Isolamento de Bactérias Associadas a Plantas do Bioma Caatinga no Semiárido Nordestino

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Transcrição:

Isolamento de Bactérias Associadas a Plantas do Bioma Caatinga no Semiárido Nordestino Luana Lira-Cadete 1 ; Andreza Raquel Barbosa de Farias 1; Danubia Ramos Moreira de Lima 2 ; Andresa Priscila de Sousa Ramos 2 ; Itamar Soares de Melo 3 ; Júlia Kuklinsky-Sobral 4 Resumo A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro e corresponde a 70% do território nordestino. Esse bioma caracteriza-se pela distribuição irregular das chuvas e pelas características sazonais de sua vegetação, que apresenta forte endemismo. Atrelada a essa rica vegetação e adaptada às condições peculiares desta região, está a microbiota, em especial as rizobactérias. Este trabalho teve por objetivo isolar bactérias e avaliar a densidade destes micro-organismos associados à raiz e rizosfera de plantas de cinco famílias botânicas da Caatinga. As amostras foram separadas em solo da rizosfera e raiz, sendo as amostras de tecido radicular submetidas a um processo de desinfecção superficial. As bactérias associadas à raiz e da rizosfera foram isoladas em meio TSA acrescido de 5% de NaCl. A densidade populacional bacteriana associada à raiz variou de 9,3 X 10 3 (Cobretum sp.) a 1,9 X 10 8 (Terminalia sp.) UCF/g TVF e da rizosfera a variação foi de 3,3 X 10 8 (Schinus sp.) e 8,3 X 10 4 (Cobretum sp.) UCF/g TVF. A variabilidade morfológica encontrada neste trabalho sugere uma ampla diversidade de genótipos bacterianos associados à rizosfera e raízes de plantas destes gêneros encontrados na Caatinga. Palavras-chave: bactérias endofíticas, interação bactéria-planta, rizobactérias, salinidade. Introdução O Semiárido abrange uma área de aproximadamente 970 mil Km², o que corresponde a 90% do território nordestino, somado à região setentrional de Minas Gerais (SILVA, 2006). A maior parte desse território é coberta pelo Bioma Caatinga, perfazendo uma área de mais de 800 mil Km² (IBGE, 2011), correspondendo a mais 11% do território nacional e 70% do nordestino (GONÇALVES, 2011). O clima do Semiárido caracteriza-se pela má distribuição pluviométrica, com médias anuais de 268 mm a 800 mm, temperaturas elevadas e altas taxas de evapotranspiração (SILVA, 2006). Lima (2011) ressalta o fato de a Caatinga possuir cerca de 70% de sua área sujeita ao antropismo, causando um avançado processo de degradação, pelo desmatamento e outros usos inadequados dos recursos naturais Tanto o Semiárido quanto a Caatinga, passam por um acentuado processo de desertificação (PACHÊCO et al., 1 Estudante de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG), Garanhuns, PE, luanalirac@gmail.com. 2 Mestranda em Ciências do Solo, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG), Garanhuns, PE. 3) Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP. 4 Professora Adjunta, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns, LGBM/UAG, Garanhuns, PE.

