PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Documentos relacionados
DOI: /cab.v11i3.5492

IDENTIFICAÇÃO MORFOMÉTRICA DE LARVAS INFECTANTES DE CIATOSTOMÍNEOS (NEMATODA: CYATHOSTOMINAE) DE EQUINOS PSI

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA ANTI-HELMÍNTICA EM REBANHO OVINO DO ALTO URUGUAI CATARINENSE

Levantamento de Parasitas gastrointestinais em equinos na região de Dois Vizinhos - PR

AUTOR(ES): ÉVERTON OLIVEIRA CALIXTO, CLEBER VITOR JOSE DOS SANTOS, JAMES ANDRÉ DIAS, LUCAS CHIARONI SOARES

EFICÁCIA DO ALBENDAZOLE, CLORIDRATO DE LEVAMISOL, MOXIDECTINA E NITROXINIL NO CONTROLE PARASITÁRIO DE CORDEIRAS

Resistência de helmintos gastrintestinais de bovinos a anti-helmínticos no Planalto Catarinense

Palavras-chave: anti- helmínticos, nematódeos, ovinocultura, vermífugos

Resistência de Cooperia spp. e Haemonchus spp. às avermectinas em bovinos de corte

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Resistência anti-helmíntica em equinos no Brasil. Prof. Dr. Ricardo Velludo Gomes de Soutello

ATIVIDADE ANTI-HELMÍNTICA DO TRICLORFON E CLOSANTEL EM CORDEIROS NATURALMENTE INFECTADOS POR HAEMONCHUS SP

RESISTÊNCIA ANTI-HELMÍNTICA EM PEQUENOS RUMINANTES DO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, BRASIL

AÇÃO ANTI-HELMÍNTICA IN VITRO

OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO POR DICTYOCAULUS VIVIPARUS EM BEZERROS NO MUNICÍPIO DE BOTUCATU, SP.

Eficácia do praziquantel e da ivermectina em equinos infectados naturalmente com ciatostomíneos

RESISTÊNCIA DO Haemonchus contortus E OUTROS PARASITAS GASTRINTESTINAIS AO LEVAMISOL, CLOSANTEL E MOXIDECTINA EM UM REBANHO NO NOROESTE DO PARANÁ

RESISTÊNCIA ANTI-HELMÍNTICA EM REBANHOS OVINOS DA REGIÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ALTO IRANI (AMAI), OESTE DE SANTA CATARINA*

PERFIL DE PARASITAS GASTROINTESTINAIS ENCONTRADOS EM EQUINOS DE ESPORTE DE DUAS CABANHAS DE CAVALOS CRIOULOS

LIMA, M. M. de et al.

Nematódeos resistentes a anti-helmíntico em rebanhos de ovinos e caprinos do estado do Ceará, Brasil

Archives of Veterinary Science ISSN X

Resistência anti-helmíntica no Brasil Situação em bovinos. Prof. Fernando de Almeida Borges UFMS

- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -

EFICÁCIA DE IVERMECTINA E ALBENDAZOL CONTRA NEMATÓDEOS GASTRINTESTINAIS EM REBANHO OVINO NATURALMENTE INFECTADO NO MUNICÍPIO DE PALMAS-TO, BRASIL.

POTENCIAL ANTI-HELMÍNTICO DA RAIZ DE Solanum paniculatum LINNAEUS (1762) EM OVELHAS DO SEMI-ÁRIDO PARAIBANO

Folhas de Bananeira no Controle de Nematódeos Gastrintestinais de Ovinos

Resistência de nematoides aos anti-helmínticos nitroxinil 34% e ivermectina 1% em rebanho ovino no município de São João do Ivaí, Paraná

Eficácia da Associação Closantel Albendazol e Ivermectina 3,5 no Controle da Helmintose de Ovinos da Região Norte do Estado do Paraná

