Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC)



Documentos relacionados
TÍTULO: OCORRÊNCIA DAS MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM CRIANÇAS ASSISTIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA, DA UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO, BAURU, SP

PREVALÊNCIA DE LESÕES NA MUCOSA ORAL NO PERÍODO DE 5 ANOS

Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no CEO Cidade Tiradentes - Município de

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS LESÕES BUCAIS NO PERÍODO DE 05 ANOS EPIDEMIOLOGICAL STUDY OF ORAL LESION IN THE PERIOD OF 05 YEARS

ALEXANDRE PINTO CARDOSO THIAGO EVELYN PEREIRA LOUREIRO PREVALÊNCIA DAS LESÕES DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE

ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE BUCAL

ABRA A BOCA CONTRA O CÂNCER BUCAL

REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS DO COMPLEXO REGULADOR DE FLORIANÓPOLIS

prevalência de lesões bucais diagnosticadas no laboratório de patologia bucal da Universidade Tiradentes ( )

Introdução.

ALTERAÇÕES DA NORMALIDADE E LESÕES BUCAIS ENCONTRADAS NUMA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DO SUL DO BRASIL

SIGPROJ Nº:

Saúde Bucal no Programa de Saúde da Família De Nova Olímpia - MT. Importância da Campanha de. Nova Olímpia MT.

GRANULOMA PIOGÊNICO: RELATO DE CASO CLÍNICO PYOGENIC GRANULOMA: CASE REPORT

ESTUDO RETROSPECTIVO DAS NEOPLASIAS CANINAS DIAGNOSTICADAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO PERÍODO DE 2009 A 2010

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

ESTUDO DA PREVALÊNCIA DO CÂNCER BUCAL NO HC DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ATRAVÉS DO CID 10

PROGRAMA DE RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA EM MULHERES DA REGIÃO DO CARIRI OCIDENTAL, ESTADO DA PARAÍBA

I CONGRESSO LONDRINENSE DE ODONTOLOGIA IV CONGRESSO ODONTOLÓGICO DA UEL

Concordância entre os diagnósticos clínicos e histopatológicos do Laboratório de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Pernambuco

RESUMO. Palavras-chave: Prevalência. Diagnóstico. Lesões.

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde Bucal CID 10

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL USCS

perfazendo carga horária semanal de 120 hs. semanais + 1 Auxiliar em Saúde Bucal (ASB) por CD *

CÂNCER DE BOCA. Disciplina: Proteção Radiológica. Docente: Karla Alves Discentes: André Luiz Silva de Jesus Paloma Oliveira Carvalho

Prevalência de processos proliferativos não neoplásicos na cavidade bucal: estudo retrospectivo de quarenta anos

Linha 1: Resposta biológica nas terapias em Odontologia.

SIMONE DE MACEDO AMARAL

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

Acta Ortopédica Brasileira ISSN versão impressa

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

Instituição Educacional: Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ A POPULAÇÃO CONHECE O CÂNCER BUCAL?

Prevalência de lesões bucais diagnosticadas pelo Laboratório de Histopatologia do UnicenP

SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. Gerência de Regulação PROTOCOLO DE ACESSO A EXAMES/PROCEDIMENTOS AMBULATORIAIS ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA

Pesquisa epidemiológica retrospectiva no programa de prevenção de câncer cérvico-uterino no município de Sarandi -PR

PNAD - Segurança Alimentar Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Radiology: Volume 274: Number 2 February Amélia Estevão

A MULHER EMPREENDEDORA DA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ

QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS PRÉ FONOTERAPIA EM GRUPO

Gastos com medicamentos para tratamento da Doença de Alzheimer pelo Ministério da Saúde,

Estudo retrospectivo das lesões bucais na clínica de Estomatologia da Universidade Paulista (UNIP)

TUMORES OSSEOS EM CABEÇA E PESCOÇO

Ilmo Senhor. Vereador Cesar Paulo Mossini. M.D Presidente da Câmara de Vereadores

Diretrizes Assistenciais

O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e

EMENTA: Mamografia de rastreamento - Periodicidade atrelada a riscos - Financiamento Público CONSULTA

Estudo da prevalência de cárie dentária na dentição permanente em crianças de 6 a 12 anos da rede pública de ensino no município de Joinville (SC)

