Monografia de Investigação ERUPÇÃO ECTÓPICA DOS PRIMEIROS MOLARES PERMANENTES: ETIOLOGIA E PREVALÊNCIA. Joana Filipa Espírito Santo de Almeida

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Transcrição:

Monografia de Investigação MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA ERUPÇÃO ECTÓPICA DOS PRIMEIROS MOLARES PERMANENTES: ETIOLOGIA E PREVALÊNCIA Um estudo radiográfico Joana Filipa Espírito Santo de Almeida Porto 2012

Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 2

Erupção ectópica dos primeiros molares permanentes: etiologia e prevalência Um estudo Radiográfico Joana Filipa Espírito Santo de Almeida joanalmeida5@gmail.com Monografia de Investigação/ Relatório de Atividade Clínica, submetida à Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto para obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária, sob a orientação da Professora Doutora Ana Paula Coelho de Macedo Augusto, Professora Auxiliar da Disciplina De Odontopediatria. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 3

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Agradecimentos À minha família, por todo o apoio e compreensão nos momentos mais difíceis, por serem as pessoas a quem devo tudo. Aos meus amigos, sem os quais não teria chegado aqui, pelos momentos de estudo e também de diversão. À minha orientadora, Professora Doutora Ana Paula Macedo, pela paciência, apoio e disponibilidade demonstrados na orientação e ajuda na realização deste trabalho. Ao corpo docente e aos funcionários da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, por toda a transmissão de conhecimento. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 5

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Índice: Índice de Figuras:... 8 Índice de Tabelas:... 11 Resumo...Error! Bookmark not defined. Abstract... 15 1. Introdução... 17 2. Materiais e Métodos... 19 2.1. Amostra... 19 2.2. Tratamento de dados... 21 3. Resultados... 23 3.1. Dados da população... 23 3.2. Presença ou ausência de ectopia na amostra... 24 3.3. Considerando só os casos de ectopia (n=47)... 25 3.3.1. Localização em quadrante... 25 3.3.2. Fatores etiológicos de erupção ectópica dos primeiros molares permanentes... 27 3.4. Análise estatística... 30 4. Discussão... 31 4.1. Prevalência de erupção ectópica de primeiros molares permanentes... 31 4.2. Fatores etiológicos de erupção ectópica dos primeiros molares permanentes.. 32 4.3. Abordagem terapêutica... 34 5. Conclusão... 37 Referências bibliográficas... 39 Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 7

Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 8

Índice de Figuras: Figura 1 Informação demográfica dos participantes por idade e género. Figura 2 Distribuição da amostra segundo a presença/ausência de ectopia. Figura 3 Distribuição da amostra segundo presença de ectopia na maxila e mandíbula. Figura 4 Distribuição da amostra unilateralmente e bilateralmente. Figura 5 Distribuição da amostra unilateralmente e bilateralmente na maxila e mandíbula. Figura 6 Distribuição da amostra na escala de impactação do primeiro molar permanente contra a corora do segundo molar decíduo (n=6; 12,8%). Figura 7 Distribuição da amostra na escala de reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo (n=28; 59,6%). Figura 8 Distribuição da amostra segundo a inclinação do eixo axial do primeiro molar definitivo (n=3; 6,4%). Figura 9 Distribuição da amostra na presença ou ausência de cárie na face distal do segundo molar decíduo adjacente (n=7; 14,9%). Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 9

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Índice de Tabelas: Tabela 1 Informação demográfica dos participantes por idade e género. Tabela 2 Distribuição da amostra de primeira molar ectópica relativamente ao género. Tabela 3 Distribuição da amostra unilateralmente ou bilateralmente na maxila e mandíbula. Tabela 4 Distribuição de fatores etiológicos de erupção ectópica de primeiro molar permanente. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 11

