II LAGOAS DE POLIMENTO PARA O PÓS TRATAMENTO DE ESGOTO DIGERIDO PARTE 2: REMOÇÃO DE PATÓGENOS

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Transcrição:

II-122 - LAGOAS DE POLIMENTO PARA O PÓS TRATAMENTO DE ESGOTO DIGERIDO PARTE 2: REMOÇÃO DE PATÓGENOS Paula Frassinetti Feitosa Cavalcanti (1) Engenheira Civil, M.Sc. e Professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal da Paraíba. Maria das Graças Ribeiro Mayer Graduada em Engenharia Química pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Engenharia Civil/Saneamento pela UFPB, Bolsista RHAE/CNPq. Eudes Alves Moreira Químico Industrial pela Universidade Estadual da Paraíba, Bolsista do CNPq Adrianus van Haandel Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal da Paraíba, Ph.D em Engenharia Civil/Saneamento. Endereço (1) : Rua Dr. Francisco Pinto, 610 Bodocongó Campina Grande Pb CEP: 58109-783 Brasil Telefax: (83) 331-4809 e - mail: prosab@cgnet.com.br RESUMO A qualidade de efluentes de reatores anaeróbios de alta taxa, tratando esgoto doméstico, pode ser melhorada após o tratamento em lagoas de polimento. Diferentemente de lagoas de estabilização, cujo principal objetivo é a estabilização da matéria orgânica, o de lagoas de polimento é a remoção de organismos patogênicos. MARAIS (1974) descreveu o decaimento de coliformes fecais (CF) como um processo de 1 a. ordem e, como tal, a eficiência máxima de remoção de CF é obtida quando o fluxo nos reatores é tubular (LEVENSPIEL, 1979). Desta forma, para maximizar a taxa de decaimento de bactérias, as lagoas de polimento devem ser projetadas para não apresentarem mistura. A partir de uma investigação experimental em escala piloto, no presente trabalho, mostra-se que lagoas de polimento de efluentes de reatores UASB tratando esgoto doméstico, quando projetadas para operarem com escoamento tubular, podem produzir um efluente final cuja qualidade higiênica é compatível com a recomendada WHO (OMS) (1998) para irrigação irrestrita, ou seja, <1 ovo de helminto/100 ml e 10 3 CF/100 ml. No entanto, ficou estabelecido experimentalmente que o escoamento não era tubular, havendo mistura parcial do conteúdo da lagoa (número de dispersão em torno de 0,15) devido a imperfeições no regime de escoamento, além do que, foi detectado um volume morto de 15% do volume total. Estes dois fatores combinados causaram um aumento significativo do tempo de permanência, t p, necessário para uma remoção eficiente de CF. Ficou constatado que, na lagoa, a remoção de ovos de helmintos após 3 dias de t p era total e para se ter um efluente com 10 3 CF/100 ml, ou seja, uma eficiência de 99,99 %, eram necessários 10 dias de t p,, ou seja, aproximadamente o dobro do valor teórico em uma lagoa de escoamento tubular perfeito. PALAVRAS-CHAVE: Esgoto Doméstico, Pré Tratamento Anaeróbio, Lagoas de Polimento, Remoção de Patógenos, Critérios de Projeto. INTRODUÇÃO A utilização ecologicamente correta dos recursos hídricos impõe a disposição final adequada de águas servidas (esgoto doméstico) que pode ser num corpo d água receptor, sem prejuízo para a qualidade deste, ou na reutilização na agricultura, por exemplos. Para reutilização na agricultura, os critérios de qualidade higiênica adotados para esgoto doméstico tratado se referem às recomendações da Organização Mundial de Saúde (WHO (OMS), 1998): 10 3 CF/100 ml e < 1 ovo de helminto/100 ml. Vários pesquisadores, no Brasil, demonstraram que reatores anaeróbios de alta taxa, notadamente reatores UASB, são também bastante eficientes no tratamento de esgoto doméstico, quando operados em regiões de ABES Trabalhos Técnicos 1

