ARTIGO Waldir P. Dias, Vânia M. Freitas, Neucimara R. Ribeiro, Antonio W. Moita & Regina M.D.G. Carneiro Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica Waldir P. Dias 1 *, Vânia M. Freitas 2, Neucimara R. Ribeiro 3, Antonio W. Moita 4 & Regina M.D.G. Carneiro 2 1 Embrapa Soja, C. Postal 231, 86001-970 Londrina (PR) Brasil. 2 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, C. Postal 02372, 70849-970 Brasília (DF) Brasil. 3 APROSMAT, Rua dos Andradas, 688, Vila Goulart, 78745-420 Rondonópolis (MT) Brasil. 4 Embrapa Hortaliças, Rodovia BR 60 - km 9, 70359-970 Brasília (DF) Brasil. *Autor para correspondência: wdias@cnpso.embrapa.br Recebido para publicação em 11 / 08 / 2009. Aceito em 24 / 05 / 2010 Editado por Rosângela D.L. Oliveira Resumo - Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro. 2010. Reação de genótipos de milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica. O nematoide Meloidogyne mayaguensis tem causando perdas elevadas em plantios comerciais de goiabeira no Brasil. Meloidogyne ethiopica, importante parasita da videira no Chile, foi detectado recentemente parasitando quivi no Rio Grande do Sul, soja em São Paulo e yakon e tomateiro no Distrito Federal. Ambos os nematoides são polífagos e, caso sejam disseminados para as regiões produtoras de grãos do país, podem vir a causar danos em culturas como a soja e o milho. O objetivo deste trabalho foi avaliar a reação de genótipos de milho (Zea mays) comercializados no Brasil a M. mayaguensis e M. ethiopica. Os experimentos foram conduzidos em casa de vegetação da Embrapa Soja, em Londrina (PR). Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado com 37 tratamentos (genótipos) para M. mayaguensis e 39 para M. ethiopica, com sete repetições. Plantas individuais de milho, soja e tomateiro foram inoculadas com 5.000 ovos e J 2 dos respectivos nematoides. A avaliação aconteceu cerca de 60 dias após a inoculação e foi realizada com base no fator de reprodução (FR) dos nematoides em cada um dos genótipos. Genótipos com FR < 1,0 foram considerados altamente resistentes e os demais classificados como moderadamente resistentes, pouco resistentes ou suscetíveis. Os altos FR (acima de 15) encontrados na soja e no tomateiro atestaram a viabilidade dos inóculos utilizados. Seis genótipos de milho ( NB-7361, SHS-5080, GNX-1020, GNX-3010, BRS-1031 e BM-1115 ) comportaram-se como altamente resistentes e outros 24 foram considerados moderadamente resistentes a M. mayaguensis. Para M. ethiopica, foram encontrados três genótipos altamente resistentes ( NB-7361, GNX-1020 e GNX-3010 ) e cinco moderadamente resistentes. De todos os genótipos de milho avaliados, apenas os híbridos NB-7361, GNX-1020 e GNX-3010 mostraram-se altamente resistentes aos dois nematoides. Palavras-chaves: nematoides-das-galhas, Zea mays, resistência genética, rotação de cultura. Summary- Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro. 2010. Reaction of corn genotypes to Meloidogyne mayaguensis and M. ethiopica. Meloidogyne mayaguensis has caused great losses to guava plants in commercial plantations from Brazil. M. ethiopica is an important parasite of grapevines in Chile and has been recently detected in the Brazilian states of Rio Grande do Sul, São Paulo and Distrito Federal on kiwi, soybean and yakon, respectively. Both species possess a wide host range and can damage other crops. The objective of this study was to evaluate the reaction of commercial corn (Zea mays) genotypes from Brazil to M. mayaguensis and M. ethiopica, under greenhouse conditions. The experiments were conducted in the Embrapa Soja, Londrina (PR), in a completely randomized design with 37 treatments (genotypes) for M. mayaguensis and 39 for M. ethiopica, with seven replications for each 98 Vol. 34(2) - 2010
Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica treatment. Tomato Santa Cruz and soybean Embrapa 20 were used as controls to demonstrate the inoculum viability. Plants of corn, tomato and soybean were inoculated with 5,000 eggs and J 2. Sixty days after the inoculation, the reproduction factors (RF = final number of eggs / 5,000) were calculated for all genotypes. Genotypes with RF < 1.0 were considered highly resistant and the others classified as moderately resistant, little resistant or susceptible. The high values of RF found on soybean and tomato showed the infectiveness of the inoculum. From 37 genotypes, six ( NB-7361, SHS-5080, GNX-1020, GNX-3010, BRS-1031 and BM- 1115 ) were highly resistant to M. mayaguensis and the other 24 moderately resistant. For M. ethiopica, only three genotypes ( NB-7361, GNX-1020 and GNX-3010 ) were resistant and the other five, classified as moderately resistant. Only three genotypes ( NB-7361, GNX-1020 and GNX-3010 ) were highly resistant to both nematodes. Key words: root-knot nematodes, Zea mays, genetic resistance, crop rotation. Introdução Meloidogyne mayaguensis é uma espécie polífaga, com alta taxa de reprodução e grande capacidade de disseminação. Esta espécie foi assinalada pela primeira vez no Brasil em raízes de goiabeira, nos municípios de Petrolina (PE), Curaçá (BA) e Maniçoba (BA), causando sérios danos à cultura (Carneiro et al., 2001). A partir de então, esse nematoide foi detectado nos Estados do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, do Ceará, de São Paulo, do Paraná, do Piauí, do Espírito Santo, da Paraíba, do Mato Grosso do Sul, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Além de reduzir a produção de frutos de goiaba, M. mayaguensis também afeta a qualidade dos mesmos. Levantamento realizado por Moreira et al. (2003) no vale do submédio São Francisco demonstrou que esse nematoide estava presente em todas as amostras de raízes de goiabeira analisadas. Segundo Carneiro et al. (2007a), nos últimos sete anos houve aumento de cerca de 70 % no número de pomares de goiabeira contaminados com M. mayaguensis naquela região. Em consequência, ocorreu redução na área cultivada, de 6.000 para 1.669 hectares. Além da goiabeira, M. mayaguensis também pode parasitar olerícolas, ornamentais, fumo, café, mamão, acerola, araçá e soja (Carneiro, 2003). M. ethiopica foi relatada no Brasil em quivi (Carneiro et al., 2003), soja (Castro et al., 2003) e em plantas de yacon e tomate (Carneiro & Almeida, 2005), nos Estados do Rio Grande do Sul (Serra Gaúcha), São Paulo e Distrito Federal (Brasília), respectivamente. Recentemente, esse nematoide também foi encontrado em plantas de fumo no Rio Grande do Sul (Gomes et al., 2005). Provavelmente, M. ethiopica foi introduzida no país a partir do Chile, onde ocorre em várias regiões e causa enormes prejuízos nas culturas da videira e do quivi (Carneiro et al., 2007b). Outras espécies vegetais como feijão caupi, alface, fava, batata, acácia, abóbora, repolho, pimentão, fumo, sisal, algodão e soja, também têm sido relatadas como sendo hospedeiras de M. ethiopica (Carneiro et al., 2003). O milho (Zea mays) é muito utilizado em programas de rotação de culturas objetivando