 do quartzo recém-formado). Fosfatizações Efectuaram-se em muito pequena quantidade, correspondendo a adições de apatite e de metatorbernite, e só se podem aperceber nas análises químicas. Pigmentação ferrífera Foi intensa, em especial dos cristais de microclina, trazendo nas análises aumento em Fe 2 0 3 com que se deve correlacionar o aumento em Mn. 8) Seriam soluções hidrotermais alcalinas que teriam provocado a baueritização, a moscovitização, a sericitização, a silicificação e, talvez, a pigmentação ferrífera. A fosfatização apatítica poderá ter sido originada por solução hidrotermal ácida rica em componentes voláteis. A fosfatização uranífera efectuou-se a temperatura mais baixa. 9) Nas regiões graníticas do Maciço Hespérico que apresentem aspectos conjuntos de profusa sericitização dos

20 feldspatos e do quartzo, abundante pigmentação ferrífera dos feldspatos e intensa baueritização da biotite devem-se prospectar os minérios de urânio. Coimbra, Outubro de 1953. RÉSUMÉ Altérations du granite au contact avec le filon de minerais uranifères de l'urgeiriça, Portugal 1) Les additions et soustractions de minéraux que le granite a subies,, par m3, au contact avec le filon de minerais uranifères de FUrgeiriça sont les suivantes : 2) Les additions et soustractions chimiques que le granite a subies par m 3, au dit contact, sont les suivantes :

21 3), Les modifie j tions que le granite a subies, au contact avec le filon de minerais uranifères de l Urgeiriça, sont les suivantes : baueritisation, muscovitisation, séricitisation, silicification, phosphatisations et pigmentation ferrifère. 4) Les altérations les plus importantes sont: la pigmentation ferrifère, la baueritisation, la séricitisation et la silicification. 5) La zone d'intense séricitisation atteint fréquemment la largeur de 2 m. de chaque côté du filon. La zone de pigmentation ferrifère est plus large et on la retrouve, parfois, encore à une distance de 10 m. du filon. 6) L ordre selon lequel auraient eu lieu les phénomènes de métasomatose du granite, serait le suivant: l. phosphatisation apatitique; 2. pigmentation ferrifère: 3. muscovitisation et silicification; 4. baueritisation ; 5. séricitisation et silicification; 6. silicification; 7. phosphatisation uranifère. 7 ) Baueritisation: Elle a été totale pour la biotite, accompagnée de dissolution ou de réabsortion des auréoles des petits cristaux de zircon inclus. La baueritisation suppose chimiquement la migration de Ti O 2, Fe O, Mg O et, probablement, de substances radioactives. Muscovitisation: elle s'est effectuée sur quelques parties d'oligoclase et de microcline, ce qui a fait augmenter le H2 O H- et le K 2 O et diminuer le Na 2 O, le Ca O et l Al 2 O 3. Séricitisation: elle fut totale pour l'oligoclase, partielle pour la microcline et le quartz (pour ce dernier, au bord des cristaux) et aussi pour certaine muscovite et bauerite. La conséquence chimique c'est l'augmentation de la teneur en K 2 O et H 2 O+ et la diminution en Na 2 O, Ca O et Al 2 O 3. Silicification: une partie s'est effectuée en même temps que la muscovitisation et la séricitisation, où il y a eu une libération de quartz (environ 3/5 d'augmentation de la teneur en quartz) ; une autre partie correspond à l'addition de ce minéral (environ 2/5 du quartz que s'était formé). Phosphatisations : Elles ont eu lieu en très petites quantités, et elles correspondent à l addition d'apatite et de metatorbernite, que l on ne peut déceler que par analyse chimique. Pigmentation ferrifère: Elle fut intense surtout des cristaux de microcline, et les analyses montrent une augmentation du Fe 2 O 3 qui est en rapport avec l'augmentation en Mn.

22 8) Ce seraient des solutions hydrothermales alcalines qui auraient provoqué la baueritisation, la muscovitisation, la séricitisation, la silicification et, peut-être, la pigmentation ferrière. La phosphatisation apatitique aurait pu être provoquée par une solution hydrothermale acide riche en composants volatiles. La phosphatisation uranifère s'est faite à une température plus basse. 9) C'est dans les régions granitiques du Massif Hispérique (Meseta Ibérique) qui présentent des ensembles de profonde séricitisation des feldspaths et du quartz, abondante pigmentation ferrifère des feldspaths et intense baueritisation de la biotite qu'on doit prospecter les minerais d'uranium. SUMMARY Alteration of granite due to contact with the vein of uranous ores of Urgeiriça, Portugal 1) The additions and subtractions of minerals that granite has suffered per cubic metre due to contact with the vein of uranous ores of Urgeiriça were: 2) The chemical additions and subtractions which granite has suffered per cubic metre in said contact were:

23 3) The modifications which granite has suffered due to contact with the vein of uranous ores of Urgeiriça were: baueritization, muscovitization, sericitization, silicification, phosphatizations and ferriferous pigmentation. 4) The most important alterations were: ferriferous pigmentation,. baueritization, sericitization and silicification. 5) The range of intense sericitization frequently reaches the width of two metres on each side of the vein. The range of ferriferous pigmentation is wider, and is at times still found 10 metres away from the vein. 6) The order in which the phenomena of metasomatism may have occurred in granite is: 1 st apatitic phosphatization; 2nd ferriferous pigmentation; 3rd muscovitization and silicification; 4th baueritization; 5th - sericitization and silicification; 6th silicification ; 7 tli uranous phosphatization. 7 ) Baueritization complete in biotite, along with dissolution or reabsorption of the halos of the small enclosed crystals of zircon. Baueritization chemically implies migration of Ti O 2, Mg O, Fe O and probably of radioactive substances. Muscovitization occurred in some portions of crystals of oligoclase and microcline, and this occasioned an increase in H2 OF and K 2 O and a decrease in Na 2 O, Ca O and AI 2 O 3. Sericitization complete in oligoclase, partial in microcline and quartz (on the edges of the crystals of the latter) and also in some muscovite and bauerite. As a chemical consequence there was an increase in K 2 O and H 2 O+, and a decrease in Na 2 O, Ca O and Al 2 O 3. Silicification part was concomitant of muscovitization and sericitization, there being liberation of quartz (about 3/5 of the increase

24 in quartz); another part corresponding to the addition of this mineral (about 2/5 of recently-formed quartz). Phosphatizations occurred in very small quantity, corresponding to additions of apatite and metatorbernite, which can be verified only through chemical analyses. Ferriferous pigmentation intense, «specially in crystals of microcline, bringing forth an increase of Fe 2 O 3 in analyses, with which the increase of Mn is related. 8) Hydrothermal alkaline solutions may have given rise to baueritization, muscovitization, sericitization, silicification, and, probably, ferriferous pigmentation. Apatitic phosphatization could have arisen from a hydrothermal acid solution rich in volatile components. Uranous phosphatization occurred in lower conditions of temperature. 9) Uranium ores should be prospected in the granitic regions of the Hesperic Massif (Iberian Tableland) presenting a combined aspect of profuse sericitization of the feldspars and quartz, abundant ferriferous pigmentation of the feldspars and intense baueritization of the biotite.

EST. I

EST. II

EST. III

EST. IV