clima quente, apresentando eficiência de remoção de sólidos suspensos (SS) e DBO geralmente superior a 70%, (VAN HAANDEL e LETTINGA (1993); BEZERRA et al (1999), AISSE et al (2000); SANCHES et al (2000)). No entanto, por serem operados com tempos de detenção permanência entre 8 a 12 horas, estes reatores apresentam baixa eficiência na remoção de coliformes fecais. Para corrigir as deficiências do tratamento anaeróbio as lagoas de polimento se apresentam como solução tecnicamente viável. Num trabalho anterior (CAVALCANTI et al, 2000) ficou estabelecido que, em apenas três dias de tempo de permanência, em lagoas de polimento rasas (0,60 m de profundidade) é possível reduzir significativamente a DBO e os sólidos suspensos totais (SST) remanescentes de reatores anaeróbios tipo UASB. Estes autores mostram que, tratando-se de lagoas de polimento de efluentes anaeróbios, não há necessidade e nem vantagens de se construir um sistema de lagoas em série, a exemplo de sistemas de lagoas de estabilização convencionais que tratam esgoto bruto. Não havendo dificuldades para a remoção de DBO e de SST e uma vez que a remoção dos ovos de helmintos se dá paralela à remoção de SST o projeto de lagoas de polimento deve ser otimizado para maximizar a remoção de coliformes fecais. As considerações teóricas que devem nortear o dimensionamento de lagoas eficientes na remoção de CF partem de que o decaimento de CF se dá segundo um processo de 1 a. ordem (Equação (1); MARAIS, 1974): dn/dt = -K b N (1) A solução da equação diferencial (Equação (1)) depende das condições de contorno e especialmente do grau de mistura. Quando não se tem mistura (batelada ou fluxo tubular), a eficiência do processo é máxima (LEVENSPIEL, 1979) e a solução da Equação (1) é dada por (Equação (2)): N e /N a = exp(-k b t p ) (2) Para mistura completa (LEVENSPIEL, 1979; Equação (3)): N e /N a = 1/(1 + K b t p ) (3) Para o caso de reatores parcialmente misturados, determina-se o número de dispersão para se expressar o grau de mistura. O número de dispersão D é determinado através da adição semi instantânea de um traçador ao efluente e, posteriormente, da observação do perfil da concentração deste traçador no efluente, em função do tempo. O valor de D é determinado através de cálculos padronizados (LEVENSPIEL, 1979). WEHNER e WILHELM (1956) desenvolveram uma expressão para reatores parcialmente misturados (Equação (4)): N e N a [ ] 2 ( ) [ a { ( 2 exp )]} (4) [ ( 2D) ] 2 a 4.exp ( 1 ) exp ( 2D = a + a ) 1 a 1 D onde: N N a, N e k b t p a D é a concentração de CF (no. CF/100 ml); correspondem a concentração de CF no afluente e no efluente, respectivamente; é a constante de decaimento; é o tempo de permanência; 1/ 2 = ( 1+ 4k t D) ; b p é o número de dispersão. A Figura 1 é uma representação gráfica das Equações 2, 3 e 4, tendo-se a proporção N e /N a em função do grupo adimensional k b t p para diferentes valores do número de dispersão: D = 0 (fluxo tubular, sem mistura);. D = 0,01 (pouca mistura); D = 0,1 (mistura moderada); D = 1 (mistura intensa) e D = (mistura completa). Observa-se claramente que o aumento da intensidade de mistura afeta a eficiência de remoção dos CF, 2 ABES Trabalhos Técnicos

