COMPORTAMENTO DE EIXO VAZADO DURANTE O FORJAMENTO EM MATRIZ ABERTA ATRAVÉS DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA E ATRAVÉS DE EXPERIMENTO FÍSICO

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DE ATRITO E INFLUÊNCIA DO LUBRIFICANTE POR MEIO DE ENSAIO DO ANEL EM AÇO MÉDIO CARBONO 1. Evandro Bertoldi 2.

AVALIAÇÃO DE ATRITO POR MEIO DE TESTE DO ANEL EM AÇO MÉDIO CARBONO. Anderson F. Lopes (acad. Ulbra) José C. K. de Verney (Ulbra)

Forjamento é um processo de conformação mecânica na qual

ANÁLISE EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PROCESSO DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA DE TREFILAÇÃO 1. Evandro Bertoldi 2.

Influência das Variáveis de Processo no Desgaste de Matrizes de Forjamento à Quente utilizando-se do Método dos Elementos Finitos

ESTUDO DO PROCESSO DE PUNCIONAMENTO POR PUNÇÃO COM ÂNGULO CONVEXO ASSISTIDO POR SIMULAÇÃO NUMÉRICA

ANÁLISE DO CONTORNO INTERNO DE EIXOS VAZADOS FORJADOS A QUENTE*

OBTENÇÃO DA CURVA DE ESCOAMENTO A QUENTE DO AÇO AISI 1045 A PARTIR DO MÉTODO DE EMPILHAMENTO DE CHAPAS FINAS

OBTENÇÃO DA CURVA DE ESCOAMENTO A QUENTE DE UM AÇO 22MnB5 ATRAVÉS DO ENSAIO DE COMPRESSÃO DE DISCOS EMPILHADOS

APLICAÇÃO DA TEORIA ELEMENTAR DA PLASTICIDADE E DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA PARA FORJAMENTO EM MATRIZ ABERTA DE EIXO VAZADO

Execução: Engº Mecânico Automotivo Eduardo André Hentz Orientação: Prof. Dr. Ing. Lírio Schaeffer

INFLUÊNCIA DO ATRITO NO GRADIENTE MICROESTRUTURAL DETERMINADO VIA MEF DURANTE O RECALQUE A QUENTE DE UM CILINDRO DE AÇO

FORJAMENTO FORJAMENTO

TREFILAÇÃO DE AÇOS BAIXO CARBONO ATRAVÉS DE MÁQUINA UNIVERSAL DE ENSAIOS*

ESTUDO DO EMPREGO DE MATERIAIS SINTERIZADOS SUBMETIDOS A EXTRUSÃO A MORNO*

COMPORTAMENTO DO COEFICIENTE DE ATRITO NO AÇO AISI 4140 EM TESTE DE COMPRESSÃO DO ANEL COM DIFERENTES LUBRIFICANTES 1 Alex Fabiano Bueno 2

ENERGIA EOLICA NO BRASIL PROPULSIONA PESQUISAS NA ÁREA DE FORJAMENTO

ANALISE NUMÉRICA E ANALÍTICA DO FORJAMENTO A QUENTE EM MATRIZ FECHADA PARA A FABRICAÇÃO DE UM FLANGE DE Al 6351

A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DE SIMULAÇÃO NUMÉRICA NA OTIMIZAÇÃO DE PROJETOS DE MECANISMOS DE VÁLVULA GAVETA*

SIMULAÇÃO NUMÉRICA APLICADA AO ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE LARGURA DE CONTATO DA MATRIZ E O ALONGAMENTO NO FORJAMENTO EM MATRIZ ABERTA*

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO METAL-MECÂNICO APÓS CONFORMAÇÃO A QUENTE

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DO PROCESSO DE FORJAMENTO A QUENTE DE BARRAS DE UM AÇO MICROLIGADO PARA UTILIZAÇÃO NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA RESUMO

COMPARAÇÃO ENTRE CARGAS MEDIDAS E PREVISTA VIA FEM (FINITE ELEMENT METHOD) EM PROCESSO DE TREFILAÇÃO

Determinação do coeficiente de atrito da liga de alumínio AA6351 pelo método do tubo cónico

Ensaio de Compressão do Anel: resultados experimentais e por método dos elementos finitos