1. Doenças periodontais em pacientes HIV positivos. 3. Analgesia no Serviço de Estomatologia do Hospital Heliópolis

MARINHA DO BRASIL DIRETORIA DE SAÚDE DA MARINHA CENTRO MÉDICO ASSISTENCIAL DA MARINHA ODONTOCLÍNICA CENTRAL DA MARINHA

Dados e Informações Sobre as Especialidades Odontológicas no Brasil

Gaudencio Barbosa R3 CCP Hospital Universitário Walter Cantídio UFC Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA COORDENAÇÃO NACIONAL DE HIPERTENSÃO E DIABETES

LEVANTAMENTO DOS DADOS DOS ATENDIMENTOS ULTRASSONOGRÁFICOS DO SERVIÇO DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM DO HV/EVZ/UFG

MOVIMENTO CASCAVEL ROSA - NA LUTA CONTRA O CÂNCER

Título: PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL NA EMEB JOÃO MARIA GONZAGA DE LACERDA

Caracterização dos doentes toxicodependentes observados pela equipa de Psiquiatria de Ligação - análise comparativa dos anos de 1997 e 2004

Indicador 24. Cobertura de primeira consulta odontológica programática

Portaria nº 283 GM de 22 de Fevereiro de 2005 (Republicada em 10 de março de 2005)

Cré d. Cód Sem Módulo Ementa Créd


EXAME CITOPATOLÓGICO: A NÃO ADESÃO E A OCORRÊNCIA DE CÂNCER DE COLO UTERINO ENTRE AS MULHERES PERTENCENTES À TERCEIRA IDADE

Atendimento odontológico ao paciente com câncer bucal na cidade de Goiânia*

Apesar de ser um tumor maligno, é uma doença curável se descoberta a tempo, o que nem sempre é possível, pois o medo do diagnóstico é muito grande,

ESTUDO DO PADRÃO DE PROLIFERAÇÃO CELULAR ENTRE OS CARCINOMAS ESPINOCELULAR E VERRUCOSO DE BOCA: UTILIZANDO COMO PARÂMETROS A

1. Da Comunicação de Segurança publicada pela Food and Drug Administration FDA.

PROJETO DE LEI Nº DE 2007 (Do Sr. José Eduardo Cardozo)

FATORES ASSOCIADOS AO CARCINOMA ESCAMOCELULAR. Thiago de Souza Brandão Santos¹ ; Maria Emilia Santos Pereira Ramos¹

TÍTULO: UTILIZAÇÃO DA MAMOGRAFIA PARA O DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA MASCULINO

Especialidades Odontológicas

RLN (regional lymphnode linfonodo regional) 53-74%(tamanho não esta alterado). Pacientes com Mandubulectomia e Maxilectomia o MST é acima de um ano.

Marília Rodrigues Moreira

Autorizado pela Portaria no 131, de 13/01/11, publicada no DOU no 11, de17/01/11, seção 1, pág.14 PLANO DE CURSO

CONHECIMENTO DE PROFESSORES ACERCA DO DESENVOLVIMENTO DE FALA E AÇÕES

O MUNDO DAS FORMIGAS LAMANA, Isabel C. A. C. MESSIAS, Leidi Renata SPRESSOLA, Nilmara H.

Descobrindo o valor da

CANCER DE MAMA FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA NOS ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL ADELMO SIMAS GENRO, SANTA MARIA, RS: UMA ANÁLISE DESCRITIVA PARCIAL 1

Alterações da normalidade podem ocorrer nos tecidos orais, sendo necessário

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CAMPUS DE SOBRAL CURSO DE ODONTOLOGIA PATOLOGIA GERAL E ORAL

Os efeitos do controle farmacológico no comportamento futuro de pacientes menores de três anos no consultório odontológico

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, TRATAMENTO E SOBREVIDA DE PACIENTES COM CÂNCER BUCAL EM TAUBATÉ E REGIÃO

Tratamento do câncer no SUS

Saúde da mulher em idade fértil e de crianças com até 5 anos de idade dados da PNDS 2006

TÍTULO: "SE TOCA MULHER" CONHECIMENTO DAS UNIVERSITÁRIAS SOBRE O CÂNCER DE MAMA

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

Rastreamento Organizado para a Detecção Precoce do Câncer de Mama

118 Paraíba. De todas as doenças que atingiram. Uma das Maiores Prevalências de Câncer Bucal da Federação Brasileira

CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DE IDOSAS. UM OLHAR PARA VIÇOSA, MINAS GERAIS, BRASIL

MANUAL DE PROCEDIMENTOS DO PROFISSIONAL VOLUNTÁRIO DENTISTAS GUIA DO VOLUNTÁRIO.