especialmente quando a eficiência de remoção que se deseja é alta. Por exemplo, para uma eficiência de 99,99 % (redução de 4 unidades logarítmicas) o valor necessário de k b t p é 9,2 para D = 0, sendo de 17 para D = 0,1, o que significa que, mesmo se tendo uma mistura moderada, o tempo de permanência necessário e, portanto, a área da lagoa praticamente são duplicados. O estudo do regime de fluxo com traçadores permite determinar, também, o tempo de permanência real (t p,real ) que pode não ser o tempo de permanência teórico (t p ). A diferença entre os dois tempos se deve a zonas estagnadas ou volume morto no reator. A fração de volume morto é determinada como: fd = ( V V ) t r Vt = 1 t p, real t p onde: f d é a fração de volume morto e, V t e V r correspondem ao volume teórico (V t =Q*t p ) e ao volume real ou atual. (5) Para minimizar a mistura em lagoas, estas devem ser rasas e possuir uma razão comprimento largura elevada VON SPERLING (1996). YANEZ (1993) e AGUNWAMBA et al (1992) derivaram expressões (Equações 6 e 7) que permitem estimar o número de dispersão D em função das dimensões da lagoa. Equação de YANEZ (1993): 2 [ ] (6) ( L / B) 0,261+ 0,254x( L / B) 1,014x( L / B) D = + Equação de AGUNWAMBA et al (1992), simplificada por VON SPERLING (1996): D = 0,102.3. 0,410 [ ( ) ( )( ) ( 0,981+ 1,385. H B ( B + 2H ). t. ν 4. L. B. H. H L. H B ) ] (7) Com base nestas considerações teóricas foi realizada uma investigação experimental sobre o pós tratamento de efluentes de reatores UASB em uma única lagoa de polimento. O objetivo principal do experimento era verificar o tempo de permanência necessário para se obter um efluente com qualidade compatível com as recomendações da WHO (OMS), para uso na irrigação sem restrições. A descrição desta investigação, discussão dos resultados obtidos e as principais conclusões estão apresentadas no decorrer deste trabalho. Figura 1: Eficiência de remoção de coliformes fecais em função do grupo adimensional k b t p (no gráfico representado por kt) para reatores sem mistura (fluxo tubular), com mistura parcial ou completa. ABES Trabalhos Técnicos 3

INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL Durante 16 meses foi realizada uma investigação, em escala de demonstração, para verificar a viabilidade de se usar uma única lagoa de polimento de fluxo contínuo para o pós tratamento do efluente de um reator UASB que tratava esgoto municipal. O objetivo principal era determinar o tempo de permanência necessário para a remoção de CF e produzir um efluente que pudesse ser usado na irrigação irrestrita. A lagoa de polimento foi operada com tempos de permanência de 5, 7,5 e 15 dias, caracterizando três fases no experimento. DESCRIÇÃO DO SISTEMA EXPERIMENTAL O sistema era formado de um reator UASB, com 1,5 m 3 de capacidade, seguido por uma lagoa de polimento, com volume útil de 32,5 m 3. Como a remoção de CF era o objetivo principal da lagoa de polimento, procurou-se minimizar a mistura na lagoa, dividindo-a em cinco compartimentos ou raias, tendo cada uma: comprimento de 10 m, largura de 1 m e profundidade útil de 0,65 m (ver Figura 2). Nesta mesma figura está apresentado um detalhe da passagem do líquido de uma raia para outra, que era feita no sentido topo - fundo, sendo a conexão em tubo de PVC de 20 mm de diâmetro. No topo da tubulação de conexão foi colocado um cap de 100 mm de diâmetro com o objetivo de evitar a passagem, em excesso, de algas de uma raia para outra. OPERAÇÃO DO SISTEMA Foi definido um tempo de permanência na lagoa de t p = 5 dias, a partir das seguintes considerações: população de CF no efluente do reator UASB na ordem 10 7 UFC/100mL; eficiência mínima de remoção de CF na lagoa de 99,99%; número de dispersão D = 0,02 (calculado com auxílio da Equação (7)) e valor adotado para a constante de decaimento de k b = 2,0 dia -1. A profundidade pequena de 0,65 m foi escolhida para avaliar a possibilidade de ocorrência de remoção de