Percevejo-castanho em sistemas de produção de grãos e algodão

Documentos relacionados
AÇÃO DE INSETICIDAS SOBRE O PERCEVEJO CASTANHO Scaptocoris castanea Perty, 1833 (HEMIPTERA: CYDNIDAE) NA CULTURA DO ALGODOEIRO *

Controle químico de percevejo castanho da raiz [ Scaptocoris castanea Perty (1830)] em algodão Resumo:

Controle biológico de percevejo castanho da raiz [ Scaptocoris castanea Perty (1830)] Resumo:

Ocorrência, Flutuação Populacional, Distribuição Vertical no Solo e Controle do Percevejo Castanho da Raiz, Scaptocoris spp. (Hemiptera: Cydnidae) na

CONTROLE DO PERCEVEJO CASTANHO (Scaptocoris castanea)

Ocorrência de artrópodes em área recuperada com o Sistema de Integração Lavoura- Pecuária 1. Paulo A. Viana 2 e Maria C. M.

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

ECOLOGY, BEHAVIOR AND BIONOMICS. Embrapa Soja, C. postal 231, , Londrina, PR; 2 Bolsista. Neotropical Entomology 33(3): (2004)

ESTABELECIMENTO DO CAPIM MASSAI EM CONSORCIO COM MILHO AG E Bt, EM ÁREAS INFESTADAS PELO PERCEVEJO CASTANHO DAS RAÍZES

Comunicado Técnico. Odo Primavesi 1 Rodolfo Godoy 1 Francisco H. Dübbern de Souza 1. ISSN X São Carlos, SP. Foto capa: Odo Primavesi

12. A cultura do arroz em outras modalidades de cultivo

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

SEMEADORA-ADUBADORA. Prof. Dr. Carlos Eduardo Angeli Furlani RESULTADOS DE PESQUISAS

PERCEVEJO-CASTANHO-DA-RAIZ EM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE SOJA ISSN

SELETIVIDADE DOS HERBICIDAS BENTAZON E NICOSULFURON PARA Crotalaria juncea e Crotalaria spectabilis

Adubação do Milho Safrinha. Aildson Pereira Duarte Instituto Agronômico (IAC), Campinas

AVALIAÇÃO E MANEJO DE DOENÇAS EM Brachiaria brizantha cv. BRS PIATÃ. Área Temática da Extensão: Tecnologia.

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

EFICÁCIA DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES VISANDO O CONTROLE DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE, DICHELOPS MELACANTHUS, NA CULTURA DO MILHO

PRODUTIVIDADE DE SOJA EM RESPOSTA AO ARRANJO ESPACIAL DE PLANTAS E À ADUBAÇÃO NITROGENADA ASSOCIADA A FERTILIZAÇÃO FOLIAR

Correção da acidez subsuperficial no plantio direto pela aplicação de calcário na superfície e uso de plantas de cobertura e adubação verde

EFICÁCIA DE DIFERENTES PRODUTOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS NO CONTROLE DE Scaptocoris castanea PERTY (HEMIPTERA: CYDNIDAE) NA CULTURA DO ALGODÃO (*)

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

DINÂMICA DO POTÁSSIO NO SISTEMA SOJA-MILHO EM ÁREA DE ALTA PRODUTIVIDADE EM SORRISO-MT.

Tiago Moreira Damasceno I, Gustavo Radomile Tofoli II, Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno III, Adeney de Freitas Bueno IV

Adubação da Cultura da Soja no Paraná e Goiás

Fundação de Apoio e Pesquisa e Desenvolvimento Integrado Rio Verde

Efeito do inseticida Lorsban na supressão de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura do milho.

SISTEMAS DE CULTIVO DE TRIGO NOS ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL, PARANÁ E MATO GROSSO DO SUL

EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS, EM TRATAMENTO DE SEMENTES, NO CONTROLE DO PULGÃO Aphis gossypii (HOMOPTERA: APHIDIDAE) NA CULTURA DO ALGODOEIRO

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

05 AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS PRINCIPAIS

TÍTULO: EFEITOS DA PROFUNDIDADE DE PLANTIO NA GERMINAÇÃO E PRODUÇÃO DE MASSA DO CAPIM BRAQUIARÃO ADUBADO NO PLANTIO


Walter Felipe Frohlich 1 Marcelo Teiji Kimura 2 José Libério do Amaral 3 Mauro Osvaldo Medeiros 3

Manejo de Doenças do Solo

Consórcio de milho safrinha com Brachiaria ruziziensis. Julio Franchini Henrique Debiasi

Desafios para aumento da produtividade da soja

AVALIAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DA LAGARTA CURUQUERÊ (ALABAMA ADENSADO DO ALGODOEIRO EM MATO GROSSO. Daniele Romano 1 ; Paulo Bettini 2.

