ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA CINÉTICA ASSOCIADA A ATUAÇÃO DE UM VÓRTICE CICLÔNICO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL



Documentos relacionados
Resumo. Abstract. 1. Introdução

ATUAÇÃO DO VÓRTICE CICLÔNICO DE ALTOS NÍVEIS SOBRE O NORDESTE DO BRASIL NO MÊS DE JANEIRO NOS ANOS DE 2004 E 2006.

VARIABILIDADE DO VENTO NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO DURANTE A OCORRÊNCIA DA ZCAS

Análise sinótica associada a ocorrência de chuvas anômalas no Estado de SC durante o inverno de 2011

Atmosfera e o Clima. Clique Professor. Ensino Médio

Bloqueio atmosférico provoca enchentes no Estado de Santa Catarina(SC)

Variabilidade na velocidade do vento na região próxima a Alta da Bolívia e sua relação com a precipitação no Sul do Brasil

1. Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram. na América do Sul a norte do paralelo 40S no mês de julho de 2013

Estudo de Caso : Configuração da Atmosfera na Ocorrência de Baixo Índice da Umidade Relativa do Ar no Centro-Oeste do Brasil

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA DA ALTA TROPOSFERA DURANTE O VERÃO DA AMÉRICA DO SUL

Massas de ar do Brasil Centros de ação Sistemas meteorológicos atuantes na América do Sul Breve explicação

MANUTENÇÃO DA CIRCULAÇÃO DE VERÃO SOBRE A AMÉRICA DO SUL: ESTUDO DE DOIS ANOS DE CONTRASTE

INFORMATIVO CLIMÁTICO

TELECONEXÕES E O PAPEL DAS CIRCULAÇÕES EM VÁRIOS NÍVEIS NO IMPACTO DE EL NIÑO SOBRE O BRASIL NA PRIMAVERA

MECANISMOS FÍSICOS EM MÊS EXTREMO CHUVOSO NA CIDADE DE PETROLINA. PARTE 3: CARACTERÍSTICAS TERMODINÂMICAS E DO VENTO

ABSTRACT. Palavras-chave: Aviso Meteorologia Especial, INMET, São Paulo. 1 - INTRODUÇÃO

Características do Transporte de Umidade de Grande Escala na América do Sul ao Longo do Ano Josefina Moraes Arraut 1, Carlos Nobre 1

ASPECTOS CLIMÁTICOS DA ATMOSFERA SOBRE A ÁREA DO OCEANO ATLÂNTICO SUL

Análise de um cavado móvel no sul da América do Sul através da ACE (Aceleração Centrípeta Euleriana)

ANÁLISE DE UM CASO DE CHUVA INTENSA NO SERTÃO ALAGOANO NO DIA 19 DE JANEIRO DE 2013

CICLONE EXTRATROPICAL MAIS INTENSO DAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS PROVOCA ESTRAGOS NO RIO GRANDE DO SUL E NO URUGUAI

OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

MIGRAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTER-TROPICAL (ZCIT): UM ESTUDO COM UM MODELO CLIMÁTICO SIMPLES. por

Estudo de caso de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis utilizando o software GrADS e imagens de satélite do EUMETSAT

Climatologia. humanos, visto que diversas de suas atividades

4. ANÁLISE DA PLUVIOMETRIA

Interacção Oceano-Atmosfera. O transporte de calor pelos oceanos. Os oceanos como reguladores do clima.

Massas de Ar e Frentes

CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DOS SISTEMAS FRONTAIS NA CIDADE DE SÃO PAULO. Guilherme Santini Dametto¹ e Rosmeri Porfírio da Rocha²

CAPÍTULO 9. El Niño/ Oscilação Sul (ENOS) Nota: Para mais informações, consulte o PowerPoint: Kousky-Lecture-18-enso-cycle.ppt

Enchentes em Santa Catarina - setembro/2013

Figura 18. Distâncias das estações em relação ao Inmet e Mapa hipsmétrico

NOTA TÉCNICA: CHUVAS SIGNIFICATIVAS EM JUNHO DE 2014 NA REGIÃO SUDESTE DA AMÉRICA DO SUL

Eny da Rosa Barboza Natalia Fedorova Universidade Federal de Pelotas Centro de Pesquisas Meteorológicas

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

Análise de Distúrbios Ondulatórios de Leste que Afetam o Nordeste Brasileiro: Um Estudo de Caso

01 Introdução 02 O que é um tornado? 03 Quanto custa um tornado? Tipo de destruição 04 Tornado é coisa de norte americano? 05 O que é um downburst?

