A Política segundo a Bíblia. Uma Visão Introdutória

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Transcrição:

A Política segundo a Bíblia. Uma Visão Introdutória A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Fil. 3: 20.

Parte I Para começar...vamos conceituar alguns termos Política: A palavra POLÍTICA é de origem grega. Ela deriva de POLITIKOS, que significa relativo ao cidadão ou ao estado. Esta palavra, por sua vez, tem uma raiz em POLITES, que em grego é cidadão e ainda em POLIS, cidade. Em termos modernos, pode-se dizer que POLÍTICA é a ciência da governança de um Estado ou de partes dele. É também a arte de negociar para compatibilizar interesses, às vezes contraditórios, em busca do bem comum. 2

Parte I Estado Laico: O ESTADO LAICO é não-confessional, do ponto de vista religioso. Não promove e nem protege nenhuma religião em particular, ao mesmo tempo em que assegura a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos. ESTADO LAICO, no entanto, NÃO é o mesmo que ESTADO SECULARISTA. O estado Soviético, por exemplo, não era laico, era secularista, já que suprimia ativamente não apenas a religião mas quaisquer outras expressões morais na sociedade. Convém lembrar que o secularismo não é meramente um conceito político. Tratase de um projeto cultural muito mais amplo do que a própria política. É preciso portanto afirmar, com a máxima clareza possível, que quando o estado veda a influência de correntes religiosas na formulação de políticas sociais e culturais, ele age como estado secularista, e não como estado laico. 3

Parte I Direita, Esquerda, Liberal, Conservador, Progressista... Direita: A crença mais essencial da direita política parece ser a de que a organização social deve respeitar hierarquias, as quais, acreditam eles, foram ordenadas por Deus e devem ser reconhecidas pelos homens de bom senso. Esquerda: Busca inverter a concepção hierárquica, preconizando o empoderamento do povo. Liberal: Valoriza a liberdade individual nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências do estado. Na economia, defende a livre iniciativa e o estado mínimo. 4

Parte I Direita, Esquerda, Liberal, Conservador, Progressista... Conservador: Acredita na imperfeição moral do homem e de qualquer sistema por ele produzido. Em função disso, desconfia de rupturas abruptas. Não é necessariamente contrário às mudanças, mas acredita que as mesmas devem ser orgânicas e graduais. Progressista: É um termo oriundo da ideologia marxista. Os teóricos de orientação marxista acreditam, com convicção de fé, que a história evolui inexoravelmente para uma sociedade sem classes. Isto é: comunista. (Modernamente seria uma sociedade igualitária, em que todas as contradições internas foram eliminadas). As forças alinhadas a este processo histórico são ditas progressistas. As contrárias, reacionárias. 5

Parte II A Relação entre Igreja Cristã e Estado em 2.000 anos de História A Igreja Apóstólica: Sofreu perseguição sob um governo anti-bíblico e declaradamente anti-deus, mas em cerca de três séculos, tendo partido da Palestina, foi capaz de influenciar todo o Império e fronteiras além. A Igreja Medieval: Exerceu influência direta e decisiva sobre as políticas de estado. A Igreja no Renascimento: Exerceu influência indireta e declinante sobre o estado. 6

Parte II A Relação entre Igreja Cristã e Estado em 2.000 anos de História A Igreja na Modernidade: Privatizou sua ação. As convicções de fé se tornaram questões de foro íntimo. A Igreja Atual: Tenta recuperar sua influência, porém tem falhado em estabelecer um projeto suficientemente coerente, embasado em uma visão bíblica e minimamente consensual. 7

Parte III O Contexto Brasileiro Cultura Popular: Fortemente influenciada pelo catolicismo romano. O Brasil é o maior país católico do mundo. Ação da Igreja Protestante/Evangélica: Sofreu perseguição no início, se desenvolvendo, em seguida, quase como uma subcultura. Ganhou maior influência a partir da redemocratização do país, principalmente com o aumento do número de crentes, notadamente entre os pentecostais, e com a eleição de sucessivas bancadas evangélicas. 8

Parte IV Com Relação ao Governo...Rom. 13: 1 a 7 O governo civil é uma instituição divina: Teologicamente a doutrina é esta: Igreja e Estado foram ordenados por Deus, tendo cada qual sua função particular. O crente que se opõe à autoridade terrena está, de fato, desobedecendo a Deus. Por essa deslealdade, o rebelde incorrerá em juízo. Quando Paulo afirma que o governo civil é ministro de Deus, parece que ele estabelece que a Igreja e Estado atuam em esferas diferentes, no tocante aos propósitos de Deus para este mundo. 9

Parte IV Com Relação ao Governo...Rom. 13: 1 a 7 O governo tem a missão de promover o bem e reprimir o mal: A obediência às autoridades seculares é ordenada porque elas servem aos propósitos divinos para a presente era. Paulo chega a dizer que o governo civil é ministro de Deus. O cristão deve obediência ao governo civil devido sua consciência para com Deus: Daí vem o dever de pagar impostos devidos pelo fato de serem cidadãos de Roma. De fato, o apóstolo aos gentios amplia o escopo da obrigação, declarando que tudo quanto é devido deve ser pago. Os cristãos, portanto, devem orar constantemente por aqueles que exercem a autoridade civil. 10

Parte IV Com Relação ao Governo...Algumas Observações Adicionais Com base no ensino claro de Romanos 13, pode-se inferir que todas as figuras de autoridade na sociedade devem ser merecedoras de especial honra: pais, professores, os anciãos... Para que o governo civil cumpra com suas atribuições, de acordo com o propósito de Deus, é mister que os cidadãos responsáveis, dentre eles os cristãos, busquem exercer uma influência positiva, tendo em vista o benefício da sociedade. 11

Parte V Afinal, como deve ser a participação da igreja?? A igreja de Cristo não deve ter militância político/partidária. Deve, no entanto, aproveitar todas as oportunidades ao seu alcance para servir a comunidade em que está inserida e aos indivíduos sob sua influência. Sua forma de atuar, e também do cristão enquanto indivíduo, jamais deve ser de natureza revolucionária. 12

Parte V Afinal, como deve ser a participação da igreja?? As obras de fé e de justiça que a igreja de Cristo realiza no mundo hoje, incluindo as de transformação social, econômica, política e cultural, são apenas sinais do Reino de Deus. Elas não são o Reino, mas a evidência da presença do Reino, que é...justiça, Paz e Alegria no Espírito Santo. Sobretudo, a igreja de Cristo não deve alimentar ilusões quanto a um mundo melhor, como resultado das boas obras que realiza e deve realizar. 13

Parte V Afinal, como deve ser a participação da igreja?? Devemos, então, cuidar para não confundir o progresso deste mundo com a nova criação. Devemos evitar escorregar da conversão do coração, pela qual o novo homem é nascido em Cristo, com o desdobramento da história que carrega em si como num ventre as sociedades do futuro. Não devemos falhar em distinguir como coisas muito diferentes a busca de boa organização social, ou a determinação de uma política de maior sucesso, e o princípio do Reino de Deus; eles são duas ordens de realidade diferentes. (De Lubac: A Brief Catechesis on Nature & Grace. Ignatius Press, 1980, p. 101-102). 14

Parte V Afinal, como deve ser a participação da igreja?? Para o cristão firmado em Cristo, o futuro não está contido no presente... O futuro é dádiva e providência divina. Pois a nossa cidadania está nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 15