Preferência de Podisus nigrispinus em função da fase de desenvolvimento da presa Plutella xylostella.

Documentos relacionados
Comportamento de predação de Podisus nigrispinus em função da densidade e fase da presa Plutella xylostella.

Características biológicas de Podisus nigrispinus alimentado com Plutella xylostella e folha de couve.

ASPECTOS BIOLÓGICOS DE ORIUS INSIDIOSUS (SAY, 1832) PREDANDO OVOS DE PLUTELLA XYLOSTELLA (L., 1758) E ANAGASTA KUEHNIELLA (ZELLER, 1879)

Tabela de vida e sobrevivência de fêmeas de Podisus nigrispinus alimentadas com Plutella xylostella e folha de couve. RESUMO

2 Embrapa Milho e Sorgo, Rodovia MG 424, Palavras-chave: presa alternativa, controle biológico, etologia, Heteroptera predador, lagartado-cartucho.

Revista Brasileira de Biociências. Brazilian Journal of Biosciences

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE PLUTELLA XYLOSTELLA (LEPIDOPTERA: PLUTELLIDAE) POR ESPÉCIES DE BRÁSSICAS

TABELA DE ESPERANÇA DE VIDA DE Podisus nigrispinus (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE) EM ALGODOEIROS COM ALTA E BAIXA DENSIDADE DE TRICOMAS

Efeito do Intervalo de Alimentação na Reprodução e na Longevidade do Predador Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae)

EFEITO DO EXTRATO PIROLENHOSO SOBRE A ATIVIDADE ALIMENTAR DE Podisus nigrispinus (DALLAS, 1851) (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE) *

BIOLOGIA E COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE Podisus nigrispinus EM DIFERENTES AGROECOSSISTEMAS. Gustavo Esteves GRANTS

BIOLOGIA E PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE Spodoptera frugiperda (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM DIFERENTES FONTES HOSPEDEIRAS

Desenvolvimento e Capacidade Predatória de Chrysoperla externa (Hagen) (Neuroptera: Chrysopidae) em Diferentes Presas

EFEITOS DA TEMPERATURA E DA DEFESA DA PRESA NO CONSUMO PELO PREDADOR SUPPUTIUS CINCTICEPS (STÄL) (HETEROPTERA:PENTATOMIDAE) 1

Departamento de Fitossanidade/FCAV/UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, CEP: , Jaboticabal- SP,

EFEITO DO MILHO Bt EM VARIÁVEIS BIOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS DO PERCEVEJO PREDADOR Orius insidious (SAY, 1832)

Teresinha V. Zanuncio 1 José C. Zanuncio 1 Jorge L.D. Saavedra 2 Emerson D. Lopes 1

Avaliação da resistência de genótipos de batata à vaquinha, Diabrotica speciosa (Germar), e da preferência para alimentação.

TABELA DE VIDA DE FERTILIDADE DE Podisus nigrispinus (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE) EM ALGODOEIROS COM ALTA E BAIXA DENSIDADE DE TRICOMAS

Capacidade reprodutiva e preferência da traça-das-crucíferas para diferentes brassicáceas

Preferência alimentar e desempenho de Brontocoris tabidus Signoret (Hemiptera, Pentatomidae) em plantas hospedeiras

Fases de desenvolvimento do predador Fase Dia Fase Dia Segundo ínstar

CLASSIFICAÇÃO DE CULTIVARES DE BRÁSSICAS COM BASE NO AUMENTO POPULACIONAL DA TRAÇA-DAS- CRUCÍFERAS

Armazenamento de ovos de Plutella xylostella

Atratividade de Lipaphis erysimi

Estudo da Capacidade de Consumo do Pulgão da Couve por Chrysoperla externa e Ceraeochrysa cubana (Neuroptera: Chrysopidae)

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Implicações da proporção de fêmeas de Podisus nigrispinus (Dallas) (Hemiptera: Pentatomidae) sobre suas características reprodutivas e longevidade

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL

O PAPEL DA PLANTA HOSPEDEIRA NA HISTÓRIA DE VIDA DO PERCEVEJO. PREDADOR Brontocoris tabidus (SIGNORET) (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE) por