VI Workshop Internacional de Atualização em Hepatologia 2012 Pólipos de Vesícula Biliar Diagnóstico e Conduta

15/07/2015 INTERAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA COM APOIO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICO E O PAPEL DO CEO-R NA LINHA DE CUIDADO DO CÂNCER DE BOCA

Carcinoma espinocelular bucal de grande extensão protocolo diagnóstico. Oral squamous cell carcinoma of great extent - protocol diagnosis

Registro Hospitalar de Câncer de São Paulo:

MORBIDADE E MORTALIDADE POR NEOPLASIAS NO ESTADO DE PERNAMBUCO

MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA COORDENAÇÃO NACIONAL DE HIPERTENSÃO E DIABETES

Transcrição:

ISSN: Versão impressa: 1806-7727 Versão eletrônica: 1984-5685 RSBO. 2011 Jan-Mar;8(1):13-8 Artigo Original de Pesquisa Original Research Article Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC) Frequency of oral lesions diagnosed at the Dental Specialties Center of Tubarão (SC) Greicy Kniest 1, 2 Roberta Targa Stramandinoli 2 Lúcia Fátima de Castro Ávila 1 Ana Claudia A. dos Santos Izidoro 1 Endereço para correspondência: Corresponding author: Roberta Targa Stramandinoli Rua Francisco Torres, n.º 742, apto. 1.202 Centro CEP 80060-130 Curitiba PR E-mail: robertastramandinoli@yahoo.com.br 1 Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão Tubarão SC Brasil. 2 Departamento de Estomatologia, Instituto Paranaense de Pesquisas Odontológicas, Hospital Geral de Curitiba Curitiba PR Brasil. Recebido em 20/4/2010. Aceito em 9/6/2010. Received for publication: April 20, 2010. Accepted for publication: June 9, 2010. Palavras-chave: epidemiologia; prevalência; diagnóstico bucal; doenças da boca. Resumo Introdução: Estudos epidemiológicos das doenças bucais caracterizam as populações averiguadas e proporcionam referenciais para a elaboração de estratégias de tratamento e prevenção. Objetivo: Determinar a frequência das lesões bucais mais comuns e o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Centro de Especialidades Odontológicas do município de Tubarão (SC) entre os anos 2003 e 2008. Material e métodos: Foi feito um trabalho retrospectivo, por meio da análise de um banco de dados preexistentes de todos os indivíduos atendidos no serviço, desde a sua implantação. As variáveis sexo, idade, procedência, presença de lesão bucal, realização de biópsia e resultado anatomopatológico foram levantadas, armazenadas em uma planilha de Excel e submetidas a análise estatística descritiva, efetuando-se a correlação das variáveis e a determinação da frequência de cada lesão. Resultados: Dos 140 pacientes, 89 eram mulheres e