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Resumo Introdução: A erupção ectópica do primeiro molar permanente caracteriza-se por um desvio do padrão normal de erupção. São vários os fatores etiológicos que estão na sua origem, considerando-se um distúrbio de etiologia multifatorial. Objetivos: O objetivo deste trabalho é determinar a prevalência de erupção ectópica de primeiros molares permanentes, bem como a sua etiologia, através da análise radiográfica de uma população pediátrica da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto. Material e Métodos: Foram observadas 550 radiografias panorâmicas, sendo 292 do sexo masculino e 258 do sexo feminino de idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos. Numa primeira fase, avaliou-se a presença ou ausência de erupção ectópica. Estando presente esta desordem, avaliou-se o fator etiológico em causa: inclinação do longo eixo do dente para mesial, considerando a reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo e a impactação do primeiro molar permanente contra a coroa do segundo molar decíduo; inclinação do longo eixo do dente para distal e a presença de cárie na face distal do segundo molar decíduo. Em primeiro lugar, foi realizada a análise estatística descritiva das variáveis em estudo e da sua frequência. Posteriormente, aplicou-se o teste do X 2 no qual é avaliado a associação da ectopia e variáveis em estudo. Aplicou-se também o teste de Spearman de modo a avaliar a existência de correlação entre a frequência de ectopia e a idade do paciente. Em ambos os testes o nível de significância é de 0,05. Resultados Analisando os resultados deste estudo, a prevalência obtida foi de 8,5% para esta população. Relativamente aos factores etiológicos que provocam este distúrbio, 72,3% das ectopias foram por mesioangulação do primeiro molar permanente; 4,3% por distoangulação e 14,9% por cárie na face distal do segundo molar decíduo. Considerando o fator mesioangulação, 12,8% aconteceram por impactação do primeiro molar permanente contra a coroa do segundo molar decíduo e 59,6% por reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo. Na avaliação dos resultados do teste do X 2 e do teste de Spearman, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 13

Discussão A prevalência deste estudo é ligeiramente superior a estudos publicados. Os fatores etiológicos observados foram avaliados segundo escalas de 2 e 4 graus, obtendo resultados mais concretos. Conclusão A erupção ectópica de primeiros molares permanentes é um distúrbio local com alguma prevalência na população, que comparativamente com estudos efetuados apresenta uma maior prevalência. O médico dentista necessita de fazer um diagnóstico precoce para prevenir este tipo de distúrbio. Palavras-chave: erupção ectópica; erupção do primeiro molar permanente; factores etiológicos da ectopia do molar; tipos de erupção ectópica de primeiro molar permanente; tratamento para erupção ectópica de primeiros molares permanentes. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 14

Abstract Introduction Ectopic eruption of first permanent molars is a local disturbance characterized by eruption of these teeth out of is place. This abnormality can be caused by many etiologic factors. Objectives - This study aimed to examine the etiology and prevalence of ectopic eruption of first permanent molars in children between 5 and 9 years old from Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, through radiographic analysis. Material and Methods - To achieve the objectives of this study, 550 panoramic radiographics were reviewed, 292 males and 258 females. First was evaluated the presence or absence of ectopic eruption. The four etiologic factors were analyzed: mesioangulation of the first permanent molar, distal inclination of the first permanent molar and presence of carie in the distal surface of second primary molar. Primarly was done the descriptive statistical analysis of the studied variables and respective frequency. The Chi-Square test and the Spearman Correlation were applied to achieve the association and correlation of variables in study, respectively. The significance level is the 0,05. Results - The results of this study indicated that the prevalence of this abnormality is higher in this population (8,5%). In the etiologic factors, 72,3% correspond to mesioangulation of the first permanent molar; 4,3% for distoangulation and 14,9% for carie in the distal surface of the second primary molar. Discussion - There is a mismatch between the prevalence of this study with others studies reviewed. In this study, 8,5% of the population suffers of ectopic eruption of first permanent molar. Conclusion - We can assume that this abnormality has a high prevalence in the population. The dentist needs to make an earlier diagnosis to prevent these cases. Keywords: ectopic eruption; eruption of first molar; etiologic factors; types of ectopic eruption of first permanent molar, treatment. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 15

