DINÂMICA DE USO E COBERTURA DAS TERRAS NO PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA E SUA ZONA DE AMORTECIMENTO RJ

Documentos relacionados
Dinâmica da paisagem no parque nacional de Jurubatiba e seu entorno (Rio de Janeiro, Brasil)

Metodologia para conversão de Modelo Digital de Elevação em Modelo Digital do Terreno

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO BANNER - MONITORAMENTO AMBIENTAL

Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

Alterações no padrão de cobertura da terra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ nos anos de 1985 e DOMINIQUE PIRES SILVA

II Semana de Geografia UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006

Utilização de imagens de satélite para criação do mapa de uso e cobertura da terra para o estado de Goiás Ano base 2015

ESTIMATIVA DO ALBEDO E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE UTILIZANDO IMAGENS ORBITAIS PARA O MUNICÍPIO DE BARRA BONITA SP

José Hamilton Ribeiro Andrade (1); Érika Gomes Brito da Silva (2)

ANÁLISE TEMPORAL DAS ÁREAS DE EXPANSÃO DE REFLORESTAMENTO NA REGIÃO DO CAMPO DAS VERTENTES-MG

SISTEMA NACIONAL DE CLASSIFICAÇÃO E SUAS DEFINIÇÕES de março 2015 Paramaribo, Suriname

MAPEAMENTO DO USO DA TERRA E DA EXPANSÃO URBANA EM ALFENAS, SUL DE MINAS GERAIS

ANÁLISE AMBIENTAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DOS ARROIOS JUÁ E CARACOL BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAÍ / RS.

USO DE IMAGENS TM LANDSAT 5 PARA ANÁLISE DO ALBEDO E SALDO DE RADIAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CAMARAGIBE: DESTAQUE PARA SÃO LUIZ DO QUITUNDE-AL

MONITORAMENTO DA EXPANSÃO AGROPECUÁRIA NA REGIÃO OESTE DA BAHIA UTILIZANDO SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO. Mateus Batistella 1

Avaliação de métodos de classificação para o mapeamento de remanescentes florestais a partir de imagens HRC/CBERS

O PROJETO MUTIRÃO DE REFLORESTAMENTO E SEUS EFEITOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

COHIDRO PLANO INTEGRADO DE RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO SUL

Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai Porção Brasileira Período de Análise: 2012 a 2014

USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO XIDARINI NO MUNICÍPIO DE TEFÉ-AM.

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

MAPEAMENTO DE AMBIENTES DA PLANÍCIE COSTEIRA DE SOURE (ILHA DE MARAJÓ), A PARTIR DE IMAGENS IKONOS: UMA ABORDAGEM DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETO

Monitoramento de Queimadas e Incêndios na Região do Parque Estadual do Jalapão em 2007, 2008 e 2009

ALTERAÇÕES NA COBERTURA VEGETAL E NO USO DAS TERRAS ENTRE 1972 E 2009 EM ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE GUARARAPES, SP

SANTOS, Cezar Clemente Pires (Discentes do Curso de Biologia do UNIVAG). MORAES, Rodrigo Ferreira de (Docente do Curso de Biologia do UNIVAG).

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.

CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM IMAGEM ALOS PARA O MAPEAMENTO DE ARROZ IRRIGADO NO MUNICÍPIO DE MASSARANDUBA SC

Vegetação Amenizadora da Poluição Industrial no Bairro Cidade Industrial de Curitiba / PR

PALAVRAS-CHAVE: Geoprocessamento, Ecologia da Paisagem, Uso e Cobertura,

Figura 1 - Abrangência espacial do Bioma Cerrado. Fonte: Adaptado de Scariot et al. (2005).

Uso da terra na bacia hidrográfica do alto rio Paraguai no Brasil

Área verde por habitante na cidade de Santa Cruz do Sul, RS

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO

ANÁLISE VISUAL DE IMAGENS ORBITAIS MULTIESPECTRAIS

PAISAGEM HISTORICA DO PRATIGI; TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS EM MAPAS E IMAGENS.