14 Kniest et al. Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC) 51 homens. A idade variou de 4 a 81 anos, com média de 47,2 anos. Do total de pacientes, 121 apresentaram lesão bucal no momento da consulta, e cinco tinham duas lesões diferentes e concomitantes, totalizando 126 lesões. Treze não possuíam nenhuma lesão bucal no momento do exame clínico, seis queixaram-se de xerostomia e quatro de hipossalivação com algum outro tipo de lesão também, porém nenhum exame complementar foi efetuado para determinar alteração no fluxo salivar. Realizaram-se 54 biópsias para confirmação diagnóstica. Quanto às lesões, 97,6% tinham características de benignidade; as mais frequentes foram candidose (14,3%), hiperplasia fibrosa inflamatória (12,6%), mucocele (9,5%) e fibroma (5,5%). Foram confirmados três casos de neoplasia maligna; todos eram carcinoma escamocelular. Conclusão: Constatou-se que 86,4% dos pacientes apresentaram lesão bucal no momento da consulta, e as lesões benignas apareceram em quase 98% dos casos. A candidose bucal foi a lesão mais prevalente, seguida da hiperplasia fibrosa inflamatória. Em relação ao perfil epidemiológico dos indivíduos assistidos, aproximadamente 64% pertenciam ao gênero feminino, com idade média de 47 anos. Keywords: epidemiology; prevalence; diagnosis, oral; mouth diseases. Abstract Introduction: Epidemiological studies of different oral diseases characterize the studied populations and provide references for the development of treatment and prevention strategies. Aim: To determine both the frequency of the most common oral lesions and the epidemiological profile of patients treated at the Dental Specialties Center (DSC) of the city of Tubarão / SC, from 2003 to 2008. Material and methods: A retrospective study was performed, by analyzing a preexisting databank of all patients treated at the center, since its implementation. The following variables were studied: sex, age, origin, presence of oral lesions, biopsy to confirm the diagnosis, and pathology results. Then, data were stored in an Excel worksheet and submitted to statistical descriptive analysis, through the correlation among variables and determining the frequency of each lesion. Results: From 140 patients, 89 were female and 51 male. Age ranged from 4 to 81 years, with an average age of 47.2 years. Considering the total number of patients, 121 presented an oral lesion at the time of the appointment. Five patients showed two different and concomitant lesions, totaling 126 lesions. Thirteen patients did not present any oral lesion at clinical examination. Six patients complained about xerostomia and 04 about hyposalivation with some other concomitant lesion, but no additional examination was performed to determine changes in salivary flow. A total of 54 biopsies was performed for diagnostic confirmation. 97.6% of the lesions were benign, among which oral candidosis (14.3%), inflammatory fibrous hyperplasia (12.6%), mucocelis (9.5%), and fibroma (5.5%) were the most frequent. Three cases of malignant neoplasia were found, all confirmed as squamous cell carcinoma. Conclusion: Most of the patients (86.4%) showed an oral lesion at the time of the appointment, and the benign lesions totalized almost 98% of the cases. Oral candidiasis was the most prevalent lesion, followed by inflammatory fibrous hyperplasia. Concerning to the epidemiological profile of the treated patients, approximately 64% were female, with a mean age of 47 years-old.

RSBO. 2011 Jan-Mar;8(1):13-8 15 Introdução Os estudos epidemiológicos perfazem uma grande área da pesquisa científica e desempenham importante papel, pois revelam a prevalência e a incidência de inúmeras doenças e particularizam a distribuição destas conforme características própr i a s do a mbient e onde e st ão s e ndo analisadas. A l iterat u ra mu nd i a l t ra z u m g ra nde número de trabalhos referentes à cárie dental em crianças e à doença periodontal em adultos. Logo, historicamente o cirurgião-dentista tem sido associado ao tratamento das enfermidades que afetam os dentes com muito mais ênfase do que com o de outras doenças da boca [2, 9]. A pesquisa epidemiológica de lesões bucais em determinada região geográfica estabelece as reais necessidades da referida população, bem como proporciona aos profissionais facilidade na elaboração de planos de tratamento e ações preventivas. Diante disso, destacamos o município de Tubarão. Localizada no sul do estado de Santa Catarina, a cidade tem população de 92.569 habitantes e é sede de microrregião que congrega 17 municípios, perfazendo um total de 319.644 habitantes [3]. Diversos autores publicaram levantamentos epidemiológicos de lesões bucais em diversos centros de referências, e as lesões benignas mais frequentes forão: processos inflamatórios crônicos inespecíficos, hiperplasia fibroepitelial inflamatória, fibroma, mucocele, hemangioma, granuloma piogênico, cistos radiculares e odontogênicos [2, 5, 6, 9, 10]. Entre as lesões bucais malignas encontradas, a mais recorrente foi o carcinoma escamocelular [8, 10]. Em 2002 foi realizada uma investigação retrospectiva semelhante a esta com o objetivo de determinar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Centro de Diagnóstico de Lesões Bucais de Curitiba, Paraná [8]. Nos primeiros 15 meses de operação encaminharam-se e avaliaramse 1.316 indivíduos, com uma média de atendimento de 87,8 pessoas/mês. Os autores fizeram 403 biópsias de lesões suspeitas e confirmaram o diagnóstico de diferentes lesões benignas e 15 casos de neoplasias malignas. Além do estudo epidemiológico de lesões bucais, faz-se importante pesquisar as alterações da normalidade da mucosa bucal. Um trabalho de 2007 identificou a prevalência de alterações da normalidade e lesões da mucosa bucal em pacientes assistidos na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. De acordo com os resultados, alterações como hiperqueratose (19,6%), seguidas de manchas melânicas (16,8%), língua saburrosa (8,8%), grânulos de Fordyce (8,8%) e úlcera traumática (8,4%), foram as que mais apareceram [11]. Outra análise semelhante efetuada na Índia em 2008 relatou a presença de lesões e modificações de normalidade na mucosa oral em 41,2% da população, sendo as mais recorrentes: hiperqueratose, fibroma, infecções oportunistas e neoplasias malignas [7]. Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) são unidades de saúde classificadas como clínica especializada ou ambulatório de especialidade e estão preparados para oferecer às pessoas, no mínimo, os serviços de diagnóstico bucal, com ênfase no diagnóstico e na detecção do câncer de boca, de periodontia especializada, cirurgia oral menor dos tecidos moles e duros, endodontia e atendimento a portadores de necessidades especiais. Nesses locais há a continuidade do trabalho executado pela rede de atenção básica e pelas equipes de saúde bucal. Os profissionais da atenção básica ficam responsáveis pelo primeiro atendimento ao paciente, e ocorre encaminhamento dele aos centros especializados apenas em casos mais complexos [1]. O CEO de Tubarão disponibiliza atendimento odontológico especializado à população de toda a microrregião. Em 2003 implantou-se a especialidade Estomatologia. Desde então fazemse o diagnóstico e o tratamento de várias lesões do complexo bucomaxilofacial. No entanto, após cinco anos de efetivo funcionamento, ainda não foi definido o perfil dos pacientes atendidos, assim como a frequência de lesões bucais mais comuns. O objetivo deste estudo foi determinar a frequência das lesões bucais mais comuns e o perfil epidemiológico dos sujeitos assistidos no Centro de Especialidades Odontológicas do município de Tubarão (SC) entre os anos 2003 e 2008. Material e métodos O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Uniandrade (PR) sob registro n.º 289/09. Efetuou-se uma pesquisa retrospectiva por