MODELOS ESTATÍSTICOS DE QUANTIFICAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO ASSOCIADA AS PASSAGENS FRONTAIS NO RIO GRANDE DO SUL. por

CLIMATOLOGIA. Profª Margarida Barros. Geografia

Ocorrência de Storm Track no Hemisfério sul

CAPÍTULO 8 O FENÔMENO EL NIÑO -LA NIÑA E SUA INFLUENCIA NA COSTA BRASILEIRA

CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO, UM EXEMPLO DE INTERAÇÃO ENTRE A EACH-USP E O BAIRRO JARDIM KERALUX

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

Boletim climatológico mensal maio 2012

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil

VISUALIZAÇÃO TRIDIMENSIONAL DE SISTEMAS FRONTAIS: ANÁLISE DO DIA 24 DE AGOSTO DE 2005.

PADRÕES SINÓTICOS ASSOCIADOS A SITUAÇÕES DE DESLIZAMENTOS DE ENCOSTAS NA SERRA DO MAR. Marcelo Enrique Seluchi 1

Análise de um evento de chuva intensa no litoral entre o PR e nordeste de SC

Exercícios Tipos de Chuvas e Circulação Atmosférica

CLIMA I. Fig Circulação global numa Terra sem rotação (Hadley)

Estudo de caso de um sistema frontal atuante na cidade de Salvador, Bahia

Expansão Agrícola e Variabilidade Climática no Semi-Árido

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

UMA ANÁLISE CLIMATOLÓGICA DE RE-INCURSÕES DE MASSAS DE AR ÚMIDO NA REGIÃO DA BACIA DO PRATA DURANTE A ESTAÇÃO FRIA.

Análise do Movimento vertical na América do Sul utilizando divergência do Vetor Q

DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES MÉDIOS ANUAIS DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL, PARA A CIDADE DE PELOTAS/RS

PADRÃO SINÓTICO ATUANTE DURANTE O EVENTO DE PICO NA ESPESSURA ÓPTICA DE AEROSSÓIS SOBRE O OBSERVATÓRIO ESPACIAL DO SUL NO DIA 06 DE SETEMBRO DE 2007.

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

Colóquio APMG Um Inverno particular. Pedro Viterbo Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Agradecimentos: Julia Slingo, UK Metoffice

Análise das condições atmosféricas durante evento extremo em Porto Alegre - RS

ESTUDO SOBRE FRENTES QUENTES QUE OCORREM NO SUL DO BRASIL. Recebido Março 2010 Aceito Dezembro 2010

ÍNDICE K: ANÁLISE COMPARATIVA DOS PERIODOS CLIMATOLÓGICOS DE E

SINAIS DE LA NIÑA NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

PROGNÓSTICO DE ESTAÇÃO PARA A PRIMAVERA DE TRIMESTRE Outubro-Novembro-Dezembro.

MUDANÇA A DOS EVENTOS ZCAS NO CLIMA FUTURO

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

O MEIO AMBIENTE CLIMA E FORMAÇÕES VEGETAIS

COBERTURA DE NUVENS OBSERVADA EM NATAL (RN) E ALCÂNTARA (MA) 1993 a 2005 Flávio Conceição Antonio 1,2