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO METAL-MECÂNICO APÓS CONFORMAÇÃO A QUENTE

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E METALÚRGICAS DA LIGA DE MAGNÉSIO AZ91 FORJADO A FRIO 1

AVALIAÇÃO DA COMPRESSÃO DE UMA LIGA DE ALUMÍNIO: EXPERIMENTAL X NUMÉRICO

FUNDAÇÃO LUIZ ENGLERT - FLE CENTRO BRASILEIRO DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA CBCM CEP: PORTO ALEGRE RS TEL.: +55 (51)

SIMULAÇÃO DO PROCESSO DE TREFILAÇÃO DE AÇOS BAIXO CARBONO*

Avaliação do Retorno Elástico em Chapas de Aço Bifásicos através do Processo de Dobramento

AVALIAÇÃO DE DESGASTE DE MÁSCARAS APLICADAS A FERRAMENTAS DE FORJAMENTO A QUENTE. Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Opresente trabalho mostra particularidades importantes sobre o aquecimento da ferramenta de forja,

FACULDADE SUDOESTE PAULISTA. Ciência e Tecnologia de Materiais Prof. Ms. Patrícia Corrêa. Metais: Conformação

TREINAMENTO EM FORJAMENTO. Tecnologia e Desenvolvimento do Processo de Forjamento. 21 e 22 de julho de 2016 FUNDAÇÃO LUIZ ENGLERT - FLE

ANÁLISE DE UMA FERRAMENTA DE TREFILAÇÃO A FRIO ATRAVÉS DO MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS*

Ensaio de compressão é adequado para obter. que a curva de escoamento

CONFORMAÇÃO PLÁSTICA 7/12/2016 BIBLIOGRAFIA

ESTUDO DE TRATAMENTO TÉRMICO DE PINO J*

Fabricação de Pás de Turbinas Pelton pelo Processo de Forjamento a Frio

Introdução. Instituto Tecnológico de Aeronáutica Divisão de Engenharia Mecânica MT-717: Introdução a materiais e processos de fabricação

CORRELAÇÃO DE COEFICIENTES DE ATRITO PELO TESTE DO ANEL E GERADOS ATRAVÉS DO SOFTWARE ABAQUS

Conformação Plástica. Universidade de São Paulo. Escola de Engenharia de Lorena. Departamento de Engenharia de Materiais

Processos de Conformação Metalúrgica

CONSTRUÇÃO DE UM MODELO COMPUTACIONAL PARA SIMULAÇÃO E ANÁLISE DE TENSÕES RESIDUAIS EM CILINDROS

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

Laboratório de transformação Mecânica LdTM / UFRGS Treinamento em Forjamento Versão:18/01/2013

SOLDA POR FRICÇÃO EM AÇO CARBONO

Avaliação de tensões em uma prensa de 750 t com auxílio de um software CAE

OTIMIZAÇÃO DO PROJETO DE MATRIZES DE FORJAMENTO A FRIO ATRAVÉS DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA POR ELEMENTOS FINITOS

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL UFRGS

ENG 6648 Conformação Mecânica PLANO DE ENSINO Turma A e B (atualizado em 18/01/2016) 2016/1. Prof.

5 Simulação Numérica e Validação Experimental

Processos Mecânicos de Fabricação. Profª Dra. Danielle Bond. Processos Mecânicos de Fabricação. Processos Mecânicos de Fabricação

Conteúdo. Resistência dos Materiais. Prof. Peterson Jaeger. 3. Concentração de tensões de tração. APOSTILA Versão 2013

Estudo e aprimoramento das características da fratura por fadiga de alumínio aeronáutico 7075-T6

ENG 6648 Conformação Mecânica PLANO DE ENSINO Turma A e B (atualizado em 21/01/2015) 2015/1. Prof.

ENG 6648 Conformação Mecânica PLANO DE ENSINO Turma A e B (versão 19/02/2019) 2019/1

ENG 6648 Conformação Mecânica PLANO DE ENSINO Turma A e B (atualizado em 12/07/2013) 2013/II. Prof.