NÃO-PREFERÊNCIA PARA ALIMENTAÇÃO DE TRAÇA-DAS-CRUCÍFERAS POR GENÓTIPOS DE COUVE-FLOR

Apresentado na. 29ª Semana Agronomica do CCAE/UFES - SEAGRO à 21 de Setembro de 2018, Alegre - ES, Brasil

December, 2001 BIOLOGICAL CONTROL

PREFERÊNCIA PARA ALIMENTAÇÃO DE PSEUDOPLUSIA INCLUDENS (WALKER) POR CULTIVARES DE ALGODOEIRO CONVENCIONAIS E TRANSGÊNICO. Arlindo Leal Boiça Júnior 1

Revista Ceres ISSN: X Universidade Federal de Viçosa Brasil

Efeito do armazenamento de ovos de Plutella xylostella sobre os parâmetros biológicos dos adultos. RESUMO Palavras-chave:

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES BIOLÓGICAS EM SPODOPTERA FRUGIPERDA EM MILHO NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA (MG)

Biologia comparada de duas populações de Plutella xylostella(l.) (Lepidoptera: Plutellidae) em laboratório.

Palavras-chave: caruncho-do-feijão, longevidade, condições ambientais adversas.

Organismos. Predadores. Simone M. Mendes Embrapa Milho e Sorgo

EFEITO HORMÉTICO DE DOSES SUBLETAIS DE GAMMA CYHALOTHRIN NA REPRODUÇÃO DE

ANCIDÉRITON ANTONIO DE CASTRO. MORFOLOGIA DAS GLÂNDULAS SALIVARES E FITOFAGIA DO PREDADOR Supputius cincticeps (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE)

Fitofagia de Podisus nigrispinus em algodoeiro e plantas daninhas

Revista Caatinga ISSN: X Universidade Federal Rural do Semi-Árido Brasil

EFEITO DE CULTIVARES DE REPOLHO E DOSES DE EXTRATO AQUOSO DE NIM NA ALIMENTAÇÃO E BIOLOGIA DE

Biologia comparada de Orius insidiosus alimentado com lagartas de Plutella xylostella.

Biologia de Podisus nigrispinus predando lagartas de Alabama argillacea em campo (1)

EFEITO DA APLICAÇÃO DE EXTRATOS AQUOSOS EM COUVE NA ALIMENTAÇÃO DE LAGARTAS DE ASCIA MONUSTE ORSEIS (1)

Doutorando, Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras. Caixa Postal 37, CEP Lavras, MG.

JOSÉ SALAZAR ZANUNCIO JUNIOR

Quantificação da produção de ovos e sobrevivência de percevejos fitófagos em sistemas de criação em laboratório

An. Soc. Entomol. Brasil 26(2) 349. Agosto, 1997

(SAY, 1832) (HEMIPTERA: ANTHOCORIDAE)

JOSÉ SALAZAR ZANUNCIO JUNIOR. EFEITO DE PLANTAS DE SOJA NO PREDADOR Supputius cincticeps (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE) EM CAMPO

EVALDO MARTINS PIRES

MONITORAMENTO DE ADULTOS DE Spodoptera frugiperda e Diatraea saccharalis EM ÁREAS DE MILHO E SORGO 1

INTERFERÊNCIA DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO Beauveria bassiana (VUIL.) NO DESENVOLVIMENTO DO PREDADOR Podisus nigrispinus EM LABORATÓRIO

Desenvolvimento pós-ebrionário e potencial reprodutivo de Chyisoperla externa 129 FITOSSANIDADE

SELETIVIDADE DO INSETICIDA INDOXACARB SOBRE OS INIMIGOS NATURAIS DE SPODOPTERA FRUGIPERDA

Conbraf - Congresso Brasileiro de Fitossanidade, 3, Águas de Lindóia-SP

CARACTERIZAÇÃO BIOLÓGICO-COMPORTAMENTAL DE Podisus nigrispinus (DALLAS, 1851) PREDANDO Plutella xylostella (L., 1758)

Resistência de cultivares de amendoim de hábitos de crescimento ereto e rasteiro a Spodoptera cosmioides em laboratório

Armazenamento de lagartas de Plutella xylostella sob diferentes temperaturas e períodos de exposição

