Sobre os Encontros de Maio

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Transcrição:

2015

Sobre os Encontros de Maio O setor litoral do concelho de Vila Nova de Gaia encerra um património geomorfológico, arqueológico e geológico de valor significativo, que foi já alvo de diversos estudos. Testemunhos da oscilação do nível do mar durante o Quaternário, assim como a sua relação com a evolução do sector distal do rio Douro, foram objeto de intensa investigação desde meados do século XX. Entre finais da década de 1980 e inícios da de 1990 realizaram-se diversas prospeções arqueológicas e escavou-se o importante sítio do Cerro, freguesia da Madalena, com uma indústria lítica enquadrável no Acheulense. Pontualmente, realizaram-se outros trabalhos que conduziram à descoberta de mais sítios, destacando-se o da Praia da Aguda, associado a um depósito plistocénico submerso, e o da Praia da Granja, com vestígios de ocupações dos inícios da Proto- História. Mais de vinte e cinco anos após o início destas pesquisas decidimos dar-lhes continuidade no sentido de procurarmos esclarecer algumas questões que desde então se mantiveram em aberto. Para marcar o início desta nova etapa de investigação organizamos estes Encontros de Maio com o objetivo de fazer o balanço dos conhecimentos. São objetivos principais destes Encontros: 1 Reunir investigadores cujas linhas de pesquisa contribuam para o conhecimento do Quaternário da faixa litoral de Vila Nova de Gaia; 2 Promover, a partir da troca de ideias e do debate, a elaboração do "ponto da situação" dos conhecimentos tendo como base a investigação já realizada; 3 Perspetivar novas linhas de pesquisas. AGRADECIMENTOS: Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia Parque Biológico Águas de Gaia APEQ - Associação Portuguesa para o Estudo do Quaternário FLUP - Faculdade de Letras da Universidade do Porto CEGOT - Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia APGEOM - Associação Portuguesa de Geomorfologia Confraria Queirosiana - Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR - CQ) Arqueologia e Património GeoElevação Planitop - Topografia

A plataforma litoral de Vila Nova de Gaia: testemunhos geomorfológicos da sua evolução Maria Assunção Araújo Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP-CEGOT) O meu interesse pela plataforma litoral do concelho de Vila Nova de Gaia teve início nos anos setenta do século passado. Durante os anos 80 trabalhei aí intensamente na elaboração da minha tese de doutoramento que apresentei em 1991. Evolução geomorfológica da plataforma litoral da região do Porto foi o título de um trabalho que pretendia estudar a área relativamente aplanada que se situa ao longo da linha de costa (=plataforma litoral) e que está separada das áreas interiores por um conjunto de relevos muitas vezes rectilíneos (=relevo marginal) como são o Monte da Virgem e a Senhora da Saúde. A área de estudo estendia-se da foz do Rio Ave Até Cortegaça, mas o núcleo mais importante foi o concelho de Gaia, até porque numa fase de grande crescimento urbanístico existiam muitos cortes que deixavam ver o substrato rochoso... e melhor do que isso, os depósitos plio-pleistocénicos que testemunham a evolução geomorfológica e permitem contar uma parte da respectiva história. Nas cartas geológicas escala 1:50.000 é possível ver que, na plataforma litoral de Vila Nova de Gaia os chamados depósitos Plio-pleistocénicos estão muito bem representados com uma grande diversidade de níveis e uma grande abundância de manchas cartografadas. Os depósitos mais altos, possivelmente pliocénicos, encontram-se também em plataformas elevadas, a altitudes superiores a 100m, ao longo do Rio Douro em Cabanões, Aldeia Nova e Lever. Na plataforma litoral foi possível identificar depósitos que se podem estruturar em 3 grupos: 1 - Depósitos fluviais: aparecem sempre acima de 40m e podem ser classificados em dois tipos: Fase I: Depósitos fluviais (Placenciano?). A sedimentação fina do uma das camadas constituintes destes depósitos parece corresponder a um momento de proximidade relativamente ao nível do mar; Fase II: depósitos de tipo leque aluvial (Gelasiano?). Correspondem a sedimentos muito heterométricos, dispostos de forma que sugere leques aluviais formados à saída do relevo marginal. 2 - Depósitos marinhos: situados abaixo de 40 m. Aparecem separados dos depósitos anteriores por um degrau bastante rectilíneo. Podem ser estruturados em 3 níveis diferentes: I - ca 29m, II - de 19 a 17m, III - de 5 a 7m. 3 Depósitos de origem solifluxiva, eólica e lagunar, com idade fini-pleistocénica e holocénica. Os depósitos solifluxivos encontram-se a cobrir quer o bed-rock quer os diversos depósitos plio-pleistocénicos. Serão contemporâneos da última glaciação. Durante esse período e no Holocénico há, ainda, testemunhos de depósitos eólicos e lagunares com um grande interesse para a identificação de variações climáticas e do nível do mar ocorridas nos últimos 125.000 anos. Alguns destes depósitos contêm restos arqueológicos relevantes. É o caso dos depósitos encontrados na praia da Aguda, na sequência da construção, em 2002, de um quebra-mar destacado. No território de Gaia passa uma falha muito importante que separa, em linhas gerais, duas zonas diversas dentro do Maciço Hespérico: a falha Porto-Tomar. Segundo diversos autores essa falha será sede de movimentos tectónicos recentes (neotectónica). Provavelmente serão esses movimentos que criaram o relevo marginal (Araújo, 1991), que separa a plataforma litoral das áreas mais interiores do concelho. ARAÚJO, M.A. (1991) Evolução geomorfológica da Plataforma Litoral da Região do Porto. Universidade do Porto Faculdade de Letras, tese de Doutoramento, 534 p., 1 Anexo e 3 mapas. Disponível em: http://web.letras.up.pt/asaraujo/