A NOVA LEI DE MIGRAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROTEÇÃO DOS IMIGRANTES E REFUGIADOS 1

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Transcrição:

A NOVA LEI DE MIGRAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROTEÇÃO DOS IMIGRANTES E REFUGIADOS 1 Vivian Netto Machado Santarém Defensora Pública Federal no Rio de Janeiro Palavras-chave: Lei de Migração. Direitos Humanos. Defensoria Pública. Acesso à Justiça. Imigrantes. Refugiados. 1 Este material foi desenvolvido a partir das discussões durante o: II CONADEF: ENCONTRO NACIONAL DE DEFENSORES PÚBLICOS FEDERAIS, realizado em Imbassaí/BA, no período de 31 de maio a 02 de junho de 2017.

A NOVA LEI DE MIGRAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROTEÇÃO DOS IMIGRANTES E REFUGIADOS O estatuto normativo estabelecido pela Lei 6.815/81, promulgado durante o período de ditadura militar e inspirado pela prevalência da soberania nacional em detrimento dos direitos humanos, há muito vinha sofrendo severas críticas pelos operadores do direito, especialmente em razão da manifesta incompatibilidade com os princípios da ordem constitucional democrática em vigor a partir de 1988 e com o sistema internacional de proteção dos direitos humanos. Com efeito, o Estatuto do Estrangeiro, nomenclatura conferida à referida lei, previa procedimento extremamente dificultoso à regularização migratória, prejudicando os grupos de imigrantes mais vulneráveis, tais como o alto custo do procedimento e a fixação de entraves burocráticos para obtenção da documentação, além de relegar ao estrangeiro a condição de titular de direitos fundamentais em igualdade de condições com os cidadãos brasileiros. Nesse contexto, a revogação da Lei 6.815/81 pela promulgação da Lei 13.445, em 24 de maio de 2017, com entrada em vigor a partir de novembro do mesmo ano, representa um marco do avanço democrático no tratamento do direito interno relacionado à temática, assumindo especial relevância diante do momento histórico vivenciado no sentido do aumento dos fluxos migratórios para o Brasil. Os princípios consagrados pela nova lei representam respeito aos compromissos assumidos pelo Estado brasileiro através da ratificação de tratados internacionais de direitos humanos, além de adequação da legislação interna à nova ordem constitucional de 1988, pautada na prevalência dos direitos fundamentais. Assim é que, ao estatuir a nova Política Migratória brasileira (artigo 3º), a Lei n 13.445/17 enfatiza a necessidade de observância, também pelo direito interno, de diversos princípios e diretrizes relacionados aos direitos humanos, dentre os quais destacamos:

universalidade, indivisibilidade e interdisciplinaridade dos direitos humanos (inciso I); não criminalização da migração (inciso III); acolhida humanitária (inciso VI); igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares (inciso IX); acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social (inciso XI); cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante (inciso XV); observância ao disposto em tratado (inciso XVIII); repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas (inciso XXII). O direito fundamental à assistência jurídica integral pública, previsto pelo inciso XI do artigo 3º da Lei 13.445/2017, a ser prestado pela Defensoria Pública, nos termos do artigo 134 da Constituição da República de 1988, consagra o papel protagonista da Instituição na garantia dos direitos humanos dos imigrantes ou de grupos de imigrantes vulneráveis. A atuação da Defensoria Pública envolve, além da concretização do pleno acesso à justiça em sentido amplo, a representação extrajudicial dos imigrantes, mormente em procedimentos de regularização migratória, deportação e expulsão; a litigância estratégica através da articulação com a sociedade civil organizada; a proteção de refugiados também por razões humanitárias e a participação ativa nos processos legislativos e regulamentares dos direitos da população imigrante em situação de vulnerabilidade. Envolve, ainda, a execução de projetos destinados ao empoderamento dessas pessoas, através do combate das causas de vulnerabilidades transnacionais e do fomento de políticas públicas essenciais à garantia do exercício pleno de direitos. Especificamente em relação à Lei 13.445/2017, além do direito fundamental à assistência jurídica gratuita, outros dispositivos estabelecem a participação efetiva da Defensoria Pública da União para proteção do imigrante. Nesse sentido, ressaltamos os artigos 49, 2, 51, 1º e 58, 1º, que tratam, respectivamente, da repatriação, da deportação e da expulsão:

Seção II Da Repatriação Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. 1 o Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do migrante ou do visitante, ou a quem o representa. 2 o A Defensoria Pública da União será notificada, preferencialmente por via eletrônica, no caso do 4 o deste artigo ou quando a repatriação imediata não seja possível. 3 o Condições específicas de repatriação podem ser definidas por regulamento ou tratado, observados os princípios e as garantias previstos nesta Lei. 4 o Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa. 5 o (VETADO). Seção III Da Deportação Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. 1 o A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem, expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 (sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares. 2 o A notificação prevista no 1 o não impede a livre circulação em território nacional, devendo o deportando informar seu domicílio e suas atividades. 3 o Vencido o prazo do 1 o sem que se regularize a situação migratória, a deportação poderá ser executada.