16 Kniest et al. Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC) meio da análise de um banco de dados preexistentes de todos os pacientes atendidos no CEO, desde a sua implantação (totalizando 51 meses de atendimento). As variáveis sexo, idade, procedência, presença de lesão bucal, realização de biópsia para confirmação diagnóstica e resultado anatomopatológico foram examinadas e armazenadas em uma planilha do Excel. A análise estatística descritiva serviu para correlacionar as variáveis pertinentes ao estudo e determinar a frequência de cada lesão bucal diagnosticada. Resultados Após a análise do banco de dados dos pacientes assistidos no CEO, verificou-se que 140 deles foram atendidos no serviço de Estomatologia. Destes, 121 (86,4%) apresentaram lesões bucais, dos quais cinco possuíam duas lesões bucais diferentes e concomitantes. Treze pacientes não tinham nenhuma alteração bucal no momento da consulta. O número total de lesões encontradas foi de 126, das quais se submeteram 54 à biópsia para confirmação diagnóstica. Quanto à procedência dos pacientes, 117 (83,6%) eram da cidade de Tubarão e os demais (16,4%) de outros municípios da região, como Armazém, Gravatal, Capivari de Baixo, Treze de Maio, São Ludgero, entre outros. Em relação ao gênero, 89 pertenciam ao sexo feminino (63,6%) e 51 ao masculino (36,4%). A idade variou de 4 a 81 anos, e a média de idade ficou em 47,2 anos. A prevalência das lesões mais comuns foi: 18 casos de candidose bucal (14,3%), 16 de hiperplasia fibrosa inflamatória (12,6%), 12 de mucocele (9,5%) e sete de fibroma (5,5%). No que t a nge às neoplasias ben i g nas, registraram-se quatro tipos distintos: dois casos de lipoma (1,6%), três de hemangioma (2,4%), quatro de papiloma (3,2%) e sete de fibroma (5,5%). Todos os eventos de neoplasia maligna (três casos de carcinoma escamocelular) descobertos foram encaminhados para tratamento em centros especializados em cirurgia oncológica. O número de casos e a frequência de cada lesão diagnosticada podem ser visualizados na tabela I. Tabela I Distribuição dos diagnósticos mais comuns das lesões em número absoluto e percentual Lesões N.º % Candidose bucal 18 14,3 Hiperplasia fibrosa inflamatória 16 12,6 Mucocele 12 9,5 Fibroma 7 5,5 Trauma por prótese 6 4,7 Afta 5 3,9 Morsicatiun 5 3,9 Abscesso odontogênico 4 3,2 Exostose 4 3,2 Granuloma piogênico 4 3,2 Papiloma 4 3,2 Carcinoma escamocelular 3 2,4 Hemangioma 3 2,4 Líquen plano 3 2,4 Pigmentação melânica 3 2,4 Queilite actínica 3 2,4 Rânula 2 1,6 Cálculo salivar 2 1,6 Glossite migratória benigna 2 1,6 Hematoma 2 1,6 Herpes 2 1,6 Leucoplasia 2 1,6 Lipoma 2 1,6 Esclerose óssea 1 0,8 Granuloma central de células gigantes 1 0,8 Granulos de Fordyce 1 0,8 Granuloma periférico de células gigantes 1 0,8 Hiperceratose 1 0,8 Hiperplasia gengival 1 0,8 Hiperplasia papilomatosa de palato 1 0,8 Osteoma 1 0,8 Paracoccidioidomicose 1 0,8 Pigmentação nicotínica 1 0,8 Queimadura 1 0,8 Tatuagem de amálgama 1 0,8 Total 126 100 Fonte: Dados da pesquisa