Versão 06/07/2014. ENG 6648 Conformação Mecânica PLANO DE ENSINO Turma A e B (atualizado em 06/07/2014) 2014/II

MODELO MATEMATICO PARA O CALCULO DO RESFRIAMENTO DE BARRAS EM BOLSAS DE ACIARIA*

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Tensões residuais térmicas obtidas após a martêmpera e a têmpera a vácuo do aço ferramenta AISI H13

DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE LAMINAÇÃO DO AÇO PARA A PRODUÇÃO DO VERGALHÃO CA50 32mm*

Temperatura (T, 0 C)

André de Jesus da Silva João. Dissertação para Obtenção do Título de Mestre em Engenharia

O ENSINO EM LABORATÓRIO DE PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO PLÁSTICA DE METAIS

Aspectos Relevantes na Previsão do Forjamento

ESTUDOS COMPARATIVOS DOS MÉTODOS DE CÁLCULO COM RESULTADO EXPERIMENTAL DO ALARGAMENTO NO PROCESSO DE LAMINAÇÃO A QUENTE DO AÇO AISI1020*

Caracterização das Propriedades Mecânicas de Materiais Metálicos: A Influência da velocidade da máquina sobre a tensão obtida no ensaio de tração 1

Prensas Excêntricas ncp

Utilizando a Simulação no Chão de Fábrica

METALURGIA FÍSICA TECNOLOGIA DA CONFORMAÇÃO PLÁSTICA. Tecnologia em Materiais Prof. Luis Fernando Maffeis Martins

PROJETO BANCA DE TREFILAÇÃO DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL E DO SISTEMA HIDRAULICO

O USO DA MODELAGEM COMPUTACIONAL EM CONFORMAÇÃO DE METAIS NA DETERMINAÇÃO DE ESFORÇOS, TAXAS DE DEFORMAÇÃO E PRECISÃO DIMENSIONAL

ANÁLISE NUMÉRICA-EXPERIMENTAL DO CAMPO DE TEMPERATURA EM SOLDAGEM TIG DO AISI 304

TÍTULO: CONFORMAÇÃO MECÂNICA DE PEÇAS METÁLICAS ESTUDO SOBRE ESTAMPAGEM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES (BC 1105) ENSAIOS MECÂNICOS ENSAIOS DE TRAÇÃO E FLEXÃO

Processos Mecânicos de Fabricação. Profª Dra. Danielle Bond. Processos Mecânicos de Fabricação. Processos Mecânicos de Fabricação

ANÁLISE POR ELEMENTOS FINITOS DE UM PROCESSO DE EXTRUSÃO A FRIO

3 Material e Procedimento Experimental

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA RUGOSIDADE SUPERFICIAL SOBRE O ATRITO NO ENSAIO DE COMPRESSÃO DO ANEL 1

Processo de Forjamento

Figura 4.1: a)elemento Sólido Tetraédrico Parabólico. b)elemento Sólido Tetraédrico Linear.

EMENTA: Processos de fabricação

Prof. Danielle Bond. Processos Mecânicos de Fabricação. Profª Dra. Danielle Bond. Processos Mecânicos de Fabricação. Processos Mecânicos de Fabricação

2. Conformação mecânica: deformação plástica do material.

SIMULAÇÃO DO RESFRIAMENTO DE BARRAS ENTRE O FORNO DE AQUECIMENTO E O LAMINADOR *

ANÁLISE DA FORMAÇÃO DE BANDAS DE LÜDERS ATRAVÉS DO MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO PROCESSO DE LAMINAÇÃO DE TIRAS A QUENTE

Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Engenharia Química 2

Fundido ou Forjado? Fundidos e forjados partem de processos iniciais bastante parecidos.

Realização do processo de estampagem incremental por roboforming para fabricação de componentes metálicos.

Along. (50mm) 25% Custo (aço + Frete + impostos) R$ 1450,00/ton

Desenvolvimento de um modelo de contato de uma superfície idealmente lisa contra uma rugosa pelo método dos elementos finitos

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL DO CONCRETO EM DUAS CONDIÇÕES DE CONTORNO

DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE ATRITO PARA OPERAÇÕES DE ESTAMPAGEM PROFUNDA ATRAVÉS DE DISPOSITIVOS EXPERIMENTAIS