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1. Introdução O processo eruptivo é um processo biológico complexo no qual o dente migra da sua posição intra-óssea até à sua posição funcional na cavidade oral (1-4). Consideram-se 3 estadios durante este processo: um primeiro estadio pré-eruptivo onde se inicia o desenvolvimento do folículo dentário e o movimento do dente em direcção ao plano oclusal; um segundo estadio pré-funcional desde a emergência do dente na cavidade oral até ao contacto com o seu antagonista e um terceiro estadio funcional considerando a funcionalidade do dente na cavidade oral (5). São vários os distúrbios eruptivos que se manifestam durante o período de transição de dentição decídua para permanente (2). A erupção do primeiro molar permanente marca o início da dentição mista e dada a sua importância foi denominada por Angle como a chave da oclusão. Com a erupção dos primeiros molares permanentes, ocorre a segunda fase de intercuspidação da oclusão(6). A erupção ectópica do primeiro molar permanente é um distúrbio local caracterizado por um desvio do padrão normal de erupção (7, 8). Dos estudos feitos verifica-se que a prevalência desta patologia varia entre 1.8% e 6% (7-15). Considera-se um padrão de erupção normal quando o primeiro molar inicia o seu trajeto eruptivo mesialisado até contactar com a superfície distal do segundo molar decíduo, seguindo uma via eruptiva vertical até atingir o plano oclusal (15). A erupção correcta do primeiro molar permanente é de especial importância uma vez que é um dente importante para o equilíbrio oclusal proporcionando uma mastigação e um crescimento facial equilibrado (3). A etiologia desta patologia é multifactorial (1, 12, 13, 15). Estes, são alguns dos fatores etiológicos que podem condicionar a erupção normal do primeiro molar: perda prematura do segundo molar decíduo e consequente mesialização molar (2, 16-18) ; mesioangulação do eixo axial do dente (15, 19) ; falta de espaço para um molar grande com uma base maxilar pequena (9, 12, 15, 20) e a inclinação do longo eixo do dente para distal (1, 9, 15, 20). Também a condição genética pode alterar este processo (1, 3, 5, 11, 12, 21, 22). A erupção ectópica do primeiro molar permanente pode ser classificada como reversível ou irreversível. É considerada reversível quando há uma correção Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 17

espontânea da trajetória do dente, conseguindo atingir a posição respetiva. É irreversível quando o dente não corrige a sua via eruptiva permanecendo em posição atípica. Esta última condição potencia o desenvolvimento de problemas oclusais (8, 12, 15). O diagnóstico e tratamento precoces podem prevenir o desenvolvimento desta patologia (11) e, consequentemente, de uma má oclusão (2, 12, 20). O diagnóstico é maioritariamente radiológico (1, 2, 7, 8, 12, 15). A avaliação é feita através de ortopantomografias e complementada com avaliação intra-oral do paciente (7, 8, 12). Radiologicamente, avalia-se se há Impactação do primeiro molar (12) ; o grau de reabsorção radicular do segundo molar decíduo e a posição do primeiro molar permanente considerando a inclinação axial do seu eixo (7). Clinicamente, considera-se o atraso na erupção; o aparecimento parcial da coroa do primeiro molar permanente, nomeadamente da cúspide distal, e mobilidade excessiva do segundo molar decíduo (15). São várias as abordagens terapêuticas que se podem adotar (9). Numa primeira fase, com intuito preventivo, procede-se ao tratamento de cáries existentes na face distal do segundo molar decíduo de modo a que a guia eruptiva não fique alterada. O diagnóstico precoce previne o desenvolvimento desta anomalia. O dente pode autocorrigir a sua via de erupção ou então ser necessário adotar medidas preventivas. A execução de desgastes no segundo molar temporário ou a eliminação do obstáculo à erupção (coroas de aço ou excesso de material de obturação). Em situações mais graves pode ser necessário tratamento interceptivo (1, 2, 4, 15). Pode-se deslocar o primeiro molar permanente para distal com uma mola ou fio de latão ou extrair o segundo molar decíduo e posterior correção ortodôntica (23). Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 18

2. Materiais e Métodos A pesquisa bibliográfica utilizada neste estudo foi obtida pela base de dados da Natural Library of Medicine PUBMed-Medline e utilizando os recursos existentes na Biblioteca da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto. Os artigos científicos revistos foram enquadrados no tema erupção ectópica de primeiros molares permanentes, obtidos com as seguintes palavras chave: erupção ectópica; erupção do primeiro molar permanente; factores etiológicos da ectopia do molar; tipos de erupção ectópica de primeiro molar permanente; tratamento para erupção ectópica de primeiros molares permanentes. Para o material bibliográfico foram utilizados artigos que datam do ano 1997 e posteriores. Este estudo tem como objectivo avaliar os factores etiológicos documentados e a prevalência de primeiros molares ectópicos definitivos em crianças com dentição mista. 2.1. Amostra Para a realização deste estudo foi obtida a autorização da Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, bem como a autorização do Director da Clínica Professor Fernando Peres da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, Professor Doutor Germano Rocha, só se iniciando a pesquisa após a aprovação de ambas as entidades. Este estudo baseou-se em estudos semelhantes efectuados em outros países (7, 12). O estudo realizado consistiu na avaliação de todos os processos de pacientes entre os 5 e os 9 anos registados na Faculdade de Medicina Dentária do Universidade do Porto. Dos 607 processos revistos foram eliminados 57, dos quais 30 por serem portadores de síndromes e 27 por radiografias panorâmicas inviáveis para o estudo (n=550). A observação foi feita com base na posição do primeiro molar definitivo maxilar e mandibular durante o seu processo eruptivo, numa fase de transição dentição decídua para dentição mista. Em cada radiografia panorâmica avaliou-se a presença ou ausência de ectopia, se a mesma era unilateral ou bilateral manifestando-se mais do lado direito (1º e 4º quadrantes) ou do lado esquerdo (2º e 3º quadrantes). Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 19