nutrientes a partir de um aumento do valor do ph, que só é possível em lagoas rasas. A Tabela 1 mostra os valores médios de alguns dos parâmetros analisados na lagoa operada com um tempo de permanência de 5 dias. Os dados mostram claramente que a concentração de CF no efluente era alta demais para irrigação sem restrições. Por esta razão foi aumentado o tempo de permanência para 7,5 dias (2 a. Fase) e, quando isto ainda se mostrou insuficiente para produzir a qualidade higiênica deseja, foi adotado um tempo de permanência de 15 dias. Figura 2: Esquema do sistema formado por um reator UASB, tratando esgoto bruto, seguido de uma lagoa de polimento compartimentada e detalhe do dispositivo de conexão entre duas raias. 4 ABES Trabalhos Técnicos

O reator UASB, já com oito meses de operação, era alimentado com esgoto bruto da cidade de Campina Grande PB e operou com um t p = 3 horas, durante as fases 1 e 2, e com t p = 6 horas, durante a fase 3. Durante todo o experimento não foram feitas descargas intencionais de lodo de excesso do reator, sendo toda a produção de lodo descarregada diretamente na lagoa. Para cada tempo de permanência na lagoa foi mantida constante a vazão afluente com auxílio de uma bomba dosadora. A Tabela 1 mostra os valores dos parâmetros que foram analisados no esgoto bruto e no esgoto digerido, bem como nas diferentes raias e no efluente final. A concentração de oxigênio dissolvido, OD, (mínima e máxima) foi determinada a meia profundidade. Os valores de SST, DBO, DQO, ph, alcalinidade e a qualidade higiênica em termos de CF e ovos de helmintos foram obtidos da análise de amostras dos efluentes das raias. Para determinar a concentração de algas (como Clorofila a) em cada raia foram tomadas amostras em coluna líquida e em três pontos distinto, as quais depois eram misturadas. Para estimar o efeito de algas sobre a qualidade do efluente foram realizados, também, testes da DBO e DQO em amostras filtradas. As amostras do afluente e efluente do UASB e do efluente de cada raia da lagoa de polimento eram coletadas, por volta das 8 horas, para serem analisadas segundo procedimentos padronizados: Standard Methods APHA (1997).para todas as análises exceto Clorofila a (método descrito por JONES, 1979) e ovos de helmintos (método de BAILENGER, modificado por AYRES & MARA, 1996). Devido às variações quantitativas e qualitativas do esgoto afluente, foram feitas correções dos valores pontuais dos parâmetros relativos à DBO, DQO e aos sólidos suspensos, de forma que estes representassem o valor médio diário. Em cada uma das três fases foi determinado o número de dispersão em cada raia da lagoa de polimento mediante a distribuição do tempo de permanência, usando-se cloreto de potássio como traçador, obtendo-se depois o valor médio de D na lagoa, conforme apresentado na Tabela 5. O mesmo experimento foi também usado para determinar o tempo real de permanência do líquido (t p,real ) na lagoa de polimento e, portanto, a fração de volume morto. DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE DECAIMENTO, K B. Para determinar os valores da constante de decaimento de CF, em cada fase do experimento, foram retiradas amostras de iguais volumes de cada raia. As amostras eram misturadas sendo, então, adicionados 10 % de esgoto digerido para aumentar a concentração de CF. De cada batelada assim obtida amostras eram retiradas 4 vezes por dia, durante um período de 5 dias, para determinar a variação do número de CF na batelada. Os valores de k b correspondentes as três fases estão apresentados na Tabela 5. Tabela 1: valores