QUEBRA DE PLANTAS DE SOJA

VIABILIDADE ECONÔMICA DE SISTEMAS DE CULTIVO DE MILHO SAFRINHA

Amaldo Ferreira da Silva Antônio Carlos Viana Luiz André Correa. r José Carlos Cruz 1. INTRODUÇÃO

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 797

MANEJO DE PRAGAS. Leila L. Dinardo-Miranda

ESTRATÉGIAS DE MANEJO DE PLANTAS DANINHAS COM PERDA DE SENSIBILIDADE AO GLYPHOSATE NA CULTURA DO MILHO RR

Espaçamento alternado e controle de crescimento do feijoeiro com aplicação do fungicida propiconazol

O teste foi conduzido pela empresa Landlab R&D na estação experimental de Quinto Vicentino (VI) na Itália.

SISTEMAS DE CONSÓRCIO EM MILHO SAFRINHA. Gessi Ceccon 1 1.INTRODUÇÃO

LEVANTAMENTO POPULACIONAL DE Bemisia sp. NA CULTURA DE MANDIOCA NO MUNICÍPIO DE CASSILÂNDIA-MS

Bolsista PBIC/UEG, graduando do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG. Orientador, docente do Curso de Engenharia Florestal, UFG-Campus Jataí.

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

O presente estudo foi instalado no município de Alfenas-MG, a 900 m de altitude. Rodolfo Carvalho Cesar de San Juan 1

CONTROLE QUÍMICO. BioAssay: 8:6 (2013)

PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO EM DIFERENTES SISTEMAS DE ROTAÇÃO E SUCESSÃO DE CULTURAS EM GOIÂNIA, GO

Av. Ademar Diógenes, BR 135 Centro Empresarial Arine 2ºAndar Bom Jesus PI Brasil (89)

Dirceu Luiz Broch e Gessi Ceccon

Palavras chave: doses de calcário, ph do solo, formas de manejo, produção.

INTEGRAÇÃO LAVOURA- Prof. Dr. Gelci Carlos Lupatini. UNESP Campus Experimental de Dracena 8200

INFLUÊNCIA DO FOTOPERÍODO NO DESENVOLVIMENTO DE ADUBOS VERDES EM DIFERENTES ÉPOCAS DE SEMEADURA NO SUDESTE GOIANO

Melhoria sustentável das condições biológicas, químicas e físicas do solos dos Cerrados

RECOMENDAÇÃO DE CULTIVARES CULTIVOS CONSORCIADOS 08/04/2013

VII Congresso Brasileiro do Algodão, Foz do Iguaçu, PR 2009 Página 1044

Controle químico de doenças fúngicas do milho

ESPAÇAMENTO ENTRE LINHAS E DENSIDADES DE SEMEADURA DE MILHO EM CONDIÇÕES DE SAFRINHA

A tecnologia INSIDE protegendo o potencial de sementes e plântulas

DENSIDADE DE SEMEADURA E POPULAÇÃO INICIAL DE PLANTAS PARA CULTIVARES DE TRIGO EM AMBIENTES DISTINTOS DO PARANÁ

Densidade populacional de Pratylenchus brachyurus na produtividade da soja em função de calagem, gessagem e adubação potássica

Gessi Ceccon, Giovani Rossi, Marianne Sales Abrão, (3) (4) Rodrigo Neuhaus e Oscar Pereira Colman

NÍVEIS DE AÇÃO PARA O CONTROLE DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE, DICHELOPS FURCATUS (F.) EM TRIGO NO RS

Manejo de Nutrientes para Sistemas de Produção de Alta Produtividade. Dr. Eros Francisco IPNI Brasil

MANEJO DAS PLANTAS INFESTANTES EM PLANTIOS DE ABACAXI EM PRESIDENTE TANCREDO NEVES, MESORREGIÃO DO SUL BAIANO

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 863

Dra. Neucimara Rodrigues Ribeiro - Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso APROSMAT Dr. Waldir Pereira Dias Embrapa/Soja

Produção de milho (Zea mays) sob três arranjos estruturais do eucalipto (Eucalyptus spp.) no Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUÇÃO

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

SAF implantado em linhas e em média diversidade de arbustos e árvores.