o controle de fitonematoides, em especial de nematoides formadores de galhas (Meloidogyne spp.). Nos Estados Unidos, o seu emprego data da década de 1950 e visava, principalmente, ao controle de M. hapla e M. incognita. A partir dos anos de 1970, embora persistisse a recomendação do uso de milho em rotação com outras culturas, observou-se que certos híbridos eram capazes de multiplicar M. incognita, M. arenaria e M. javanica (Baldwin & Barker, 1970; Windham & Williams, 1988). No Brasil, o nematoide-das-galhas foi relatado uma única vez causando prejuízos significativos em milho (Lordello et al., 1986). Naquela ocasião, o agente causal foi identificado como sendo M. incognita raça 3. Parece que a maioria dos híbridos e cultivares de milho disponíveis no país são tolerantes a M. incognita e M. javanica, as duas espécies dos nematoides de galhas mais disseminadas no país e responsáveis pelos maiores danos à culturas econômicas, com destaque para a soja. Diferentemente do milho, quase todas as culturas em uso no Brasil, como soja, algodão, feijão, cafeeiro, dentre outras, são vulneráveis ao ataque de uma ou mais espécies de Meloidogyne. Em função da necessidade Nematologia Brasileira Piracicaba (SP) Brasil 99
Waldir P. Dias, Vânia M. Freitas, Neucimara R. Ribeiro, Antonio W. Moita & Regina M.D.G. Carneiro de se indicar genótipos de milho resistentes a nematoides de galhas, para utilização em áreas infestadas, seja em rotação ou sucessão com outras culturas, trabalhos visando caracterizar a reação dos principais híbridos e cultivares comercializados no Brasil tornaram-se frequentes (Brito & Antônio, 1989; Lordello et al., 1989; Asmus & Andrade, 1997; Moritz et al., 2003; Wilcken et al., 2006; Carneiro et al., 2007). Como M. mayaguensis e M. ethiopica vêm se espalhando muito rapidamente no Brasil, já tendo inclusive atingido áreas produtoras de grãos, faz-se necessário conhecer a capacidade de cultivares e híbridos, de diferentes culturas, em multiplicar esses nematoides. Tais estudos deverão permitir, num futuro próximo, a indicação de genótipos resistentes ou hospedeiros desfavoráveis, para semeadura em áreas infestadas e, ou para utilização como parentais em programas de melhoramento visando ao desenvolvimento de genótipos resistentes. O objetivo deste trabalho foi avaliar, em casa de vegetação, a capacidade dos principais híbridos e cultivares de milho comercializados no Brasil em multiplicar M. mayaguensis e M. ethiopica e, a partir de tais informações, indicar genótipos resistentes para semeadura em áreas infestadas e/ou utilização em programas de melhoramento genético de milho. Material e Métodos Os experimentos foram conduzidos em casa de vegetação da Embrapa Soja, em Londrina (PR), nos períodos de 08 / 10 a 11 / 12 / 2007 e de 04 / 01 a 05 / 03 / 2008. Em cada uma das épocas, foram conduzidos dois experimentos, um para M. mayaguensis e outro para M. ethiopica. Na primeira época, foram avaliados 17 genótipos de milho para ambos os nematoides (Tabelas 1 e 2). Na segunda época, Tabela 1 - Fatores de reprodução (FR) e reações de genótipos de milho a Meloidogyne mayaguensis, aos 60 dias após a inoculação com 5.000 ovos e J 2 em casa de vegetação. Experimento 1 (08/10 a 11/12/2007) Experimento 2 (04/01 a 05/03/2008) Genótipos FR 1 Reação 2 Genótipos FR 1 Reação 2 Tomateiro Santa Cruz (PS) 3 86,7a S Soja Embrapa 20 (PS) 3 51,8a S Soja Embrapa 20 (PS) 3 89,1a S Tomateiro Santa Cruz (PS) 3 36,5a S XGN-6201 13,8b S BR-451 3,2b PR RGX-10 9,6b S GNZ-2004 2,9c