Quando ouvimos o termo igreja que imagem vem à nossa mente? Depende da nossa experiência. Há muitos conceitos de igreja, e na realidade existe uma grande confusão sobre o assunto. Para alguns a Igreja é um prédio, para outros uma denominação, para outros o conjunto de igrejas locais. Mas o que será de fato a Igreja de Jesus Cristo que Ele disse que edificaria (Mateus 16:18)?
A primeira vez que a palavra Igreja aparece no Novo Testamento, sai dos lábios de Jesus, em um retiro com seus discípulos, em Cesaréia de Filipe. Depois de perguntar sobre a opinião das pessoas a seu respeito, faz uma pergunta direta: E vós, quem dizeis que Eu sou? Pedro, interpretando o pensamento dos discípulos, declara: Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo. Jesus, então, faz uma tremenda declaração, que revela qual a origem, o propósito e a natureza da Igreja. A versão ampliada da Bíblia assim registra:
Jesus responde: Abençoado (feliz, afortunado, e [alguém] a ser invejado) és tu, Simão Bar-Jonas. Porque não foi a carne e o sangue [homens] que te revelaram isto, mas meu Pai Que está no Céu. E Eu te digo: Tu és Pedro [grego, Petros--um grande pedaço de rocha], e sobre esta rocha [grego, petra--uma rocha imensa, como a de Gibraltar] Eu edificarei a minha Igreja, e as portas do Hades (os poderes da região infernal) não prevalecerão contra ela [ou serão forte em seu detrimento ou resistirão contra ela (Mateus 16:17-18).
O termo grego para referir-se à Igreja no Novo Testamento é ekklesia. Nas línguas latinas a palavra não foi traduzida, mas transliterada (igreja). Portanto, seu significado depende muito da cultura na qual o termo é usado e, muitas vezes, tem conotação cultural. Os intérpretes da Bíblia, geralmente definem a Igreja a partir desta expressão grega.
A palavra grega ekklesia significa literalmente uma assembléia escolhida ou convocada. Originalmente, a palavra foi usada em referência a uma assembléia de cidadãos reunidos para discutir assuntos políticos da comunidade em uma cidade grega. Mas será que Jesus quanto declarou: Edificarei a minha Igreja (Mateus 16:18), usou o termo grego ekklesia? Sem sombra de dúvida, não. Ele não falava grego, nem Mateus escreveu seus apontamentos em grego. Jesus falou em hebraico.
De onde, então, vem o uso do termo ekklesia? Da tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego. Aquela tradução chamada Septuaginta, ou LXX (setenta), traduziu os termos hebraicos qahal ( Carral ) e edah ( Edjá ) como ekklesia. Nem sempre se encontra em outra língua um termo equivalente a um pensamento que queremos traduzir. Portanto, ekklesia foi a palavra que os tradutores do Antigo Testamento acharam mais próxima do conceito hebraico de qahal e edah usados em vários situações para Israel, enquanto povo da aliança. Ainda assim o termo, aos ouvidos de um judeu, tinha um significado diferente do que aos ouvidos de um grego.
Ainda que a palavra ekklesia haja entrado na história cristã associada com o grego e o hebraico, seu significado era diferente. Lambert (1913) enfatiza que ao grego sugeria uma sociedade democrática autogovernada; ao judeu uma sociedade teocrática, cujos membros eram os súditos do Rei Celestial.
Metzger (1962) declara: No Novo Testamento grego a palavra usada para igreja é usualmente ekklesia, a qual ocorre cento e quatorze vezes em dezessete dos vinte e sete livros. Ao analisar o conceito de igreja no Novo Testamento não se pode examinar o uso e significado da palavra em si mesma, mas deve também levar em consideração os muitos outros termos e imagens empregadas pelos escritores neotestamentários para descrever a Igreja. Além disso, uma vez que não se pode divorciar o Novo Testamento do Antigo, é necessário traçar as raízes da idéia de ekklesia de volta ao seu uso no Antigo Testamento hebraico.
Concluímos que o conceito de Jesus no uso da palavra que chegou à nossa língua como igreja, refletia uma raiz hebraica e não grega. Israel era a qahal de Yahweh que fez com Ele uma aliança no Monte Sinai, sob a liderança de Moisés, quando lhes deu os termos escritos da aliança, os Dez Mandamentos. Jesus era um com Yahweh, que viera para redimir Israel, Seu povo. No entanto, Israel não O recebera como nação (João 1:11,12). Como a parábola dos lavradores (Mateus 21:33-43) revela, um novo povo surgiria que entregaria a Deus o fruto da vinha.
Este povo seria a qahal ou edah de Jesus, composta, não mais por meros filhos físicos de Abraão, mas por aqueles, de todas as nações, através das eras, judeus e gentios, que se tornariam filhos de Deus pela fé nele.