Percentagem de espécies de percevejos pentatomídeos ao longo do ciclo da soja no Norte do Paraná

Níveis de infestação e controle de Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) no município de Cassilândia/MS

An. Soc. Entomol. Brasil 28(4) 739 PROTEÇÃO DE PLANTAS

INSETOS-PRAGA NO BRASIL:

WALTER SANTOS EVANGELISTA JÚNIOR PENTATOMIDAE) COM GOSSIPOL

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 165

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Razão sexual de Trichogramma pretiosum

EFEITO DO FORNECIMENTO DE SOLUÇÃO À BASE DE SACAROSE E MEL NO DESENVOLVIMENTO P

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE DIONE JUNO JUNO (CRAMER, 1779) (LEPIDOPTERA: NYMPHALIDAE) POR GENÓTIPOS DE MARACUJAZEIRO 1

EFEITO DE PLANTAS INSETICIDAS NA BIOLOGIA E COMPORTAMENTO DE Plutella xylostella (LEPIDOPTERA: PLUTELLIDAE)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL

An. Soc. Entomol. Brasil 28(1) 111 CONTROLE BIOLÓGICO

MOSCAS PARASITAS (TACHINIDAE) DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE DICHELOPS FURCATUS (F.) EM PASSO FUNDO, RS

ASPECTOS BIOLÓGICOS, DA FASE ADULTA, DE Supputius cincticeps Stal, 1860 (Hemiptera: Pentatornidae), PREDADOR DE LAGARTAS DESFOLHADORAS DE EUCALIPTO

Efeito do Inseticida Match no Controle de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) na Cultura do Milho.

Controle da traça-das-crucíferas com isolado de Bacillus thuringiensis Berliner sob ação da radiação ultravioleta.

MARLON DIAS DENEZ BIOLOGIA DE PODISUS NIGRISPINUS (DALLAS, 1851) (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE) EM DIFERENTES PRAGAS DA SOJA.

INFESTAÇÃO DE Alabama argillacea NA VARIEDADE NuOPAL (BOLLGARD I) E EM OUTRAS SETE VARIEDADES COMERCIAIS DE ALGODÃO EM JABOTICABAL,SP

FERNANDO AZEVEDO DE FREITAS. ASPECTOS BIOLÓGICOS E TABELA DE VIDA DE Podisus nigrispinus

Efeito subletal de inseticida sobre o inimigo natural Podisus nigrispinus 1

Percevejos predadores: o estado taxonômico e sistemático atual e perspectivas (Heteroptera: Pentatomidae: Asopinae)

Annona crassiflora possui atividade inseticida sobre os ovos de Lepidopteros praga?

Título da Pesquisa: Palavras-chave: Campus: Tipo Bolsa Financiador Bolsista (as): Professor Orientador: Área de Conhecimento: Resumo

Influence of cabbage genotypes (Brassica oleracea L. var. acephala DC.) on the biology of Plutella xylostella (L., 1758) (Lepidoptera: Plutellidae)

AGR 146 Entomologia Geral Aula Teórica 8

Estudo da Antixenose da Lagarta-do-Cartucho em Sorgo.

Influência da temperatura sobre os aspectos biológicos de Euschistus heros (Fabricius) (Hemiptera: Pentatomidae)

LIBERAÇÃO DE Cotesia flavipes (Cameron) (Hymenoptera: Braconidae) PARA O CONTROLE DA BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR, UTILIZANDO DIFERENTES EMBALAGENS

Int In e t ra r ções Inse Inse o t Plant Plan a João A. M. Ferreira

TÍTULO: DESEMPENHO DO PARASITOIDE COTESIA FLAVIPES (HYMENOPTERA: BRACONIDAE) ACONDICIONADO EM EMBALAGEM BIODEGRADÁVEL

Aspectos biológicos de Ceraeochrysa cincta (Neuroptera, Crysopidae), em condições de laboratório

TOXICIDADE DE INSETICIDAS FISIOLÓGICOS AO CURUQUERÊ DO ALGODOEIRO (*)

DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DE LAGARTAS Spodoptera frugiperda (J. E. SMITH, 1797) (LEPIDOPTERA NOCTUIDAE) EM PLANTAS DE ALGODOEIRO

Aspectos Biológicos de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) Alimentada com Buva (Conyza sp.)