INMET: CURSO DE METEOROLOGIA SINÓTICA E VARIABILIDADE CLIMÁTICA CAPÍTULO 4

ASPECTOS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS A EVENTOS EXTREMOS DE CHEIAS NO RIO ACRE RESUMO

PADRÕES CLIMÁTICOS DOS VÓRTICES CICLÔNICOS EM ALTOS NÍVEIS NO NORDESTE DO BRASIL, PARTE II: ASPECTOS SINÓTICOS

A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS NO LESTE DO NORDESTE DO BRASIL UTILIZANDO O MODELO RAMS

ATUAÇÃO DO PAR ANTICICLONE DA BOLÍVIA - CAVADO DO NORDESTE NAS CHUVAS EXTREMAS DO NORDESTE DO BRASIL EM 1985 E 1986

ANÁLISE DE UM CASO DE ZCAS UTILIZANDO PSEUDO-TEMPS NA ASSIMILAÇÃO DE DADOS DO MCGA/CPTEC/COLA

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

Vórtices ciclônicos em altos níveis sobre o Nordeste do Brasil

UM ESTUDO DE CASO DE INVASÃO DE AR POLAR EM LATITUDES MÉDIAS ASSOCIADO A UMA CICLOGENESIS INTENSA NO RIO DA PRATA

ANÁLISE DA COBERTURA DE NUVENS E SUAS RELAÇÕES COM A DIVERGÊNCIA DO VENTO EM ALTOS NÍVEIS DURANTE O WETAMC/LBA

Rastreamento dos bloqueios ocorridos próximos à América do Sul em julho de 2008 e 2009 e sua influência sobre São Paulo e a região sul do Brasil

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A VARIABILIDADE DE BAIXA FREQU~NCIA DA CIRCULAÇ~O DE GRANDE ESCALA SOBRE A AM~RICA DO SUL. Charles Jones e John D.

INMET/CPTEC-INPE INFOCLIMA, Ano 13, Número 07 INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2006 Número 07

Acumulados significativos de chuva provocam deslizamentos e prejuízos em cidades da faixa litorânea entre SP e RJ no dia 24 de abril de 2014.

ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS SONDAGENS DE CAXIUANÃ DURANTE O EXPERIMENTO PECHULA.

Elementos Climáticos CLIMA

EPISÓDIO DE UMA PERTURBAÇÃO ONDULATÓRIA DOS ALÍSIOS NO LITORAL ORIENTAL DO NORDESTE. Raimundo Jaildo dos Anjos 1

Relação entre a Precipitação Acumulada Mensal e Radiação de Onda Longa no Estado do Pará. (Dezembro/2009 a Abril/2010)

Tempo & Clima. podendo variar durante o mesmo dia. é o estudo médio do tempo, onde se refere. às características do

INVEST 90Q O SEGUNDO CICLONE TROPICAL NO ATLÂNTICO SUL.

INFOCLIMA, Ano 11, Número 11 INFOCLIMA. Previsão de Consenso 1 CPTEC/INPE e INMET para o trimestre Dezembro/04 a fevereiro/05

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

O COMPORTAMENTO DA TEMPERATURA E UMIDADE DO AR NA ÁREA URBANA DE IPORÁ-GO. Valdir Specian¹, Elis Dener Lima Alves²

SIMULAÇÃO DE ALTA RESOLUÇÃO DAS CIRCULAÇÕES LOCAIS NO LESTE DA AMAZÔNIA

Figura 1 Localização da bacia do rio São Francisco. Fonte:< Acessado em 01/02/2009.

AS CHUVAS DE JANEIRO/2004 NO NORDESTE DO BRASIL, SUAS CARACTERÍSTICAS ATMOSFÉRICAS E SEUS IMPACTOS NOS RECURSOS HÍDRICOS DA REGIÃO

Escola E.B. 2,3 de António Feijó. Ano letivo Planificação anual. 7º ano de escolaridade

A ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL NO MODELO CLIMÁTICO DO HADLEY CENTRE. Iracema F.A.Cavalcanti 1 e Peter Rowntree 2 ABSTRACT

ANÁLISE PRELIMINAR DE UM CASO DE VCAN QUE FAVORECEU A OCORRÊNCIA DE GRANDES ENCHENTES NO SUL DO BRASIL EM DEZEMBRO DE 1995

Transcrição:

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA CINÉTICA ASSOCIADA A ATUAÇÃO DE UM VÓRTICE CICLÔNICO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL Raimundo Jaildo dos Anjos Instituto Nacional de Meteorologia INMET raimundo@inmet.gov.br Manoel F. Gomes Filho Departamento de Ciências Atmosféricas - DCA/UFPB mano@dca.ufpb.br RESUMO Apresenta-se através da análise da distribuição espacial e temporal e do perfil vertical da energia cinética, a atuação de um Vórtice Ciclônico da Alta Troposfera sobre a Região Nordeste do Brasil entre os dias 05 e 09 de março de 1978. Para o cálculo da energia cinética, seguimos a metodologia proposta por Krishnamurti e Ramanathan (1982). 1. INTRODUÇÃO Entre as diferentes metodologias utilizadas por pesquisadores sobre a atuação dos Vórtices Ciclônicos da Alta Troposfera, destacam-se alguns fatores regionais que influenciam a atuação desse tipo de sistema atmosférico sobre a Região Nordeste do Brasil. No conjunto de trabalhos já realizados, tanto sob o ponto de vista climatológico quanto sinótico - dinâmico, documenta-se entre outras características, sua interligação com a atuação da Alta da Bolívia, com a atuação de sistemas frontais frios, e com a localização e intensidade da corrente de jato subtropical sobre a América do Sul. Os vórtices ciclônicos estão entre os principais sistemas atmosféricos causadores de chuvas no inicio da estação chuvosa na Região Nordeste. Sua maior freqüência de formação dá-se, principalmente, nos meses de verão (Kousky e Gan (1981)), caracterizando-se por bandas de nebulosidade em formação circular, com seu centro apresentando céu claro, ou pouca nebulosidade. Segundo alguns pesquisadores o ciclo de vida dos vórtices ciclônicos pode ser também influenciado por sistemas de circulação do hemisfério norte, Dean (1971), Davis (1982), Rao e Bonatti (1986). Mais recentemente, Anjos (1995) sugeriu a existência de conexões entre a circulação do hemisfério norte e o desenvolvimento dos vórtices ciclônicos da alta troposfera no Nordeste do Brasil e que é marcante no nível de 500 hpa a presença de intenso escoamento interhemisférico sobre a Amazônia e o Oceano Atlântico antes da formação do vórtice. A análise de alguns desses trabalhos permite relacionar certas características básicas da circulação atmosférica aos vórtices ciclônicos, como por exemplo, características energéticas. Alguns autores já abordaram o cálculo da energia cinética sobre a América do Sul, entre estes destacam-se os trabalhos de Marques (1981), Silva Dias (1985), Sakamoto (1992), Marques e Rao (1992) e Anjos (1994). Segundo Kung e Smith (1975), o balanço de energia cinética permite compreender melhor os processos energéticos relacionados aos mecanismos de crescimento e decaimento de distúrbios atmosféricos de diferentes escalas. No presente trabalho, estuda-se alguns aspectos da atuação de um vórtice ciclônico sob o ponto de vista energético. Esse vórtice, atuou na Região Nordeste do Brasil entre os dias 05 e 09 de março de 1978 e foi responsável por precipitações acima da climatologia em alguns estados nordestino. 1363