Mapeamento das Formações Florestais no Rio Grande do Sul com Dados e Técnicas de Sensoriamento Remoto Estado da Arte

CLASSIFICAÇÃO PRELIMINAR DE PASTAGENS DEGRADADAS EM MICROBACIAS DA REGIÃO DE GUARARAPES-SP

Sensoriamento Remoto e Qualidade da Água

ZONEAMENTO DE USO E COBERTURA DOS SOLOS DO MUNICÍPIO DE ARARAS, SP. Relatório de Execução

Mapeamento do risco de deslizamento de encostas na região da Serra do Mar no Estado do Rio de Janeiro

Bacharelado em Ciências Matemáticas e da Terra. Anexo B. Habilitações. Habilitação: Analista de Suporte à Decisão... B-2

Reunião Banco do Brasil

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO ORAL - GEOPROCESSAMENTO

Revisão de Geografia. 1ª prova do 4º Bimestre PROFESSOR DANILO. d) Polar e marítima CONTEÚDO AS MASSAS DE AR. a) Conceito. c) Massas de ar no Brasil

Mapeamento do uso do solo para manejo de propriedades rurais

Seminário de Sensoriamento Remoto: Vegetação

ANÁLISE DE DIFERENTES TIPOS DE USO DO SOLO DA REGIÃO SEMIÁRIDA UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA BIOTA DO AÇUDE ITANS EM CAICÓ/RN: ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Mapeamento de áreas ocupadas com cana-de-açúcar no município de Campo Florido por meio de imagens Landsat / TM

PROCESSAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE PARA CARACTERIZAÇÃO DE USOS DO SOLO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PESQUISA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO (X) PARCIAL ( ) FINAL

Problemas ambientais no setor paulista da Serra do Mar:

Monitoramento de Queimadas e Incêndios na Região do Parque Estadual do Jalapão em 2011, 2012 e 2013

Unidade: S. Bernardo - Ensino Fundamental. AT. Geografia 2º Trimestre Gabarito. Prof. Sueli Onofre

Uso de geotecnologias no estudo da sustentabilidade agrícola do núcleo rural Taquara, DF.

ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS DE NDVI DO MUNICÍPIO DE POÇOS DE CALDAS-MG PARA OS ANOS DE 1986 E 2010

SÍNTESE. AUTORES: MSc. Clibson Alves dos Santos, Dr. Frederico Garcia Sobreira, Shirlei de Paula Silva.

TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO NA ANÁLISE TEMPORAL PARA A GESTÃO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE TIMON-MA

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA POR SATÉLITES AVALIAÇÃO DETER JUNHO DE 2009 INPE COORDENAÇÃO GERAL DE OBSERVAÇÃO DA TERRA

SENSORIAMENTO REMOTO APLICADO A ANÁLISE AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO: A CLASSIFICAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NO MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA-BA

Agricultura. Integra um grande número de formatos de imagens aéreas, satélite, radar ou térmicas;

FORMAÇÕES VEGETACIONAIS AULA 7

DIFERENTES TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO DIGITAL EM IMAGENS LANDSAT 8, PARA O MAPEAMENTO DO USO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS-SP

Nº: VALOR DA AT: 2.0

IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE QUEIMADAS NA ILHA DO BANANAL NO PERÍODO DE 2008 A 2012 UTILIZANDO IMAGENS DO SATÉLITE TM/LANDSAT-5.


Análise temporal do uso do solo nos municípios do entorno do Parque Nacional das Emas com a utilização de imagens Landsat e CBERS-2

MAPEAMENTO COSTEIRO INTEGRADO

ANEXO-UNDER 2 ESTADO DE MATO GROSSO

ANALISE DE DADOS AMBIENTAIS POR MEIO DO USO DE IMAGENS DE SATÉLITE

Caracterização da adequação do uso agrícola das terras no Distrito Federal 1.

AVALIAÇÃO DO USO DO MODELO LINEAR DE MISTURA ESPECTRAL NA DISCRIMINAÇÃO DE FITOFISIONOMIAS DO CERRADO

Palavras-chave: Análise espectral, Cerrado, Uso do solo, Índice de Vegetação EVI. Introdução

Empresa Júnior de Consultoria Florestal ECOFLOR Brasília/DF Tel: (61)

Análise da estrutura e dinâmica da paisagem do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Obtenção de Parâmetros para Simulação Hidrológica na Bacia do Rio Japaratuba por meio de Geotecnologias