Para análise da etiologia da ectopia do primeiro molar definitivo foram avaliados 4 fatores: inclinação do longo eixo do dente para mesial e para distal; cárie na face distal do segundo molar decíduo adjacente. A mesioangulação do dente foi avaliada através de duas componentes distintas: a reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo adjacente e a impactação do primeiro molar permanente. I. Impactação do primeiro molar definitivo contra a coroa do segundo molar decíduo adjacente, segundo uma escala de 4 graus; II. Reabsorção atípica da raíz distal do segundo molar decíduo por inclinação mesial do primeiro molar permanente definitivo, segundo uma escala da 4 graus; III. Distalização molar inclinação do londo eixo do primeiro molar definitivo para distal, segundo uma escala de 2 graus; IV. Cárie presença ou ausência de cárie na face distal do segundo molar decíduo adjacente, segundo uma escala de 2 graus. As escalas adotadas são de Barberia-Leache e Chintakanon, pois são as mais simples e acessíveis para a avaliação. I. Escala de impactação (7) : 0 normal ou sem sinais de impactação; 1 impactação leve (menos de metade do comprimento mesiodistal do dente); 2 impactação moderada (mais de metade do comprimento mesiodistal do dente); 3 impactação severa (todo o comprimento mesiodistal do dente). II. Escala de reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo (7, 12) : 0 sem reabsorção radicular; 1 reabsorção radicular que envolve menos de metade da espessura da dentina. 2 reabsorção radicular que envolve mais de metade da espessura da dentina sem envolver a polpa; 3 reabsorção radicular severa que envolve a polpa. Relativamente à presença de cárie na face distal do segundo molar decíduo consideraram-se: 0 sem cárie; 1 com cárie. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 20

Relativamente à inclinação do longo eixo do dente para distal consideraram-se: 0 normal; 1 distalizado. O género do paciente bem como a idade até à data de observação foram considerados para este estudo. Para diminuir o erro intra-observador, as radiografias panorâmicas foram observadas por 2 vezes com a diferença de 2 semanas. 15% da amostra foi vista por outro observador para calibrar o estudo. 2.2. Tratamento de dados A análise estatística foi feita na base de dados IBM SPSS Statistics versão 20. Foi realizada a estatística descritiva com as variáveis idade, género, hemiarcada direita ou esquerda, maxila e mandíbula, impactação a reabsorção da raiz distal por mesioangulação do primeiro molar definitivo, distoangulação e cárie. Os dados avaliados são categóricos, ordinais ou nominais, designados não paramétricos. A análise estatística foi realizada através dos resultados obtidos pela observação. Para uma melhor interpretação dos resultados, aplicaram-se dois testes estatísticos. O teste do qui-quadrado (X 2 ) em que se avalia a associação entre as variáveis género e ectopia. A correlação de Spearman de modo a avaliar a existência de correlação entre a frequência de ectopia e a idade. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 21

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3. Resultados Os dados obtidos para elaborar a análise estatística foram selecionados de uma amostra de 607 pacientes com idades compreendidas entres os 5 e os 9 anos. Do total da amostra foram excluídos 57 pacientes por não cumprirem os requisitos do estudo. O valor da amostra foi de 550 pacientes. A recolha dos dados foi realizada pelo mesmo observador, tendo em consideração a presença ou ausência de ectopia e 4 factores etiológicos na sua origem: impactação pelo segundo molar decíduo adjacente; reabsorção da raiz distal do segundo molar decíduo adjacente, inclinação distal do eixo axial do primeiro molar definitivo e cárie na face distal do segundo molar decíduo adjacente. Os dados obtidos foram apresentados em forma de tabela e gráficos. 3.1. Dados da população A amostra consistia em 550 indivíduos, mais especificamente 292 do sexo masculino e 258 do sexo feminino (tabela 1). Tabela 1- Informação demográfica dos participantes por idade e género. Género Idade Masculino Feminino Total 5 2 0 2 6 57 59 116 7 61 41 102 8 60 74 134 9 112 84 196 Total 292 258 550 Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 23