RSBO. 2011 Jan-Mar;8(1):13-8 17 Discussão Vários estudos vêm sendo desenvolvidos com o intuito de determinar a frequência de lesões bucais em diferentes regiões geográficas [2, 4, 5, 10]. No presente trabalho fez-se um levantamento de dados de 140 pacientes examinados no Serviço de Estomatologia do CEO de Tubarão no período de 2003 a 2008. A faixa etária de maior prevalência atendida no local foi a dos indivíduos com idade igual ou maior a 41 anos (73,9%). Crianças e jovens (entre 1 e 20 anos) totalizaram 15,2% da amostra, seguidos das pessoas com 21 a 40 anos (10,9%). Em relação à variável gênero, 63,6% eram mulheres e 36,4% homens, corroborando pesquisas anteriores, em que o sexo feminino também foi o mais acometido por lesões bucais [5, 6]. Isso mostra maior preocupação das mulheres com a saúde bucal. D o t o t a l d a s l e s õ e s d i a g n o s t i c a d a s, consideraram-se 97,6% benignas e 2,4% malignas, resultado semelha nte a out ra investigação brasileira, em que 95% das lesões eram benignas e 5% malignas [5]. Esse fato reforça o perfil dos indivíduos assistidos no serviço de Estomatologia do CEO, para o qual grande parte é encaminhada em busca de diagnóstico e tratamento de lesões benignas, entre elas candidose (14,3%), hiperplasia fibrosa inflamatória (12,6%), mucocele (9,5%), hipossalivação (7,1%) e fibroma (5,5%). Resultados similares foram encontrados por outros estudos sobre prevalência de lesões bucais [2, 6, 10]. Quanto às neoplasias benignas, a mais predominante foi o fibroma (5,5%); depois vieram papiloma (3,2%), hemangioma (2,4%) e lipoma (1,6%). Quando se associou a presença de lesão à variável gênero, constatou-se que ocorreu maior prevalência no feminino. Tal resultado é muito parecido com um verificado na Índia, onde se detectou predominância dos fibromas em mulheres. No tocante ao grupo das lesões hiperplásicas e lesões reacionais, a hiperplasia fibrosa inflamatória foi a principal representante (12,6%), seguida a distância pelo granuloma piogênico (3,2%), pela hiperplasia papilomatosa de palato (0,8%) e hiperplasia gengival (0,8%), assim como em análises similares [6, 10]. Entretanto, das lesões reacionais mais frequentes, Lima et al. (2008) [5] acharam granuloma piogênico (2,6%) e hiperplasia fibrosa inflamatória, granuloma periférico de células gigantes e fibroma ossificante periférico em igual proporção (2,2%). Levando-se em conta as variações da normalidade da mucosa bucal, notou-se maior prevalência de pigmentação melânica (2,4%) e de glossite migratória benigna (1,6%). Grânulos de Fordyce e linha alba tiveram incidência de 0,8% cada, percentual semelhante a de outros trabalhos [7, 11]. A ulceração traumática por prótese mostrou-se a lesão traumática da mucosa bucal mais frequente (4,7%), seguida de ulcerações aftosas recorrentes (3,9%) e morsicatiun (3,9%). Diversas investigações referem alta ocorrência de ulcerações inespecíficas da mucosa oral, sendo o trauma o principal fator etiológico [2, 5]. Das lesões cancerizáveis, a queilite actínica foi a que mais apareceu (2,4%), acompanhada da leucoplasia (1,6%). O líquen plano oral foi a única condição cancerizável diagnosticada, com 2,4% do total de lesões. Esses índices confirmam achados de outros trabalhos, uma vez que em regiões onde a agricultura é prevalente, com exposição solar acentuada na região facial, sobretudo em lábio inferior, a queilite actínica se mostra bastante comum [5, 7, 8]. A frequência de neoplasias malignas detectadas neste estudo foi de 2,4%, representadas por três casos de carcinoma escamocelular de boca. Estudos epidemiológicos na mesma linha apresentaram incidência de lesões malignas menor que 2% [7, 8, 10]. O baixo número de casos de malignidade verificados em centros odontológicos é justificado pelo fato de que normalmente os pacientes com lesões suspeitas procuram centros médicos ou hospitalares, não passando pelo serviço odontológico para ser efetuado o diagnóstico inicial. F a z e m - s e n e c e s s á r i a s i n v e s t i g a ç õ e s epidemiológicas das mais variadas doenças bucais, haja vista que caracterizam as populações examinadas e proporcionam referenciais para a elaboração de estratégias de tratamento e prevenção. Conclusão Constatou-se que 86,4% dos indivíduos atendidos tinham lesão bucal no momento da consulta, e as lesões benignas totalizaram quase 98% dos casos. A candidose bucal foi a lesão mais predominante, seguida da hiperplasia fibrosa inflamatória. Em relação ao perfil epidemiológico dos pacientes assistidos, 64% eram do sexo feminino, com idade média de 47 anos.