RESISTÊNCIA ANTI-HELMÍNTICA EM CAPRINOS NO

Comunicado 97 Técnico

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTI-HELMÍNTICA DO EXTRATO AQUOSO DE CHENOPODIUM AMBROSIOIDES (MASTRUZ) SOBRE NEMATÓDEOS GASTRINTESTINAIS DE OVINOS

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Ciatostomíneos: uma revisão sobre a biologia, importância clínica e controle

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Comunicado108 Técnico

EFICÁCIA DE TRÊS DIFERENTES ANTI-HELMÍNTICOS EM REBANHO OVINO NA REGIÃO NOROESTE DO PARANÁ, BRASIL

ANTI-HELMÍNTICOS NA ENTRADA DO CONFINAMENTO DE BOVINOS

Comunicado108 Técnico

AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE ABAMECTINA E IVERMECTINA NO CONTROLE DAS HELMINTOSES GASTROINTESTINAIS EM OVINOS

Resistência de nematoides aos anti-helmínticos nitroxinil 34% e ivermectina 1% em. rebanho ovino no município de São João do Ivaí, Paraná

II SIMPAGRO da UNIPAMPA

Semina: Ciências Agrárias ISSN: X Universidade Estadual de Londrina Brasil

Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária ISSN: X Colégio Brasileiro de Parasitologia Veterinária.

HELMINTOS EM EQUINOS DE CABANHA DA CIDADE DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS PR 1 RESUMO

EFICÁCIA DE TRÊS DIFERENTES ANTI-HELMÍNTICOS EM REBANHO OVINO NA REGIÃO NOROESTE DO PARANÁ, BRASIL

MONITORAMENTO DA ENDOPARASITOSE DAS RAÇAS TEXEL E SUFFOLK NAS DIFERENTES ESTAÇÕES DO ANO 1

PARASITAS GASTRINTESTINAIS DE OVINOS CRIADOS NA REGIÃO DE RONDONÓPOLIS-MT GASTROINTESTINAL PARASITES OF SHEEP RAISED IN THE REGION OF RONDONÓPOLIS-MT

Eficácia anti-helmíntica comparativa da associação albendazole, levamisole e ivermectina à moxidectina em ovinos

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO DE VERMINOSE EM EQÜINOS DE TRAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS DE MONTES BELOS

Archives of Veterinary Science ISSN X

ATIVIDADE PREDATÓRIA DO FUNGO Duddingtonia flagrans SOBRE LARVAS INFECTANTES DE ESTRONGILÍDEOS PARASITOS DE EQUINOS NA PASTAGEM NO SUL DO BRASIL

GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN ) DIFERENTES PRINCÍPIOS ATIVOS NO CONTROLE DE HELMINTOS GASTRINTESTINAIS EM OVINOS

CONTROLE DE ENDOPARASITAS EM OVINOS RECEBENDO FOLHAS DE NIM (Azadirachta indica) NO SUPLEMENTO MINERAL

ATIVIDADE DA IVERMECTINA E DO MEBENDAZOL SOBRE HELMINTOS DA SUPERFAMÍLIA STRONGYLOIDEA EM ANIMAIS DE TRAÇÃO

PARASITISMO NUM NÚCLEO DE CAVALOS DE RAÇA SORRAIA

RESISTÊNCIA A ANTI-HELMÍNTICOS EM NEMATÓIDES GASTRINTESTINAIS DE OVINOS E CAPRINOS, NO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE, ESTADO DO CEARÁ

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE UMA FORMULAÇÃO COMERCIAL CONTENDO TORTA DE NIM NO CONTROLE DE NEMATÓIDES GASTRINTESTINAIS DE EQUINOS

Palavras-chave: parasitos, gatos, ocorrência Keywords: parasites, cats, occurrence

EFICÁCIA DE DIFERENTES FÁRMACOS NO CONTROLE PARASITÁRIO EM OVINOS

PARASITISMO GASTRINTESTINAL EM ASININOS DA RAÇA MIRANDESA

Modelo para monitoramento da resistência parasitária e tratamento anti-helmíntico seletivo em rebanhos experimentais de ovinos e caprinos

