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Transcrição:

PARLAMENTO EUROPEU 2004 Comissão dos Assuntos Jurídicos 2009 9.7.2008 DOCUMENTO DE TRABALHO sobre o relatório da Comissão sobre a aplicação da Directiva 2001/29/CE relativa à harmonização de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade da informação Comissão dos Assuntos Jurídicos Relator: Manuel Medina Ortega DT\733882.doc Tradução externa PE409.616v01-00

I. Direito de autor e direitos conexos na sociedade da informação A protecção do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade da informação é importante para o desenvolvimento da vida económica do mercado interno. O direito de autor reconhece tradicionalmente ao autor dois importantes direitos patrimoniais, o direito de reprodução e o direito de comunicação ao público. A sociedade da informação abre novos mercados onde as obras protegidas podem ser exploradas através de produtos electrónicos e serviços interactivos. Neste contexto, a protecção do direito de autor é uma das condições essenciais para estimular a criatividade e a inovação, bem como as diferentes identidades culturais. O direito de autor não é apenas uma recompensa ex-post do trabalho do criador, mas igualmente um meio para promover a criação. Este aspecto incentivador é ainda mais importante para os produtores e os intermediários da distribuição. Os titulares dos direitos deveriam, pois, poder beneficiar da protecção do direito de autor e dos direitos conexos, onde quer que esses direitos estejam estabelecidos, independentemente das fronteiras nacionais ou das modalidades de utilização durante todo o seu período de validade. A pirataria na sociedade da informação impede a prossecução de uma actividade criativa que deve permanecer financeiramente rentável. É necessário considerar que os bens de natureza informacional têm uma estrutura de custos atípica, em que a maior parte das despesas se situa a nível da concepção e da produção. É preciso evitar que o direito de autor seja desvirtuado pelo progresso tecnológico A luta contra a pirataria deve ser travada em várias vertentes: educação e prevenção, desenvolvimento da acessibilidade à oferta digital legal, cooperação e sanções penais Actualmente, é necessário assegurar o equilíbrio entre os interesses legítimos dos autores e os interesses do público e da sociedade, à luz da Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU, cujo artigo 27.º estabelece que: 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. A Directiva 2001/29/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à harmonização de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade da informação visa um triplo objectivo: - reafirmar os direitos do autor e dos titulares de direitos conexos tendo em conta as especificidades do ambiente digital; - definir o regime das excepções a esses direitos; - assegurar a protecção jurídica das medidas de carácter tecnológico aplicadas às obras e às prestações a fim de evitar os actos não autorizados pelos titulares dos direitos. A directiva é coerente com os tratados de 1996 da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) sobre o Direito de Autor e sobre Prestações e Fonogramas. PE409.616v01-00 2/6 DT\733882.doc

Ao estabelecer um enquadramento legal harmonizado do direito de autor, que favorece a adaptação do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade da informação, a Directiva 2001/29 CE contribui para a consecução de um dos objectivos prioritários definidos pelo Conselho Europeu de Lisboa no âmbito da transição para uma economia competitiva e dinâmica baseada no conhecimento. A directiva deixou aos Estados-Membros uma grande margem de liberdade no tocante à transposição das suas disposições, criando, por vezes, uma insegurança jurídica em cada país e disparidades entre os Estados-Membros decorrentes do carácter facultativo de muitas das disposições. Este carácter facultativo confere aos Estados-Membros a liberdade de adoptarem, em função de necessidades específicas, várias excepções aos direitos mencionados assim como a tarefa de assegurar a protecção jurídica em termos por vezes muito vagos. II. Elementos para avaliar a aplicação da Directiva 2001/29/CE O relatório da Comissão Europeia sobre a aplicação da Directiva 2001/29/CE, relativa à harmonização de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade da informação (SEC 2007/1556), analisa a transposição pelos Estados-Membros e a aplicação pelo órgão jurisdicional nacional dos artigos 5.º (excepções e limitações), 6.º (obrigações em relação a medidas de carácter tecnológico) e 8.º (sanções e vias de recurso) da directiva em questão. O regime de excepções, a sua aplicação e transposição prática - O artigo 5.º da directiva menciona uma excepção obrigatória (n.º 1) e excepções facultativas apenas ao direito de reprodução (n.º 2) ou ao direito de reprodução, comunicação ao público e colocação à disposição do público (n.º 3), excepções facultativas que podem ser igualmente aplicáveis ao direito de distribuição (n.º 4). - O n.º 5 submete todas as excepções e limitações aos diversos direitos exclusivos mencionados pela directiva ao "critério dos três graus" (avaliação tripla) ou seja as excepções e limitações só se aplicarão em certos casos especiais que não entrem em conflito com uma exploração normal da obra ou outro material e não prejudiquem irrazoavelmente os legítimos interesses do titular do direito. Este "critério dos três graus" é formulado à semelhança do n.º 2 do artigo 9.º da Convenção de Berna relativo ao direito de reprodução das obras literárias e artísticas e do artigo 10.º dos Tratados OMPI de 1996. O n.º 1 do artigo 5.º prevê a excepção para actos de reprodução temporária que sejam transitórios e episódicos e que constituam parte integrante e essencial de um processo tecnológico. O artigo 2.º da directiva reafirma o direito de reprodução em termos mais abrangentes, mas no ambiente digital as reproduções são numerosas e frequentemente efémeras. Todavia, não deixam de estar abrangidas pelo direito exclusivo, pelo que uma reprodução como a que seria necessária para determinados modos de comunicação é objecto de uma excepção, a única obrigatória prevista na directiva (n.º 1 do artigo 5.º). DT\733882.doc 3/6 PE409.616v01-00

