ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

Documentos relacionados
ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

A ESTRANGEIRIZAÇÃO DE TERRAS NA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA/MG: O CASO DA BUNGE

Ações dos movimentos socioterritoriais no Brasil entre o final do século XX e início do século XXI

MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO 2012

MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO 2013

AS OCUPAÇÕES DE TERRAS E AS MANIFESTAÇÕES DO CAMPO DOS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS BRASILEIROS DE 2000 A 2012

As manifestações em Mato Grosso do Sul e a relação campo-cidade

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

EVOLUÇÃO DAS OCUPAÇÕES DE TERRA NO ESTADO DA PARAÍBA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO DATALUTA

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

REVISTA NERA ANO 20, Nº Dossiê ISSN: Apresentação

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

OCUPAÇÕES DE TERRA EM 2010: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS. Camila Ferracini Origuéla Pesquisadora do NERA

O declínio da reforma agrária

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

Saldo BC Exportações Importações Importações s/gás

A LUTA PELA TERRA NO MATO GROSSO DO SUL - BRASIL: O CASO DAS OCUPAÇÕES ENTRE 2000 E 2013

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

EDUCAÇÃO DO CAMPO: HISTÓRIA, PRÁTICAS E DESAFIOS. Entrevista com Bernardo Mançano Fernandes, por Graziela Rinaldi da Rosa.

DATALUTA Paraiba UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA. Relatório 2011 COORDENAÇÃO GERAL: EMILIA DE RODAT FERNANDES MOREIRA

REVISTA NERA ANO 20, Nº. 39 Dossiê 2017 ISSN: Apresentação

Boletim DATALUTA n. 130 Artigo do mês: outubro de ISSN

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

PERFIL DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Setembro/2011

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS

QUANTO REFORMADORA É A POLÍTICA DE ASSENTAMENTOS RURAIS?

REDE DATALUTA APOIO:

Pesquisa de opinião pública: movimentos sociais e reforma agrária. Territorios y desarrollo rural en América Latina

MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E ESPACIALIZAÇÃO DA LUTA PELA TERRA EM PERNAMBUCO NO PERÍODO DE

PLANTIO (mil hectares) MOAGEM (milhões de. AÇÚCAR (mil t/ano)

Conjuntura da luta pela terra no Brasil: balanço e perspectivas

DINÂMICAS RECENTES DO CAMPO BRASILEIRO: ATUALIZAÇÃO E APRIMORAMENTO DO ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA

COMMODITIES AGRÍCOLAS E PRODUÇÃO CAPITALISTA DE ESPAÇO: EXPERIÊNCIAS NO BRASIL E EM MOÇAMBIQUE

PROGRAMA DE ENSINO DA GRADUAÇÃO Licenciatura e Bacharelado 2016 OPÇÃO

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

PROMILITARES 24/08/2018 GEOGRAFIA. Professor Leandro Almeida AGROPECUÁRIA DO BRASIL

RELATO. III Simpósio Nacional de Geografia Agrária II Simpósio Internacional de Geografia Agrária I Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira

CRES E CIME M N E TO T O A GR G ÍCOL O A L A À

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

Conflitos no campo e a Reforma Agrária em Minas Gerais:

DATALUTA BANCO DE DADOS DA LUTA PELA TERRA

Grupo de Estudo sobre Trabalho, Espaço e Campesinato Departamento de Geociências/UFPB Programa de Pós-graduação em Geografia/UFPB

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

Boletim de Conjuntura Agropecuária da FACE N.14 / out-2012

GEOGRAFIA AGRÁRIA CACD. Professor Rodolfo Visentin.

UM DICIONÁRIO CRÍTICO DE EDUCAÇÃO 1

Meio Rural X Meio Agrário:

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

ARTIGO DATALUTA EVENTOS

MODELOS DE DESENVOLVIMENTO EM CONFLITO: O AGRONEGOCIO E A VIA CAMPONESA

A economia agrícola internacional e a questão da expansão agrícola brasileira ABAG. Alexandre Mendonça de Barros

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS. Pesquisa, acompanhamento e avaliação de safras.

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

ESTRANGEIRIZAÇÃO DA TERRA NO BRASIL E GEOPOLÍTICA DA QUESTÃO AGRÁRIA: O CASO DA UMOE BIOENERGY - SANDOVALINA/SP.