TRATAMENTO DE CUTIAS (DASYPROCTA LEPORINA) NATURALMENTE INFECTADAS POR HELMINTOS

Utilização de Folhas da Bananeira no Controle de Nematódeos Gastrintestinais de Ovinos na Região Semiárida

INTRODUÇÃO. Criações de animais com fins produtivos apresentam drásticas perdas associadas principalmente RESUMO

JANEIRO: COMPROVAÇÃO DE RESISTÊNCIA A COMPOSTOS BENZIMIDAZÓIS A NÍVEL DE CAMPO. AUGUSTO SÉRGIO WILWERTH DA CUNHA

AÇÕES EM PARASITOLOGIA VETERINÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DO ALTO URUGUAI CATARINENSE

Forma farmacêutica. Nome de fantasia do medicamento. Frequência e via de administração. titular da Autorização de Introdução no Mercado.

Sensibilidade dos nematódeos gastrintestinais de caprinos ao ivermectin na região da Grande Porto Alegre - RS

EFEITOS DO EXTRATO DE ALHO AQUOSO NO CONTROLE DA VERMINOSE EM BOVINOS DE LEITE DA RACA HOLANDESA

ESTUDO COMPARATIVO DA EFICIÊNCIA DO FENBENDAZOL E DO MEBENDAZOL NO CONTROLE DE ESTRONGILÍDEOS DE EQUINOS

Controle estratégico de nematódeos de bovinos de corte no Brasil, avançamos nos últimos 25 anos? Prof. Fernando de Almeida Borges UFMS

PARASITOS GASTRINTESTINAIS EM VACAS LEITEIRAS PRESENTES EM EXPOSIÇÕES AGROPECUÁRIAS NA REGIÃO OESTE DE SANTA CATARINA, BRASIL

AVALIAÇÃO DO PARASITISMO GASTRINTESTINAL DE ASININOS DA ILHA DE SÃO LUIS, ESTADO DO MARANHÃO

ISSN X Licenciado sob uma Licença Creative Commons

CONTROLE DE NEMATÓDEOS GASTRINTESTINAIS E RESISTÊNCIA ANTI-HELMÍNTICA EM OVINOS NA REGIÃO SUL DO BRASIL

Sensibilidade dos nematóides gastrintestinais de caprinos a

Eficácia de anti-helmínticos em equinos da raça Crioula no município de Major Vieira/SC

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

(Growth performance in naturally infected lambs under selective treatment with FAMACHA method and preventive treatment)

Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária ISSN: X Colégio Brasileiro de Parasitologia Veterinária.

MÉTODO FAMACHA E CONTAGEM DE HEMATÓCRITO EM CAPRINOS SEM PADRÃO RACIAL DEFINIDO Apresentação: Pôster

REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - ISSN: Ano XIVNúmero 27 Julho de 2016 Periódico Semestral

I FÓRUM SOBRE CONTROLE DA VERMINOSE EM PEQUENOS RUMINANTES NO NORDESTE BRASILEIRO

Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais UFMG

RESUMO ABSTRACT. Ciência Animal 22(2): 17-24, 2012

CONTROLE DE ENDOPARASITOSES GASTRINTESTINAIS DE CAPRINOS CRIADOS EM SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA1

Diagnóstico do controle e perfil de sensibilidade de nematódeos de ovinos ao albendazol e ao levamisol no norte de Minas Gerais 1

INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA MIGRAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DE LARVAS INFECTANTES DE CIATOSTOMÍNEOS EM

CONDENAÇÕES DE CORAÇÃO E PULMÃO DE BOVINOS ABATIDOS EM ITAITUBA PA

RESISTÊNCIA AOS ANTI-HELMÍNTICOS BENZIMIDAZÓIS EM NEMATÓIDES GASTRINTESTINAIS DE PEQUENOS RUMINANTES DO SEMIÁRIDO NORDESTINO BRASILEIRO

