FACULDADE DE ENGENHARIA



Documentos relacionados
RECURSOS HÍDRICOS DISPONÍVEIS NO BRASIL PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

HIDROGRAFIA DO BRASIL

Procedimentos de licenciamento ambiental para implantação de Empreendimentos Hidrelétricos no Paraná

XX SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA GRUPO VII GRUPO DE ESTUDO DE PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ELÉTRICOS - GPL

LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS

RESOLUÇÃO Nº 131, DE 11 DE MARÇO DE 2003

Seminário: Energia e Meio Ambiente A origem hídrica da crise de energia

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. Bertold Brecht

Energia nossa de cada dia

Aula 4 Matriz Elétrica Brasileira

PORTARIA SERLA N 591, de 14 de agosto de 2007

Política Energética Brasileira Panorama da Biomassa

Comentários sobre o. Plano Decenal de Expansão. de Energia (PDE )

AHE SIMPLÍCIO QUEDA ÚNICA* Luiz Antônio Buonomo de PINHO Gerente / Engenheiro Civil Furnas Centrais Elétricas S. A.

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 12, DE 03 DE SETEMBRO DE 2008.

ENERGIAS ALTERNATIVAS E TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO LIMPAS: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

APROVEITAMENTO DO POTENCIAL HIDRELÉTRICO NACIONAL : Alternativas Após o Seu Esgotamento

A IMPORTÂNCIA DA ENERGIA EÓLICA NA OFERTA DE ENERGIA DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL

Docentes: Suellem Caroline, Magnus Oliveira, Marlúcio Neto

A importância das hidroelétricas para um Brasil competitivo

a) 2880 C b) 3000 C c) 4200 C d) 5000 C e) 6000 C

GrandAmazon. Energia para o futuro Os desafios da sustentabilidade. Wilson Ferreira Jr. e Miguel Saad 16/03/2012

Profa. Dra. Vivian C. C. Hyodo

Ecossistema. Conjunto formado por todos os fatores bióticos: Plantas, animais e bactérias Abióticos: Água, Sol, solo, gelo, vento

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA TEMA DA AULA

Apresentação CEI. Perspectivas no mercado de energia fotovoltaica

Tecnologia & Engenharia Desafio Prático. Temporada Tecnologia & Engenharia. Desafio Prático. Torneio Brasil de Robótica

ETENE. Energias Renováveis

Amazônia Brasileira e Brasil em Crise

LISTA DE ANEXOS MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM

V Conferência da RELOP - Associação de Reguladores de Energia dos Países de Língua Oficial Portuguesa

EDITAL DE TOMADA DE PREÇOS Nº

Disciplina: Fontes Alternativas de Energia

GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA HIDRELÉTRICA-SISTEMA ELÉTRICO

Unidade 8. Ciclos Biogeoquímicos e Interferências Humanas

Rio São Francisco ERROS DA TRANSPOSIÇÃO

ENERGIAS RENOVÁVEIS NO BRASIL MAIO 2010

Município D ,12 Município E ,53 Município F ,37

Grandes Problemas Ambientais

FACULDADE DE ENGENHARIA

ALEXANDRE UHLIG Instituto Acende Brasil. EXPANSÃO DA GERAÇÃO NA ERA PÓS- HIDRELÉTRICA Guia para debates

Matriz de referência de Ciências da Natureza e suas Tecnologias

INSTRUÇÃO TÉCNICA DPO Nº 5, de 10/11/2011

O SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL HOJE. Evandro Leite Vasconcelos Diretor de Energia e de Desenvolvimento de Negócios

Com tecnologias Open Source, Itaipu alcança benefícios que potencializam o programa de sustentabilidade da empresa

Energias Renováveis Tecnologias Integradas com o Sistema Nacional

O Globo 09/01/2011 Desmatobrás Construção de 61 hidrelétricas provocará desmatamento de 5,3 mil km2, equivalente à área do Grande Rio Liana Melo e

