ESTUDO PREVIDÊNCIA SOCIAL: TRABALHADORES RURAIS. APOSENTADORIA. UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO URBANO. Verônica Rocha Consultor Legislativo da Área XXI Previdência e Direito Previdenciário ESTUDO DEZEMBRO/2003 Câmara dos Deputados Praça 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF
2003 Câmara dos Deputados. Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que citadas a autora e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a reprodução parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados. Este trabalho é de inteira responsabilidade de sua autora, não representando necessariamente a opinião da Câmara dos Deputados. 2
PREVIDÊNCIA SOCIAL: TRABALHADORES RURAIS. APOSENTADORIA. UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO URBANO. Verônica Rocha De acordo com a Constituição Federal e Leis nº 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 2001 respectivamente, Plano de Custeio da Seguridade Social e Planos de Benefícios da Previdência Social, os segurados da Previdência Social urbanos ou rurais, na qualidade de empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual (autônomos, empresários, etc.) e facultativo recebem tratamento isonômico no que tange a contribuições e benefícios em geral. Entretanto, a própria Carta Magna excepcionou a área rural, dadas as suas peculiaridades. Assim, a aposentadoria por idade é reduzida em cinco anos para os trabalhadores rurais sessenta anos para o homem e cinqüenta e cinco para a mulher e a contribuição dos empregadores é diferenciada. O pequeno produtor rural em regime de economia familiar, sem empregados, denominado segurado especial, também é diferenciado, ao fazer jus, juntamente com os demais trabalhadores da família, a benefícios no valor de um salário mínimo, contribuindo apenas sobre a comercialização de sua produção, desde que comprove o exercício da atividade rural em período idêntico à carência exigida. A esse produtor é facultado o recebimento de benefícios de maior valor, devendo para tal contribuir adicionalmente como contribuinte individual. A carência para as aposentadorias por idade e por tempo de serviço, de cento e oitenta contribuições mensais, vem sendo implantada de forma escalonada, sendo exigidas cento e trinta e duas contribuições em 2003, ou seja, onze anos de contribuição. O trabalhador rural empregado, autônomo, avulso e segurado especial tem direito a requerer, até 25 de julho de 2006, aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo, desde que comprove o efetivo exercício da atividade rural, ainda que de forma descontínua, em período correspondente à carência exigida, independentemente de contribuição. Entende-se como forma descontínua os períodos intercalados de exercício de atividades rurais, ou urbana e rural, com ou sem ocorrência da perda da qualidade de segurado. Atualmente, por força da Lei nº 10.666, de 08 de maio de 2003, a perda da qualidade de segurado não impede a concessão dessa aposentadoria, devendo o segurado 3
comprovar exercício da atividade rural em período correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento do benefício. Assim, ainda que o trabalhador rural tenha exercido atividade urbana, poderá obter o benefício rural, desde que comprove exercício de atividade exclusivamente rural em período idêntico à carência exigida para a concessão do benefício. A despeito de a aposentadoria por tempo de serviço ter passado a ser entendida como por tempo de contribuição, o tempo de serviço do trabalhador rural anterior a julho de 1991 é computado independentemente de recolhimento das contribuições a ele correspondentes, exceto para efeito de carência, sendo considerado para cálculo de valor da renda mensal de qualquer benefício do Regime Geral de Previdência Social. A comprovação do tempo de serviço perante a Previdência Social, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito. A comprovação do exercício de atividade rural está definida no art. 106 da Lei nº 8.213, de 1991, podendo, para tal fim ser utilizados os seguintes documentos alternativos:. contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social;. contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural.. declaração do sindicato de trabalhadores rurais, desde que homologada pelo INSS;. comprovante de cadastro do INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; e. bloco de notas do produtor rural. A Lei nº 9.063, de 14 de junho de 1995, suprimiu do texto original da Lei nº 8.213, de 1991, art. 106, inciso III, a declaração do Ministério Público como forma de comprovação da atividade rural e retirou a atribuição conferida àquele Ministério para homologar a declaração do Sindicato dos Trabalhadores Rurais sobre exercício de atividade rural. Essas alterações foram justificadas pelo Poder Executivo pelo fato de que essas formas de comprovação,...distintas dos mecanismos usualmente utilizados pelo Instituto Nacional de Seguro Social INSS, engendraram condições ímpares para a ocorrência de fraudes de todo o tipo nessa área, limitando os meios de que dispõe a administração previdenciária para combatê-las. A fraude mais 4