ANÁLISE DAS ÁREAS IRRIGADAS POR PIVÔS CENTRAL EM ÁREA AMOSTRAL NO MUNICÍPIO DE UNAÍ - MG

ANÁLISE MULTI-TEMPORAL DO USO DA TERRA E DA COBERTURA VEGETAL NO SUL DE MINAS GERAIS UTILIZANDO IMAGENS LANDSAT-5 TM E CBERS-2B

Mapeamento de conflitos de solo em áreas de preservação permanente na Bacia Experimental do Rio Pardo - São Paulo Brasil

Anais do III Seminário de Atualização Florestal e XI Semana de Estudos Florestais

O resultado é uma série de "fatias" da superfície, que juntas produzem a imagem final. (Exemplo: o radiômetro dos satélites NOAA gira a uma

MAPEAMENTO COSTEIRO COM APOIO DE IMAGENS DE SATÉLITES THEOS E WORLDVIEW

Biomas / Ecossistemas brasileiros

ESTUDO DE VARIABILIDADE DAS PRECIPITAÇÕES EM RELAÇÃO COM O EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (ENOS) EM ERECHIM/RS, BRASIL.

AREA DE ESTUDllO. Fig. i- hreo de estudio. I c

SUMÁRIO Unidade 1: Cartografia Unidade 2: Geografia física e meio ambiente

ESTRUTURA GEOLÓGICA,RELEVO E HIDROGRAFIA

Laboratório de Conservação, Gestão e Governança Costeira

25 a 28 de novembro de 2014 Campus de Palmas

DETER JANEIRO de 2015 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

Biomas do Brasil. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Professor Alexson Costa Geografia

VEGETAÇÃO BRASILEIRA. DIVIDE-SE EM: 1) Formações florestais ou arbóreas 2) Formações arbustivas e herbáceas 3) Formações complexas e litorâneas

Osvaldo Antonio R. dos Santos Gerente de Recursos Florestais - GRF. Instituto de Meio Ambiente de MS - IMASUL

Para compreendermos a influência que os sistemas atmosféricos exercem nas

VARIAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL NATURAL EM UMA MICROBACIA DO NOROESTE DO PARANÁ

ANÁLISE DAS INTRUSÕES ANTRÓPICAS NAS FISIONOMIAS VEGETAIS EM ÁREA DE FLORESTA ATLÂNTICA

Transcrição:

EIXO TEMÁTICO: Ciências Ambientais e da Terra DINÂMICA DE USO E COBERTURA DAS TERRAS NO PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA E SUA ZONA DE AMORTECIMENTO RJ Adriana Fantinati Conceição 1 Saulo de Oliveira Folharini 2 Ricardo Guimarães Andrade 3 André Luiz dos Santos Furtado 4 RESUMO: Foram aplicadas técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento para analisar a dinâmica de uso e cobertura das terras no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e sua zona de amortecimento. Imagens orbitais do satélite Landsat 5-TM foram utilizadas para quantificar a diferença, permanência, retração e expansão de cada classe de uso e cobertura das terras no período de 1996 e 2011. Foram identificadas dez classes de uso e cobertura das terras, sendo a expansão da classe vegetação em área úmida a maior alteração na área do parque, não havendo outras alterações significativas. Na zona de amortecimento, as principais alterações identificadas estavam relacionadas a atividades agropecuárias, refletindo, portanto, a dinâmica agrícola da região e sua aproximação com a área do parque. Este estudo mostra as alterações no uso e cobertura das terras no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e sua zona de amortecimento e demonstra o potencial da utilização de sensores remotos no monitoramento de áreas de conservação. Palavras-chave: áreas protegidas, geotecnologias, mudanças na paisagem 1. INTRODUÇÃO A análise da dinâmica da paisagem tem permitido compreender os diversos processos que influenciam na sua alteração, sendo o mapeamento de uso e cobertura das terras uma importante ferramenta para identificar influências naturais e antrópicas atuantes na paisagem. A aplicação de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento permitem o mapeamento e o monitoramento rápido e de baixo custo, além de fornecer informações georreferênciadas tanto espacial quanto temporal de diferentes temáticas (Lang, 2009). A paisagem na região norte do Estado do Rio de Janeiro teve um aumento da influência das atividades antrópicas a partir de meados da década de 70, com o início da exploração de petróleo na região de Macaé. Essa destacada atividade econômica acarretou um rápido crescimento 1 Mestranda em Geografia, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. adriana.fantinati.c@gmail.com 2 Doutorando em Geografia, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. saulofolharini@yahoo.com.br 3 Engenheiro Agrícola, Doutor em Meteorologia Agrícola, Pesquisador na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. ricardo.andrade@embrapa.br 4 Biólogo, Doutor em Ecologia, Pesquisador na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. andre.furtado@embrapa.br