Utilização do Google Earth e Google Maps na CEMIG

ANAIS DA 66ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC - RIO BRANCO, AC - JULHO/2014

P O L Í T I C A E N E R G É T I C A

Usina de Balbina(grande degradação ambiental)

Energias Renováveis Palestrante: Lucas Redecker Secretário de Minas e Energia do RS

Manejo de Macrófitas nos reservatórios da Light Energia janeiro 2014

II Fórum Técnico - "Matriz Energética Brasileira" Altamira - 21/nov/2007 Categorias para Sistematização de Questões. Bloco Categoria Subcategoria

GERAÇÃO A Copel opera 20 usinas próprias, sendo 19 hidrelétricas, uma termelétrica e uma eólica

II SEMINÁRIO NACIONAL PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS E MICROGERAÇÃO

Condicionantes do componente indígena do processo de licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte1.

Energias Renováveis. -Novembro -2010

Disciplina: Eletrificação Rural. Unidade 3 Geração, transmissão e distribuição da energia elétrica.

B I O G E O G R A F I A

Unidade IV Ser Humano e saúde. Aula 17.1

Apresentação Grupo Solví

O que é o PET? CONJUNTO DE INSTALAÇÕES DE TRANSMISSÃO NECESSÁRIAS CONSOLIDADAS NOS ESTUDOS DE PLANEJAMENTO DA

AULA 2 A CONTABILIDADE E O MEIO AMBIENTE. Professor: ALAN Coordenador: Prof. LAÉRCIO

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ENERGIA Fontes e formas de energia Impactos ambientais. Prof. Dra. Carmen Luisa Barbosa Guedes

SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA DE FULIGEM

Gabarito. Construindo no presente um futuro melhor. Unidade 2

VII Reunião de Atualização em Eucalitptocultura

Energias Renováveis. Definições Básicas. Fontes de energia Convencionais Renováveis Alternativas Limpas Sustentáveis

Lista de Exercícios de Recuperação do 3 Bimestre

ENERGIAS RENOVÁVEIS NA AMAZÔNIA Como Conciliar Desenvolvimento e Sustentabilidade

O Aquecimento Global se caracteriza pela modificação, intensificação do efeito estufa.

EXERCÍCIOS ON LINE DE CIÊNCIAS - 9 ANO

A Questão Indígena no Brasil

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CURSO DE BIOLOGIA (EAD)

Energia e Desenvolvimento Humano

Efeitos da Corrente Elétrica. Prof. Luciano Mentz

Responsabilidade Social, Preservação Ambiental e Compromisso com a Vida: -Sustentabilidade - Energia Renovável e Limpa!

Usina Hidrelétrica Belo Monte APRESENTAÇÃO GERAL DO EMPREENDIMENTO

Conversão de Energia Térmica em Elétrica a partir da Biomassa

Eletricidade Aplicada - LOB1011. Sistemas Elétricos de Potência (SEP):

Mercado de energia elétrica: condições atuais de atendimento à carga e tendências para Manoel Arlindo Zaroni Torres

RELATORIA NACIONAL DO DIREITO HUMANO AO MEIO AMBIENTE

4 O Sistema Eletro-energético Brasileiro

CONFLITOS LEGAIS ASSOCIADOS À PROBLEMÁTICA SÓCIO AMBIENTAL ORIGINADA COM O EMPREENDIMENTO DA USINA HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ

Noções de Cidadania. Profª Karin

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO PROJETO LEI 6.424/05

Os impostos. na Bacia Loire-Bretagne. Os impostos Novembro

O Sistema de Monitoramento Hidrológico dos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros

Profa. Margarita Ma. Dueñas Orozco

Sensoriamento Remoto. Características das Imagens Orbitais

Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Centro de Filosofia e Ciências Humanas CFH Departamento de Geociências Curso de Graduação de Geografia

Emissões Atmosféricas e Mudanças Climáticas

VI ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPCH A importância da Geração Distribuída num momento de crise energética