2006). Segundo Oliveira (2004) a Caatinga é um dos biomas mais antropizados e onde se encontram as maiores áreas que sofrem o processo de desertificação. Além das Cactáceas, destacam-se espécies arbóreas, herbáceas e arbustivas; muitas delas endêmicas da Caatinga. Lima (2011) também faz referência ao elevado número de espécies vegetais nativas deste bioma. Levando-se em consideração que a Caatinga tem um alto grau de endemismo, é de se esperar que a microbiota associada a esse bioma expresse uma diversidade biológica rica e peculiar. Oliveira (2004) relata a falta de informações sobre a biodiversidade dos micro-organismos do solo dessa região. Portanto, o isolamento desses micro-organismos com o intuito de se estudar sua ecologia e buscar novas espécies e novas moléculas com potencial de uso na biotecnologia, especialmente em biomas com forte endemismo, como a Caatinga, é importante para a boa utilização da biodiversidade endêmica desses ambientes. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo isolar e quantificar a densidade bacteriana halotolerante associada a raízes de plantas da Caatinga. Material e Métodos As amostras vegetais foram compostas com três plantas representando cada espécie, de cinco famílias, Anacardiaceae (Myracrodrun urundeuva), Apocynaceae (Aspidosperma pyrifolium), Caesalpinaceae (Caesalpinia pyramidalis), Cobretacea (espécie vegetal não identificada) e Rhamnaceae (Ziziphus joazeiro), foram coletadas no Parque do Seridó, em Sousa, RN (S 06 34'41.3" e W 37 15'17.1"). As amostras foram levadas ao Laboratório de Biotecnologia e Genética Microbiana, da UAG/UFRPE, onde se separou o solo da região rizosférica e raiz em três amostras por planta. As amostras de raízes foram lavadas em água corrente. As amostras de solo foram pesadas e colocadas em frascos com tampão PBS (fosfato salino) e colocados na mesa agitadora por 30 min a 90 rpm. As amostras de tecido radicular passaram por um processo de desinfestação superficial, com as seguintes etapas: 1min em álcool 70%, 3 min em hipoclorito de sódio, 30 seg em álcool 70%, duas lavagens em água destilada autoclavada. As amostras de bactérias associadas à raiz e da rizosfera foram diluídas em PBS e semeadas em placas de Petri contendo meio TSA acrescido de 5% de NaCl, suplementado com o fungicida Cercobyn 700 (50 μg/ml), incubadas a 28 C por até 15 dia. A densidade bacteriana foi estimada por meio da contagem das colônias em placas com meio de cultura. Os dados obtidos foram avaliados com o auxílio do software estatístico SISVAR 5.3 (FERREIRA, 1999), sendo realizada a análise de média dos valores de unidades formadoras de colônias por grama de tecido vegetal ou de solo (UFC/g TVF), utilizando-se como método estatístico o teste de Skott-Knott a 5% de significância. Colônias bacterianas foram selecionadas aleatoriamente, sendo em seguida purificadas e estocadas em meio TSA líquido com 20% de glicerol. Resultados e Discussão Foram isoladas 130 linhagens bacterianas expressando vários tipos culturais como a coloração rosa, amarela, bege e branca. Quanto ao aspecto, foram observadas colônias com brilho característico de sua superfície, sendo denominadas colônias leitosas", também foram selecionadas colônias opacas e secas (Figura1). Foi observado o predomínio de colônias brancas e aspecto leitoso, no entanto, a morfologia das

colônias bacterianas é expressa em função do meio ao qual estão acondicionadas, uma vez que o fenótipo é resultado da interação do genótipo e do meio. A variabilidade cultural encontrada neste trabalho sugere uma ampla diversidade de genótipos bacterianos associados à rizosfera e raiz das plantas dos gêneros Ziziphus sp., Aspidosperma sp., Terminalia sp., Caesalpinia sp., Cobretum sp., Myracrodrun sp., comumente encontrados na Caatinga. Contudo, análises de identificação genotípica devem ser realizadas para confirmação da variabilidade. Figura 1. Placas de isolamento de bactérias associadas a plantas da Caatinga apresentando diferentes tipos morfológicos. (Fotos: Luana Lira-Cadete). A densidade populacional bacteriana associada à raiz (endofítica e epifítica) variou de 9,3 X 10 3 (Cobretum sp.) a 1,9 X 10 8 (Terminalia sp.) UFC/g TVF. Essa grande variação pode ser resultado da espeficidade das plantas estudadas, mas pode ter sido acentuada pelas dificuldades de se obter amostras de raízes de algumas espécies arbóreas, dado o porte da planta e o vigor e tamanho das raízes que não permitiram obter amostras com o interior intacto (sem expor os tecidos internos) das raízes, o que pode ter influenciado a densidade de bactérias associadas a raízes. Quanto a rizosfera, a variação foi de 3,3 X 10 8 (Schinus sp.) e 8,3 X 10 4 (Cobretum sp.) (Tabela 1).