Transcrição:

a Artigo Original http://dx.doi.org/10.4322/2176-1523.0950 COMPORTAMENTO DE EIXO VAZADO DURANTE O FORJAMENTO EM MATRIZ ABERTA ATRAVÉS DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA E ATRAVÉS DE EXPERIMENTO FÍSICO Fábio Junkes Corrêa 1,2 Lírio Schaeffer 3 Resumo Forjamento em matriz aberta é um processo de forjamento largamente empregado para produção de eixos de grande porte como, por exemplo, eixo de transmissão para os aero geradores. Visando a redução de peso, busca-se produzir um eixo vazado que atenda as mesmas condições de trabalho de um eixo maciço. Durante o forjamento de eixos de grande porte, o eixo sofre compressões sucessivas gerando um campo de tensões que, através da simulação numérica, evidenciam-se as diferenças na distribuição de tensões ao longo da seção. Analisou-se o forjamento em matriz aberta de um tarugo cilíndrico vazado com o intuito de produzir um eixo vazado através de simulações computacionais pelo Método dos Elementos Finitos e, com base de experimentos físicos, constataram-se a validade da simulação numérica. Realizaram-se simulações baseado no FEM, utilizando o software Simufact.Forming 12.0, obtendo-se valores de distribuição de tensões e deformações. Observou-se que as regiões que apresentaram maiores concentrações de deformações equivalentes coincidiram com as regiões que apresentaram maiores concentrações de tensões na direção z encontradas nos resultados da simulação numérica, seguindo a tendência esperada. Através de experimentos físicos foi constatado que os valores das forças para cada recalque apresentado pelo software de simulação numérica ficaram bem próximos da realidade, validando a empregabilidade do uso da simulação numérica. Palavras-chave: Forjamento em matriz aberta; Método dos elementos finitos; Experimento físico. HOLLOW SHAFT BEHAVIOR DURING THE FORGING IN OPEN DIE THROUGH NUMERICAL SIMULATION AND THROUGH PHYSICAL EXPERIMENT Abstract Open die forging is a forging process widely used for the production of large size axes as, for example, drive shaft for wind turbine. In order to reduce weight, it seeks to produce a hollow shaft that meets the same working conditions of a solid shaft. During the forging of large size shaft, the part undergoes successive compressions generating a field stress that show the differences in stress distribution throughout section through numerical simulation. It analyzed the open die forging of a hollow cylindrical billet in order to produce a hollow shaft through computer simulation by the finite element method and by physical experiments verified the validity of the numerical simulation. Simulations were performed based on FEM, using the software Simufact.Forming 12.0, getting the stress and strain distribution values. It observed that the regions that showed greater concentrations equivalent strain coincided with the regions that showed greater stress concentrations in the z direction found in the numerical simulation results following the expected trend. Through physical experiments it was verified that the values of forces for each upset presented by numerical simulation software were very close to reality, validating the employability of the use of numerical simulation. Keywords: Open die forging; Finite element method; Physical experiment. 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR, Francisco Beltrão - PR, Brasil. E-mail: fabio.correa@ufrgs.br 2 Laboratório de Transformação Mecânica LdTM, Departamento de Metalurgia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. 3 Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais PPGEM, Laboratório de Transformação Mecânica LdTM, Departamento de Metalurgia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. 2176-1523 2017 Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração. Publicado pela ABM. Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença Creative Commons CC BY-NC-ND (Attribution-NonCommercial-NoDerivs) - https:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/. Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 273-278, jul./set. 2017 273