experimentais de k b em função da profundidade, H. H (m) 0,40 0,65 0,80 1,5 2,0 3,0 k b (dia -1 ) 4,0 2,3 2,0 0,7 0,6 0,5 k b.h 1,60 1,50 1,60 1,05 1,20 1,50 A Tabela 1 contém os valores de k b, determinados durante a 1 a. Fase e da forma acima descrita, em lagoas de polimento pouco e muito profundas (recipientes com alturas variando de 0,40 a 3,0 m). Desta investigação ficou estabelecido que, em lagoas de bateladas, o decaimento da população de CF ocorre, como previsto, de forma exponencial. Neste experimento ficou também determinado o valor da constante k b = 2,3 dia -1 para a profundidade de 0,65 m. RESULTADOS E DISCUSSÃO REMOÇÃO DE SST E MATÉRIA ORGÂNICA Como pode ser observado nas Tabelas 2 e 3, após um t p de somente 3 dias, os valores médios da concentração de SST não variaram muito, sendo a concentração final, respectivamente as Tabelas 2 e 3, de 68 e 48 mgsst/l, valores estes ainda altos segundo as normas ambientais. Da mesma forma, os valores da DBO, após um t p de 3 dias na lagoa, também não apresentaram variações significativa, 55 mg/l na 1 a. Fase e 57 ABES Trabalhos Técnicos 5

mg/l na 2 a. Observa-se que os valores da DBO filtrada representam praticamente metade da DBO total, podendo a diferença entre os dois valores ser atribuída à presença de algas. Também podem ser atribuídos às algas os altos valores de DQO, sendo estas responsáveis por mais que metade da DQO, para tempos de permanência de menos que 7 dias na lagoa de polimento. Nos dados de Tabela 3 observa-se que, ao longo da lagoa, houve uma diminuição notável da concentração de SST, DBO e DQO totais, aproximando-se essas concentrações às das amostras filtradas. Paralelamente havia uma diminuição visível da concentração de algas (que aliás também ficou evidenciada pela diminuição da concentração de Clorofila a). É interessante observar que uma população pequena mas estável de algas (concentração da Clorofila a de 123 µg/l) se estabeleceu já na primeira raia da lagoa de polimento, embora o tempo de permanência nesta fosse de tão somente 1 dia. Enquanto a concentração de algas aumentava ao longo das raias até um t p de 5 dias, observou-se que esta concentração diminuía quando o tempo de permanência era maior que 6 ou 7 dias, como pode ser observado nas Tabelas 2 e 3. Esta forte redução influenciou outros parâmetros: não somente havia uma redução considerável da concentrações de SST, DQO e DBO mas também houve uma redução da concentração de OD e o ph teve o seu valor reduzido (Tabela 3). Vale observar que durante a fase 3 foram observadas densas concentrações de Dáfnias, pequeno crustáceo predadores de algas. A concentração de Dáfnias variava severamente sem que houvesse uma razão clara para tanto, uma vez que não se aplicava variações grandes nas condições operacionais. REMOÇÃO DOS PATÓGENOS Tendo como finalidade produzir um efluente final que atendesse aos requisitos sanitários para a irrigação irrestrita, os dois parâmetros investigados foram ovos de helmintos e coliformes totais. Na 1 a. Fase do experimento não foram encontrados ovos de helmintos na 3 a. raia que correspondia a um tempo de permanência de três dias. Estudos relatados por SILVA et al (1996), sobre o desempenho de uma série convencional de lagoas de estabilização mostraram que após 12,3 dias (sendo 6,8 dias numa lagoa anaeróbia e 5,5 numa facultativa) a remoção foi total em relação a ovos de Ancilostoma spp. e Ascaris lumbricoides e larvas deste último, não sendo encontradas larvas de Ancilostoma spp. apenas após 17,8 dias. FEACHEM et al (1983), apud LAKSHMINARAYANA e ABDULAPPA (1969), relatam que