Percentagem (%) Erupção ectópica de primeiros molares permanentes 25 20 15 10 Masculino Feminino 5 0 5 6 7 8 9 Idade (anos) Figura 1 Informação demográfica dos participantes por idade e género. 3.2. Presença ou ausência de ectopia na amostra Das radiografias panorâmicas avaliadas, 47 manifestam ectopia do primeiro molar permanente, correspondendo a 8,5% de uma população de 550 pacientes (gráfico 2). 8,5% Ausente Presente 91,5% Figura 2 - Distribuição da amostra segundo a presença/ausência de ectopia. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 24

Dos 47 casos diagnosticados, 4,5% são do género masculino e 4% são do género feminino, não havendo relação estatisticamente significativa, pois p>0,05. Tabela 2 Distribuição da amostra de primeiro molar ectópica relativamente ao género. Género Masculino Feminino N % n % Ectopia Presente 25 4,5 22 4 Ausente 267 48,5 236 42,9 p=0,988 Total 292 53,1 258 46,9 As variáveis, com o teste do X 2 não apresentam associação pois p>0,05. 3.3. Considerando só os casos de ectopia (n=47) 3.3.1. Localização em quadrante Ao avaliar a prevalência de ectopia maxilar e mandibular constatou-se que, cerca de 97,9% ocorrem na maxila e 2,1% na mandíbula, prevalecendo assim os casos a nível maxilar. 2,1% Maxila Mandíbula 97,9% Figura 3 - Distribuição da amostra segundo presença de ectopia na maxila e mandíbula. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 25

53,2% 46,8% Unilateral Bilateral Figura 4 - Distribuição da amostra unilateralmente e bilateralmente. A ectopia do primeiro molar permanente manifesta-se mais a nível maxilar bilateralmente, sendo mais comum no 1ºquadrante e 2º quadrante (tabela 3). Tabela 3 Distribuição da amostra unilateralmente ou bilateralmente na maxila e mandíbula. Unilateral Esquerdo Direito Bilateral Total n % N % n % N % Mandíbula 0 0 1 2,1 0 0 1 2,1 Maxila 9 19,1 12 25,6 25 53,2 46 97,9 Total 9 19,1 13 27,7 25 53,2 47 100 Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 26

Percentagem % Erupção ectópica de primeiros molares permanentes Esta anomalia manifesta-se unilateralmente em 46,8% dos casos e bilateralmente em 53,2% dos casos. Nos casos com manifestação unilateral, 19,1% são do lado esquerdo e 35,6% do lado direito. 60 50 53,2 40 30 20 19,1 25,6 Mandibula Maxila 10 0 0 2,1 0 Esquerdo Direito Bilateral Unilateral Figura 5 - Distribuição da amostra unilateralmente e bilateralmente na maxila e mandíbula. 3.3.2. Fatores etiológicos de erupção ectópica dos primeiros molares permanentes Tabela 4 Distribuição dos fatores etiológicos de ectopia do primeiro molar permanente. Ectopia do primeiro molar permanente n % Impactação 6 12,77 Fatores etiológicos Mesioangulação Distoangulação Reabsorção da raíz distal do 2º molar decíduo Cárie na face distal do segundo molar decíduo Pelo menos dois fatores presentes 28 59,57 2 4,26 7 14,89 4 8,51 Total 47 100 Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 27

A. Impactação do primeiro molar permanente contra a coroa do segundo molar decíduo adjacente. 6,4% 0% 12,8% Grau 0 Grau 1 Grau 2 Grau 3 80,9% Figura 6 - Distribuição da amostra na escala de impactação do primeiro molar permanente contra o segundo molar decíduo (n=6; 12,8%). B. Reabsorção atípica da raíz distal do segundo molar decíduo adjacente ao primeiro molar definitivo ectópico. 27,7% 31,9% 0,0% Grau 0 Grau 1 Grau 2 Grau 3 40,4% Figura 7 - Distribuição da amostra na escala de reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo (n=28; 59,6%). Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 28