populacional de várias cidades do norte fluminense, com a subsequente expansão da urbanização e a supressão e fragmentação da vegetação nativa para o desenvolvimento de atividades agrícolas (Cruz et al., 2013; Dias, 2013). Diante do exposto, este estudo objetivou aplicar técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento visando analisar as alterações no uso e cobertura das terras no período de 1996 e 2011 do Parque Nacional Restinga de Jurubatiba e sua zona de amortecimento, localizado no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. 2. METODOLOGIA O Parque Nacional (PARNA) da Restinga de Jurubatiba e sua zona de amortecimento terrestre estão localizados no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, abrangendo parte dos municípios de Macaé, Carapebus e Quissamã (Figura 1). O PARNA da Restinga de Jurubatiba foi criado pelo Decreto Federal s/nº, de 29/04/1998 e possui uma área de aproximadamente 149,2 km 2 e uma zona de amortecimento continental de 386,6 km 2. O clima da região, segundo a classificação climática de Köppen (1948), pode ser classificado como Aw tropical chuvoso. Na restinga são encontradas diversas comunidades vegetais com diferentes fisionomias, muitas espécies apresentam crescimento clonal e organizam-se na forma de moitas (Scarano et al., 2004). Figura 1. Localização do Parque Nacional Restinga de Jurubatiba e de sua zona de amortecimento. Fonte: Elaborado pelos autores. No presente estudo utilizaram-se imagens Landsat 5 TM de órbita/ponto 216/75, referentes ao período de inverno dos anos de 1996 e 2011 e que foram disponibilizadas gratuitamente pelo Serviço de Levantamento Geológico Americano (USGS), sendo utilizadas as bandas de reflectância de 1 a 7 com resolução espacial de 30 metros. Realizou-se reprojeção das imagens para o Hemisfério Sul e posteriormente foi efetuada a correção radiométrica e atmosférica das

imagens por meio do módulo ATMOSC/Cos(t) do software IDRISI TAIGA, que incorpora todos os elementos da correção pelo pixel escuro (Dark Object Subtraction - DOS) (Chavez Junior, 1996). A correção atmosférica atua na eliminação das interferências atmosféricas que modificam a trajetória da radiação eletromagnética e alteram a reflectância captada pelos sensores remotos. Em seguida, aplicou-se o algoritmo de Máxima Verossimilhança (MAXVER) que considera a ponderação das distâncias das médias e utiliza parâmetros estatísticos (CROSTA, 1992). Para definição das classes de uso das terras, utilizou-se como referência o Plano de Manejo do PARNA da Restinga de Jurubatiba (2007). Em sequência, foi realizado trabalho de campo, durante o qual um conjunto de pontos amostrais foi visitado e utilizado para confirmação das classes. A classificação efetuada nas cenas dos anos de 1996 e 2011 foi convertida do formato raster para vetor possibilitando a quantificação das áreas (km²) de cada classe. Em seguida, com as áreas de cada classe foi possível quantificar as alterações no uso e cobertura das terras. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 2, pode-se observar que foram identificadas dez classes de uso e cobertura das terras (água, areia, formações arbóreo-arbustivas, formações arbustivo-herbáceas, formações arbustivas herbáceas densas, solo exposto/áreas antropizadas, vegetação em área úmida, área agrícola, floresta de terras baixas e pastagem. As classes área agrícola, floresta de terras baixas e pastagem foram observadas somente na zona de amortecimento. Figura 2. Uso e cobertura das terras do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e de sua zona de amortecimento nos anos de 1996 (A) e 2011 (B).