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Instrumento preventivo de tutela do meio ambiente (art. 9º, IV da Lei nº /81)

WORKSHOP PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA ENERGIA NUCLEAR NA MATRIZ ELÉTRICA DO BRASIL

FUNDOS DO SETOR ELÉTRICO ADMINISTRADOS PELA ELETROBRÁS 2009

As Principais Fontes De Energia Presentes No Mundo

2 Características do Sistema Interligado Nacional

Transcrição:

FACULDADE DE ENGENHARIA Impactos ambientais das hidrelétricas na Amazônia Profa. Aline Sarmento Procópio Dep. Engenharia Sanitária e Ambiental

Amazônia: alguns dados A Região Amazônica compreende a maior extensão de floresta úmida da Terra (1/3 das florestas úmidas do planeta), possuindo aproximadamente 4 milhões de km 2 com fisionomia florestal. A Amazônia abriga 50% da diversidade biológica mundial e apresentam imenso potencial genético, princípios ativos de inestimável interesse econômico e social e oferta de produtos florestais com alto valor no mercado. A topografia desta região é basicamente plana, com altitudes próximas ao nível do mar.

Estud. av. vol.4 no.8 São Paulo Jan./Apr. 1990 doi: 10.1590/S0103-40141990000100010 Todos os rios tendem a atingir um equilíbrio dinâmico entre a sua descarga, velocidade média, carga sedimentar e a morfologia de seu leito geometria hidráulica do rio Plantas e animais aquáticos são adaptados a estas condições específicas a construção de uma represa representa um impacto fundamental para a geometria hidráulica de um rio fortes modificações hidrológicas, hidroquímicas e hidrobiológicas impactos no reservatório, a montante e a jusante

Estud. av. vol.4 no.8 São Paulo Jan./Apr. 1990 doi: 10.1590/S0103-40141990000100010 Erosão lateral do reservatório a diferença de 4 m entre a quota 46 m e a quota máxima de 50 m de Balbina afeta cerca de 800 km 2 de floresta A maior parte da região alagada é constituída por densas florestas tropicais perdas irreversíveis de espécies Piracema (período de desova em que espécies migratórias de peixes sobem os rios) escada de peixe (canais de piracema) para minimizar o impacto

Estud. av. vol.4 no.8 São Paulo Jan./Apr. 1990 doi: 10.1590/S0103-40141990000100010 Hipoxia, principalmente nas camadas mais profundas de água Excesso de nutrientes crescimento maciço de macrófitas diminui a turbulência provocada pelo vento diminui o intercâmbio de gases entre a água e o ar forte hipoxia e a formação de gás sulfídrico nas camadas inferiores

Estud. av. vol.4 no.8 São Paulo Jan./Apr. 1990 doi: 10.1590/S0103-40141990000100010 Devido ao relevo pouco acidentado, grandes áreas são cobertas com a implantação do lago da represa. Parasitas; número elevado de mosquitos; odor (gás sulfídrico) Esquistossomose hospedeiro: moluscos

UHE Balbina 1987 iniciava-se a obstrução do rio Uatumã (sinuoso e com baixa declividade) e a formação de um gigantesco reservatório de 2.360 km 2 (~ 7 x área da Baía da Guanabara) decomposição da imensa biomassa da floresta dentro do reservatório muito raso (profundidade média de 7 m) e com tempo de renovação da água extremamente longo (~12 meses) água ácida e baixo teor de oxigênio (liberada a jusante) Foto: jornalenergia.com.br

cerca de 58,5 milhões de m 3 de madeira submersa 9,3 a 12 milhões de madeira para serraria restante: lenha e carvão UHE Balbina Eletronorte argumenta que nenhuma empresa se apresentou para explorar a madeira na área da inundação fonte gigantesca de emissão de gases de efeito estufa: emite 3,3 milhões de tec por ano, metade do que jogam na atmosfera os carros que circulam em São Paulo Foto: Ed Ferreira/estadao.com.br