C. Inclinação do eixo axial do primeiro molar permanente durante o seu trajecto eruptivo, considerando apenas uma inclinação normal ou distalizada. 6,4% Normal Distalizado 93,6% Figura 8 - Distribuição da amostra segundo a inclinação do eixo axial do primeiro molar definitivo (n=3; 6,38%). D. Presença ou ausência de cárie na face distal do segundo molar decíduo adjacente ao primeiro molar ectópico definitivo. 14,9% Presente Ausente 85,1% Figura 9 - Distribuição da amostra na presença ou ausência de cárie na face distal do segundo molar decíduo adjacente (n=7; 14,9%). Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 29

3.3. Análise estatística Iniciou-se a análise estatística com a avaliação da associação entre o género e a presença de ectopia. Com essa finalidade, utilizou-se o teste do qui-quadrado, onde não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p=0,988; p>0,05) entre o género e a presença de ectopia. Relativamente à correlação de Spearman, foi encontrada uma correlação significativa mas inversa (r=-0,103; p<0,05), ou seja, quando uma das variáveis aumenta a outra diminui. Este teste correlaciona a idade e frequência de ectopia. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 30

4. Discussão A erupção ectópica do primeiro molar permanente é um distúrbio local de etiologia multifatorial (1, 7, 12-14). O diagnóstico realiza-se através da avaliação da radiografia panorâmica de uma criança a iniciar a fase de dentição mista (12). Este estudo avalia dois parâmetros: a prevalência de erupção ectópica numa população e os seus fatores etiológicos. Dos fatores etiológicos que podem desencadear este distúrbio foram observados a inclinação do longo eixo do primeiro molar permanente para mesial e para distal e a presença de cárie na face distal do segundo molar decíduo. Todos os fatores enumerados são visíveis na radiografia panorâmica. 4.1. Prevalência de erupção ectópica de primeiros molares permanentes A prevalência da erupção ectópica do primeiros molares definitivos obtida por este estudo é superior comparativamente a estudos semelhantes (7, 12). Segundo vários autores, a prevalência deste distúrbio encontra-se entre os 1,8% e os 6% (7, 12-15), sendo que a obtida neste estudo foi de 8,5%. A diferença observada pode estar relacionada com a população estudada e com o método de diagnóstico adotado. O diagnóstico realizou-se com base na radiografia panorâmica em crianças de diferentes grupos etários, 5 anos e 6 meses até 9 anos e 11 meses, com o intuito de avaliar as várias fases do trajeto eruptivo do primeiro molar permanente. Chintakanon diagnosticou avaliando a ortopantomografia e a cefalometria frontal de cada paciente e Barberia- Leache avalia apenas radiografias panorâmicas. Ambos desenvolveram estudos longitudinais numa população relativamente mais elevada comparativamente à avaliada no presente estudo (7, 12). A prevalência de erupção ectópica do primeiro molar permanente em indivíduos do sexo masculino é de 4,5% e em indivíduos do sexo feminino é de 4%, demonstrando a semelhança da anomalia em estudo nos dois géneros, uma vez que as percentagens obtidas são similares. Segundo vários autores, a frequência de ectopia também é Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 31