A classe água foi principalmente representada por 14 lagoas costeiras. As classes floresta de terras baixas e formações arbóreo-arbustivas foram representadas por mata de cordão arenoso e mata de restinga, presentes nas áreas com maior umidade, localizadas próximas às lagoas costeiras da Planície Pleistocênica e dos Cordões Litorâneos. Neste mesmo compartimento do relevo, verificou-se a classe formações arbustivo-herbáceas, com fisionomia de moitas abertas ou fechadas, que variam em densidade e tamanho. As classes solo exposto e área antropizada foram agrupadas em uma única classe por limitações metodológicas na discriminação das mesmas. As áreas antropizadas foram representadas por construções e adensamentos populacionais localizados na zona de amortecimento. A classe formações arbóreo-arbustivas foi predominante em 1996 (70,3 km 2, 47,1%) e em 2011 (59,8 km 2, 40,1%) (Tabela 1). As classes água, areia e solo exposto não apresentaram significativa variação para o período estudado. Por outro lado, observou-se uma expansão significativa da classe vegetação em área úmida (64,5%). Montezuma et al (2007) relataram que as formações inundáveis das restinga ao longo do litoral brasileiro apresentam várias espécies dominantes e destacam para a possibilidade de transformação das formações arbustiva inundável do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba em uma mata fechada de restinga devido as características similares às formações do tipo florestal. Tabela 1. Uso e cobertura das terras do PARNA da Restinga de Jurubatiba referente aos anos de 1996 e 2011, com os valores de permanência, retração e expansão. (1) água, (2) areia, (3) formações arbóreoarbustivas, (4) formações arbustivo-herbáceas, (5) formações arbustivo herbáceas densas, (6) solo exposto/área antropizada, (7) vegetação em área úmida. 1996 2011 Diferença Permanência Retração Expansão Classes km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % 1 9,2 6,1 9,9 6,6 0,7 8 7,7 84,4 1,4 15,6 2,2 21,8 2 18,1 12,1 20,4 13,7 2,3 13 14,9 82,3 3,2 17,7 5,5 27,0 3 70,3 47,1 59,8 40,1-10,5-15 46,6 66,3 23,7 33,7 13,2 22,1 4 25,0 16,8 17,4 11,7-7,6-30 10,6 42,6 14,4 57,4 6,8 38,9 5 14,2 9,5 22,5 15,1 8,4 59 12,4 87,4 1,8 12,6 10,1 45,0 6 6,6 4,4 6,3 4,2-0,2-4 2,0 31,3 4,5 68,7 4,3 67,5 7 6,0 4,0 12,9 8,6 7,0 117 4,6 76,9 1,4 23,1 8,3 64,5 Total 149,2 100 149,2 100 0,0-98,9 66,2 50,4 33,8 50,4 33,8 Em 1996, as duas principais classes na área da zona de amortecimento do PARNA da Restinga de Jurubatiba (Tabela 2) estavam relacionadas a atividades agropecuárias. As classes pastagem e área agrícola ocupavam, respectivamente, 27,6% e 22,3% dos 386,6 km 2 da área de amortecimento. No ano de 2011 verificou-se redução significativa na representatividade dessas classes, totalizando juntas cerca de 20% da área de amortecimento.