Características e Desempenho Produtivo de Cultivares de Arroz de Terras Altas Recomendadas para Roraima

CONTROLE DA COCHONILHA ATRAVÉS DE DIFERENTES INSETICIDAS, APLICADOS VIA FOLIAR, NA CULTURA DO ALGODÃO ADENSADO. Daniele Romano 1

Vanderson Modolon DUART 1, Adriana Modolon DUART 2, Mário Felipe MEZZARI 2, Fernando José GARBUIO 3

AMOSTRAGEM DE PRAGAS EM SOJA. Beatriz S. Corrêa Ferreira Entomologia

EFEITO DE DIFERENTES DOSES DO ÓLEO ESSENCIAL DE AÇAFRÃO NO CONTROLE DO PULGÃO BRANCO (APHIS GOSSYPII) NA CULTURA DO ALGODOEIRO

Culturas de cobertura e de rotação devem ser plantas não hospedeiras de nematóides

TRATAMENTO DE SEMENTES COM BIOESTIMULANTES NO CRESCIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE SOJA. Milena Fontenele dos Santos (1)

A PRODUTIVIDADE DA ERVA-MATE EM CINCO SISTEMAS DE PREPARO DO SOLO NO MINICíplO DE ÁUREA, RS

VIABILIDADE DO TRIGO CULTIVADO NO VERÃO DO BRASIL CENTRAL

AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO LONGITUDINAL DE PLANTAS DE MILHO EM DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

Influência da Safrinha na Eficiência de Produção do Milho no Brasil

CONTROLE QUÍMICO DO PERCEVEJO Piezodorus guildinii (Westw.) NA CULTURA DA SOJA

Colheita e armazenamento

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO CERRADO

CONTROLE QUÍMICO DE DIFERENTES POPULAÇÕES DE Digitaria insularis (CAPIM-AMARGOSO)

Princípios ativos via tratamento de sementes industrial na cultura do milho após armazenamento

AVEIA BRANCA FORRAGEIRA IPR SUPREMA

Fatores Importantes para o 05 Sucesso de uma Lavoura

EFEITO DO TAMANHO DO VASO E DA ÉPOCA DE CORTE DE PLANTAS DE TRIGO NO ESTUDO DA AÇÃO DOS NUTRIENTES N, P e K ( 1 )

Transcrição:

Resultados de Pesquisa da Embrapa Soja 2006 97 Percevejo-castanho em sistemas de produção de grãos e algodão Lenita J. Oliveira Crébio J. Ávila José Nunes Jr Antonio A. dos Santos Adeney de F. Bueno O percevejo-castanho-das-raízes é uma praga de hábito subterrâneo que causa grandes prejuízos em lavouras de soja, algodão e pastagens, especialmente nos Cerrados. O objetivo geral deste plano foi aprofundar estudos sobre aspectos bioecológicos e controle do percevejo-castanho, visando a identificar estratégias que possam ser utilizadas no seu manejo sustentável em sistemas de produção da soja. Alguns dos resultados obtidos no período de outubro de 2003 a dezembro de 2006 serão apresentados a seguir. Constatou-se que três espécies de percevejo-castanho ocorreram no sistema de produção de soja: Scaptocoris castanea (MT, GO, MS, SP e PR em pastagens, soja, algodão e milho), S. carvalhoi (MG, MS e GO) e S. buckupi (PR), estas últimas principalmente em áreas de reforma de pastagens. Observou-se que, embora normalmente ocorra um claro predomínio de uma espécie, em várias áreas S. castanea foi encontrada em conjunto com S. carvalhoi e com S. buckupi, às vezes explorando plantas vizinhas. Em Mato Grosso, verificou-se que braquiária, milheto, crotalária e sorgo, quando semeadas na época da primavera (em pré-plantio do algodoeiro), não interferiram significativamente na população do percevejo-castanho no solo. Observou-se que plantas de algodão foram, desde o início do desenvolvimento, mais sensíveis ao ataque do percevejo-castanho que soja, milho, sorgo e arroz.