LARVAS DE TRICOSTRONGILÍDEOS EM FEZES DE OVINOS. PALAVRAS-CHAVE: Coprocultura, Haemonchus sp., larvas infectantes, OPG, Trichostrongylus sp.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JULIANA BANA ISHII DISTRIBUIÇÃO DO CÓDON 167 DA ISOFORMA 1 DO GENE DA BETA- TUBULINA EM CIATOSTOMÍNEOS DE EQUINOS

Ação anti-helmíntica de diferentes formulações de lactonas macrocíclicas em cepas resistentes de nematódeos de bovinos 1

Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Transcrição:

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Avaliação da eficácia de formulações anti-helmínticas comerciais em equinos no município de Douradina, Paraná. Fernando de Almeida Borges 1, Aguinaldo Yoshio Nakamura 2, Gabriel Daltoé de Almeida 2, Victor Hugo Araujo Cadamuro 2 1 Deparatamento de Medicina Veterinária - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. UFMS. 2 Universidade Estadual de Maringá, Campus de Umuarama, PR. Resumo O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficácia de anti-helmínticos comerciais em equinos. Em três propriedades rurais, no município de Douradina, Paraná, foram selecionados um total de 51 equinos sem raça definida, machos e fêmeas, de diferentes faixas etárias, portadores de nematodiose gastrintestinal e submetidos aos seguintes tratamentos (I) closantel, solução oral (10mg/kg), (II) pasta contendo oxifendazol (2,5mg/kg) + triclorfon (40mg/kg) ou (III) gel contendo ivermectina (200mcg/kg) + praziquantel (2,5mg/kg) + vitamina E (1mg/kg). Em função do número de animais disponíveis na propriedade B, foram realizados apenas os tratamentos II e III e na propriedade C, apenas o tratamento III. Contagens de OPG e coproculturas foram realizadas no dia do tratamento e sete dias após. Closantel apresentou eficácia de 68,78%, enquanto o tratamento II apresentou eficácia de 72,74% e 92,11% nas duas propriedades avaliadas. O tratamento

III foi 100% eficaz nas três propriedades. As coproculturas indicaram que os nematódeos sobreviventes aos tratamentos pertenciam à subfamília Cyathostominae. Foi constatada, então, a ausência de resistência à ivermectina e a reduzida eficácia de closantel e da associação oxifendazol + triclorfon, via oral, contra ciatostomíneos, que são os nematódeos mais comuns em equinos no Brasil. Palavras-Chave: equinos, nematódeos, resistência, anti-helmínticos Anthelmintic efficacy of comercial formulations in horses from Douradina municipality, Paraná. Abstract The aim of this study was to evaluate the efficacy of commercial anthelmintics in horses. From three farms in the Douradina, PR, municipality, it was selected a total of 51 cross-breed horses, male and female, from different ages, naturally infected by gastrointestinal nematodes and submitted to treatment with (I) oral solution of closantel (10mg/kg), (II) paste containing oxifendazole (2.5mg/kg) + triclorfon (40mg/kg) or (III) gel containing ivermectin (200mcg/kg) + praziquantel (2,5mg/kg) + vitamin E (1mg/kg). Due to the limited number of available horses on farm B, it was used only treatments II and III and only treatment III on farm C. EPG counts and coprocultures were done before and seven days after the treatment. Closantel showed 68.78% efficacy while treatment II showed efficacy of 72.74% and 92.11% on the two evaluated farms. Treatment III showed 100% efficacy on the three farms. The coprocultures indicated that the treatment surviving nematode belonged to the Cyathostominae sub-family. It was demonstrated the absence of resistance to ivermectin and the reduced efficacy of closantel and the association of oxifendazole + triclorfon, against cyathostomes, which are the most common nematode in horses in Brazil Keywords: horse, nematoda, resistance, anthelmintics