MR P30F53 7,2b S GNZ-2005 2,5c MR PL-1335 7,2b S BR-4157 2,0c MR DSS-Campeão 4,2c PR BRS-3150 2,0c MR P30F90 3,9c PR BN-Taurus 2,0c MR DX-810 2,7d MR P30F87 1,9c MR DKB-393 2,3d MR HPF-0819 1,8c MR P30S40 2,2d MR BM-1120 1,7c MR RGX-04 2,0d MR BRS-2020 1,4c MR XGN-5336 1,8d MR BRS-3060 1,3c MR PL-6882 1,2d MR BRS-1035 1,3c MR P30K73 1,2d MR XGN-4209 1,3c MR AG-5020 1,1d MR BRS-3003 1,2c MR DX-813 1,1d MR BMX-53 1,2c MR SHS-5080 0,7e AR BM-2202 1,1c MR NB-7361 0,3e AR BM-1115 0,6d AR BRS-1031 0,4d AR GNX-3010 0,3d AR GNX-1020 0,3d AR NB-7361 (PR) 4 0,1d AR C.V. (%) 36,5 41,0 1 FR = população final de ovos e J 2 / 5.000; médias de sete repetições; médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem significativamente entre si pelo teste de Scott & Knott (P = 0,05). 2 AR = altamente resistente; MR = moderadamente resistente; PR=pouco resistente; S = suscetível. 3 PS = padrão de suscetibilidade. 4 PR = padrão de resistência. 100 Vol. 34(2) - 2010
Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica Tabela 2 - Fatores de reprodução (FR) e reações de genótipos de milho a Meloidogyne ethiopica, aos 60 dias após a inoculação com 5.000 ovos e J 2 em casa de vegetação. Experimento 1 (08/10 a 11/12/2007) Experimento 2 (04/01 a 05/03/2008) Genótipos FR 1 Reação 2 Genótipos FR 1 Reação 2 Tomateiro Santa Cruz (PS) 3 70,5a S Tomateiro Santa Cruz (PS) 3 32,6 a S Soja Embrapa-20 (PS) 3 32,4a S Soja Embrapa-20 (PS) 3 15,6a S P30F53 17,8b S BRS-3060 6,4b S XGN-6201 15,8b S BRS-1035 6,4b S DX-810 12,6b S BRS-2020 6,2b S PL-1335 11,6b S GNZ-2004 5,5b S AG-5020 10,9b S HPF-0819 5,5b S RGX-10 7,5b S BRS-1031 5,3b S DSS-Campeão 5,4c PR BRS-3003 4,7c PR SHS-5080 5,2c PR BM-2202 4,5c PR DKB-393 4,9c PR XGN-4209 3,8c PR P30F90 4,6c PR BR-4157 3,8c PR PL-6882 4,4c PR BM-1120 3,8c PR DX-813 4,4c PR BRS-3150 3,7c PR P30S40 3,9c PR GNX-2005 3,7c PR RGX-04 3,9c PR BMX-53 3,5c PR XGN-5336 3,5c PR BM-1115 3,4c PR P30K73 2,4d MR BN-Taurus 3,2d MR NB-7361 0,4 e AR BRS-1030 3,0d MR BR-106GXIV 3,0d MR BR-451 2,5d MR P30F87 1,8d MR GNX-3010 0,4e AR GNX-1020 0,2e AR NB-7361 (PR) 4 0,2e AR C.V. (%) 38,1 25,7 1 FR = população final de ovos e J 2 / 5.000; médias de sete repetições; médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Scott & Knott (P = 0,05). 2 AR = altamente resistente; MR = moderadamente resistente; PR=pouco resistente; S = suscetível. 3 PS = padrão de suscetibilidade. 3 PR = padrão de resistência. avaliaram-se 20 genótipos de milho para M. mayaguensis (Tabela 1) e 22 para M. ethiopica (Tabela 2). O delineamento experimental adotado nos experimentos foi o inteiramente casualizado, com sete repetições. As médias das temperaturas diárias, no interior da casa de vegetação, durante a condução dos experimentos, ficaram sempre na faixa de 25 a 30 C. Populações puras de M. mayaguensis e M. ethiopica, previamente identificadas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia pela análise dos fenótipos das esterases (Carneiro & Almeida, 2001), foram trazidas para a Embrapa Soja, para multiplicação em tomateiro Santa Cruz durante aproximadamente 60 dias. A obtenção dos ovos para inoculação seguiu a metodologia de Boneti & Ferraz (1981) e a quantificação foi realizada em câmara de Peters, calibrando-se as suspensões dos respectivos nematoides para 1.250 ovos e J 2 / ml. Além dos genótipos de milhos, foram incluídos dois padrões de suscetibilidade (tomateiro Santa Cruz e soja Embrapa-20 ). Nos experimentos conduzidos na segunda época, o milho NB-7315 (selecionado na