Transcrição:

VACARI AM; GOULART RM; OTUKA AK; DE BORTOLI SA. Preferência de Podisus nigrispinus em função da fase Preferência de Podisus nigrispinus em função da fase de desenvolvimento da presa Plutella xylostella. de desenvolvimento da presa Plutella xylostella. 2010. Horticultura Brasileira 28: S759-S766. Preferência de Podisus nigrispinus em função da fase de desenvolvimento da presa Plutella xylostella. Alessandra Marieli Vacari 1 ; Roberto Marchi Goulart 1 ; Alessandra Karina Otuka 1 ; Sergio Antonio De Bortoli 1 1 FCAV/Unesp Dep. Fitossanidade Laboratório de Biologia e Criação de Insetos (LBCI), Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n 14884-900 Jaboticabal SP, amvacari@gmail.com; rm_goulart@yahoo.com; ale_otuka@yahoo.com.br; bortoli@fcav.unesp.br. RESUMO O objetivo do trabalho foi estudar o comportamento alimentar de Podisus nigrispinus em relação a diferentes fases de desenvolvimento (larvas ou pupas) de Plutella xylostella, bem como a fitofagia em couve. O experimento foi conduzido no Laboratório de Biologia e Criação de Insetos (LBCI) do Departamento de Fitossanidade da FCAV/ Unesp. Foram utilizadas 12 larvas e 12 pupas de P. xylostella (três presas por disco de folha de couve) para teste sem chance de escolha e 6 larvas mais 6 pupas (três presas por disco de folha) por placa para teste com chance de escolha, sendo acondicionadas em discos foliares de couve, Brassica oleracea var. acephala, de 2 cm de diâmetro (quatro discos por placa). Esses discos foram colocados de forma eqüidistante em arena circular de acrílico de 14 cm de diâmetro e 3 cm de altura, onde foi liberada, no centro de cada arena, uma fêmea do predador. Após 6 horas foi contabilizado o número de lagartas e pupas predadas em cada disco e, para cada tratamento foram realizadas 30 repetições. Para o teste com chance de escolha foi calculado o Índice de Preferência (IP). O predador P. nigrispinus prefere lagartas de P. xylostella e apresenta também comportamento de fitofagia, particularmente quando alimentado somente com pupas da traça-das-crucíferas. Palavras-chave: Asopinae, controle biológico, preferência para alimentação. ABSTRACT Preference of Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) relative development phases of Plutella xylostella (Linnaeus, 1758) (Lepidoptera: Plutellidae). The objective of the work was to study the feeding behavior of Podisus nigrispinus in relation to different development phases (larvae or pupae) of Plutella xylostella, also the phytophagy in kale. It was used 12 larvae and 12 pupae of P. xylostella (three preys per disk leaf) in no choice test and six larvae more six pupae (three preys per disk leaf) per Petri dish in free choice test, conditioned in kale leaf disk, Brassica oleracea var. acephala, with two cm of diameter (four disks per dish). The disks were disposed equidistantly form in acrylic circular arena of 14 cm diameter and 3 cm of height, when was release, in the center of each arena, one predator female. After six hours was counted the number of caterpillars and pupae preying in each disk, and each treatment were accomplished 30 replications. With choice test was calculated the preference index (PI). The P. nigrispinus predator prefers P. xylostella larvae and show also phytophagy behavior, especially when fed only on pupae. Keywords: Asopinae, biological control, feeding preference. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 759

