Prof. Me. Carlos Eduardo Dipp Advogado em Curitiba/PR e Professor de Direito de Família. carlosdipp@vsdadvogados.com.br
CRONOGRAMA DO WEBINAR (i) Reconhecimento de Paternidade (extrajudicial e judicial); (ii) Reprodução Humana Assistida; (iii) Paternidade Socioafetiva; (iv) Reconhecimento de Paternidade pós morte; (v) Direitos Sucessórios.
Marco Histórico: Uma retrospectiva necessária (i) Ponto de Partida: Código Civil de 1916 FAMÍLIA = CASAMENTO, logo: Presume-se que os filhos havidos na constância do casamento são filhos do pai. Essa presunção existia para que houvesse paz doméstica no lar. Presunção pater is est
Com isso, o Código Civil de 1916 criou uma distinção (classificação) absolutamente discriminatória e machista, o que incentivava o adultério masculino. O Código Civil de 1916 comportava dois grandes tipos de filiação: Biológica e Civil.
Biológica a) Legítima: Concebida na constância do casamento, que significava 180 dias depois do casamento. b) Ilegítima b.1) Natural: resultantes de relação entre pessoas não impedidas de casar. b.2) Espúria: quando há impedimento b.2.1) Adulterina; b.2.2) Incestuosa: relação entre parentes próximos.
Civil a) Resultante da adoção. Para tanto bastava uma escritura pública para que fosse oficializada. O que não garantia direito algum a criança, já que a única filiação reconhecida pelo Código Civil de 1916 era a LEGÍTIMA.
UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL A Constituição Federal de 1988 superou a classificação relativa à filiação prevista no Código Civil de 1916, ao estabelecer o principio da dignidade da pessoa humana e o principio da igualdade como basilares do direito de família.
A disciplina da nova filiação há de se edificar sobre 3 pilares constitucionalmente fixados: (i) Plena igualdade entre filhos; (ii) Desvinculação do estado de filho do estado civil dos pais; (iii) Doutrina da proteção integral.
ATUALMENTE CASAMENTO + FILHOS = PRESUMIDOS!!!! Não há o que se falar em reconhecimento.
RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE DOS FILHOS FORA DO CASAMENTO Início: LEI 8560/92 Alterada pela LEI 12.004/2009
Art. 2 o -A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a v e r d a d e d o s f a t o s. (Incluído pela Lei nº 12.004, de 2009). Parágrafo único. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético - DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório. (Incluído pela Lei nº 12.004, de 2009).
Art. 4 O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento. (...) Art. 6 Das certidões de nascimento não constarão indícios de a concepção haver sido decorrente de relação extraconjugal. 1 Não deverá constar, em qualquer caso, o estado civil dos pais e a natureza da filiação, bem como o lugar e cartório do casamento, proibida referência à presente lei.
REPRODUÇÃO ASSISTIDA
A enorme evolução ocorrida no campo da biotecnologia acabou produzindo reflexos nas estruturas familiares, especialmente em face do surgimento de novas formas de filiação. Os avanços tecnológicos a áreas da reprodução humana emprestaram significativo relevo à vontade, fazendo ruir todo o sistema de presunções da paternidade, da maternidade e da filiação.
PROBLEMA? Até o presente momento, não existe legislação específica para regulamentar as técnicas de reprodução humana assistida. Atualmente, cabe ao Conselho Federal de Medina, por meio de Resolução, definir normas éticas para os procedimentos.
RESOLUÇÃO 2121/2015 do CFM 3 (três) Técnicas são citadas na referida resolução; (i) HOMÓLOGA; (ii) HETERÓLOGA e (iii) GESTAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO.
1) Quem pode se submeter a estas técnicas? As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para o(a) paciente ou o possível descendente, sendo a idade máxima das candidatas à gestação de RA de 50 anos.
Existem limites? As técnicas de RA não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer outra característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenças do filho que venha a nascer. Em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida a utilização de procedimentos que visem a redução embrionária.
Existem um limite para transferência de embriões? O número máximo de oócitos e embriões a serem transferidos para a receptora não pode ser superior a quatro. Quanto ao número de embriões a serem transferidos, fazem- se as seguintes determinações de acordo com a idade: a) mulheres até 35 anos: até 2 embriões; b) mulheres entre 36 e 39 anos: até 3 embriões; c) mulheres com 40 anos ou mais: até 4 embriões; d) nas situações de doação de óvulos e embriões, considera-se a idade da doadora no momento da coleta dos óvulos.
NOVIDADES É permitido o uso das técnicas de RA para relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito a objeção de consciência por parte do médico. É permitida a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina em que não exista infertilidade.
É garantido o sigilo do doador? Será mantido, obrigatoriamente, o sigilo sobre a identidade dos doadores de gametas e embriões, bem como dos receptores. Em situações especiais, informações sobre os doadores, por motivação médica, podem ser fornecidas exclusivamente para médicos, resguardando-se a identidade civil do(a) doador(a).
É permitida a reprodução assistida post-mortem Sim, desde que haja autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente.
GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO ÚTERO)
REGRAS GERAIS As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau mãe; segundo grau irmã/avó; terceiro grau tia; quarto grau-prima). Demais casos estão sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
SEGURANÇA REGISTRO DE NASCIMENTO Termo de consentimento livre e esclarecido informado assinado pelos pacientes e pela doadora temporária do útero, contemplando aspectos biopsicossociais e riscos envolvidos no ciclo gravídico-puerperal, bem como aspectos legais da filiação.
Termo de Compromisso entre os pacientes e a doadora temporária do útero (que receberá o embrião em seu útero), estabelecendo claramente a questão da filiação da criança. Aprovação do cônjuge ou companheiro, apresentada por escrito, se a doadora temporária do útero for casada ou viver em união estável.
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA O AFETO COMO AGENTE TRANSFORMADOR
VÍNCULO BIOLÓGICO v.s SOCIOAFETIVO STF = Recurso Extraordinário (RE) 898060 O relator do RE 898060, ministro Luiz Fux, considerou que o princípio da paternidade responsável impõe que, tanto vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os envolvidos, quanto aqueles originados da ascendência biológica, devem ser acolhidos pela legislação. Segundo ele, não há impedimento do reconhecimento simultâneo de ambas as formas de paternidade socioafetiva ou biológica, desde que este seja o interesse do filho.
Para o ministro, o reconhecimento pelo ordenamento jurídico de modelos familiares diversos da concepção tradicional, não autoriza decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando o melhor interesse do descendente for o reconhecimento jurídico de ambos os vínculos.
E O DIREITO SUCESSÓRIO, como fica? Esse assunto será tema do nosso próximo WEBINAR. Obrigado!