primeira época) foi incluído como padrão de resistência para ambos os nematoides. Em todos os experimentos utilizaram-se vasos plásticos com capacidade para 1 kg, contendo substrato composto pela mistura de solo e areia (1:3), previamente suplementado com fertilizantes apropriados para o milho e esterilizado com brometo de metila. Quatro sementes de cada genótipo de milho foram colocadas para germinar diretamente nos vasos e, decorridos 10 dias contados da semeadura, realizouse o desbaste deixando-se uma planta por recipiente. Nematologia Brasileira Piracicaba (SP) Brasil 101
Waldir P. Dias, Vânia M. Freitas, Neucimara R. Ribeiro, Antonio W. Moita & Regina M.D.G. Carneiro Para a soja e o tomateiro, foram utilizadas mudas com sete e 20 dias de idade, respectivamente. No momento do desbaste do milho ou dois dias após o transplantio da soja e do tomateiro, o solo de cada parcela foi infestado com 5.000 ovos e J 2 de M. mayaguensis ou de M. ethiopica. A inoculação foi realizada com o auxílio de pipeta automática, com capacidade para 5 ml, depositando o inóculo nas paredes de dois orifícios, com cerca de 2 cm de profundidade, abertos ao lado do colo da planta. Decorridos 15 dias da inoculação, a cada duas semanas as plantas receberam adubações de cobertura com sulfato de amônia ou ureia e NPK (8-28-16). A avaliação ocorreu cerca de 60 dias após a inoculação e consistiu da extração e quantificação dos ovos produzidos em cada sistema radicular e na determinação dos fatores de reprodução (FR) dos respectivos nematoides em cada um dos genótipos. A metodologia utilizada na extração dos ovos foi a de Boneti & Ferraz (1981). Os FR, relação entre populações final e inicial de ovos, foram calculados conforme Oostenbrink (1966). De acordo com a terminologia proposta por Roberts (2002) e com base nos agrupamentos resultantes da comparação das médias pelo teste de Scott & Knott (1974), cada um dos genótipos foi, então, classificado como altamente resistente (FR < 1,0), moderadamente resistente, pouco resistente ou suscetível. Para as análises estatísticas, os dados foram transformados em log 10 (x + 1). Resultados Em ambas as épocas de avaliação, os padrões de suscetibilidade (tomateiro Santa Cruz e plantas de soja Embrapa-20 ) apresentaram FR altos (> 15,0), tanto para M. mayaguensis (Tabela 1) quanto para M. ethiopica (Tabela 2). FR altos, além de atestarem a viabilidade dos inóculos utilizados, também asseguram que as condições ambientais, sobretudo temperatura no interior da casa de vegetação e umidade no solo, não prejudicaram a reprodução dos nematoides. O comportamento do milho NB-7361, selecionado na primeira avaliação como padrão de resistência aos dois nematoides, foi semelhante nas duas épocas (Tabelas 1 e 2). Os FR de M. mayaguensis nos genótipos de milho (Tabela 1) variaram de 0,3 a 13,8 (primeira época) e de 0,3 a 3,2 (segunda época). Com base nos resultados da análise estatística, dos 17 genótipos de milho avaliados na primeira época apenas dois ( NB-7361 e SHS-5080 ) mostraram-se altamente resistentes (FR < 1,0). Os demais genótipos se distribuíram em três grupos: genótipos moderadamente resistentes (9), pouco resistentes (2) e genótipos suscetíveis (4). Na segunda época, dos 20 genótipos de milho testados apenas quatro ( GNX-1020, GNX-3010, BRS-1031 e BM-1115 ) comportaram-se como altamente resistentes, 15 como moderadamente resistentes e um ( BR-451 ) foi considerado pouco resistente a M. mayaguensis (Tabela 1). Para M. ethiopica, os FR nos genótipos