18 Kniest et al. Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC) Referências 1. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Manual de especialidades em saúde bucal. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. 128 p. 2. Cavalcante ASR, Marsílio AL, Kühne SS, Carvalho YR. Lesões bucais de tecido mole e ósseo em crianças e adolescentes. Pós- Grad Rev Fac Odontol São José dos Campos. 1999;2(1):67-75. 3. Contagem Populacional 2007. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, 2008 [cited 2008 Dec]. Available from: http://www.ibge. gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/ default.shtm 4. Fortes TMV, Queiroz LMG, Piva MR, Silveira EJD. Estudo epidemiológico de lesões proliferativas não neoplásicas da mucosa oral análise de 20 anos. Ciênc Odontol Bras. 2002;5(3):54-61. 5. Lima GS, Fontes ST, Araújo LMA, Etges A, Tarquínio SBC, Gomes APN. A survey of oral and maxillofacial biopsies in children. A single-center retrospective study of 20 years in Pelotas-Brazil. J Appl Oral Sci. 2008;16(6):397-402. 6. Marin HJI, Silveira MMF, Souza GFM, Pereira JRD. Lesões bucais: concordância diagnóstica na Faculdade de Odontologia de Pernambuco. Odontol Clín Científ. 2007;6(4):315-8. 7. Mathew AL, Pai KM, Sholapurkar AA, Vengal M. The prevalence of oral mucosal lesions in patients visiting a dental school in Southern India. Indian J Dent Res. 2008;19(2):99-103. 8. Miyachi S, Tommasi MHM, Zardo F, Sugita RK, Gevaerd S, Giuriatti WA et al. Oral cavity lesions diagnostic center: potencial impact in oral cancer epidemiology in Curitiba. BCI. 2002;9(33):80-5. 9. Rocha DAP, Oliveira LMm, Souza LB. Neoplasias benignas da cavidade oral: estudo epidemiológico de 21 anos (1982-2002). Rev Odontol Univ São Paulo. 2006;18(1):53-60. 10. Sobral APV. Estudo epidemiológico de 2.147 casos de lesões bucomaxilo-faciais. RBPO. 2007;2(4):70-81. 11. Vieira VG, Fernandes AM, Machado APB, Grossman SMC, Aguiar MCF. Prevalência das alterações da normalidade e lesões da mucosa bucal em pacientes atendidos nas Clínicas Integradas de Atenção Primária (Ciaps) da faculdade de Odontologia/ UFMG. Arquivos em odontologia. 2007;43(1):13-8. Como citar este artigo: Kniest G, Stramandinoli RT, Ávila LFC, Izidoro ACAS. Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC). RSBO. 2011 Jan-Mar;8(1):13-8.