Corrêa; Schaeffer 1 INTRODUÇÃO O forjamento, dependendo como escoar o material, pode ser classificado como forjamento em matriz fechada ou forjamento em matriz aberta. No forjamento em matriz aberta (Figura 1), o material é forjado de forma livre, sem ou com pouca restrição conferida pelas matrizes, escoando nas direções laterais. Entretanto, o metal pode ser parcialmente confinado pelas matrizes [1,2]. No forjamento em matriz aberta (Figura 1), a peça é conformada com matrizes de formato simples, quando comparadas com o forjamento em matriz fechada aonde são usadas matrizes com geometrias mais complexas [3]. Os tamanhos das ferramentas são pequenas comparadas com o tamanho total das peças forjadas. Como a peça a ser forjada costuma ser maior do que as ferramentas, a deformação costuma ser restrita a uma pequena região da peça e, com isso, as cargas de forjamento necessárias são menores do que aquelas necessárias para deformar a peça inteira. Portanto, uma máquina de menor capacidade pode ser usada para produzir uma determinada peça, empregando forças de forjamento reduzidas progressivamente [4]. Componentes mecânicos de grande porte como ganchos, correntes, âncoras, alavancas, mancais, eixos de turbinas encontrados em aviões, navios e de aero geradores, rolos de laminação, e outros componentes usados na indústria mecânica pesada são submetidos ao processo de forjamento em matriz aberta. Esse processo de fabricação, subsequente a outros processos, é capaz de produzir peças com uma elevada relação resistência-peso e resistência ao impacto [5,6]. No forjamento, a utilização do Método dos Elementos Finitos é uma alternativa conveniente aos métodos analíticos para a aquisição de informações detalhadas na análise do processo de forjamento, como a distribuição de deformações e tensões [7]. A simulação numérica tem aparecido nas indústrias com o propósito de substituir os métodos de convencionais, reduzindo os custos, tornando-se um método aceitável como ferramenta de trabalho. Dependendo dos resultados desejados, a escolha do programa adequado, dentre os disponíveis no mercado, é determinada de acordo com as necessidades específicas requisitadas. Normalmente é usado o Método dos Elementos Finitos [8]. O Método dos Elementos Finitos através da simulação numérica pode ser empregado para analisar a distribuição de deformações e a distribuição de tensões em uma operação de forjamento em matriz aberta. Os métodos numéricos mostram com bastante exatidão valores de deformações equivalentes e tensões nas direções principais em regiões específicas [9]. Neste trabalho, um tarugo cilíndrico vazado é submetido a um processo de forjamento em matriz aberta através da simulação numérica com uso do software Simufact. Forming 12.0, analisando-se a distribuição de deformações e a distribuição de tensões, constatando-os com a realização de experimento físico. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Para o forjamento em matriz aberta, foi selecionado um tarugo cilíndrico de 20 kg vazado com o material AISI 4140, cujo método está representado na Figura 2. Na realização do forjamento em matriz aberta foi usado um par de matrizes planas, sendo uma superior e outra inferior (Figura 2). Para manter o furo interno foi introduzido um mandril com uma leve conicidade para facilitar a retirada do mandril após o forjamento. Essas ferramentas foram fabricadas com aço ferramenta H13 para utilização nos experimentos físicos. Para utilização na simulação numérica, as ferramentas foram modeladas através do software Solidworks 2012. Os equipamentos usados para a realização dos experimentos foram o forno resistivo convencional Linn Elektro Therm (Figura 3a), Modelo KK 55, com potência de 3,3kW, o mecanismo com um moto-redutor instalado Figura 1. Forjamento em matriz aberta. 274 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 273-278, jul./set. 2017

Comportamento de eixo vazado durante o forjamento em matriz aberta através da simulação numérica e através de experimento físico (Figura 3b), a prensa hidráulica da marca FKL (Figura 3c), modelo PH 600, com capacidade de 6.000 kn e a célula de carga (Figura 3d), com a capacidade de 3.000 kn. O forno resistivo foi utilizado para o aquecimento da peça, a prensa hidráulica para a aplicação dos recalques com uma velocidade de prensagem de 5 mm/s, a célula de carga para aferir os valores de força e o mecanismo para retirar a peça incandescente do forno e conduzir até o par de matrizes na prensa. Para a realização da simulação numérica do processo de forjamento em matriz aberta, utilizou-se o software Simufact.Forming 12.0. Os dados de entrada para a simulação numérica são mostrados na Tabela 1 os quais foram inseridos nas simulações. Os parâmetros térmicos, como o coeficiente de transferência de calor por convecção e por irradiação foram determinados conforme estão indicados no programa e, a emissividade foi alterada para 0,9 devida à superfície porosa presente na peça de trabalho durante o forjamento a quente, levando em consideração a formação de óxidos [10]. O coeficiente de atrito estabelecido entre a peça de trabalho e as ferramentas para a realização da simulação foi de μ=0,4 [11]. Esse valor é substancialmente elevado em função de ser um processo de forjamento Tabela 1. Dados de entrada Temperatura da peça 1.100 C Temperatura das Ferramentas 30 C Coeficiente de transferência de calor por convecção 50 W/m 2.K Coeficiente de transferência de calor por irradiação 20.000 W/m 2.K Emissividade por radiação térmica ao meio ambiente 0,9 - Atrito interfacial entre as ferramentas e a peça 0,4 - Material das Ferramentas H-13 - Material da Peça SAE 4140 - Figura 2. Montagem do forjamento do tarugo cilíndrico. Figura 3. (a) Forno resistivo; (b) Mecanismo; (c) Prensa hidráulica; (d) Célula de carga. Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 273-278, jul./set. 2017 275