2. MATERIAL E MÉTODOS XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 Neste trabalho, utilizamos dados diários da componente zonal (u) e meridional (v) do vento nos níveis de 1000, 850, 700, 500, 400 e 300 hpa às 00:00 UTC para o período de 05 a 09 de março de 1978, gerados a partir de dados de ponto de grade do National Meteorological Center (NMC), numa grade compreendida entre -80ºW e -20ºW de longitude e de 12.5ºN a -30ºS de latitude. Precipitações significativas ocorreram sobre a Região Nordeste do Brasil nesse período. Na análise da energia cinética utilizamos as médias feitas para o período em estudo, ou seja, de 05 a 09 (pêntadas) de março de 1978. A análise da distribuição espacial e temporal e dos perfis verticais de energia cinética é uma das técnicas normalmente utilizadas para se entender os mecanismos de crescimento e decaimento de distúrbios atmosféricos. Foram analisados também perfis verticais médios em áreas vizinhas da área de atuação do vórtice ciclônico, a exemplo de Ward e Smith (1976). Seguimos a metodologia proposta por Krishnamurti e Ramanathan (1982) 3. RESULTADOS Através da análise da distribuição espacial e temporal da precipitação para o período de 05 a 09 de março de 1978 (Fig. 1), observa-se que precipitações significativas sobre a Região Nordeste do Brasil estiveram associadas à atuação de um Vórtice Ciclônico de Ar Superior - VCAS (Fig. 2). Inicialmente, apresentamos a análise espacial e temporal do perfil vertical médio de energia cinética (Fig. 3) na latitude de 7.5ºS, para a faixa de longitude que vai de 80ºW a 20ºW. Através dessa figura, observa-se que a magnitude das isolinhas de energia cinética são mais significativas no setor leste ( 45ºW e -30ºW) dessa faixa de longitude, com transporte de energia desde o nível de 700 hpa. O máximo de energia cinética observada entre 700 hpa e alta troposfera na faixa entre 45ºW e 35ºW tem boa concordância com o máximo de precipitação (Fig. 1). A seguir apresentamos os perfis verticais médios de energia cinética nas áreas que vai de : (a) ( 40ºW a 35ºW e 7.5ºS a -10ºS) = área com núcleo máximo de precipitação, (b) ( 40ºW a 35ºW e 10ºS a -12.5ºS) = área com núcleo mínimo de precipitação e no ponto de coordenadas (-7.5ºS e -37.5ºW), sobre o Estado de Pernambuco e dentro do núcleo máximo de precipitação. Nota-se claramente que nessa área o perfil vertical médio (Fig. 4) é mais acentuado que o perfil vertical médio na área com núcleo mínimo de precipitação (Fig. 5). Entre a superfície e o nível de 700 hpa, os perfis verticais são semelhantes nas duas áreas, com magnitude bastante reduzida, entretanto, entre 500 hpa e 300 hpa a área com máximo de precipitação apresenta maior magnitude na energia cinética. Estes resultados mostram que áreas vizinhas dentro de uma mesma área de atuação de um vórtice ciclônico apresentam diferenças marcantes na magnitude das isolinhas de energia cinética, bem como nos seus perfis verticais de energia cinética na alta troposfera. A Fig. 6, representa o perfil vertical médio no ponto de coordenada (-7.5ºS e -37.5ºW), próximo ao Município de Triunfo PE (-7º 51 S e -38º 08 W), local onde se verificou o maior total de precipitação acumulada para o período, ou seja, 128,0 mm. Neste ponto o perfil vertical médio de energia cinética na média e baixa troposfera é também semelhante aos perfis observados nas áreas com máximo e mínimo de precipitação, entretanto, observou-se entre 400 e 300 hpa aumento significativo na magnitude da energia cinética, o que também mostra boa concordância com o máximo de precipitação observada no Município de Triunfo PE. 1364

Figura 1. Precipitação (mm) acumulada no período de 05 a 09 de março de 1978 na Região Nordeste do Brasil. Figura 2. Fotografia do Satélite Goes às 12:00 UTC no dia 08 de março de 1978, mostrando a atuação de em vórtice ciclônico da alta troposfera sobre a Região Nordeste do Brasil. 1365

Figura 3 Seção transversal (longitude altitude) de energia cinética (m²/s²) na latitude de 7.5ºS, para a faixa de longitude de 20ºW a -80ºW no período de 05 a 09 de março de 1978. hp a 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 950 1000 0 100 200 300 400 m²/s² Figura 4 Perfil vertical médio de energia cinética no período de 05 a 09 de março de 1978 na área de coordenadas (-40ºW a 35ºW e 7.5ºS a 10ºS). Área com máximo de precipitação. 1366

hpa 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 950 1000 0 50 100 150 200 250 300 m²/s² Figura 5 Perfil vertical médio de energia cinética no período de 05 a 09 de março de 1978 na área de coordenadas (-40ºW a 35ºW e 10ºS a 12.5ºS). Área com mínimo de precipitação. hpa 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 950 1000 0 100 200 300 400 500 m²/s² Figura 6 Perfil vertical médio de energia cinética no período de 05 a 09 de março de 1978 no ponto de coordenada (-7.5ºS e 37.5ºW), próximo ao Município de Triunfo PE (-38º 08 W, -7º 51 S), local de maior precipitação acumulada. 1367