ATUALIZAÇÃO E APRIMOMENTO DO ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRFASILEIRA: agricultura camponesa e conflitos no campo 1

Concentração fundiária brasileira Passado histórico colonial. Lei de terras de 1850 (estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra). Forte

ARTIGO DATALUTA.

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

DOCENTE: JORDANA MEDEIROS COSTA

DATALUTA. Banco de Dados da Luta Pela Terra. Relatório 2013 Rio Grande do Sul. Coordenação. Equipe de Pesquisa

Interbits SuperPro Web

MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E ESPACIALIZAÇÃO DA LUTA PELA TERRA

Boletim de Conjuntura Agropecuária da FACE N.8 / abr-2012

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

o Espaço Agrário nos países em desenvolvimento Prof. Lucas Gonzaga

Ciências Humanas e suas Tecnologias - Geografia 1ª Série Ensino Médio A Estrutura Agrária do Brasil

Lembro a todos que estes slides não servem como embasamento TOTAL para a prova. Prof. Matheus

MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E ESPACIALIZAÇÃO DA LUTA PELA TERRA NO PARANÁ DE 2000 A 2003

Agronegócio e Reforma Agrária. Bernardo Mançano Fernandes Universidade Estadual Paulista, Pesquisador do CNPq -

Boletim de Agropecuária da FACE Nº 43, Março de 2015

Agronegócio no Brasil e em Mato Grosso

Lutas e Resistências: o processo de conquista da terra do Assentamento Nova Canaã, Tracunhaém, PE.

Reforma agrária e conflitos no campo em Minas Gerais: Contribuições da pesquisa DATALUTA

O AGRONEGÓCIO EM MATO GROSSO

GUIA DO INVESTIDOR. DANIEL LATORRACA AS GRANDES OPORTUNIDADES DO AGRO DE MATO GROSSO M A N T E N E D O R E S : P A R C E I R O :

Grupo de Estudo sobre Trabalho, Espaço e Campesinato Departamento de Geociências/UFPB Programa de Pós- graduação em Geografia/UFPB

Palavras chave: Uso de Tecnologia na Agricultura. Desenvolvimento Rural. Agroecologia.

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

Biodiesel no Brasil: conjuntura atual e perspectivas

ADM. Archer Daniels Midland. Valmor Schaffer. 03 de Agosto de 2015

CAPÍTULO 3 - AGROPECUÁRIA E AGRONEGÓCIO PROFESSOR LEONAM JUNIOR COLÉGIO ARI DE SÁ 7º ANO

ASPECTOS DA LUTA PELA TERRA NA PARAÍBA: A DINÂMICA RECENTE DOS PROCESSOS DE OCUPAÇÃO.

1) (FGV-SP) Analise o mapa.

Agronegócio é uma palavra nova, da década de 1990, e é também uma construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura

Aula Ao Vivo(18/04/2013) - Geografia Agrária do Brasil

O ESPAÇO AGROPECUÁRIO BRASILEIRO

A CANA-DE-AÇÚCAR NO MUNICÍPIO DE FRUTAL-MG BRASIL

SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E ESTRUTURAÇÃO FUNDIÁRIA NA MICRORREGIÃO DE DOURADOS MS. Diego da Silva Souza¹; Prof. Drº. Marcos Kazuo Matushima²

Boletim de Agropecuária da FACE Nº 76, Dezembro de 2017

AGRICULTURA BRASILEIRA:EXPANSÃO DA FROTEIRA AGRÍCOLA, CONFLITOS FUNDIÁRIOS E O NOVO RURAL. MÓDULO 14 GEOGRAFIA I

Curso Técnico em Agricultura AGRICULTURAS I

ARTIGO DATALUTA ARTIGO DO MÊS EVENTOS

OCUPAÇÕES E MANIFESTAÇÕES EM MINAS GERAIS: A LUTA PELA TERRA A PARTIR DA PESQUISA DATALUTA, i

ESTRANGEIRIZAÇÃO DE TERRAS NO BRASIL: UMA VISÃO ATRAVÉS DA GEOPOLÍTICA DA QUESTÃO AGRÁRIA

Transcrição:

Uma publicação do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária NERA. Presidente Prudente, outubro de 2015, número 94. ISSN 2177-4463. www.fct.unesp.br/nera ARTIGO DATALUTA Estrangeirização de terras por meio da compra no estado do Mato Grosso do Sul: algumas reflexões. ARTIGO DO MÊS Territórios (i)materiais e agroecologia www.fct.unesp.br/nera/artigodomes.php EVENTOS I Sim pósio Br asileiro sobre Governança e Desenvolvim ento Sustentável UNESP/Tupã São Paulo, 19 e 20 de novembro de 2015. Os Relatórios das Com issões da Verdade: im pactos da Ditadura Civi - M ilitar sobre os Cam poneses, a Educação e as Relações de Gênero USP/Ribeirão Preto São Paulo, 04 e 05 de novembro de 2015. XVIII Encontro Nacional de Geógrafos ENG 2016 A construção do Brasil: geografia, ação política e dem ocracia UFMA-UEMA/São Luis Maranhão, 24 a 30 de julho de 2016. PUBLICAÇÕES, VÍDEOS E POD TERRITORIAL Land and Freedom. The MST, the Zapatistas and Peasant Alternatives to Neoliberalism. Autor: Leandro Vergara-Camus. Un Verde Mas Oscuro: REDD y El Futuro de Los Bosques. Guión: Jeff Conant. The Zapatistas of Chiapas and the Landless Rural Workers' Movement (MST) of Brazil are often celebrated as shining examples in the global struggle against neoliberalism. But what have these movements achieved for their members in more than two decades of resistance and can any of these achievements realistically contribute to the rise of a viable alternative? Mientras las políticas y programas (REDD) para aumentar la captación de carbono en los bosques están promovidos alrededor del mundo por las élites globales y nacionales, los pueblos indígenas y otras comunidades que dependen de los bosques nos alertan sobre los serios impactos negativos que estos programas producirán en el futuro. Para ver: https://www.youtube.com/watch?v=kwhn4_fsk ya. PodCast Unesp Pod Territorial. Autores: Vários O Podcast Unesp, em parceria com a Cátedra Unesco Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial, publica semanalmente noticiário sobre Reforma Agrária, povos de diferentes etnias, questões geográficas e outros assuntos que colaboram significativamente no desenvolvimento social. Para ouvir/baixar: http://podcast.unesp.br/. APOIO Editoração: Danilo Valentin Pereira, Pedro Henrique C. de Morais (bolsista PIBIT) e Lucas Pauli (bolsista FAPESP). Revisão: Juliana G. B. Mota, Tiago E. A. Cubas (bolsista FAPESP), Leandro N. Ribeiro (bolsista CAPES), Ana L. Teixeira, Hellen C. C. Garrido (bolsista AUIP/PAEDEX), Helen C. G. M. da Silva (bolsista CNPQ), Lara C. Dalpério (bolsista FAPESP) e Rodrigo S. Camacho. Coordenação: Janaína F. S. C. Vinha, Eduardo P. Girardi, e Valmir J. de O. Valério. Leia outros números do BOLETIM DATALUTA em www.fct.unesp.br/nera 1

ESTRANGEIRIZAÇÃO DE TERRAS POR MEIO DA COMPRA NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL: ALGUMAS REFLEXÕES Lara Cardoso Dalperio Mestranda em Geografia Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Faculdade de Ciências e Tecnologia. Bolsista FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo lara.dalperio@gmail.com. INTRODUÇÃO Este trabalho é parte das discussões da dissertação de mestrado da referida autora intitulada Desterritorialização e Resistências Indígena e Camponesa no Processo Recente da Estrangeirização de Terras no Mato Grosso do Sul, que tem como objetivo analisar este processo e os impactos aos camponeses e indígenas: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Guarani-Kaiowa. Assim, apresentaremos parte dos resultados sistematizados obtidos até o momento da pesquisa. A estrangeirização de terras compreende tanto a compra, o arrendamento e a concessão de uso de territórios para a produção de biocombustiveis, commodities, alimentos, minério, compra de terras para reserva de valor e vastas extensões de florestas. Este processo está atrelado a especulação de terras na escala global, principalmente após a crise de 2007/2008, que acarretou na sua intensificação e consequentemente acirrou as disputas territoriais nos locais atingidos. No estado do Mato Grosso do Sul, não é diferente. A estrangeirização de terras está atrelada principalmente com as produções de commodities como a soja e cana-de-açúcar gerando conflitos principalmente com os camponeses e indígenas que são atingidos por meio da degradação do trabalho, da sua desterritorialização, dos endividamentos de contratos, com a dificuldade de demarcação ou obtenção de seus territórios entre outros. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo mostrar a estrangeirização no Mato Grosso do Sul por meio da espacialização das empresas que adquiriram terras com a compra. Empresas estas, que foram identificadas pela sistematização dos dados no Banco de Dados da Luta pela Terra (DATALUTA), em mídia impressa e digital, que compõem a categoria de Estrangeirização de Terra Brasil. Assim, iniciaremos com uma breve discussão sobre o conceito de estrangeirização e posteriormente a espacialização dessas empresas. O CONCEITO DE ESTRANGEIRIZAÇÃO DE TERRAS O conceito de estrangeirização de terras vem ganhando espaço na mídia e na academia principalmente com a sua intensificação a partir da crise de 2007/2008, onde ocorreu segundo Sauer (2010) uma corrida mundial por terras para a produção de commodities e de alimentos. Assim, entendemos como estrangeirização de terras a compra, o arrendamento e a concessão de uso de terras por empresas/grupos estrangeiros em países para a produção de commodities como a cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, de agrocombustíveis, de minério e de alimentos em outros países. Disponível em www.fct.unesp.br/nera 2