No entanto, quanto Jesus diz: minha Igreja, implica em algo único, novo, e diferente do que era conhecido. Portanto, a Igreja é um profundo mistério (Efésios 5:32), que pede mais do que uma análise etimológica do termo ou mesmo do contexto cultural onde nasceu. Qualquer que tenha sido o termo usado por Jesus para referir-se ao organismo vivo que Ele estaria edificando, por trás do curto diálogo de Cesaréia de Filipe, podemos concluir que Elequis dizer a cada discípulo em particular:
Eu só posso ser para ti o que tu és capaz de ver em Mim. Logo, o nível do teu relacionamento Comigo é proporcional ao nível da revelação que tens acerca de Quem Eu sou. Portanto, um grande desafio ecoa através de uma curta proclamação: minha Igreja, nascida de Mim mesmo, deve refletir minha glória, minha vida, meu caráter e minha Missão.
Neste sentido destacamos: A identidade da Igreja está em Jesus. Ele é a inamovível, imutável, e eterna Rocha-fundamento de Sua Igreja. Ele é a pedra de esquina, a origem, a fonte, o sustento, a vida, e o destino de Sua Igreja. A Igreja é nascida em Cristo. Somente aquilo que é nascido de Cristo é parte de Sua Igreja. Portanto, sem transformação da natureza humana, não há Igreja, mas meramente uma organização feita por homens. A Igreja nasceu no Calvário, quando Jesus foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades (Isaías 53:5). Ali Suas feridas se tornaram a porta para dar à luz Sua noiva, assim como as feridas no lado de Adão se tornaram a fonte de Sua esposa.
A Igreja é a agência do Reino de Deus na Terra. A única agência autorizada, coluna e baluarte da verdade (1 Timóteo 3:15). Como tal, ela deve conservar um espírito militante com o propósito de cumprir a sua missão de levar as nações a Deus e ao Seu Cristo.
Paulo, escrevendo aos cristãos em Corinto, declara: "À igreja (ekklesia) de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso (1 Coríntios 1:2). O apóstolo toca aqui em aspectos relevantes da Igreja: sua origem e propriedade (Deus), bem como sua natureza (santificada) e vocação (chamada a ser santa).
Paulo, escrevendo aos cristãos em Corinto, declara: "À igreja (ekklesia) de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso (1 Coríntios 1:2). O apóstolo toca aqui em aspectos relevantes da Igreja: sua origem e propriedade (Deus), bem como sua natureza (santificada) e vocação (chamada a ser santa). Em 1 Timóteo 3:15 Paulo descreve a Igreja mencionando três aspectos de sua natureza: a Igreja é a casa (família) de Deus, pertence ao Deus vivo, e é coluna e esteio da verdade.
A natureza da Igreja é muito mais do que o termo grego ekklesia e as palavras hebraicas qahal e edah são capazes de descrever. A revelação de Deus foi progressiva. As figuras do Antigo Testamento eram apenas sombras do que viria. Devemos depender do Espírito Santo, o Mestre e Intérprete da Igreja, para captar a verdadeira revelação de sua natureza, porque um conceito inadequado forma uma caricatura da verdadeira Igreja. Jesus prometeu: Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras (João 16:13). Nós ainda vemos o mistério da Igreja somente como um vislumbre, como por espelho (1 Coríntios 13:12).
De qualquer modo, o Novo Testamento usa várias imagens para a Igreja, algumas das quais são agora alvo de consideração. Parece que a natureza da Igreja é tão elevada, profunda, e extensa que mesmo as muitas metáforas dão meramente um vislumbre de sua verdadeira natureza. Mas precisamos de todas elas para ter uma visão mais significativa. Como Deus tem revelado Sua natureza através de vários nomes redentivos, cada um indicando um de seus aspectos, os escritores do Novo Testamento fizeram o mesmo em relação à Igreja, por inspiração do Espírito Santo.
As quatro principais comparações dão certa compreensão de sua natureza e papéis. Em poucas palavras: A expressão "Povo de Deus," aponta para sua propriedade. A Igreja é propriedade de Deus (1 Pedro 2:9-10). O "Corpo de Cristo" fala de sua própria natureza, assim como a vida do corpo procede de sua cabeça. Vida e direção vêm da cabeça (Romanos 12:5; 1 Coríntios 12:12-27). Em Efésios Paulo apresenta Cristo como o cabeça da Igreja e Seu corpo, a plenitude daquele que enche tudo em todos (Efésios 1:22-23). Aqui ele mostra a cabeça e corpo como organicamente conectados.
O "Templo" ou "casa" do Espírito ressalta seu estado de santidade (1 Coríntios 3:16-17). O conceito de templo no Antigo Testamento aponta para um lugar onde a presença de Deus é manifesta e a partir de onde Deus fala ao Seu povo. Jesus é a pedra angular eleita e preciosa (1 Pedro 2:6-7). "Os apóstolos e profetas" (Efésios 2:20) são o fundamento. Os crentes, como pedras vivas, (1 Pedro 2:5) são o material de construção para edificar um lugar de habitação para o Espírito de Deus na terra (Efésios 2:20-22).