num sistema de três lagoas, todas com apenas 6 dias de tempo de permanência, todos os ovos de Ancilostoma spp. sedimentaram na 2 a. lagoa (4 dias), mas que algumas larvas estavam ainda presentes no efluente final. Estas observações levam a um questionamento quanto a validade de se estabelecer como não infectiva uma água onde se tem menos que 1 ovo de helminto por litro. Ovos de Ancylostomatidae podem eclodir, sob condições favoráveis, 1 dia após ter sido expelido com as fezes, transformando-se em larvas infectivas (filarióides) após 3 a 4 dia. Com relação aos coliformes totais, o tempo de permanência de 5 dias não foi suficiente para a sua remoção completa, ficando a eficiência de remoção muito menor que a prevista no início do trabalho. O limite de 1000 CF por 100 ml somente foi atingido quando se aplicou um tempo de permanência de 9 a 12 dias (Tabelas 3 e 4), o que é mais que o dobro do valor calculado preliminarmente e a partir do decaimento exponencial. As causas desse desvio estavam relacionadas ao regime de escoamento da lagoa, já que o valor determinado experimentalmente da constante de decaimento k b = 2,3 dia -1, tinha sido bem próximo do valor adotado de 2,0 dia -1 (valor normalmente encontrado para T = 25 ± 1 o C). Os testes com traçadores evidenciaram valores altos do número de dispersão e da fração de volume morto: o número de dispersão, determinado nas três fases do experimento, correspondeu a um valor médio de 0,16 ao invés de 0,02 como calculado com auxílio da Equação (7). Mesmo tendo uma relação comprimento/largura de 50/1, o número de dispersão foi bastante elevado. Von Sperling (1996), analisando dados de um grande número de lagoas no Brasil, concluiu que somente poucas dessas tinham um número de dispersão menor que 0,1 (o que equivale a uma mistura moderada) mesmo tendo sido projetadas especificamente para um escoamento tubular. Conclui-se que há fatores incontroláveis que induzem tanta mistura e turbulência que, na prática, não é factível operar uma lagoa de fluxo contínuo com regime de escoamento semelhante ao fluxo tubular. Entre estes fatores estão a ação do vento, a convecção térmica, a subida de bolhas de biogás da fundo e de oxigênio quando supersaturada, bem como a turbulência provocada pelos macroorganismos que se desenvolvem na lagoa, todos contribuindo à mistura. Assim sendo, um número de dispersão de 0,1, ou mais, é praticamente inevitável e isto significa que o tempo 6 ABES Trabalhos Técnicos

de permanência necessário para se ter uma eficiência de remoção das CF na faixa de 99,99 % é, no mínimo, 2 vezes o tempo que seria necessário se o escoamento fosse tubular e, portanto, o decaimento fosse exponencial. Tabela 2: Desempenho da lagoa de polimento para uma vazão constante de 270 L/h (t p = 5 dias), tratando esgoto efluente de um reator UASB, operado com t p de 3 horas. Período: fevereiro a junho de 2000. Temperatura da lagoa: 25 1 o C. Parâmetro Unidade Esgoto Bruto Esgoto Raia da lagoa Digerido 1 ª 2 ª 3 ª 4 ª 5 ª OD mín mg/l - - <1 <1 <1 <1 <1 OD máx. mg/l - - 1,5 2,5 >20 >20 >20 SST mg/l 422 190 120 102 68 52 68 DBO mg/l 396 169 87 71 55 54 59 DBO f mg/l - 105 64 36 40 32 35 DQO mg/l 712 254 187 223 256 212 188 DQO f mg/l - 145 112 87 78 88 102 ph - 7,4 6,9 7,1 7,3 7,7 8,1 8,3 Alcalinidade mgcaco 3 /L 384 432 436 413 397 391 397 Clorofila a µg/l - - 123 464 916 1466 1702 Ovos de No./L 214 82 8 5 0 - - Helmintos Coliformes Fecais UFC/100 ml 7,4E7 2,3E7 4,7E6 2,9E6 1,1E6 3,3E5 7,5E4 Tabela 3: Desempenho da lagoa de polimento para uma vazão constante de 180 L/h (t p = 7,5 dias), tratando