Segundo Sauer e Leite (2011), por meio do estudo do Banco Mundial 1, foi possível constatar que o aumento da produção agrícola mundial ocorreu pela expansão de oito commodities: milho, soja, cana-deaçúcar, dendê (óleo), arroz, canola, girassol e floresta plantada (p. 2), das quais as três primeiras para o Brasil são as mais importantes. Assim, concordamos com a afirmação de Fernandes (2011): O que estamos denominando de estrangeirização da terra ou acaparamiento de tierras ou landgrabbing nas versões em espanhol e em inglês, são processos recentes de intensificação da territorialização da agricultura capitalista associados a outros elementos da atual conjuntura da questão agrária que são a mudança na matriz energética do combustível fóssil para a agroenergia que ampliou a crise alimentar (FERNANDES, 2011, p. 77 - grifos nossos). Podemos apresentar alguns elementos que contribuem para a estrangeirização de terras como: a insegurança alimentar dos países, as terras agrícolas disponíveis nos países para a sua exploração, a produção de matérias primas tanto para produtos agrícolas como industriais, a plantações de florestas e principalmente os incentivos dos Estados com políticas, projetos, leis etc. que facilitem a promoção deste processo. Deste modo, na estrangeirização de terras o Estado ganha o papel central para a sua promoção, ele está cada vez mais envolvido, mesmo perdendo parte do domínio/autonomia de seus territórios. Ele deve mediar a territorialização das empresas e grupos estrangeiros, os conflitos existentes por tal processo, visto que, as terras onde ocorre a especulação/territorialização estão ocupadas pela população do campo, como camponeses, indígenas, quilombolas etc. que tem um modelo de desenvolvimento que foge da lógica estabelecida pelo agronegócio. Bem como, as ilegalidades cometidas para a sua territorialização. Segundo Arezki; Deininger e Selod (2012), os Estados devem adotar algumas medidas em relação à estrangeirização de suas terras: Es necesario adoptar medidas para incrementar la transparencia de cada inversión y establecer una gestión de gobierno de la tierra más eficaz en los países destinatarios a fin de reducir los riesgos económicos y sociales. A largo plazo, la gestión de gobierno eficaz, incluida la supervisión independiente de las inversiones, puede ser un factor que determine la capacidad y la competitividad de los países para atraer inversiones agrícolas adecuadas (AREZKI; DEININGER; SELOD, 2012, p. 49 grifos nossos). Um dos efeitos negativos da estrangeirização de terras, da qual o Estado não deve ignorar, é o impedimento a demanda histórica por reforma agrária e por regularização/demarcação de territórios tradicionalmente ocupados pelos grupos tradicionais como indígenas e camponeses. Deste modo, ocorrem, principalmente pela Via Campesina Internacional, ações de resistência mundial contra esse processo. Um exemplo no nível local, são as ocupações de terras realizadas pelos camponeses e as ocupações de retomada realizadas pelos movimentos indígenas no Brasil contra essa situação. Deste modo, apresentaremos a espacialização das empresas estrangeiras no estado do Mato Grosso do Sul que possuem terras por meio da compra, mostrando os principais capitais e culturas produzidas por essas empresas. 1 WORLD BANK. Rising global interest in farmland: Can it yield sustainable and equitable benefits? Washington D.C., September 7, 2010. Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/dec/resources/rising-global-interest-in-farmland.pdf; Disponível em www.fct.unesp.br/nera 3