de milho variaram de 0,4 e 17,8 (primeira época) e de 0,2 a 6,4 (segunda época) (Tabela 2). Na primeira época, apenas o híbrido NB-7361 comportou-se como altamente resistente. Os demais genótipos foram considerados moderadamente resistentes ( P30K73 ), pouco resistentes (9) ou suscetíveis (6). Na segunda época, dentre os 22 genótipos, foram encontrados dois altamente resistentes ( GNX-1020 e GNX-3010 ), cinco moderadamente resistentes, nove pouco resistentes e seis genótipos suscetíveis a M. ethiopica. De um total de 39 genótipos de milho avaliados nas duas épocas, apenas NB-7361, GNX-1020 e GNX-3010 comportaram-se como altamente resistentes (FR < 1,0) a M. mayaguensis e M. ethiopica. Os genótipos BN-Taurus, P30K73 e P30F87 apresentaram moderada resistência aos dois nematoides. Discussão Em geral, o milho é considerado uma cultura tolerante aos nematoides de galhas (Meloidogyne spp.), pois raramente observam-se galhas nas raízes ou sintomas reflexos na parte aérea das plantas parasitadas (Brito & Antonio, 1989; Asmus et al., 2000; Medeiros et al., 2001; Ribeiro et al., 2002; Carneiro et al., 2007). Muitas vezes, essa tolerância é confundida com resistência, habilidade da planta em evitar a multiplicação do nematoide (Roberts, 2002), razão pela qual existia a recomendação generalizada de se utilizar o milho em esquemas de rotação de cultura, para redução populacional de Meloidogyne spp. Entretanto, alguns trabalhos, como o de Asmus et al. 102 Vol. 34(2) - 2010
Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica (2000), mostraram que vários híbridos de milho multiplicavam os nematoides-das-galhas, embora fossem tolerantes aos mesmos. A mesma situação foi observada no presente estudo para M. mayaguensis e M. ethiopica. Diferentemente do ocorrido com as plantas de soja e tomateiro que, em decorrência do parasitismo exercido por ambos os nematoides, exibiram farta presença de galhas nas raízes, as plantas de todos os genótipos de milho apresentaram sistemas radiculares livres de engrossamentos. Por outro lado, quando raízes das plantas de alguns genótipos de milho eram dissecadas, detectaram-se fêmeas brancas com formato de pera, característico do gênero Meloidogyne. O número de fêmeas observado foi variável, em função do nível de suscetibilidade do genótipo de milho. A capacidade dos diferentes genótipos de milho em multiplicar M. mayaguensis e M. ethiopica ficou ainda mais evidente, quando as raízes dessas plantas foram trituradas em liquidificador, para a extração dos ovos. A alta resistência do milho NB-7361 (comercializado com o nome de Somma ) aos dois nematoides é extremamente valiosa, pois este é um dos pouco híbridos em uso no Brasil que possui resistência tanto para M. javanica como M. incognita (Embrapa, 2008). Mesmo o milho não sendo prejudicado pelos nematoides de galhas, nas áreas infestadas deve-se optar sempre pela semeadura de híbridos ou cultivares altamente resistentes (FR < 1,0). Na ausência destes, a segunda opção são os materiais moderadamente resistentes. Essa prática resulta em redução mais rápida das populações do parasita no solo e garante a produção econômica da cultura semeada na sequência. Ao contrário, a utilização de milho suscetível resulta em aumento das populações e comprometimento no rendimento das culturas subsequentes. Portanto, antes de se indicar um determinado genótipo de milho para utilização em esquemas de rotação ou sucessão (safrinha) com uma determinada cultura, faz-se necessário conhecer previamente a reação