Introdução Estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FAO demonstrou que o Brasil possui o terceiro maior rebanho equino do mundo, com 5.900.000 animais, superado por China (8 milhões) e México (6.260.000). O potencial econômico desta atividade ainda é subexplorado no Brasil. Nos Estados Unidos da América, que possui rebanho com número semelhante ao brasileiro (5.300.000), estima-se que as atividades relacionadas a equideocultura tenham impacto direto na economia acima de U$39bilhões (AMERICAN HORSE COUNCIL, 2005). Os esquemas de controle de verminose eqüina preconizados no Brasil e em outros países são, normalmente, supressivos com seis tratamentos por ano para todos os eqüinos da propriedade (HONER & BIANCHIN, 1995). Esta prática, associada à ausência de medidas de controle não químico, tem reduzido a população em refugia, que são os parasitos que não são expostos à seleção para resistência e fornecem uma fonte de genes susceptíveis (SANGSTER, 1999), cuja manutenção poderia reduzir a velocidade de desenvolvimento da resistência. A sustentabilidade dos esquemas de controle da verminose eqüina está ameaçada pela seleção de populações de parasitos resistentes, cujo número de relatos é crescente em todo o mundo (KAPLAN, 2004). Outro agravante é o fato de haver pouca perspectiva de surgimento de um novo grupo químico de anti-helmínticos para equinos (NIELSEN et al., 2007). Por isso, é muito importante o conhecimento da susceptibilidade das populações de nematódeos aos antiparasitários para a realização de seu efetivo controle. O objetivo do presente trabalho foi avaliar, por meio de teste de redução na contagem de OPG, a eficácia de formulações anti-helmínticas comerciais, contendo closantel, oxifendazol + triclorfon ou ivermectina + praziquantel, em equinos em três propriedades rurais, no município de Douradina, Paraná.

Material e Métodos Local Foi realizado o teste de redução na contagem de ovos tipo estrongilídeo por grama de fezes (OPG), em agosto e setembro de 2007, em três propriedades rurais no município de Douradina, Paraná, localizado a latitude 23º22'51" sul e longitude 53º17'30" oeste, a 406 metros de altitude, cima Subtropical Úmido Mesotérmico, verões quentes com tendência de concentração das chuvas (temperatura média superior a 22 C), invernos com geadas pouco frequentes (temperatura média inferior a 18 C), sem estação seca definida. Fonte: Image:Parana MesoMicroMunicip.svg Seleção de animais Foram selecionados 51 equinos sem raça definida, machos e fêmeas, de diferentes faixas etárias, portadores de nematodiose gastrintrestinal (acima de 250 OPG) e sem histórico de tratamento com anti-helmínticos nas últimas oito semanas. A distribuição das repetições dentro dos tratamentos foi inteiramente ao acaso.

Tratamentos Os equinos da propriedade A foram submetidos aos seguintes tratamentos: (I) closantel, solução oral (10mg/kg), (II) pasta contendo oxifendazol 2,5mg/kg + triclorfon 40mg/kg ou (III) gel contendo ivermectina (200mcg/kg) + praziquantel (2,5mg/kg) + vitamina E (1mg/kg). Em função do número de animais disponíveis na propriedade B, foram realizados apenas os tratamentos II e III e na propriedade C, apenas o tratamento III. Todos os tratamentos foram realizados via oral, após pesagem individual dos animais, seguindo recomendações dos fabricantes. Posteriormente, os equinos foram observados por 30 minutos quanto a possíveis reações adversas. Procedimentos laboratoriais Amostras de fezes foram colhidas diretamente da ampola retal de cada eqüino, no dia do tratamento e sete dias após. Para a quantificação de OPG, foi realizada a técnica de GORDON e WHITLOCK(1939) modificada, sendo utilizados dois gramas de fezes diluídos em 28ml de solução saturada de NaCl (densidade específica de 1200), com sensibilidade para o mínimo de 50 OPG. As amostras de cada grupo em cada data experimental foram misturas para realização de coproculturas, utilizando serragem como substrato, conforme a técnica de ROBERTS & O SULLIVAN (1950). As larvas de terceiro estágio foram identificadas conforme chave descrita por THIEPONT et al. (1979) Análise estatística Os percentuais de eficácia foram calculados utilizando-se as médias aritméticas das contagens de OPG antes e após o tratamento, por meio do programa 'Reso' FECRT Analysis Program, version 2.0 (WURSTHORN & MARTIN, 1989). Também se calculou os limites inferiores e superiores do intervalo de confiança a 95%. Considerou-se como critérios para a suspeita de resistência, percentuais de eficácia inferiores a 95% e limite inferior do intervalo de confiança a 95% abaixo de 90% (COLES et al., 1992).