4 o A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei brasileira. 5 o A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de deportação para todos os fins. 6 o O prazo previsto no 1 o poderá ser reduzido nos casos que se enquadrem no inciso IX do art. 45. Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. 1 o A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação. 2 o A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e devidamente notificada, não impedirá a efetivação da medida de deportação. Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização da autoridade competente. Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação brasileira. Seção IV Da Expulsão Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. 1 o Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto n o 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. 2 o Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto nesta Lei.

3 o O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro. 4 o O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo. Art. 55. (Omissis). Art. 56. (Omissis). Art. 57. (Omissis). Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa. 1 o A Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão, se não houver defensor constituído. 2 o Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a contar da notificação pessoal do expulsando. Art. 59. Será considerada regular a situação migratória do expulsando cujo processo esteja pendente de decisão, nas condições previstas no art. 55. Art. 60. A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País. Como se depreende, o texto legal consagrou o protagonismo da Defensoria Pública da União enquanto instituição democrática destinada a garantir a observância dos direitos humanos dos imigrantes e refugiados em território nacional, em especial através da participação obrigatória em todos os procedimentos relacionados à retirada compulsória do estrangeiro. É a Defensoria Pública da União responsável, assim, não só pela garantia de observância do contraditório e da ampla defesa em tais processos, mas também exerce papel fundamental no reconhecimento de direitos à regularização migratória do imigrante e de seus familiares, ao reconhecimento da condição de refugiado, na proteção à criança e ao adolescente imigrante, na garantia de observância, pelos órgãos estatais, dos

princípios estabelecidos pela lei, em especial àqueles relacionados ao atendimento humanizado do imigrante e ao repúdio a atos de racismo ou xenofobia e à garantia de vedação a atos de remoção compulsória coletiva. A atuação institucional busca, também, a desvinculação histórica entre imigração e criminalização, acabando com a ideia de que o estrangeiro é o inimigo a ser combatido. Pelo contrário, a efetiva integração do imigrante à sociedade tem o condão de, através de políticas públicas adequadas, contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural. Caso emblemático de atuação da Defensoria Pública da União em prol de um grupo considerável de imigrantes vulneráveis aconteceu no estado de Roraima, quando, no mês de dezembro de 2016, um habeas corpus 2 impetrado pela DPU impediu a deportação coletiva de, aproximadamente, 450 venezuelanos que imigraram, em sua maioria, em razão da crise econômica vivenciada pelo país vizinho. No caso, a liminar foi conferida para impedir a deportação em massa porque reconheceu-se que o procedimento não individualizado então empregado pela Polícia Federal em Boa Vista violava os direitos fundamentais ao devido processo legal, ampla defesa e contraditório de cada indivíduo removido forçadamente. Para além da previsão legal, atos normativos inferiores também preveem a participação da Defensoria Pública da União na regularização migratória de grupos vulneráveis. A título de exemplo, vale mencionar a recente edição da Resolução Conjunta CONANDA 3 n 01, de 09 de agosto de 2017, que prevê a participação da Defensoria Pública da União nos processos de regularização migratória de crianças e adolescentes desacompanhados ou separados de seus responsáveis legais (artigo 12). A importância da atuação da Defensoria Pública da União também se revela fundamental na proteção do refugiado, mormente nos casos em que necessária a aplicação do instituto da proteção complementar ao refúgio. Nesse espeque, importante mencionar que nem todos os refugiados se enquadram no conceito formal de refúgio estabelecido pela Convenção Relativa ao 2 Processo n 0006447-87.2016.4.01.4200 4ª Vara Federal de Boa Vista/RR 3 Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

Estatuto dos Refugiados de 1951 ou pela Lei 9.474/97. De acordo com o conceito legal, considera-se refugiado o indivíduo que, devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, ou, ainda, em razão de grave e generalizada violação de direitos humanos, encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país. Atualmente, a ordem internacional, acompanhada pelo direito interno, tem aplicado o que se denominou chamar de proteção complementar ao refúgio, que consiste na concessão de refúgio aos indivíduos que fogem de seus locais de residência por razões ambientais ou socioeconômicas. Exemplos no Brasil desse tipo de proteção complementar, com atuação da Defensoria Pública da União em prol de grupos de refugiados vulneráveis, são os casos dos imigrantes haitianos e venezuelanos. Concluindo, a importância da atuação da Defensoria Pública em prol dos direitos dos imigrantes e refugiados foi sacramentada pela Lei 13.445/2017, que previu a participação obrigatória do órgão em procedimentos de remoção compulsória do imigrante, adequando as normas de direito interno à Constituição Federal de 1988 e aos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil. De fato, a construção de uma sociedade democrática livre, igual e solidária, tal como preconizado pela Constituição Brasileira, depende necessariamente do fortalecimento da Defensoria Pública, instituição que detém a missão de garantir o pleno acesso à justiça e o respeito aos direitos humanos das pessoas ou de grupos de pessoas vulneráveis, contribuindo para a eliminação das gritantes desigualdades sociais e promovendo o empoderamento de minorias históricas.

REFERÊNCIAS: BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil, 1988. BRASIL. Lei 13.445, de 27 de maio de 2017. BRASIL. Lei 9.474, de 22 de julho de 1997. BRASIL. Resolução Conjunta CONANDA n 01, de 09 de agosto de 2017.