do mesmo à espécie de Meloidogyne predominante na área. Os resultados obtidos no presente estudo permitem inferir que M. mayaguensis possui uma capacidade de se multiplicar em milho menor do que a apresentada por M. ethiopica. Essa observação coincide com as de Guimarães et al. (2003) e de Lima (2008), ao testarem a reação de genótipos de milho a essas duas espécies. No presente estudo, também ficou claro que é mais fácil selecionar genótipos de milho com resistência a M. mayaguensis do que para M. ethiopica. A durabilidade da resistência encontrada em genótipos de milho a nematoides de galhas não tem sido estudada. Entretanto, a seleção de isolados de Meloidogyne spp. capazes de vencer a resistência de genes em diferentes espécies vegetais, em caso de uso contínuo da mesma fonte de resistência em áreas infestadas, já foi relatada em diferentes oportunidades (Castagnone-Sereno, 2002). Para aumentar a durabilidade da resistência do milho aos nematoides de galhas, é prudente que os programas de melhoramento genético diversifiquem as fontes de resistência e que os agricultores evitem a monocultura de materiais com resistência oriunda de uma mesma fonte. A inclusão na rotação de outras culturas resistentes, também é sempre muito desejável. Parece que M. mayaguensis e M. javanica compartilham genes de avirulência para o parasitismo em milho, pois, como acontece com M. javanica (Ribeiro et al., 2002), a seleção de genótipos de milho resistentes a M. mayaguensis é relativamente fácil. Já na cultura da soja, ao contrário do constatado em milho, é difícil selecionar cultivares com bons níveis de resistência tanto para M. javanica quanto para M. mayaguensis (Ribeiro et al., 2007). Por outro lado, M. ethiopica pode ter genes de avirulência para o parasitismo em milho similares aos de M. incognita. Ribeiro et al. (2002) verificaram que a seleção de genótipos de milho resistentes a M. incognita foi difícil, assim como observado para M. ethiopica neste trabalho. Em soja, diferentemente do que acontece com o milho, foi mais fácil selecionar cultivares resistentes para ambas as espécies (Ribeiro et al., 2007). Conclusões Existe variabilidade dentro do germoplasma brasileiro de milho para a reação aos nematoides M. mayaguensis e M. ethiopica. Assim, é possível indicar genótipos altamente resistentes ( NB-7361, GNX- 1020 e GNX-3010 ) ou moderadamente resistentes ( BN-Taurus, P30K73 e P30F87 ) para uso em áreas Nematologia Brasileira Piracicaba (SP) Brasil 103
Waldir P. Dias, Vânia M. Freitas, Neucimara R. Ribeiro, Antonio W. Moita & Regina M.D.G. Carneiro infestadas, em esquemas de rotação ou sucessão de culturas. A seleção de genótipos de milho resistentes a M. mayaguensis é mais fácil do que para M. ethiopica. Literatura Citada ASMUS, G.L., L.C.C.B. FERRAZ & B. APPEZZATO-DA- GLÓRIA. 2000. Alterações anatômicas em raízes de milho (Zea mays) parasitadas por Meloidogyne javanica. Nematropica, 30: 33-39. ASMUS, G.L. & P.J.M. ANDRADE. 1997. Reprodução de Meloidogyne javanica em cultivares de milho. Nematologia Brasileira, 21 (2): 39-47. BALDWIN, J.G. & K.R. BARKER. 1970. Host suitability of selected hybrids, varieties and inbreeds of corn to populations of Meloidogyne spp. Journal of Nematology, 2 (4): 345-350. BONETI, J.I. & S. FERRAZ. 1981. Modificações no método de Hussey & Barker para extração de ovos de Meloidogyne exigua, em raízes de cafeeiro. Fitopatologia Brasileira, 6 (3): 533. BRITO, J.A. & H. ANTONIO. 1989. 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