O comportamento de ataque e manipulação das presas por predadores com digestão extra-oral (EOD) sugere que eles levam em consideração, na seleção do alimento, não somente a sua potencialidade em retorno nutricional, mas também o investimento na sua manipulação (Coelho et al., 2008). A manipulação da presa envolve o ataque, injeção de toxinas para digestão dos tecidos e posterior ingestão do conteúdo liquefeito para recuperação máxima do seu investimento (Coelho et al., 2008). Insetos que apresentam EOD se alimentam de diferentes fases de desenvolvimento da presa e, antes de o predador iniciar sua alimentação, ele terá que escolher o tipo de presa a ser consumida. É importante a compreensão do comportamento desses predadores no momento da seleção da presa, haja vista, que o tipo de presa pode modificar a taxa de predação (Zanuncio et al., 2008). O objetivo da pesquisa foi estudar o comportamento de Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) em relação à escolha entre diferentes fases de desenvolvimento (larvas ou pupas) de Plutella xylostella (Linnaeus, 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), bem como o comportamento de fitofagia em couve. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Biologia e Criação de Insetos (LBCI) do Departamento de Fitossanidade da FCAV/Unesp, Jaboticabal, São Paulo. As condições foram controladas, com 25±1ºC de temperatura, 70±10% de umidade relativa e fotofase de 12h. Para elaboração dos experimentos foram utilizadas fêmeas de P. nigrispinus acasaladas, com idade entre 5 e 10 dias (Oliveira et al., 2001), que foram mantidas 24 horas sem alimentação antes do início dos testes. Como presas foram utilizadas larvas de quarto estádio e pupas com até 24 horas de idade de P. xylostella. Para o teste sem chance de escolha foram utilizadas 12 larvas e 12 pupas de P. xylostella por arena, três presas por disco de folha de couve Brassica oleracea var. acephala de 2 cm de diâmetro (quatro discos por placa). Os discos foram colocados de forma eqüidistante em arena circular de acrílico de 14 cm de diâmetro e 3 cm de altura, onde após uma hora do início da alimentação das lagartas foi liberada uma fêmea do predador no centro da arena. Após 6 horas do início do experimento foi contabilizado o número de lagartas e pupas predadas em cada disco de folha. Foram realizados dois tratamentos (larvas e pupas como presas), com 30 repetições em cada. Durante as avaliações foi abservado o comportamento do inseto, procurando-se detectar a fitofagia. No teste com chance de escolha, a combinação larvas versus pupas foi avaliada utilizando-se também arenas circulares de acrílico de 14 cm de diâmetro e 3 cm de altura. Em cada arena foram colocados, de forma eqüidistante e alternada, quatro discos de 2,0 cm de diâmetro de folhas de couve B. oleracea, dois contendo larvas e dois pupas. Foram colocadas três presas por disco de folha. No centro de cada arena, após uma hora do início da alimentação das lagartas, foi liberada uma fêmea do predador e, após 6 horas do início do experimento, foi contabilizado o número de lagartas e pupas predadas em cada disco. Foram realizadas 30 repetições. Neste teste também foi observado o comportamento do predador, procurando-se detectar a fitofagia. Os dados obtidos nos testes sem chance de escolha foram submetidos ao teste F a 5% de probabilidade. Para os testes com chance de escolha foi utilizado o Índice de Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 760