Tabela 2. Uso e cobertura das terras da zona de amortecimento do PARNA da Restinga de Jurubatiba referente aos anos de 1996 e 2011, com os valores de permanência, retração e expansão. (1) Água, (2) areia, (3) formações arbóreo-arbustivas, (4) formações arbustivo-herbáceas, (5) formações arbustivo herbáceas densas, (6) solo exposto/área antropizada, (7) vegetação em área úmida, (8) área agrícola, (9) florestas de terras baixas e (10) pastagem. 1996 2011 Diferença Permanência Retração Expansão Classes km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % 1 4,5 1,2 5,5 1,4 1,0 21 3,2 70,4 1,3 29,6 2,3 42,0 2 9,8 2,5 8,0 2,1-1,8-18 5,0 50,7 4,8 49,3 3,1 38,0 3 52,3 13,5 67,8 17,5 15,6 30 25,5 48,8 26,7 51,2 42,3 62,4 4 15,4 4,0 13,5 3,5-1,8-12 3,7 23,8 11,7 76,2 9,9 72,9 5 8,9 2,3 12,4 3,2 3,5 39 3,2 36,5 5,7 63,5 9,1 73,7 6 60,5 15,6 110,5 28,6 50,1 83 33,6 55,6 26,9 44,4 76,9 69,6 7 29,3 7,6 80,7 20,9 51,3 175 19,9 67,9 9,4 32,1 60,8 75,3 8 86,1 22,3 21,9 5,7-64,1-75 11,3 13,1 74,8 86,9 10,7 48,7 9 13,0 3,4 11,5 3,0-1,5-12 7,9 60,8 5,1 39,2 3,6 31,0 10 106,9 27,6 54,7 14,2-52,1-49 38,6 36,1 68,2 63,9 16,1 29,5 Total 386,6 100 386,6 100 0,0-151,9 39,3 234,7 60,7 234,7 60,7 As maiores retrações foram verificadas para as classes área agrícola (86,9%) e formações arbustivo-herbáceas (76,2%). Por sua vez, as classes vegetação em área úmida (75,3%), formações arbustivo-herbáceas densas (73,7%) e solo exposto (69,6%) apresentaram as maiores expansões (Tabela 2). As áreas de expansão da classe solo exposto estão situadas em locais que antes eram destinados ao cultivo agrícola. Este fato pode indicar que, no momento da obtenção da imagem, tal vez estas áreas estavam preparadas para novos plantios. O aumento da classe solo exposto refletiu a dinâmica agrícola da região, onde a cultura agrícola predominante é canade-açúcar. Contudo, outras culturas são observadas, como por exemplo a produção do coqueiro (Caris et al., 2013). As classes água, areia, florestas de terras baixas e formações arbustivoherbáceas não apresentaram significativa variação. Contudo, observou-se um aumento de aproximadamente três vezes na área ocupada pela classe vegetação em área úmida, ou seja, passou de 7,6% (1996) para 20,9% (2011) da área total da zona de amortecimento. 4. CONCLUSÃO Os resultados indicam que ocorreram alterações no padrão métrico e no arranjo espacial das classes principalmente na zona de amortecimento. Essas alterações estão conectadas de forma direta à atividade antrópica na região, principalmente, a agricultura. Neste caso, o monitoramento espaço-temporal desta região, por meio de imagens orbitais, torna-se fundamental para auxiliar na tomada de decisão por parte dos gestores responsáveis e no estabelecimento de estratégias que suportem a conservação dos recursos naturais na área do PARNA da Restinga de Jurubatiba.

5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) pelo auxílio à pesquisa (processo 403841/2012-7), à Embrapa e ao Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas pelas estruturas fornecidas para o desenvolvimento da pesquisa. REFERÊNCIAS CARIS, E. A. P.; KURTZ, B. C.; CRUZ, C.B.M.; SCARANO, F.B. Vegetation cover and land use of a protected coastal area and its surroundings, southeast Brazil. Rodriguésia, v.64, n4, pg. 747-755, 2013. CHAVEZ JUNIOR, P. S. Image-based atmospheric corrections: revisited and improved. Photogrammetric Engineering and Remote Sensing, v. 62, p. 1025-1036, 1996. CROSTA, A. P. Processamento digital de imagens de sensoriamento remoto. Campinas: 1992. 170 p. CRUZ, A.R.; SILVA-GONÇALVES, K.C.; NUNES-FREITAS, A.F. Estrutura e florística de comunidade arbórea em duas áreas de Floresta Ombrófila Densa em Macaé, RJ. Rodriguésia, v.64, n.4, p.791-805, 2013. DIAS, R. Instituições e desenvolvimento territorial: um estudo a partir do caso do arranjo produtivo de petróleo e gás natural localizado em Macaé-Brasil. EURE (Santiago), v.39, n.116, p.141-171, 2013. ICMBIO. Plano de Manejo do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba - Contextualização da Unidade de Conservação. Rio de Janeiro: Ministério do Meio Ambiente, 2007. KÖPPEN, W. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. México: Fondo de Cultura Económica, 1948.478p. LANG, S.; BLASCHKE, T. Análise da Paisagem com SIG. São Paulo: Oficina de textos, 2009. MONTEZUMA, R.C.M.; ARAUJO, D.S.D. Estrutura da vegetação de uma restinga arbustiva inundável no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Rio de Janeiro. PESQUISAS BOTÂNICA, n.58, p.157 176, 2007. SCARANO, F.R.; CIRNE, P.; NASCIMENTO, M.T.; SAMPAIO, M.C.; VILLELA, D.M.; WENDT, T.; ZALUAR, H.L.T. Ecologia vegetal: Integrando ecossistema, comunidades, populações e organismos. In: ROCHA, C. F. D. et. al. Pesquisas de longa duração na restinga de Jurubatiba: Ecologia, História e Conservação. Rio de Janeiro. Editora RiMa, São Carlos, p.59-76, 2004.