A ESTRANGEIRIZAÇÃO DE TERRAS NO MATO GROSSO DO SUL POR MEIO DA COMPRA Os conflitos agrários no estado do Mato Grosso do Sul (MS) decorrem antes mesmo da separação com o estado do Mato Grosso e se justifica pela sua alta concentração fundiária, pela permanência dos latifúndios, pela territorialização do agronegócio nacional e estrangeiro, pela desterritorialização de comunidades tradicionais (indígenas e quilombolas) e também dos camponeses. Deste modo, as disputas giram em torno da conquista pela terra, sua permanência e pela retomada dos territórios tradicionalmente ocupados. Diante desta questão, o avanço da agricultura capitalista torna-se um tema importante para compreendermos os dados da estrangeirização no MS, por meio das empresas compradoras de terras, estas que permeiam os assentamentos, aldeias ou estão em territórios tradicionalmente ocupados. Segundo dados do INCRA (2010 apud Fernandes, 2011) no primeiro semestre de 2010, o estado do Mato Grosso do Sul foi o quarto em aquisições de terras por estrangeiros no Brasil, contabilizando 11% (473 mil hectares) do estado, ficando atrás apenas dos estados do Mato Grosso (20%), São Paulo (12%) e Minas Gerais (12%). Parte dessas empresas do MS se territorializaram através da compra e do arrendamento de terras. A partir dos dados do DATALUTA 2 (2015) contabilizamos 28 empresas que compraram terras no MS, são elas: Vale, Safi Brasil Energia, SLC Agricola, Raizen Combustíveis, Parkia Participações, Odebrecht, Monsanto do Brasil Ltda, Mitsubishi, Louis Dreyfus Commodities, International Papel Ltda, Infinity Bio-Energy, Fibria Celulose, Cosan, Cerona, Central Energetica Vicentina, Cargill, Bunge, BrasilAgro, Biurja Ltda, Biosev, Agrex do Brasil, Archer Daniels Midland Company (ADM) do Brasil Ltda, Adecoagro, MSU Agropecuaria Ltda, Grupo Poet, São Fernando, Mitsui e Cresud. Estas empresas possuem diversos capitais em conjunto, até mesmo com o brasileiro, produzindo diversas commodities, evidenciando a complexidade deste tema. Os capitais correspondentes são: EUA, Reino Unido, França, Argentina, Japão, Holanda, Alemanha, Itália e Emirados Árabes. Identificamos aproximadamente 11 commodities até com a presença de sementes transgênicas: cana-de-açúcar, algodão, café, milho, soja, silvicultura, cacau, canola, colza, feijão e palma, bem como a mineração e pecuária (DATALUTA, 2015). O mapa 1 apresenta a espacialização das 28 empresas estrangeiras que obtiveram terras por meio da compra no estado do Mato Grosso do Sul, identificadas pelo Banco de Dados da Luta pela Terra, que são parte integrante do que denominados agronegócio, entendido por Fernandes e Welch (2008) como: [...] modelo de desenvolvimento econômico controlado por corporações transnacionais, que trabalham com um ou mais commodities e atuam em diversos outros setores da economia. Compreendemos que esta condição confere às transnacionais do agronegócio um poder extraordinário que possibilita a manipulação dos processos em todos os sistemas do complexo (FERNANDES, B.; WELCH, 2008, p. 48). 2 Os dados do DATALUTA Estrangeirização de terras são sistematizados desde a formação da categoria em meados de 2013. Disponível em www.fct.unesp.br/nera 4

Sendo que, segundo os autores é utilizado para o seu desenvolvimento o trabalho dos camponeses, gerando conflitos e disputas territoriais por meio principalmente da sua territorialização. Assim, o agronegócio domina todo o seu complexo desde a produção a circulação. A partir do mapa 1, podemos constatar que a estrangeirização de terras ocorre principalmente no centro-sul do estado, com a produção de soja, eucalipto e cana-de-açúcar que teve um papel fundamental para o avanço da estrangeirização no MS. Num total de 79 municípios foram identificados pelo DATALUTA (2015) a presença de 18 municípios com a territorialização de empresas estrangeiras com compra de terras, o que corresponde a aproximadamente 22% do total. Os municípios com a presença de empresas estrangeiras que compram terras são: Angélica, Batayporã, Caarapó, Campo Grande, Chapadão do Sul, Corumbá, Costa Rica, Dourados, Ivinhema, Maracaju, Naviraí, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Ponta Porã, Rio Brilhante, Sidrolândia, Três Lagoas e Vicentina. Destes podemos destacar os municípios de Dourados, Maracajú, Três Lagoas, Rio Brilhante, Chapadão do Sul e Costa Rica, onde vem ocorrendo conflitos com os movimentos. Nesses municípios destacados, temos tanto grupos como empresas estrangeiras que compraram terras, para a produção principalmente das commodities da soja, cana-de-açúcar e eucalipto. São as Disponível em www.fct.unesp.br/nera 5