Por outro lado, com o acórdão Google-Copiepresse de 13 de Fevereiro de 2007, os tribunais belgas decidiram que a cópia de uma página Web armazenada nos servidores da Google e a existência de uma ligação que torna possível o acesso público à mesma página Web violam o direito de reprodução e o direito de comunicação ao público. Todos os Estados-Membros, com excepção do Reino Unido e da Irlanda, transpuseram com algumas diferenças a excepção aplicável às reproduções para uso privado prevista na alínea b) do n.º 2 do artigo 5.º. Além disso, os tribunais belga e francês estabeleceram que não se trata de um direito que é sempre aplicável (Test Achats contra EMI, Court d'appel de Brussel (Tribunal de Recurso de Bruxelas) 9/92005 e Studio Canal contra S. Perquin et Union fédérale des consommateurs Que Choisir, Court de Cassation de Paris (Tribunal de Cassação de Paris) de 28 de Fevereiro de 2006). A este respeito, seria desejável que a excepção prevista para a cópia privada integrasse sempre a noção de fonte lícita para evitar as dúvidas sobre a protecção do direito de autor no âmbito da transferência ilícita, considerando que, com a reprodução digital, é possível efectuar com facilidade várias cópias de qualidade perfeita, o que permite igualmente uma maior difusão. A excepção prevista na alínea c) do n.º 2 do artigo 5.º em relação a actos específicos de reprodução praticados por bibliotecas ou outras entidades que não tenham por objectivo a obtenção de uma vantagem económica ou comercial não é ilimitada. A excepção limita-se a casos específicos como, por exemplo, reproduções necessárias para a preservação de obras incluídas nos catálogos das bibliotecas. Os editores, por exemplo, consideram ter direito a conceder a autorização prévia para a digitalização de um livro, como no recurso interposto pelo Grupo La Martinière e outros contra a Google em 6 de Junho de 2006, no Tribunal de Grande Instance de Paris (Tribunal de Primeira Instância). É evidente que a disponibilização ao público das obras na Internet pelas bibliotecas digitais pode representar um prejuízo muito grave para os titulares dos direitos de autor. A excepção aplicável à imprensa prevista na alínea c) do n.º 3 do artigo 5.º para a utilização de fragmentos em relatos de acontecimentos de actualidade foi interpretada por alguns Estados-Membros num sentido muito amplo, mas com o acórdão Copiepresse v. Google, os tribunais belgas consideraram que a reprodução pela Google de excertos de artigos sem comentários não está abrangida por esta excepção. O mesmo acórdão não considera aplicável ao serviço Google.News a excepção prevista para a utilização de citações para fins de crítica ou análise, nos termos do disposto na alínea d) do n.º 3 do artigo 5.º. A excepção prevista na alínea k) do n.º 3 do artigo 5.º no caso de uma utilização para efeitos de caricatura ou paródia foi transposta para as legislações nacionais com diferenças significativas. Não está, por exemplo, prevista para o Reino Unido e é rigorosamente regulamentada na Alemanha, de acordo com a jurisprudência do Tribunal Regional de Hamburgo através da sua decisão sobre os thumbnails de 5 de Setembro de 2003. PE409.616v01-00 4/6 DT\733882.doc