Preferência (IP), adaptado de Kogan (1972), calculado pela fórmula IP = 2L / (L + P), onde L = % de larvas predadas e P = % de pupas predadas. O valor de IP pode variar entre zero e dois, indicando: IP > 1, preferência pela presa L ; IP = 1, neutralidade e IP < 1, preferência pela presa P. Como margem de segurança para a classificação, o erro padrão (EP) de cada tratamento foi adicionado/subtraído do valor 1 (indicativo de neutralidade). Assim, só foi considerado preferido ou não quando o IP estava fora do intervalo 1 ± EP. O delineamento utilizado foi inteiramente casualisado. RESULTADOS E DISCUSSÃO No teste sem chance de escolha, quando os predadores ficaram confinados e alimentados somente com larvas ou somente com pupas, observou-se o consumo maior de larvas (2,8) que de pupas (1,1) (Tabela 1). Em pesquisa semelhante, Santos & Boiça Júnior (2002) verificaram valores praticamente iguais aos encontrados neste trabalho, quando colocaram os predadores em confinamento com plantas de algodão e lagartas de Alabama argillacea (Hübner, 1818) (Lepidoptera: Noctuidae), sendo o consumo médio de 1,0 a 2,8 lagartas. No teste com chance de escolha (dupla chance), quando fêmeas de P. nigrispinus tiveram a opção de escolha entre lagartas e pupas de P. xylostella, o comportamento do predador foi semelhante, não ocorrendo diferença significativa entre o consumo de larvas (1,4) e pupas (0,9) (Tabela 1). Santos & Boiça Júnior (2002) verificaram que em teste de livre escolha com plantas de algodão e lagartas de A. argillacea o consumo foi em média de 1,6 a 3,6 lagartas para as diferentes combinações de variedades e lagartas, não ocorrendo diferença significativa, apesar das plantas apresentarem diferenças em suas características morfológicas e fisiológicas, como, por exemplo, teor de gossipol e pilosidade. Outras pesquisas também demonstraram que nem sempre ocorre influência da planta hospedeira sobre a capacidade de predação do inimigo natural (Coelho, 2008). O índice de preferência (IP) calculado para o teste com chance de escolha mostrou claramente preferência do predador por larvas de P. xylostella (Figura 1). Seu cálculo leva em consideração a porcentagem de presas consumidas ao final do teste, para cada uma das repetições avaliadas e, a média do índice de preferência encontrado, 1,14±0,03, indica preferência do predador por larvas da traça-das-crucíferas. A orientação de hemípteros predadores pode ser mediada por vibrações produzidas pela alimentação das lagartas (Pfannenstiel et al., 1995), resíduos fecais, odores liberados pela praga ou mesmo pela planta atacada e pela injúria ocasionada nas plantas pelas lagartas (Holtz et al., 2008). Esses autores verificaram que o comportamento de procura de Podisus maculiventris (Say, 1832) (Hemiptera: Pentatomidae) é orientado por vibrações produzidas pelas presas quando se alimentam das folhas; essas vibrações são usadas para localizar a presa. Esse comportamento dos predadores do gênero Podisus reforça o resultado obtido pela preferência por lagartas. Os fatores que podem interferir no processo de predação são: densidade de presas, densidade de predadores, características do ambiente, mecanismos de defesa da presa e técnicas de ataque do predador (Holling, 1959). Outro fator que pode explicar o fato de os predadores preferirem consumir larvas de P. xylostella é a defesa da presa. As larvas da Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 761

traça-das-crucíferas se defendem, saltando, quando os predadores tentam inserir o estilete em seu corpo, aguçando o instinto do predador, o que não ocorre quando o alimento é pupa (praticamente imóvel). A defesa das lagartas, sua movimentação e alimentação podem atrair os predadores. Por outro lado, pupas de P. xylostella ficam envoltas por fios de seda, o que também pode influenciar na preferência dos predadores. Segundo Gullan & Cranston (2007), um tipo de defesa mecânica das presas ao ataque de predadores consiste em construir abrigos que podem deter o ataque, uma vez que o predador pode não reconhecer a estrutura da presa. Para Avezedo & Ramalho (1999), o tamanho da presa também funciona como defesa ao ataque, como ocorre com Supputius cincticeps (Stal, 1860) (Hemiptera: Pentatomidae), que consome maior quantidade de presas menores, uma vez que em ínstares mais avançados elas apresentam maior capacidade de defesa. Insetos predadores com comportamento alimentar generalista, incluindo a zoofitofagia, tem grande potencial de utilização, e estudos sobre a fitofagia ocasional em alguns predadores demonstraram que esse comportamento pode funcionar como um fator importante para a manutenção desses indivíduos no campo em períodos de escassez de presa (Mourão et al., 2003). Percevejos predadores apresentam digestão extra-oral envolvendo um pré-tratamento químico da presa por meio da injeção de enzimas presentes no complexo da glândula salivar, sendo que percevejos, e alguns zoofitófagos, produzem a enzima pectinase que os auxilia na obtenção do alimento através da digestão da lamela média das células vegetais. Alguns percevejos, mesmo zoofitófagos, podem ser capazes de provocar injúrias em plantas hospedeiras, como Dicyphus hesperus (Knight, 1943) (Hemiptera: Miridae), que pode se alimentar de plantas de tomate quando sua alta população coincide com baixa densidade de mosca branca, sua presa (Cohen, 1995; Coll & Guershon, 2002; Sanchez et al., 2004). Estudos realizados com predadores Asopinae demonstram que, apesar de ocasionalmente eles se alimentarem de plantas e terem benefícios na fitofagia, não produzem a enzima pectinase no seu complexo enzimático salivar (Avezedo et al., 2007) e, ao menos teoricamente, são incapazes de causar maceração enzimática das células vegetais (Coelho, 2008). Sabe-se também que a disponibilidade de umidade via planta (seiva) ou água livre (gota de orvalho) para predadores com digestão extra-oral favorece a predação (Coelho, 2008), o que também foi verificado por Gillespie & Mcgregor (2000) que constataram que somente 6% das ninfas conseguiram completar o desenvolvimento quando alimentadas somente com ovos de Ephestia kuehniella (Zeller, 1879) (Lepidoptera: Pyralidae), enquanto que, quando alimentados com ovos e folhas de tomate, essa porcentagem foi de 97%, e 88% quando alimentados com ovos e água. Neste experimento observou-se a ocorrência de fitofagia (Figura 2). Quando o predador foi alimentado somente com larvas não foi verificada a inserção do estilete do predador nas folhas de couve. Nos testes com chance de escolha observou-se a inserção do estilete na folha por 0,5 minuto uma única vez ao longo do experimento. Nos testes em que as fêmeas de P. nigrispinus foram confinadas com pupas de P. xylostella, os predadores inseriram o estilete nas folhas sete vezes por um período médio de 70,7 minutos para cada vez em que o predador efetuou a fitofagia. Pelo tempo de inserção nas folhas ter sido relativamente longo, aproximando-se do tempo gasto para se alimentar das presas, há fortes indícios que P. nigrispinus pode ter realmente se alimentado de folhas de couve. Novos estudos devem ser realizados para comprovar se realmente esses predadores são capazes de se alimentar Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 762