comum diz respeito ao segurado urbano que requer, para a concessão de aposentadoria, contagem do tempo de atividade rural, em função de sua família ter sido ou ser proprietária de imóvel rural, sem que o mesmo tenha sido efetivamente trabalhador rural. Em que pesem as reclamações ainda existentes quanto à forma de comprovação do exercício da atividade rural, o retorno à legislação anterior, ou seja, a simples aceitação, para tal comprovação, de declaração do Ministério Público ou de sindicato de trabalhadores rurais, homologada por aquele Ministério, ensejaria o retorno das fraudes, mesmo porque tal órgão não possui condições técnicas para tal tarefa. enuncia: Observe-se que a Súmula 149, de 1995, do Superior Tribunal de Justiça, A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícula para efeito da obtenção de benefício previdenciário. Assim, o INSS, por representar o órgão competente para essa matéria, deve constituir estrutura técnica apta para perquirir, com agilidade, a veracidade das declarações documentais e testemunhais do exercício da atividade rural, devendo, portanto, ser responsável pela homologação de tais declarações, mediante acionamento de todos os elementos de prova existentes. Os procedimentos a serem adotados para a comprovação do exercício da atividade rural estão regulamentados, com base na legislação pertinente, pela Portaria nº 4.273, do Ministério da Previdência Social, de 12 de dezembro de 1997, e Instrução Normativa nº 95, de 7 de outubro de 2003, da Diretoria Colegiada do INSS, que dispõe sobre a matéria nos artigos 51 e 124 a 145. A documentação exigida para essa comprovação é específica para cada tipo de segurado, em função da forma peculiar de exercício da atividade rural de cada um, ainda que, em algumas situações, documentos arrolados para uma categoria de segurado possam também ser utilizados por outra. O exercício da atividade de segurado especial, por sua peculiaridade, é tratado por aquela Instrução Normativa de forma mais detalhada. A comprovação do exercício da atividade rural do segurado especial, bem como de seu respectivo grupo familiar: cônjuge ou companheira(o) e filhos maiores de dezesseis anos de idade e a eles equiparados, desde que trabalhem comprovadamente com o grupo familiar respectivo e que exerçam essas atividades individualmente ou em regime de economia familiar, podendo, ainda, exercê-las com ou sem auxílio eventual de terceiros, far-se-á mediante a apresentação de um dos seguintes documentos:. contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;. comprovante de cadastro no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA; 5
. bloco de notas de produtor rural ou notas fiscais de venda realizada por produtor rural;. declaração de Sindicato de Trabalhadores Rurais, Sindicato Rural, Sindicato de Pescadores ou de Colônia de Pescadores devidamente registrada, a ser homologada pelo INSS;. comprovante de pagamento do Imposto Territorial Rural ITR ou de Certificado de Imóvel Rural CCIR fornecido pelo INCRA ou autorização de ocupação temporária fornecida pelo INCRA;. caderneta de inscrição pessoal visada pela Capitania dos Portos ou pela Superintendência do Desenvolvimento da Pesca SUDEPE, ou pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DNOCS; e. declaração fornecida pela Fundação Nacional do Índio FUNAI, atestando a condição do índio como trabalhador rural. Os documentos apresentados devem ser contemporâneos ao período a ser comprovado, mesmo que de forma descontínua, e, à exceção das declarações dos sindicatos e da FUNAI, são considerados como prova plena para o período a ser comprovado, alcançando todos os membros do grupo familiar para fins da concessão dos benefícios previstos no valor de um salário mínimo. Nesse caso, é indispensável a entrevista com o segurado, e, se ensejar dúvidas, entrevista com parceiros, confrontantes, empregados, vizinhos e outros, conforme o caso. Onde não houver os sindicatos citados, a declaração dessas entidades poderá ser suprida pela apresentação de duas declarações firmadas por autoridades administrativas ou judiciárias locais juízes, delegados de polícia, etc., desde que conheçam o segurado especial há mais de cinco anos e estejam no efetivo exercício de suas funções. A entrevista constitui elemento indispensável à comprovação de exercício da atividade rural na confirmação do teor das declarações emitidas por sindicatos de trabalhadores rurais, sendo obrigatória a sua realização. Em hipótese alguma, a declaração de sindicatos não será homologada por falta de convicção, sem que tenham sido esgotadas as possibilidades de análise e realizadas entrevista ou tomadas de declaração com parceiros, comandatários, arrendatários, confrontantes, empregados, vizinhos ou outros, conforme o caso. A substituição da entrevista pela pesquisa fica restrita à confirmação de autenticidade e contemporaneidade de documentos para fins de reconhecimento de atividade. A homologação, pelo INSS, das declarações de sindicatos e das autoridades mencionadas poderá ser subsidiada com a apresentação, dentre outros, dos seguintes documentos, desde que neles conste a profissão, sejam contemporâneos aos fatos e se refiram ao período a ser homologado: 6