Corrêa; Schaeffer a quente, considerando que o aumento da temperatura provoca o acréscimo do coeficiente de atrito, sabendo que a variação da temperatura altera as características da peça de trabalho. O material definido para o tarugo cilíndrico foi o aço AISI 4140 e o material das matrizes foi o aço ferramenta H13. A temperatura estabelecida para peça foi de 1.100 C e, para as ferramentas, uma temperatura de 30 C (temperatura ambiente). Sabendo que o forjamento em matriz aberta do tarugo cilíndrico vazado de 20 kg tem por objetivo seu alongamento para a produção de um eixo vazado, aplicaram-se dois recalques no tarugo cilíndrico através da simulação numérica. Primeiro foram posicionadas as ferramentas tangentes ao tarugo cilíndrico e aplicado o recalque reduzindo 10% do seu diâmetro. Após a aplicação do primeiro recalque, o tarugo foi rotacionado 90º em torno do seu eixo longitudinal (Figura 4) e aplicado outro recalque reduzindo 10% do seu diâmetro. Para a realização do experimento físico, inicialmente foi aquecido o tarugo cilíndrico a uma temperatura de 1.200 C, e permanecido no forno durante o tempo necessário para estabelecer o pleno aquecimento da peça. Após o tempo de aquecimento, a peça foi retirada do forno com o uso do mecanismo, levado até as matrizes planas na prensa hidráulica e aplicado o primeiro recalque (Figura 4a) com uma redução de 10% em relação ao diâmetro inicial, reproduzindo a simulação numérica de forma experimental. Depois a aplicação do primeiro recalque, o tarugo foi conduzido ao forno resistivo para aquecer novamente até a temperatura de forjamento a quente. Após o tempo de aquecimento, o tarugo cilíndrico foi retirado do forno, conduzido até as matrizes, rotacionado 90º em torno de seu eixo e aplicado outro recalque (Figura 4b), repetindo o mesmo procedimento da simulação numérica. 3 RESULTADOS Com a efetivação da simulação, obtiveram-se os valores de deformações e de tensões resultantes. Nas Figuras 5 e 6 são apresentados a distribuição de deformações equivalentes e de tensões na direção normal, respectivamente, resultantes da simulação numérica pelo Método dos Elementos Finitos. Os resultados da simulação numérica possibilitam identificar heterogeneidades tanto na distribuição de deformações equivalente, como na distribuição de tensões normais na direção z, através da diferenciação das tonalidades das cores de cada elemento. Os valores máximos das deformações equivalentes foram encontrados nas regiões centrais do corpo forjado, evidenciando-se maior concentração nas regiões internas próximas do furo e menores concentrações nas regiões periféricas. Em relação às tensões, além das regiões onde há o contato interfacial entre as matrizes e a peça de trabalho, também foram identificadas maiores concentrações de tensões normais na direção z nas regiões centralizadas e menores concentrações de tensões normais na direção z nas regiões periféricas, justificando que maiores valores de deformações equivalentes causam aumento das tensões normais. Além das deformações e tensões resultantes, o software também forneceu o comportamento da força requerida durante o forjamento, obtendo-se um valor máximo no final da simulação (Figura 7). Para validar a simulação numérica, executaram-se experimentos físicos, obtendo-se os valores de força em função do deslocamento durante a aplicação de cada recalque. Nos experimentos físicos, os valores de forças foram extraídos do software Catman 3.2 através do sistema de aquisição de dados HBM que estava conectado à célula de carga a qual detectava valores de forças instantâneas durante o forjamento. Na Figura 8 são apresentados os gráficos das forças em função do deslocamento para ambos os recalques destacando o valor máximo no final do experimento. Figura 4. Aplicação do (a) primeiro recalque; (b) segundo recalque. 276 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 273-278, jul./set. 2017