coincidente em ambos os géneros (12). Em contrapartida, Nagaveni refere uma frequência maior nos indivíduos do sexo masculino (13). A média de idades dos indivíduos desta amostra é de 8,26 anos. Considerando só os casos de ectopia, a média diminui ligeiramente para 7,84 anos, sendo este um valor de tendência central. Segundo Barberia-Leache, a idade de diagnóstico deste distúrbio é cerca de 7 anos e 6 meses (12), semelhante ao valor obtido no presente estudo. Contudo, o diagnóstico precoce previne o desenvolvimento desta anomalia o que poderia diminuir substancialmente a idade referida. O diagnóstico precoce só é efetivo quando a criança, na fase 5/6 anos, visita periodicamente o médico dentista com um intervalo de 3-6 meses (9, 12, 15). Relativamente à distribuição de erupção ectópica, 46,8% manifesta-se unilateralmente e 53,2% manifesta-se bilateralmente. Os resultados são semelhantes entre eles mas diferem comparativamente a estudos revistos. Barberia-Leache refere que ectopia bilateral (63,6%) é quase duas vezes superior à unilateral (36,4%) (12). A diferença observada pode ser devida ao facto de, o estudo referido não avaliar o fator etiológico cárie dentária na face distal do segundo molar decíduo. Relativamente à prevalência do lado direito ou do lado esquerdo, 35,6% manifesta-se do lado direito e 19,1% do lado esquerdo. De acordo com Barberia-Leache, o lado mais afetado também é o direito (12). A maxila é a arcada em que a prevalência de erupção ectópica do primeiro molar definitivo é mais elevada. No estudo aqui apresentado obteve-se 97,9% dos casos na maxila e 2,1% na mandíbula. Este resultado está em concordância com vários estudos em que a ectopia do primeiro molar é mais comum na maxila (7, 8, 12, 23). 4.2. Fatores etiológicos de erupção ectópica de primeiros molares permanentes A etiologia deste distúrbio local ainda não foi totalmente esclarecida, mas existem fatores que são considerados como causas comuns de ectopia do primeiro molar permanente (13, 15) (9, 15). Alguns autores sugerem o comprimento da arcada e mesiangulação do eixo axial do dente como causas mais prováveis (7, 9, 14, 15). Outros consideram a presença de cárie na face distal do segundo molar temporário, a angulação do longo eixo do dente durante o seu trajeto eruptivo (mesioangulação e a Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 32

distoangulação) (7, 17, 24), a anatomia do segundo molar decíduo por apresentar uma superfície distal convexa, o primeiro molar permanente ser grande para uma base maxilar pequena, o atraso na cronologia de erupção e na calcificação, mobilidade (8, 15, 17, excessiva ou esfoliação precoce do segundo molar decíduo sem causa aparente 18), cronologia de erupção não sincronizada entre o primeiro molar permanente superior e o crescimento da tuberosidade, a posição da maxila relativamente à base do crâneo ser mais posterior (7, 9, 13), micromaxilia, presença de fenda palatina ou labial (8, 9), agenesia do segundo pré-molar e tendência familiar (7, 13, 15). Dos fatores enumerados foram selecionados para este estudo os 4 fatores etiológicos comuns e mensuráveis através da ortopantomografia. A mesioangulação do eixo axial do dente durante o trajecto eruptivo medida através do grau de reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar temporário adjacente e do grau impactação do primeiro molar definitivo contra o segundo molar decíduo adjacente, a distoangulação axial do primeiro molar definitivo durante o seu trajeto eruptivo e a presença de cárie na face distal do segundo molar decíduo. O segundo molar decíduo exerce um papel fundamental no desenvolvimento desta anomalia. Como este dente exerce a função de guia eruptivo do primeiro molar definitivo, direciona o seu trajeto até ao plano oclusal. As alterações que sofre potenciam o desenvolvimento de erupção ectópica do primeiro molar permanente (6, 15). Dos fatores estudados, o mais prevalente é a mesioangulação do primeiro molar permanente durante o seu trajecto eruptivo (72,3%). Este fator provoca a reabsorção atípica na raiz distal do segundo molar decíduo e nas situações em que a erupção está avançada pode provocar impactação do primeiro molar contra a coroa do segundo molar decíduo adjacente. O primeiro molar permanente inicia o seu trajeto eruptivo acompanhando a raiz distal do segundo molar decíduo adjacente. O molar superior descreve um movimento de cima para baixo, onde o seu eixo axial está inicialmente direcionado para distal e vai verticalizando gradualmente até atingir o plano oclusal. O molar inferior inicia a sua erupção com o longo eixo orientado para mesial e, à medida que se dirige ao plano oclusal, verticaliza gradualmente (6, 25, 26). Quando o primeiro molar, durante o seu trajeto eruptivo assume uma inclinação mesializada provoca a sua erupção ectópica. No presente estudo, o fator etiológico mais prevalente, de entre os dois enumerados, foi a reabsorção atípica da raiz distal do segundo molar decíduo, Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 33