de folhas de couve e também para determinar o efeito da fitofagia na biologia do predador. Os inimigos naturais, em geral, somente estabelecem populações significativas nos ecossistemas após os picos populacionais das pragas. Esta é uma constatação confirmada pela prática nos ecossistemas agrícolas, especialmente, naqueles de ciclo curto como os de brássicas. Entre as razões para essa assincronia entre as pragas e os predadores em agroecossistemas, destaca-se a falta de presas abundantes nos estágios iniciais das culturas para a colonização dos predadores, o que ocasiona um estabelecimento lento dos inimigos naturais, que somente produzem populações expressivas tardiamente, após os picos populacionais das pragas. O estabelecimento inicial de predadores nos agroecossistemas através de liberações inoculativas pode permitir o crescimento populacional balanceado entre o inimigo natural e as pragas-alvo (Coelho, 2008). Assim, pode-se concluir que, P. nigrispinus prefere consumir lagartas de P. xylostella e mostra também comportamento de fitofagia, particularmente quando alimentado apenas com pupas. REFERÊNCIAS AZEVEDO FR; RAMALHO FS. 1999. Efeitos da temperatura e da defesa da presa no consumo pelo predador Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae). Pesquisa Agropecuária Brasileira 34: 165-171. AZEVEDO DO; ZANUNCIO JC; ZANUNCIO JÚNIOR JS; MARTINS GF; MARQUES-SILVA S; SOSSAI MF; SERRÃO JE. 2007. Biochemical and morphological aspects of the predator Brontocoris tabidus (Heteroptera: Pentatomidae). Brazilian Archives of Biology and Technology 50: 469-477. COELHO RR. 2008. O papel da planta hospedeira na história de vida do percevejo predador Brontocoris tabidus (Signoret) (Hemiptera: Pentatomidae). 2008. 61 f. Disseratação (Mestrado em Entomologia Agrícola) Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. COELHO RR; ARAÚJO JÚNIOR JM; TORRES JB. 2008. Comportamento de predação de Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) em função da disponibilidade do alimento. Arquivos do Instituto Biológico 75: 463-470. COHEN AC. 1995. Extra-oral digestion in predaceous terrestrial Arthropoda. Annual Review of Entomology 40: 85-103. COLL M; GUERSHON M. 2002. Omnivory in terrestrial arthropods: mixing plant and prey diets. Annual Review of Entomology 47: 267-297. GILLESPIE DR; MCGREGOR RR. 2000. The functions of plant feeding in the omnivorous predator Dicyphus hesperus: water places limits on predation. Ecological Entomology 25: 380-386. GULLAN PJ; CRANSTON PS. 2007. Os insetos: um resumo de entomologia. 3ª edição. São Paulo: Roca. 440p. HOLLING CS. 1959. Some characterists of simple types of predation and parasitism. Canadian Entomologist 91: 385-398. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 763