. certidão de casamento;. certidão de nascimento dos filhos;. certidão de tutela ou curatela;. procuração;. título de eleitor;. certificado de alistamento e ou quitação com o serviço militar;. comprovante de matrícula ou ficha de inscrição do próprio ou dos filhos em escola;. ficha de associado em cooperativa;. comprovante de participação como beneficiário de programas governamentais para a área rural nos Estados ou Municípios;. comprovante de recebimento de assistência ou acompanhamento pela empresa de assistência técnica e extensão rural;. ficha de crediário em estabelecimentos comerciais;. escritura pública de imóvel;. recibo de pagamento de contribuição confederativa;. registro em processos administrativos ou judiciais inclusive inquéritos (testemunha, autor ou réu);. fichas ou registro em livros de casas de saúde, hospitais ou postos de saúde;. carteira de vacinação;. título de propriedade de imóvel rural;. recibo de compra de implementos ou insumos agrícolas;. comprovante de empréstimo bancário para fins de atividade rural;. ficha de inscrição ou registro sindical ou associativo junto a sindicato;. contribuição social a sindicato;. publicação na imprensa ou em informativos de circulação pública; 7
. registro em livros de entidades religiosas, quando da participação em sacramentos, tais como: batismo, crisma, casamento, e outras atividades religiosas;. registro em documentos de associações de produtores rurais, comunitárias, recreativas, desportivas ou religiosas; e. Declaração anual de produtor, firmado perante o INCRA.. título de aforamento. A Previdência Social, como seguro público obrigatório e contributivo, atendendo à quase totalidade da população brasileira, em obediência a disposições constitucionais, deve observar critérios que preservem o seu equilíbrio financeiro e atuarial. Dessa forma, além das excepcionalidades conferidas à área rural pela Lei Maior, não deve a lei ordinária instituir novos critérios diferenciados de concessão de benefícios a segurados rurais de determinadas regiões do País, incompatíveis com a sustentação financeira de um seguro social e com a isonomia que deve regê-lo. Observe-se que as contribuições da área rural vêm representando apenas um décimo das despesas com benefícios rurais, o que confere a essas prestações um caráter assistencialista. Sobre a matéria em questão tramita nesta Casa, Projeto de Lei nº 1.154, de 1995, de autoria do Deputado Edinho Araújo, que dispõe sobre a comprovação do exercício de atividade rural pelos trabalhadores que especifica para fins de concessão de benefícios previdenciários, com vários apensos. Entre os apensos encontra-se o Projeto de Lei nº 6.548, de 2002, que altera as Leis nºs 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, para dispor sobre as regras de contribuição e de benefícios do trabalhador rural, encaminhado pela Comissão de Legislação Participativa, oriundo da Sugestão nº 12, de 2000, oferecida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONTAG. são: As principais alterações constantes do Projeto de Lei nº 6.548, de 2002, Ampliação do conceito de segurado especial, com a inserção do comodatário, do posseiro, do usufrutuário, do assentado, do extrativista e do menor aprendiz. Definição daquele que presta serviço de natureza sazonal ou de curta duração a um ou mais empregadores rurais como segurado obrigatório do RGPS, na qualidade de empregado. Permissão ao segurado especial para contratar empregados não 8
permanentes, até o máximo de cento e oitenta pessoas/dia, corridos ou intercalados no ano; de exercer outra atividade remunerada no período de entressafra ou do defeso, por até cento e oitenta dias/ano e de explorar agroindústria com agricultores familiares. Modificação na forma do recolhimento da contribuição do segurado especial, que passa a ser anual e feito diretamente por ele, até o dia 31 de janeiro do ano subseqüente ao da comercialização de seus produtos rurais. Cálculo dos benefícios do segurado especial com base na receita bruta anual da comercialização da produção, que será dividida pelo número de membros do grupo familiar. O salário-de-contribuição do segurado especial não se sujeita aos limites mínimo e máximo para efeito do cálculo de sua contribuição. Ao seu salário-de-benefício não será aplicado o fator previdenciário. Redução em cinqüenta por cento do período de carência exigido do empregado rural que presta serviço de natureza sazonal ou de curta duração. Permissão ao segurado especial de computar o tempo de contribuição em atividade urbana no período de carência exigido para a aposentadoria com idade reduzida. Manutenção da qualidade de segurado especial, sem limite de prazo, independentemente de contribuição e com direito às prestações, quando ocorrer calamidade pública, caso fortuito ou força maior, ou quando a produção anual for destinada apenas à subsistência. De acordo com os arts. 142 e 143 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, caso seja apresentado um novo projeto de lei regulando matéria idêntica ou correlata àquela dos projetos citados, é lícito promover sua tramitação conjunta, desde que solicitada, por qualquer Comissão ou Deputado ao Presidente da Câmara, antes do pronunciamento da única ou primeira Comissão incumbida de examinar o mérito da proposição. 9