avaliado em 59,6% dos casos. A impactação do primeiro molar contra a coroa do decíduo adjacente manifestou-se em 12,8% dos casos. Estes dois fatores sofrem grande variabilidade (12). Para Becktor et al, a rebasorção atípica da raiz do segundo molar decíduo manifesta-se em 23,3% dos casos (11). Segundo Rizzatto, a reabsorção atípica da raiz pode estender-se até à câmara pulpar resultando na elevada mobilidade do dente ou mesmo a sua deslocação na arcada, assumindo que o diagnóstico foi tardio (15). Para Barberia-Leache, 27,2% são impactados e o segundo molar decíduo fica comprometido, devido à elevada reabsorção sofrida (12). O paciente pode referir dor e desconforto e o dente pode desenvolver um processo apical. Nestes casos, a extracção é indicada bem como a utilização de mecanismos ortodônticos para não perder o espaço (15). A presença de cárie dentária no segundo molar decíduo por perda da sua dimensão mesiodistal, pode ser causa da erupção ectópica do primeiro molar permanente. Neste estudo, o fator etiológico cárie na face distal do segundo molar decíduo foi observada em 14,9% da amostra (n=47). O resultado obtido foi inferior aos documentados (7). Esta discrepância pode estar relacionada com o facto de não ser contabilizado a ausência do segundo molar decíduo uma vez que não era conhecido a causa da sua perda, mesmo sendo a cárie dentária o mais provável. 4.3 Abordagem terapêutica Estão documentados duas classificações de erupção ectópica do primeiro molar permanente, a reversível ou jump type e a irreversível ou hold type. Durante a erupção, o primeiro molar pode iniciar o seu trajeto mesioangulado e reposicionar-se de modo a assumir de novo a posição correta e atingir o plano oclusal. Designa-se a este tipo de erupção reversível. Se permanecer impactado de modo a ser necessário tratamento ou a provocar uma esfoliação precoce espontânea do adjacente designa-se irreversível (9, 12, 13). A abordagem terapêutica varia de acordo com o tipo de erupção ectópica. Quando a erupção ectópica ainda é reversível, o tratamento tem um intuito preventivo. Numa primeira fase, procede-se ao tratamento de cáries existentes na face distal do segundo molar decíduo de modo a que a guia eruptiva não fique alterada. O Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 34

diagnóstico precoce previne o desenvolvimento desta anomalia local (2) evitando a perda de 6-8mm por quadrante (13). Para isso, o paciente deve ser observado de 4 a 6 meses, controlando o trajeto eruptivo do primeiro molar permanente. O dente pode autocorrigir a sua via de erupção ou então ser necessário adotar medidas preventivas. A execução de desgastes no segundo molar temporário ou a eliminação do obstáculo à erupção (coroas de aço ou excesso de material de obturação) funcionam como medida preventiva do desenvolvimento desta anomalia. Em situações irreversíveis pode ser necessária intercepção com correção ortodôntica (1, 2, 4, 15). Pode-se deslocar o primeiro molar permanente para distal com uma mola ou fio de latão ou extrair o segundo molar decíduo e posterior correção ortodôntica. O objetivo é redirecionar o molar que se encontra a erupcionar ectopicamente, distalmente ao segundo molar decíduo no qual a raiz distal está a ser reabsorvida, de modo a obter espaço e a corrigir o trajeto mesial e assim permitir uma erupção normal (13). Se o tratamento não for bem sucedido, há perda de comprimento da arcada e espaço insuficiente para a erupção do segundo pré-molar com consequente desenvolvimento de uma má oclusão (2). Neste estudo, de acordo com estudos citados, obtém-se uma prevalência desta desordem ligeiramente aumentada (7, 12). Relativamente aos fatores etiológicos estudados, a mesioangulação do primeiro molar permanente foi aquele que mais se evidenciou. É importante a realização de um diagnóstico precoce por parte do médico dentista. Uma abordagem preventiva ou intercetiva de modo a evitar que o primeiro molar erupcione ectopicamente, e evitar assim o desenvolvimento de uma possível máoclusão. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 35

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5. Conclusão A prevalência de erupção ectópica de primeiros molares permanentes é de 8,5% em indivíduos dos 6 aos 9 anos. Na maxila é mais frequente que na mandíbula, pois atinge 97,9% dos casos. A reabsorção radicular é um dos sinais evidentes desta anomalia provocada pelo fator etiológico mais comum: mesioangulação (72,3%). Dos vários fatores etiológicos referidos no estudo, o importante é que a via eruptiva não seja afetada e que as guias eruptivas se encontrem normais de modo a funcionarem como uma orientação fidedigna à erupção do primeiro molar. O médico dentista deve adotar uma conduta preventiva de modo a minimizar a progressão de casos de erupção ectópica do primeiro molar permanente por todas as consequências que dá possam advir. Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 37

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