esgoto efluente de um reator UASB, operado com t p de 3 horas. Período: junho a dezembro de 1999. Temperatura da lagoa: 25 1 o C. Parâmetro Unidade Esgoto Bruto Esgoto Raia da lagoa Digerido 1 ª 2 ª 3 ª 4 ª 5 ª OD mín mg/l - - <1 <1 <1 <1 <1 OD máx. mg/l - - <1 2,8 >6,8 >20 >16 SST mg/l 536 177 101 93 68 57 48 DBO mg/l 408 142 73 57 66 62 44 DBO f mg/l - - 58 36 47 34 32 DQO mg/l 683 329 306 346 285 287 221 DQO f mg/l - - 124 156 177 142 93 ph 7,2 6,7 7,0 7,4 7,7 7,9 8,0 Alcalinidade mgcaco 3 /L 285 310 352 348 346 341 333 Clorofila a µg/l - - 1149 2157 2154 2680 1282 Ovos de No./L 209 76 4 0 - - - Helmintos Coliformes Fecais UFC/100 ml 7,3E7 1,4E7 4,5E6 8,7E5 2,2E5 3,4E4 6,9E3 ABES Trabalhos Técnicos 7

Tabela 4: Desempenho da lagoa de polimento para uma vazão constante de 90 L/h (t p = 15 dias), tratando esgoto efluente de um reator UASB, operado com t p de 6 horas. Período: janeiro a maio de 2000. Temperatura da lagoa: 25 1 o C. Parâmetro Unidade Esgoto Bruto Esgoto Digerido Raia da lagoa 1 ª 2 ª 3 ª 4 ª 5 ª OD mín mg/l - - 2,6 3,1 1,6 1,5 1,4 OD máx mg/l - - 8,1 9,5 3,4 4,1 4,6 SST mg/l 438 99 78 75 44 28 18 DBO mg/l 312 150 70 64 27 32 24 DBO f mg/l 177 63 48 36 15 22 18 DQO mg/l 522 192 227 187 127 137 108 DQO f mg/l 194 144 155 119 69 66 53 ph 7,4 6,9 8,1 8,6 8,3 8,3 8,5 Alcalinidade mgcaco 3 /L 371 395 357 327 319 294 304 Clorofica a µg/l - - 984 939 291 238 249 Ovos de No./L 52 <1 - - - - Helmintos Coliformes Fecais UFC/100 ml 3,1E7 2,4E6 4,3E5 8,0E4 7,7E3 5,0E2 5,8E2 Tabela 5 - Valores da constante de decaimento (k d ), do número de dispersão (D) e da fração de volume morto (f d ) na lagoa de polimento, para valores diferentes de t p (razão volume/vazão) e valores experimentais e teóricos da eficiência de remoção de CF. Parâmetro 5 dias (*) 7,5 dias (*) 12 dias (*) Número de dispersão (-) 0,14 0,18 0,16 Fração de volume morto (-) 0,12 0,18 0,15 Tempo real de permanência (d) 4,4 6,5 10,2 Constante experimental de decaimento (dia -1 ) 2,2 2,3 2,0 Fração remanescente de CF experimental 3,3.10-3 4,9.10-4 2,1.10-4 Fração remanescente de CF teórica (Wehner-Wilhelm) 3,4.10-3 8,1.10-4 1,2.10-4 Fração remanescente de CF teórica (fluxo pistão) 6,2.10-5 3,2.10-7 1,4.10-9 Fração remanescente de CF teórica(mistura completa) 9,3.10-2 6,3.10-2 4,6.10-2 (*) t P nas quatro raias. OBSERVAÇÕES FINAIS Os experimentos indicam que uma lagoa de polimento pode ser operada a um tempo de permanência muito curto (t p = 3 dias), se o objetivo é somente a redução de concentrações residuais de sólidos em suspensão e material orgânico presentes no efluente do reator UASB. Os valores dos SST e da DBO no efluente final da lagoa ainda poderão ser relativamente elevados devido, principalmente, à presença abundante de algas. Nas condições do experimento, o tempo de permanência de 3 dias também foi suficiente para a remoção quantitativa de ovos de helmintos. Contudo devem ser considerados como fatores desfavoráveis, em unidades em escala real, fenômenos mecânicos como mistura induzido pelo vento ou mistura devido a convecção térmica. A presença de larvas de Ancylostomatidae deve também ser investigada no efluente final. O tempo de permanência necessário para a remoção de coliformes fecais se mostrou bem maior que estimado originalmente (t p = 10 d). Este tempo de permanência longo é indesejável por várias razões e, em especial, 8 ABES Trabalhos Técnicos