A protecção das medidas de carácter tecnológico O artigo 6.º da directiva solicita aos Estados-Membros que assegurem uma protecção jurídica contra a neutralização de qualquer medida eficaz de carácter tecnológico destinada à protecção (TPM technological protection measures) e contra a sua difusão. O n.º 3 do artigo 6.º define medidas de carácter tecnológico como: quaisquer tecnologias, dispositivos ou componentes que, durante o seu funcionamento normal, se destinem a impedir ou restringir actos, no que se refere a obras ou outro material, que não sejam autorizados pelo titular de um direito de autor ou direitos conexos previstos por lei ou do direito sui generis previsto no capítulo III da Directiva 96/9/CE. No Reino Unido, o acórdão Sony Computer Entertainment contra Ball, do High Court of Justice (Tribunal de Segunda Instância) de 2005, estabeleceu que para incluir uma medida de carácter tecnológico na definição do n.º 3 do artigo 6.º (TPM) seria necessário estabelecer se a medida foi criada especificamente para esse efeito ( it is necessary to determine whether it is designed in the normal course of its operation to prevent unauthorised use of copyright work in a way which would amount to an infringement of copyright ). Com o Acórdão Heise Online de 2005, a jurisprudência alemã estabeleceu a interdição de oferecer software destinado a neutralizar medidas de carácter tecnológico de protecção, mesmo com ligações a um sítio Web offshore. A noção de medida técnica eficaz foi transposta por todos os Estados-Membros, com excepção da Eslováquia e da Suécia. Por outro lado, na Finlândia, em 2007, um Acórdão do Tribunal de Helsínquia, relativo a um procedimento contra distribuidores de software de neutralização, estabeleceu que o sistema de protecção CSS utilizado para DVD foi ineficaz porque estavam disponíveis na Internet vários tipos de software de neutralização. O n.º 4 do artigo 6.º prevê que os Estados-Membros possam adoptar medidas adequadas para garantir excepções na ausência de medidas voluntárias adoptadas pelo titular de direitos à protecção das medidas de carácter tecnológico destinadas à protecção dos beneficiários nos casos indicados nas alíneas a), b), c) e e) do n.º 2 do artigo 5.º e nas alíneas a), b) ou e) do n.º 3 do artigo 5.º. Esta noção relativamente ampla de medidas adequadas encontra diferentes aplicações nos Estados-Membros. Não houve, por exemplo, qualquer transposição na Áustria, República Checa e Países Baixos; em contrapartida, existem medidas de mediação e de arbitragem na Finlândia, Dinamarca, Estónia, Grécia e Hungria ou a possibilidade de interpor acções judiciais na Bélgica, Alemanha, Espanha e Irlanda. Por último, a França prevê a interposição de recursos por via administrativa. As sanções e a protecção dos titulares do direito de autor e dos direitos conexos O n.º 3 do artigo 8.º da directiva 2001/29/CE estabelece que Os Estados-Membros deverão garantir que os titulares dos direitos possam solicitar uma injunção contra intermediários cujos serviços sejam utilizados por terceiros para violar um direito de autor ou direitos conexos. Apenas a Áustria, a Grécia, a Lituânia e a Bélgica transpuseram explicitamente este artigo, o qual está abrangido pela legislação em vigor nos restantes Estados-Membros. DT\733882.doc 5/6 PE409.616v01-00

Nos últimos anos, foram interpostas várias acções judiciais contras os fornecedores de acesso e os serviços de alojamento Web. Em 29 de Junho de 2007, o Tribunal de Primeira Instância de Bruxelas ordenou à sociedade Scarlet (ex-tiscali) que instalasse filtros para evitar desvio de ficheiros através da comunicação directa entre internautas peer-to-peer. No mesmo sentido, os tribunais dinamarqueses solicitaram a um fornecedor de acesso à Internet, em 10 de Fevereiro de 2006, que bloqueasse a ligação Internet dos clientes que atentassem contra o direito de autor, e, em 25 de Novembro de 2006, ainda na Dinamarca, ordenaram ao fornecedor de acesso TELE2 que bloqueasse o acesso dos seus clientes ao sítio russo AllofMP3.com que permitia descarregar ("download") ilegalmente músicas. Um dos sectores muito sensíveis neste contexto é o sector peer-to-peer, ou seja, o fenómeno dos sítios Internet e dos softwares que os internautas utilizam para partilhar, directamente ou por intermédio de um sítio comum, ficheiros que contêm reproduções de obras ou de prestações protegidas sem o consentimento dos titulares dos direitos (Napster, centralizado, Kazaa, descentralizado). Para além deste fenómeno peer-to-peer, a actividade dos sítios, que permitem descarregar obras ou prestações protegidas sem as autorizações necessárias é ilegal, não sendo possível aplicar qualquer excepção. Deste modo, a actividade dos internautas que transmitem ficheiros aos seus homólogos deve ser considerada como um acto ilegal de comunicação ao público sem a possibilidade de aplicar excepções. No que respeita à actividade de download, é duvidoso que constitua um acto de reprodução susceptível de beneficiar da excepção prevista a título de cópia privada (alínea b) do número 2 do artigo 5.º) efectuada por uma pessoa singular para uso privado e sem fins comerciais directos ou indirectos, mas, neste caso, é necessário considerar igualmente a origem lícita ou não lícita da fonte. Nesta base, os titulares dos direitos tendem actualmente a obter acordos com os fornecedores de acesso. Propõem o desenvolvimento de procedimentos de notificação das actividades ilegais suspeitas para que os fornecedores de acesso possam adoptar, nos prazos adequados, as medidas que se impõem em relação aos internautas e forneçam os seus dados completos com vista à instauração de acções judiciais. Mas toda esta situação pode entrar em conflito com a protecção de dados privados. Com efeito, de acordo com o acórdão Telefonica de 29 de Janeiro de 2008 do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, o direito comunitário não impõe aos Estados-Membros a obrigação de divulgar dados de carácter pessoal no âmbito de uma acção cível a fim de assegurar a protecção efectiva do direito de autor. O Tribunal levanta, todavia, a questão da conciliação necessária entre a protecção de diferentes direitos fundamentais, nomeadamente o direito ao respeito pela vida privada, e, por outro lado, o direito à protecção da propriedade intelectual e a meios de recurso efectivos. PE409.616v01-00 6/6 DT\733882.doc