98 Embrapa Soja. Documentos, 308 Em casa-de-vegetação, em Londrina, a mortalidade dos percevejos aos 28 dias após a infestação (25 ninfas 4º e 5º instar de S. castanea /planta) foi semelhante para algodão (36 %), soja (38 %) e milho (45 %). Aos 19 dias após a semeadura (11 dias após a infestação), a presença de percevejos só causou redução (16 %) na altura das plantas de algodão em relação à testemunha, mas aos 25 dias após a infestação, todas as plantas estavam menores do que a testemunha correspondente. Vinte oito dias após a infestação, todas as plantas infestadas tiveram o crescimento reduzido em relação às plantas sem infestação, mas a redução foi significativamente mais acentuada no algodoeiro (31 % mais baixas). Para soja e milho, que não diferiram significativamente entre si, as plantas com percevejos estavam 16 % e 6 %, respectivamente, mais baixas que as não infestadas (Santos et al., 2006). Flutuação populacional e distribuição do percevejocastanho no perfil do solo no sistema de produção de grãos e lavoura-pecuária Foram realizados levantamentos populacionais em três áreas vizinhas em Cafeara, PR (Arenito Caiuá): uma lavoura de soja no 4º ano de cultivo após pastagem (área 1), uma lavoura de soja no 1º ano de cultivo após pastagem (área 2) e uma área com pastagem de 19 anos (área 3-padrão). Observou-se que, de modo geral, a macrofauna edáfica foi menos abundante na área com mais anos de cultivo com cultura anual (área 1). O maior número e proporção de percevejo-castanho (Scaptocoris castanea e S. buckupi) em relação aos demais organismos ocorreu na área com um ano de cultivo de soja. Em Taciba, PR, também foram comparadas as populações de três áreas vizinhas com diferentes sistemas: área 1-1º ano de soja semeada após pastagem e seguida por feijão; área 2-2º ano de soja em semeadura direta após pastagem e seguida por milho e área 3-pastagem de 21 anos-brachiaria dessecada. Nas áreas 1 e 2 foram feitas amostragens, durante o verão na lavoura de soja e em junho nas culturas de feijão e milho, respectivamente. Em junho, também foram feitas amostragens na área de pastagem recém-dessecada para comparação. Em todas as amostragens o maior número de percevejo-

Resultados de Pesquisa da Embrapa Soja 2006 99 castanho (S.castanea) ocorreu na área com maior tempo de cultivo com cultura anual (área 2) (Oliveira et al, 2004). Estudos conduzidos com S. castanea em Goiás e São Paulo, indicaram que os picos populacionais de percevejo-castanho ocorreram no final da primavera e no verão e o maior número de adultos no solo foi observado de dezembro a fevereiro. Adultos e ninfas de todos os estádios foram encontrados até 1,2 m de profundidade, mas durante todo o ano, mais de 70 % da população esteve localizada acima de 60 cm. No período mais chuvoso a população está localizada mais superficialmente no solo (acima de 20 cm) e de maio a agosto (período mais seco) a população concentrase nas camadas mais profundas (abaixo de 20 cm) (Oliveira & Malaguido, 2004). No Mato Grosso do Sul, foram realizados levantamentos mensais em uma área de soja com alta infestação S. castanea, amostrando-se separadamente o percevejo em cinco amostras estratificadas do solo (0 cm-15 cm, 15 cm-30 cm, 30 cm-45 cm, 45 cm-60 cm e 60 cm-75 cm). A partir desse estudo, constataram-se dois picos populacionais do inseto ao longo do ano, sendo um em janeiro e outro em setembro. No primeiro pico observou-se uma maior proporção de ninfas em relação aos adultos, e no segundo pico, uma maior proporção de adultos. Adultos e ninfas do percevejo-castanho apresentaram distribuição populacional variável no perfil do solo ao longo do ano, sendo mais abundantes nas camadas superficiais durante o período chuvoso, e aprofundando-se no solo nos períodos de estiagens. A distribuição do percevejo-castanho no perfil do solo ao longo do ano indica que a melhor época para a aplicação de medidas de controle é o período chuvoso, especialmente de novembro a meados de março, quando os percevejos se encontram mais próximos à superfície do solo e, portanto, mais acessíveis.