Comportamento de eixo vazado durante o forjamento em matriz aberta através da simulação numérica e através de experimento físico Figura 5. Distribuição das deformações equivalentes para o primeiro recalque. Figura 6. Distribuição das tensões Distribuição de tensões na direção Z para o primeiro recalque. Figura 7. Valores de forças compressivas durante a simulação do forjamento (a) para o primeiro e (b) para o segundo recalque através do software Simufact. Figura 8. Valores de forças compressivas durante o experimento físico para o primeiro e para o segundo recalque. Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 273-278, jul./set. 2017 277

Corrêa; Schaeffer Tabela 2. Forças resultantes da simulação numérica e do experimento físico Compressão Primeiro recalque Segundo recalque Força (FEM) Força (experimental) Diferença Percentual 579 kn 622 kn 6,9% 689 kn 731 kn 5,8% Os valores encontrados a partir da simulação numérica ficaram relativamente próximos aos valores encontrados no experimento físico (Tabela 2), validando o uso da simulação computacional como alternativa aos experimentos físicos. Há um erro entre 5% e 10% em função de diversos fatores do processo, como propriedades metalúrgicas dos materiais, temperatura da peça e das matrizes, coeficiente de atrito entre a peça de trabalho e as matrizes, composição química do material trabalhado e das matrizes, perda de calor durante a condução da peça do forno à prensa hidráulica, aquisição dos dados experimentais durante o forjamento, tensões de escoamento, dentre outros fatores que influenciam nos resultados. 4 CONCLUSÃO Notou-se que as regiões que apresentaram maiores concentrações de deformações equivalentes coincidiram com as regiões que apresentaram maiores concentrações de tensões na direção z pelo software de simulação numérica, onde há valores de maiores intensidades na região central e de menores intensidades nas regiões periféricas, constatando a tendência esperada. Comparando os valores das forças obtidas através do software de simulação com os valores experimentais, percebeu-se que ficaram próximos entre 5 a 10%. Isso indica que as forças resultantes da simulação numérica são confiáveis, possibilitando fazer comparações com variações e alterações nos métodos de forjamento. Agradecimentos Os autores agradecem o Laboratório de Transformação Mecânica (LdTM), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e as instituições de apoio financeiro como CNPq e CAPES. REFERÊNCIAS 1 Irisarri AM, Pelayo A. Failure analysis of an open die forging drop hammer. Engineering Failure Analysis. 2009;16:1727-1733. 2 Kchaou M, Elleuch R, Desplanques Y, Boidin X, Degallaix G. Failure mechanisms of H13 die on relation to the forging process: a case study of brass gas valves. Engineering Failure Analysis. 2010;17(2):403-415. 3 Cetlin PR, Helman H. Fundamento da conformação: mecânica dos metais. 2. ed. Belo Horizonte: Artliber; 2005. 4 Choi SK, Chun MS, Van Tyne CJ, Moon YH. Optimization of open die forging of round shapes using FEM analysis. Journal of Materials Processing Technology. 2006;172:88-95. 5 Ghaei A, Movahhedy MR. Die design for the radial forging process using 3D FEM. Journal of Materials Processing Technology. 2007;182:534-539. 6 Frota RTC Jr. Avaliação de parâmetros do processo de forjamento a quente em matriz aberta pelo método de elementos finitos [dissertação de mestrado]. São José dos Campos: Instituto Tecnológico da Aeronáutica; 2009. 7 International ASM. ASM Handbook: properties and selection: Irons, steels and high-performance alloys (06181). 10. ed. Canadian: ASM International; 1990. 1063 p. vol. 1. 8 Cleary PW, Prakash M, Das R, Ha J. Modelling of metal forging using SPH. Applied Mathematical Modelling. 2012;36(8):3836-3855. 9 Lu B, Ou H, Armstrong CG, Rennie A. 3D die shape optimisation for net-shape forging of aerofoil blades. Materials & Design. 2009;30(7):2490-2500. 10 Kreith, F.; Bohn, M. S. Princípios de transferência de calor. São Paulo: Pioneira Thomson Learning; 2003. 11 Börder C. Análise do coeficiente de atrito no ensaio do anel para o forjamento a quente [dissertação de mestrado]. São Paulo: Escola Politécnica, Universidade de São Paulo; 2005. Recebido em: 23 Set. 2016 Aceito em: 3 Jan. 2017 278 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 273-278, jul./set. 2017