empresas e grupos: SLC Agricola, Parkia Participações, Odebrecht, Monsanto do Brasil Ltda, Mitsubishi, Louis Dreyfus Commodities, International Paper Ltda, Fibria Celulose, Cargill, Bunge, BrasilAgro, Biurja Ltda, Biosev, Agrex do Brasil, Grupo Poet, São Fernando, Mitsui e Cresud. Ou seja, as maiores produtoras dessas commodities no mundo estão territorializadas no estado. Essa territorialização gera conflitos fundiários, se analisarmos os dados de ocupações de terras no estado do MS concluímos que as ações ocorreram principalmente no centro-sul do estado, onde estão territorializadas essas empresas. Foram registrados pelo DATALUTA (2015) entre os anos de 2000 e 2013, 314 ocupações com 40.721 famílias participantes de 11 movimentos socioterritoriais principalmente dos movimentos indígenas e camponeses, que tiveram sua luta intensificada na atualidade pela retomada de seus territórios no referido estado. Como exemplos de conflitos, podemos citar os conflitos fundiários com os movimentos indígenas na região de Campo Grande e da Grande Dourados devido à luta de retomada de seus territórios tradicionais onde estão territorializadas as empresas estrangeiras como do grupo Louis Dreyfus Commodities em áreas que os Guarani-Kaiowá reivindicam e da ADM, bem como a ocupação de terras por camponeses do Movimento Terra Livre com a participação de 30 famílias depois da declaração de falência da Usina Paranaíba da empresa Arauna (LEAL, 2013). CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho buscou apresentar a compreensão do conceito de estrangeirização de terras que vem sendo debatido por pesquisadores e movimentos sociais, principalmente com a Via Campesina. Assim, compreendemos como estrangeirização de terras a compra, arrendamento e ou concessão de usos de territórios a empresas estrangeiras em outros países, principalmente para a produção de commodities agrícolas, mas este processo também ocorre por meio da mineração e de matérias primas industriais. A territorialização das empresas estrangeiras no estado do Mato Grosso do Sul ocorre principalmente no centro-sul, onde se tem áreas importantes para a produção de cana-de-açúcar, soja e eucalipto, intensificando os conflitos fundiários nessa região, que historicamente vem sendo registradas as disputas entre o agronegócio, latifundiários, camponeses e indígenas desterritorializados. REFERÊNCIAS AREZKI, Rabah; DEININGER, Klaus; SELOD, Harris. La fiebre mundial por la tierra. Finanzas & Desarrollo: Fondo Monetario Internacional y del Banco Mundial, 2012. Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/spa/2012/03/pdf/arezki.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015. DATALUTA Banco de Dados da Luta pela Terra, 2015. FERNANDES, Bernardo Mançano, Estrangeirização de terras na nova conjuntura da questão agrária. Caderno Conflitos no Campo Brasil 2010. Goiânia: Comissão Pastoral da Terra, 2011. ; WELCH, Cliff Andrew. Campesinato e agronegócio da laranja nos EUA e Brasil. In: FERNANDES, Bernardo Mançano. Campesinato e agronegócio na América Latina: a questão agrária atual. São Paulo: Expressão Popular, 2008. Disponível em www.fct.unesp.br/nera 6

LEAL, Stella Tosta. A Expansão da Cultura da Cana-de-Açúcar e de Usinas Canavieiras na Microrregião de Paranaíba Mato Grosso do Sul. 2013. 57 f. Dissertação (Mestre em Agronomia) - Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual paulista, Ilha Solteira, 2013. SAUER, Sérgio. Demanda mundial por terras: land grabbing ou oportunidade de negócios no Brasil?. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, vol.4, No 1/ 2010. SAUER, Sérgio; LEITE, Sergio Pereira. Dinâmica fundiária e apropriação de terra por estrangeiros no Brasil. 2011. Disponível em: < http://mstemdados.org/ >. Acesso em: 24 ago. 2015 Disponível em www.fct.unesp.br/nera 7