Resultados e discussão Não foi observada nenhuma reação adversa decorrente da administração dos anti-helmínticos nos equinos avaliados. Os resultados das contagens de OPG e os percentuais de eficácia das formulações avaliadas nas três propriedades rurais estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Médias aritméticas das contagens de OPG antes e após tratamento com diferentes anti-helmínticos em equinos em três propriedades rurais; percentuais de eficácia e limites inferiores e superiores de intervalo de confiança a 95%. Douradina, PR. 2007. Oxifendazol 2,5mg/kg + triclorfon Ivermectina (200mcg/kg) + Closantel (10mg/kg) 40mg/kg praziquantel (2,5mg/kg) OPG OPG Eficácia LIIC LSIC OPG OPG Eficácia LIIC LSIC OPG OPG Eficácia n (dzero)(d+7) (%) 95% 1 95% 2 n (dzero) (d+7) (%) 95% 1 95% 2 n (dzero)(d+7) (%) Fazenda 1 8 3683 1150 68,78 13 89 9 3933 a 1072 a 72,74 32 89 8 4700 a 0 b 100 Fazenda 2 - - - - - - 8 1266 a 100 b 92,11 58 99 8 1459 a 0 b 100 Fazenda 3 - - - - - - - - - - - - 10 850a 0b 100 1 LIIC95%: Limite inferior de intervalo de confiança a 95%, 2 LIIC95%: Limite superior de intervalo de confiança a 95%, a,b : letras diferentes nas médias antes e após tratamento representam diferença estatística (P<0,05) pelo teste de Tukey. De acordo com os critérios adotados, constatou-se resistência na Fazenda 1 ao closantel e à associação oxifendazol + triclorfon. Também foi observada resistência a esta última formulação na Fazenda 2. O composto contendo ivermectina foi 100% eficaz nas três propriedades avaliadas. As coproculturas indicaram que os nematódeos sobreviventes aos tratamentos pertenciam à subfamília Cyathostominae. Grandes estrôngilos e Trichostrongylus axei, presentes nas coproculturas antes dos tratamentos, foram totalmente eliminados pelos anti-helmínticos. O presente trabalho é o primeiro relato de resistência de nematóides de equinos a closantel. Este foi um resultado inesperado, uma vez que não havia

histórico da utilização deste princípio ativo no controle de verminose eqüina na propriedade avaliada. De maneira geral, seu uso em eqüinos não é comum devido sua reduzida margem de segurança clínica. A associação oxifendazol e triclorfon apresentou reduzidos percentuais de eficácia nas duas propriedades em que foi avaliada. COSTA et al. (1995) avaliaram uma pasta contendo albendazol (10mg/kg) e triclorfon (25mg/kg) e observaram 97,71% de redução na contagem de OPG no sétimo dia póstratamento e os resultados após necropsia apontaram eficácia de 100% contra Strongylus edentatus, Triodontophorus sp. e Oxyuris equi e 97% de eficácia contra ciatostomíneos, porém, não foi observado efeito (8,68%) contra formas imaturas desta subfamília. Os benzimidazóis foram os primeiros anti-helmínticos para equinos com relatos de resistência de ciatostomíneos no Brasil. PEREIRA et al. (1994) observaram eficácia de 44,6%, 0% e 20,1% para mebendazol e de 94,4%, 88,4% e 0% para oxibendazol em três propriedades rurais no município de Londrina, PR. MERCADANTE et al. (1997) relataram eficácia de benzimidazóis inferior a 50% em Curitiba, PR. A resistência de ciatostomíneos a benzimidazóis é amplamente relatada em outros países (KAPLAN, 2002). A recomendação da Associação Mundial para o Avanço da Parasitologia Veterinária para a avaliação da resistência em parasitos de equinos é a comparação da média aritmética de OPG pós-tratamento do grupo tratado ao grupo controle, considerando-se o limite de 90% de eficácia. A redução do limiar de eficácia de 95% para 90% foi justificada pelo reduzido número de repetições e grande variação entre as contagens de OPG normalmente observados em experimentos com equinos (POOK et al., 2002). Caso este critério fosse empregado no presente trabalho, a população de ciatostomíneos parasitando os equinos da Fazenda 2 seria considerada susceptível à associação oxifendazol + triclorfon, que apresentou 92,11% de eficácia. Segundo relato dos funcionários e do técnico responsável pelas propriedades, os animais eram submetidos a reduzida freqüência de tratamentos, sendo as lactonas macrocíclicas a principal classe terapêutica