Bumerangue ecológico: constante perda de carga na tomada de água parada da turbina para retirar madeira que está obstruindo a grade Custo de Balbina U$ 750.000,00 (dado da Eletronorte): Potência instalada: 250 MW (5 turbinas de 50 MW cada) ~ U$ 3.000,00/kW instalado valor 2 vezes maior que o máximo admitido pelo setor elétrico brasileiro para as demais hidroelétricas. Custo de 1 MWh=U$ 108 4 vezes maior que as usinas hidrelétricas competitivas, 2 vezes maior que as termoelétricas, ~ o mesmo custo para geração por energia solar

Aproveitamento do potencial instalado em Balbina (chamado fator de capacidade da usina): 32% (80 MW) demais usinas no país: 50-65% capacidade/área = 0,03 MW/km 2 Tucuruí potência instalada: 8.370 MW área alagada: 2.430 km 2 fator de capacidade: 49% (4.140 MW) capacidade/área = 3,44 MW/km 2 Itaipu potência instalada: 14.000 MW área alagada: 1.350 km fator de capacidade: 83% (11.620 MW) capacidade/área = 8,61 MW/km 2

UHE Belo Monte-PA A Agência Nacional de Águas (ANA) concedeu outorga de direito de uso de recursos hídricos a permissão para exploração do potencial de energia hidráulica (Resolução 48, 02/03/2011) LICENÇAS: Fevereiro de 2010: LP Junho de 2011: LI Hoje: em obras Início de operação: previsto para 2015

Terá capacidade instalada de 11.233 MW 4.571 MW (geração média estimada) Reservatório com área de 516 km 2 (regime de fio d água) Comunidades atingidas (RIMA) 10 comunidades indígenas, 16.420 pessoas em zonas urbanas e 2.822 pessoas em zonas rurais

ELETRONORTE proposta inicial(começou em 1975) com cálculos de geração de energia que presumiam a regularização da vazão a montante por, pelo menos, uma represa (Babaquara)( ELETRONORTE CNEC, 1980). dificuldades para obter a aprovação dos órgãos de defesa ambiental 2º plano cálculos que não presumiram nenhuma regularização da vazão rio acima (ELETRONORTE, 2002). tendo persistido as dificuldades 3º plano várias possíveis capacidades instaladas menores: 5.500, 5.900 e 7.500 MW (PINTO, 2003). A potência menor seria mais compatível com a hipótese de se ter uma única barragem.

2005: após a aprovação pelo Congresso Nacional da construção de Belo Monte as potências mais modestas para Belo Monte foram abandonadosplano ATUALultrapassa um pouco a potência prevista no plano de 2002, ficando em 11.233,1 MW (ELETROBRÁS, 2009). O O cenário de uma só barragem retratado no estudo de viabilidade de Belo Monte (ELETRONORTE, 2002) e nos dois estudos de impacto ambiental (ELETRONORTE, [2002a]; ELETROBRÁS, 2009) parece representar uma fi cçãoburocrática que foi traçada com a fi nalidadede de ganhar a aprovação ambiental para Belo Monte (FEARNSIDE, 2006). Não se pode considerar Belo Monte de forma isolada sem levar em conta os impactos das represas a montante, especialmente a de Babaquara (Altamira) omissão de um reservatório de 6.140 km 2 a montante de Belo Monte

Outras pressões ambientais na Amazônia: desmatamento e queimadas

FLORESTAS EXPLORAÇÃO MADEIREIRA QUEIMADAS Mais de 600 mil km 2, área maior que MG, já estão desmatados.

PASTAGENS a pecuária ocupa 80% das áreas desmatadas

Mudanças de uso da terra na Amazônia Rondônia 1986 Rondônia 1992 Fonte: IPAM e INPE Rondônia 1996

Mudanças de uso da terra na Amazônia Rondônia 2004 Fonte: IPAM e INPE

Fonte: INPE, 2003 Arco do desflorestamento

Arco do desflorestamento

Ji-Paraná Rondônia