4 CONCLUSÕES Este trabalho investiga a atuação de um Vórtice Ciclônico da Alta Troposfera sob o ponto de vista energético. Esse vórtice, que atuou sobre a Região Nordeste do Brasil entre os dias 05 e 09 de março de 1978, foi responsável por precipitações acima da climatologia em alguns estados nordestino. Durante esse período, observou-se um marcante gradiente de energia cinética sobre a Região Nordeste do Brasil. Esse padrão de energia cinética mostra boa concordância com o máximo de precipitação observada sobre essa região. O estudo revela que núcleos com máximos e mínimos de precipitação dentro da área de atuação do vórtice ciclônico sobre a Região Nordeste do Brasil, mostram perfis verticais de energia cinética semelhantes entre a superfície e o nível de 700 hpa. Entretanto, entre o nível de 500 hpa e 300 hpa a área com núcleo máximo de precipitação apresenta maior magnitude de energia cinética, do que a área com o núcleo mínimo de precipitação, evidenciando que áreas vizinhas dentro da mesma área de atuação do vórtice ciclônico, apresentam diferenças marcantes nos perfis verticais de energia cinética na alta troposfera. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anjos, R. A., 1994 : Caracterização das circulações rotacional e divergente e as energias associadas sobre o setor tropical da América do Sul, UFPB. Tese de Mestrado, 102p. Anjos, B. L., 1995 : Conexões entre a circulação do hemisfério norte e os vórtices ciclônicos da alta troposfera na Região Nordeste do Brasil, UFPB. Dissertação de Mestrado, 119p. Davis, N. E., 1982 : Meteosat water vapor channel and a low-latitude vortex. Bulletin American Meteorological Society, Nº 63, p. 747-750. Dean, G. A., 1971 : The three-dimensional wind structure over Shouth America and associated rainfal over Brazil, Department of Meteorology. Florida State University, (Rep. Lapa-164). Kousky, V. E., Gan, M. A., 1981 : Upper tropospheric cyclonic vortices in the tropical South Atlantic, Tellus, 3. P.538-551. Krishnamurti, T. N., Ramanathan, Y., 1982 : Sensitivity of of the monsoon onset to differential heating, J. Atmos. Sci. 39 ( ) : 1290-1306. Hung, E. C., Smith, P. J., 1974 : Problems of large scale kinetic energy balance a diagnostic analysis in GARP. Bulletim American Meteorological Siciety., 55, 768-777. Marques, V. S., 1981 : Estudos da energética e do fluxo de vapor d água na atmosfera sobre o Nordeste do Brasil, INPE. Tese de Doutorado, 2288 TDL/068. Marques, R. F. C., Rao. V. B., 1992 : Energética e eficiência das ondas baroclínicas no Hemisfério Sul. VII CBMet. Anais Vol. 1 : 90 94. Rao, V. B., Bonatti. J. P., 1986 : On the origin of upper tropospheric cyclonic vortices in the South Atlantic Ocean and adjoining Brazil during summer. INPE-4010 PRE/1002. Sakamoto, M. S., 1992 : Balanço de energia cinética associado a uma frente fria estacionária no verão de 1989, USP/IAG. Tese de Mestrado, 139p. Silva Dias, P. L., 1985 : A preliminary study of the observed vertical mode structure of the summer circulation over Tropical South America, Tellus. 37A, 185-195. Ward, J. H., Smith, P.J., 1976 : A kinetic energy budget over North America during a period of short wave development. Mon. Wea. Rev., 104, 836-848. 1368