empregada. Apesar disso, observou-se resistência ao closantel e à associação oxifendazol + triclorfon e não à ivermectina. Aparentemente, o desenvolvimento de resistência de ciatostomíneos a este princípio ativo é mais lento, sendo encontrados poucos relatos na literatura. Até o momento, a única descrição de resistência destes parasitos às lactonas macrocíclicas no Brasil foi realizada por Molento et al. (2008) que avaliaram abamectina2%, ivermectina 1,8 e 2% e moxidectina 2% e observaram eficácia no 28º dia pós-tratamento de 84%, 5%, 65% e 16%, respectivamente. Os resultados deste estudo despertaram o interesse de pesquisadores no Reino Unido (Coles et al., 2008), que ainda não constataram a presença de resistência mas, por meio de testes de redução na contagem de OPG, suspeitaram do início de seu desenvolvimento. Os resultados do presente trabalho apontam a crescente importância dos ciatostomíneos no controle sanitário de eqüinos. Os nematóides desta subfamília são os mais prevalentes e que apresentam maior intensidade parasitária em equinos no Brasil, representando 80,5% da carga parasitária total (BARBOSA et al., 2001). Além disso, o esquema de controle supressivo utilizado inicialmente para o controle de Strongylus vulgaris resultou na seleção de populações de ciatostomíneos resistentes aos benzimidazóis e ao pirantel em todo o mundo, sendo estes considerados, atualmente, os principais parasitos de equinos (KAPLAN, 2004). Não há, no Brasil, nenhum estudo amplo a respeito da freqüência de tratamentos anti-helmínticos realizada em equinos, porém, há algumas recomendações técnicas de esquemas supressivos com tratamentos a cada dois meses. Isso poderia levar, rapidamente, à seleção de parasitos resistentes, como observado neste trabalho. Uma das recomendações de MOLENTO et al. (2008) para o retardamento da seleção de populações de parasitos resistentes é o tratamento apenas de equinos com OPG acima de 200 e no caso de fêmeas adultas somente quando o valor for acima de 500.