quando se prevê o aproveitamento do efluente para irrigação: (1) a área necessária para implantar o sistema de tratamento aumenta, de maneira que aumentam os investimentos iniciais; (2) a evaporação aumenta de maneira que não somente diminui a disponibilidade de água mas, também, aumenta a salinidade, diminuindo o valor da água para irrigação; (3) o ph da água pode aumentar, o que é indesejável e (4) pode haver remoção parcial de nutrientes. É factível produzir um efluente com qualidade higiênica adequada à irrigação irrestrita, com um tempo de permanência de somente 5 dias, se a lagoa de polimento for operado sob regime de bateladas seqüenciais: em reatores de bateladas, assegura-se o decaimento exponencial (máximo) de CF. A desvantagem deste tipo de lagoa é que o regime não é mais de fluxo contínuo, de modo que há necessidade de se implementar dispositivos de carga e descarga nas lagoas de polimento. A Tabela 5 também contém valores experimentais da fração remanescente de coliformes fecais e calculados considerando-se o fluxo pistão (Equação 2), mistura completa (Equação 3) e mistura parcial (Equação 4). Observa-se nesta tabela que os valores obtidos com a equação de Wehner e Wilhelm (1956), para lagoas de mistura parcial, são bem próximos àqueles obtidos experimentalmente. Independente do grau de mistura na lagoa de polimento, um outro fator que afeta a remoção dos CF é o valor de k b que depende da profundidade. Na Tabela 1 estão apresentados os valores numéricos da constante decaimento, tendo como variável a profundidade da lagoa. Observa-se que, com boa aproximação, que existe uma relação inversamente proporcional entre a profundidade e a constante de decaimento: k b diminui quando a profundidade aumenta. Por outro lado, quando se aumenta a profundidade, mantendo-se a mesma área, o volume aumenta, aumentando, portanto, o tempo de permanência da lagoa. Nas Equações (2, 3 e 4) observase que a remoção de CF é proporcional com o produto k b.t p. Como k b varia inversamente proporcional com a profundidade e o valor de t p diretamente com esta, o produto k b.t p independe da profundidade. O resultado é que, mantendo-se a mesma área, a remoção de CF é independente da profundidade. Por esta razão, pode-se decidir quanto à profundidade por outros critérios, por exemplo custo (escavação e taludes contra área) ou minimização da evaporação. CONCLUSÕES Ao se tratar o efluente de um UASB em uma lagoa de polimento, a remoção de ovos de helmintos por sedimentação é um processo mais rápido do que a remoção de coliformes fecais (CF), de modo que este se torna o parâmetro crítico no projeto de tal lagoa. Pode-se obter uma remoção muito eficiente de patógenos em esgoto digerido mediante o pós tratamento em lagoas de bateladas seqüenciais: o tempo mínimo necessário para se efetuar uma remoção de coliformes fecais (CF) com uma eficiência de 99,99 % é somente 4 a 5 dias sob condições de temperatura na lagoa de 25 o C e profundidade de 0,65 m. Embora projetada para apresentar fluxo tubular não foi possível evitar mistura na lagoa de polimento de modo que, para compensar a redução na eficiência de remoção de CF, necessitou-se, pelo menos, do dobro do tempo de permanência de lagoas em bateladas sequenciais. Com boa aproximação a constante de decaimento é inversamente proporcional a profundidade da lagoa. Desta forma, para uma determinada área de uma lagoa a remoção de CF se torna independente da profundidade. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao apoio financeiro recebido da FINEP, CNPq e CEF, através do Programa de Saneamento Básico PROSAB e PRONEX e a Cia de Água e Esgotos da Paraíba CAGEPA por dispor à UFPb a área onde se realizou o experimento.. ABES Trabalhos Técnicos 9

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