100 Embrapa Soja. Documentos, 308 Avaliação de alternativas de manejo de percevejoscastanhos Em laboratório, no Mato Grosso do Sul, dois isolados do fungo Metarhizium anisopliae foram patogênicos para os adultos de percevejocastanho. Em Londrina, em bioensaios comparando o efeito de três fungos entomopatogênicos (M. anisopliae, Beauveria bassiana e Paecilomyces sp.) sobre S.castanea, observou-se que a eficiência média do primeiro foi superior a 60 % e a dos outros dois inferior a 40 %. Nenhum desses fungos foi eficiente a campo. Estudos anteriores realizados em campo por Malaguido et al., 1999, mostraram que o enxofre pode ter um efeito repelente sobre essa praga, proporcionando uma redução na população de percevejos nas camadas superiores do solo nas parcelas adubadas com enxofre (50 kg/ha) e sugeriram que o efeito direto do adubo sobre a população de percevejo precisava ser melhor investigado. Com objetivo de avaliar a influência da adubação com enxofre, sulfato de amônio e fósforo-potássio sobre o percevejo-castanho em soja, foram conduzidos ensaios em casa-devegetação e campo. Em vasos infestados com 10 ninfas (S. castanea) de 4º e 5º instar na data de semeadura, foram avaliados os seguintes tratamentos: sulfato de amônio 95 kg /ha, três doses de enxofre (25, 50 e 75 kg/ha), enxofre + K 2 O+P 2 O 5 (50+100+100 kg/ha), uma testemunha adubada somente com K 2 O+P 2 O 5 (100+100 kg/ha) e uma testemunha sem qualquer adubação. Após 21 dias, a sobrevivência de percevejos variou de 25 % a 39 %, não havendo, entretanto, diferenças significativas entre os tratamentos. O desenvolvimento das plantas também foi semelhante em todos os tratamentos, indicando que a infestação com 10 ninfas/planta não parece ter exercido uma pressão suficientemente agressora à soja. As raízes das plantas adubadas apenas com sulfato de amônio foram significativamente mais longas que as das plantas

Resultados de Pesquisa da Embrapa Soja 2006 101 adubadas apenas com fósforo e potássio, entretanto, essa diferença aparentemente não teve qualquer relação com tolerância da planta ao percevejo-castanho. Outro ensaio foi realizado em área infestada com Scaptocoris sp. (145 percevejos/m linear), em Goiás, avaliando o efeito do enxofre na adubação de plantio e inseticidas misturados à semente ou pulverizados no sulco de semeadura. Os tratamentos foram: tiodicarbe+imidacloprido (45+15 g.i.a./100 kg de sementes), tiametoxam (70 g.i.a./100 kg de sementes), endosulfan (525 g.i.a./ ha, aplicado no sulco de semeadura com um volume de calda de 50 L/ ha), clorpirifós (675 g.i.a./ha aplicado no sulco de semeadura com um volume de calda de 50 L/ha), enxofre (30 kg/ha) e uma testemunha (água). Essa área também apresentava uma infestação concomitante de corós (34 larvas/m linear). Nenhum tratamento reduziu a população de percevejos ou de corós em relação à testemunha aos 14 ou 26 dias após o plantio. Entretanto, o número de plantas observado nas parcelas tratadas com enxofre e tiodicarbe+imidacloprido aos 14 dias, foi significativamente maior que nos demais tratamentos, o que pode indicar que esses produtos tenham dado uma proteção inicial (duas semanas) às plantas, a qual, entretanto, não se manteve posteriormente, uma vez que o estande final (aos 45 dias) foi semelhante em todos os tratamentos, inclusive na testemunha. Esse e outros ensaios realizados em Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul mostraram que inseticidas aplicados nas sementes e/ou no sulco de semeadura (grânulos ou pulverização), para controle de percevejocastanho apresentaram, em geral, baixa eficiência.

102 Embrapa Soja. Documentos, 308 Referências MALAGUIDO, A. B.; OLIVEIRA, L. J.; LANTMANN, Á. Efeito da adubação química sobre a população do percevejo-castanho, Scaptocoris castanea Perty (Cydnidae). In: REUNIÃO SUL-BRASILEIRA SOBRE PRAGAS DE SOLO, 7. 1999, Piracicaba. Ata e resumos... Piracicaba: FEALQ, 1999. p.100-101. OLIVEIRA, L. J.; BROWN, G. G.; CAMPO, R. J.; KORASAKI, V.; MATSUMURA, C.; PAVÃO, A.; SILVA, S. H. da. Levantamentos populacionais de percevejo-castanho (Scaptocoris sp.) em áreas de reforma de pastagem em Taciba, SP e Cafeara, PR. In: SARAIVA, O. F. (Org.). Resultados de pesquisa da Embrapa Soja - 2003: entomologia. Londrina: Embrapa Soja, 2004. p. 43-46. (Embrapa Soja. Documentos, 245). OLIVEIRA, L. J.; MALAGUIDO, A. B. Flutuação e distribuição vertical da população do percevejo-castanho-da-raiz, Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae), no perfil do solo em áreas produtoras de soja nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Neotropical Entomology, v.33, p.283-291, 2004. SANTOS, A. A. dos ; OLIVEIRA, L. J.; SILVA, S. H. da. Sensibilidade relativa de algodão, milho e soja à infestação por percevejo-castanho, Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae), no início da fase vegetativa, em casa-de-vegetação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 21., 2006, Recife. Resumos... Recife: UFPE/SEB, 2006. CD-ROM