Tabela 1. Densidade populacional de bactérias associadas à raiz e rizosfera de espécies vegetais da Caatinga. Amostras seguidas de mesma letra não diferenciam estatisticamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de significância. Nome Comum Espécie Família Log10 UFC/g TVF Raiz Rizosfera juá Ziziphus joazeiro Rhamnaceae 7,89 b 7,66 A pereiro Aspidosperma pyrifolium Apocinacea 2,51 a 7,94 A - Cobretaceae 1,48 a 7,88 A catingueira Caesalpinia pyramidalis Caesalpinaceae 5,6 a 7,48 A - Cobretum sp. Cobretaceae 6,12 b 2,7 A - Cobretum spp. Cobretaceae 6,28 b 7,61 A - Cobretum spp. Cobretaceae 8,28 b 6,84 A pereiro Aspidosperma pyrifolium Apocynacea 7,97 b 7,14 A aroeira Myracrodrun urundeuva Anacardiaceae 7,62 b 7,84 A aroeira Myracrodruon urundeuva Anacardiaceae 7,07 b 8,47 A Neste trabalho, houve uma grande densidade populacional associada à raiz e rizosfera de plantas da Caatinga. Essa comunidade pode variar respondendo a condições ambientais. Neroni et al. (2006), investigando a ocorrência e densidade de bactérias diazotróficas em florestas de araucárias, em São Paulo, avaliaram a floresta nativa com predominância de araucárias e reflorestamento com esse mesmo tipo de vegetação. Observaram que não houve diferença significativa na densidade destes micro-organismos. Segundo esses autores, estes resultados podem não ser representativos, pois os dados são referentes a apenas um período amostral e, portanto, relativos às condições daquele momento específico. Além disso, existe a dinâmica dos micro-organismos no solo e na rizosfera e as flutuações numéricas destes ao longo do tempo. Portanto, é necessário realizar coletas em diferentes épocas do ano para verificar a ocorrência de diferença na densidade da população bacteriana. Pereira et al. (1999), avaliando o efeito das condições ambientais sobre populações microbianas, verificaram que na rizosfera, de modo geral, encontram-se maiores números de UFC/g de solo das populações microbianas, comparando-se com o solo não rizosférico, em amostras coletadas no Cerrado com vegetação nativa. A variação foi atribuída a condições climáticas, principalmente a distribuição desuniforme das chuvas. Essa desuniformidade da distribuição pluviométrica é, também, uma característica do Bioma Caatinga, portanto, a população microbiana pode sofrer influência do regime hídrico dessa região. Conclusões Todas as plantas avaliadas apresentaram interação com bactérias cultivadas em meio com 5% de NaCl. As plantas da Caatinga avaliadas apresentaram intensa colonização bacteriana associadas a zonas radiculares. Agradecimentos

Agradecemos ao Senhor João Luiz da Silva, Embrapa Meio Ambiente, pela coleta e fornecimento do material vegetal; às agências de fomento, CNPq e FACEPE, pelo apoio financeiro; e à equipe que faz o Laboratório de Genética e Biotecnologia Microbiana da UAG/UFRPE. Referências FERREIRA, D. F. SISVAR: sistema de análise de variância para dados balanceados. Lavras: UFLA, 1999. 19 p. GONÇALVES, G. S. Estratégias de controle de invasão biológica por Prosorpis juliflora, na Caatinga e ecossistemas associados. 2011. 81 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Areia. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 17 jun. 2011. LIMA, C. R. Avaliação ecofisiológica em sementes de Caesalpinia Pyramidalis. 2011. 93 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Areia. NERONI, R. F.; TIZATO, G. H.; CARDOSO, E. J. B. N.; BARETTA, D.; MESCOLOTTI, D. L. C. Ocorrência e densidade de bactérias diazotróficas em florestas de Araucaria angustifolia em Campos do Jordão. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 27.; REUNIÃO BRASILEIRA SOBRE MICORRIZAS, 11.; SIMPÓSIO BRASILEIRO DE MICROBIOLOGIA DO SOLO, 9.; REUNIÃO BRASILEIRA DE BIOLOGIA DO SOLO, 6., 2006, Bonito, MS. A busca das raízes: anais. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2006. (Embrapa Agropecuária Oeste. Documentos, 82). 1 CD-ROM. OLIVEIRA, V. C. Atividade enzimática, população e análise de DNA da biodiversidade microbiana do solo em agroecossistemas do Semi-Árido. 2004. 106 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. PACHÊCO, A. P.; FREIRE,N. C. F.; BORGES, U. N. A Transdisciplinaridade da desertificação. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2006. 30 p. PEREIRA, J. C.; NEVES, M. C. P.; DROZDOWICZ,A. Dinâmica das populações bacterianas em solos de Cerrados. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, DF, v. 34, n. 5, p. 801-811,1999. SILVA, M. A. Entre o combate a seca e a convivência co o Semi-Árido: transições paragmáticas e sustentabilidade do desenvolvimento. 2006. 298 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) Universidade de Brasília, Centro de Desenvolvimento Sustentável, Brasília, DF.