Conclusão A resistência a closantel e benzimidazóis está presente em equinos no município de Douradina, PR, porém, a ivermectina continua extremamente eficaz. Sugerem-se medidas de controle seletivo visando menor seleção de parasitos resistentes. Bibliografia AMERICAN HORSE COUNCIL. Most Comprehensive Horse Study Ever Reveals A Nearly $40 Billion Impact On The U.S. Economy. American Horse Council Press Release. American Horse Council. 2005. BARBOSA, O. F. ; ROCHA, U. F. ; COSTA, A.J. ; SILVA, G.S.; LANDIM, V. J. C. ; SOARES, V. E. ; VERONEZ, V. A.. A survey on the Cyathostomine nematodes (Strongylidea, Strongylidae) in pasture breed horses of the North East of São Paulo State, Brazil.. Semina, Ciências agrárias, Londrina, v. 22, n.1, p. 21-28, 2001. COLES, G.C.; BAUER, C.; BORGSTEEDE, F.H.M.; GEERTS, S.; KLEI,.TR.; TAYLOR M.A.; WALLER, P.J. World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology (WAAVP) methods for detection of anthelmintic resistance in nematodes of veterinary importance. Veterinary Parasitology, v.44, p.35-44, 1992. COLES, G.C.; DUDENEY, A.; CAMPBEL, C. Macrocyclic lactone in UK cyatostomins? In: Equine Parasite Drug Resistance Workshop, 1. 2008, Copenhagen. Anais University of Copenhagen, Faculty of Life Science, Dinamarca, 2008, p. 19. COSTA, A.J., ARANTES, G.J., BARBOSA, O.F., VASCONCELOS, O.T., PEREIRA, J.R., PAULILLO, A.C. Activity of a paste containing albendazole and trichlorphon against small strongyles (cyathostominae) and other equine parasites. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.4, n.2, p.99-103, 1995. GORDON, H.M.; WHITLOCK, H.V.; A new techinique for counting nematode eggs in sheep faeces. Journal of Council. of Science and Industry Research in Australia, v. 12, p. 50-52. 1939. HONER, M.R.; BIANCHIN, I. Verminose eqüina : Sugestões para um melhor controle em animais de fazenda. Comunicado Técnico, n.28, 4p. EMPRAPA CNPGC. Campo Grande, 1995. KAPLAN, R.M. Anthelmintic resistance in nematodes of horses. Veterinary Research, v. 33, p.491-507, 2002. MERCADANTE,A. ; CASTRO, E. A. ; THOMAZ-SOCCOL, V. ; ROMPANI, J. L. A. ; DEPRA, N. M. ; HENNIG, L. ; MORAES, F. R.. ocorrência de resistência aos anti-helmínticos em equinos puro sangue, na região metropolitana de curitiba. In: Seminário Brasileiro de Parasitologia Veterinária, 1997, Itapema. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 1997. v. 6. p. 246. MOLENTO, M.B; ANTUNES, J.; BENTES, R.N.; COLES, G.C. Anthelmintic resistant nematodes in Brazilian horses. Veterinary Record, v.162, n.12, p.384-385, 2008.

NIELSEN, M.K; KAPLAN, R.M.; THAMSBORG, S.M.; MONRAD, J.; OLSEN, S.N. Climatic influences on development and survival of free-living stages of equine strongyles: Implications for worm control strategies and managing anthelmintic resistance. The Veterinary Journal, v.174, n.1, p.23-32, 2007. PEREIRA, A. B. L. ; CAVICHIOLLI, J. H. ; GUIMARÃES JUNIOR, J.S. ; BATISTON, A. ; GUSMÃO, R. A. M.. Eficácia a campo do mebendazole, oxibendazole, pamoato de pirantel e doramectin contra pequenos estrongilídeos (Cyathostominae) de equinos. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 3, n. 2, p. 93-97, 1994. POOK, J. F.; POWER, M. L.; SANGSTER, N. C.; HODGSON, J. L.; HODGSON, D. R. Evaluation of tests for anthelmintic resistance in cyathostomes. Veterinary Parasitology, v.106, n.4, p.331-343, 2002. ROBERTS, F. H.; O SULLIVAN P. J. Methods for egg counts and larval cultures for strongyles infesting the gastro-intestinal tract of cattle. Australian Journal of Agricultural Research, v.1, p.99-102, 1950. SANGSTER, N.C. Pharmacology of anthelmintic resistance in cyathostomes: will it occur with the avermectins/milbemycins? Veterinary Parasitology, v. 85, p.189 204, 1999. THIEPONT, D.; ROCHETE, F.; VANDARIJS, O.F.J. Diagnóstico de las helmintosis por meio del examen coprológico. Beerse, Janssen Res. Fund., 187p., 1979. WURSTHORN, L.; MARTIN, P. Anthelmintic Resistance: Report of the Working Party for the Animal Health Committee of the SCA. CSIRO, 1989.