HOLTZ AM; PALLINI A; ZANUNCIO JC; PRATISSOLI D; MARINHO JS; PEREIRA CJ; DALVI LP. 2008. Resposta do predador Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae) à defesa induzida de planta por herbivoria. Magistra 20: 161-166. KOGAN M. 1972. Feeding and nutrition of insects associated with soybeans. 2. Soybean resistance and host preferences of Mexican bean beetle, Epilachna varivestis. Annals of Entomological Society of America 65: 675-683. MOURÃO SA; ZANUNCIO JC; MOLINA-RUGAMA AJ; VILELA EF; LACERDA MC. 2003. Efeito da escassez de presa na sobrevivência e reprodução do predador Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae). Neotropical Entomology 32: 469-473. OLIVEIRA JEM; TORRES JB; CARRANO-MOREIRA AF; ZANUNCIO JC. 2001. Efeito da densidade de presas e do acasalamento na taxa de predação de fêmeas de Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) em condições de laboratório e campo. Neotropical Entomology 30: 647-654. PFANNENSTIEL RS; HUNT RE; YEARGAN KV. 1995. Orientation of a hemipteran predator by feeding caterpillars. Journal of Insect Behavior 8: 1-9. SANCHEZ JA; GILLESPIE DR; MCGREGOR RR. 2004. Plant preference in relation to life history traits in the zoophytophagous predator Dicyphus Hesperus. Entomologia Experimentalis et Applicata 112: 7-19. SANTOS TM; BOIÇA JÚNIOR AL. 2002. Alabama argillacea (Hübner, 1818) (Lepidoptera, Noctuidae) e Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) (Hemiptera, Pentatomidae) em genótipos de algodoeiro: preferência para oviposição e capacidade predatória. Acta Scientiarum 24: 1341-1344. ZANUNCIO JC; SILVA CAD; LIMA ER; PEREIRA FF; RAMALHO FS; SERRÃO JE. 2008. Predation rate of Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) larvae with and without defense by Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae). Brazilian Archives of Biology and Technology. 51: 121-125. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 764

Tabela 1. Número médio de presas consumidas por fêmea de Podisus nigrispinus predando larvas e pupas de Plutella xylostella em testes sem e com chance de escolha (dupla chance) (number of prey consumed by Podisus nigrispinus female preying larvae and pupae of Plutella xylostella in no choice test and free choice test (dual-choice test)). Sem chance de escolha Presas n número de presas consumidas Larvas 30 2,8±0,04 1 Pupas 30 1,1±0,02 F 62,99** Com chance de escolha (dupla chance) Larvas 30 1,4±0,04 1 Pupas 30 0,9±0,03 F 3,33 ns 1 Médias±erro padrão; ns : não significativo; **, *: significativo a 1 e a 5% de probabilidade, respectivamente, pelo teste F; n=número de indivíduos avaliados (means±standart error; ns : not significant; **, *: significant at 1 and at 5% of probility, respectively, by F test; n=number of individual evaluated). 2 Preferência Pupa Larva Presas 1 PxL 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Índice de Preferência (IP) Figura 1. Índice de preferência (IP) de Podisus nigrispinus predando larvas e pupas de Plutella xylostella em teste de preferência para alimentação (dupla chance de escolha) (preference índex of Podisus nigrispinus preying larvae and pupae of Plutella xylostella in feeding preference test (dual-choice test)). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 765

Figura 2. Tempo médio (min) e número de vezes em que Podisus nigrispinus inseriu o estilete em folhas de couve, em teste de preferência para alimentação sem chance de escolha (larvas e pupas) e com dupla chance de escolha (larvas e pupas) de Plutella xylostella (average time (min) and number of times that Podisus nigrispinus insert the estylet in kale leaf, in feeding preference test no choice (larvae and pupae) and dual-choice (larvae and pupae) of Plutella xylostella). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 766