A Noiva indica a vocação e destino da Igreja. Como Eva completou Adão, assim a Igreja é o complemento daquele que cumpre tudo em todas as coisas (Efésios 1:23). A Bíblia compara o relacionamento entre um marido e sua esposa, com a relação entre Deus e Seu Povo (Isaías 54:5,6; 62:5). Em harmonia com o quadro da noiva, Jesus se refere a Si mesmo como o noivo e o círculo de Seus discípulos como a noiva Messiânica (Marcos 2:18-20). Em Efésios Paulo fala mais amplamente da Igreja como a Noiva de Cristo (Efésios 5).
Toda a análise etimológica e das metáforas não basta para definir a natureza da Igreja em plenitude. Ela é a extensão, manifestação e expressão de Jesus mesmo, embora num processo de formação. Jesus redimiu um povo do pecado e da morte e o trouxe para Si mesmo, a fim de formar uma identidade e unidade, a qual Ele chama minha Igreja. No entanto, Ele é o fundamento, a fonte, o sustento e o destino da Igreja. Assim como não podemos separar os ramos da árvore e suas raízes, não podemos separar o redimido de Jesus, o Redentor. Se a Igreja é o Corpo, Ele é o Cabeça.
Isto implica muito mais do que senhorio; fala de essência. Se a Igreja é a família de Deus, ela integra essa família. Se a Igreja é o Templo, Deus habita nela. Se a Igreja é um edifício, Jesus é a pedra angular. O que tudo isto significa? Dizendo-o de forma simples, não podemos separar Jesus de Sua Igreja. Ainda que seus papéis possam ser diferentes, eles são espiritualmente um, como Paulo diz: Mas aquele que se une ao Senhor, é um só espírito com Ele (1 Coríntios 6:1). Onde a Igreja está, ali está o Espírito de Deus; e onde o Espírito de Deus está, ali está a Igreja (Irineu).
Onde está a Igreja? onde o Espírito de Deus está. Mas, havendo lidado com o aspecto transcendental da natureza da Igreja, a pergunta será respondida considerando seu lado humano, representado pelas pessoas redimidas. Podemos dizer que a Igreja está no Céu como a universal assembléia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus (Hebreus 12:23), e na terra, espalhada no mundo inteiro, enquanto qahal de Jesus. No entanto, a Igreja transcende um ajuntamento de pessoas específicas. Ela é simplesmente o Corpo e está onde quer que a vida e presença de Jesus Cristo se manifestar.
O termo ekklesia é usado no Novo Testamento em dois sentidos distintos. Um é visível, identificável como povo e lugar, ou Igreja local, ou ainda Igrejas. O outro é invisível, identificado como o Corpo místico de Cristo. É usado, por exemplo, para a Igreja de Deus reunida em uma casa (Romanos 16:5), em uma cidade (1 Coríntios 1:2; 1 Tessalonicenses 1:1), em uma região (Atos 9:31) ou uma área maior, como a Província da Ásia (1 Coríntios 16:19).
O Corpo espiritual de Cristo, chamado Igreja Universal, não é identificado como uma comunidade de crentes reunindo-se em algum lugar. É o corpo espiritual de Cristo. Os membros da Igreja Universal têm seus nomes escritos no Livro da Vida do Cordeiro (Apocalipse 20:12,15; 21:27). Somente Deus vê e conhece quem pertence a ela.
Easton (1897), em Seu Dicionário, enfatiza três marcas desta Igreja Universal: Sua unidade, sua universalidade, e sua perpetuidade. Deus tinha, tem, e terá somente uma Igreja no mundo (Atos 2:47); A Igreja abraça os redimidos de cada nação, tribo, povo e língua (Apocalipse 7:9); Ela continuará através de todas as eras até ao fim do mundo. Não pode jamais ser destruída. É um reino eterno. "
IGREJA LOCAL: A Igreja tem sua expressão visível como corpo local de crentes distinto que pode ser identificado como uma comunidade (exemplo: Atos 20:28; 1 Coríntios. 1:2; Gálatas 1:13; 1 Tessalonicenses 1:1; 2 Tessalonicenses 1:1; 1 Timóteo 3:5). Enquanto a Igreja Universal inclui os redimidos que já morreram, a Igreja local inclui somente aqueles atualmente vivos na Terra. Cada congregação local é uma Igreja; portanto, há muitas Igrejas (plural). Elas são limitadas aos discípulos que pessoalmente se unem a cada uma delas, e pode deixar de existir por qualquer número de muitas circunstâncias.
Neste sentido, a Igreja local pode ser definida como um grupo de pessoas, regeneradas e batizadas que, voluntariamente, se reúne num determino lugar em diferentes ocasiões, sob as leis de Cristo, para estabelecer o reino de Deus nelas próprias e no mundo.
Visão distinta de Igreja: A visão protestante e evangélica da Igreja visível difere da que tem a Igreja Romana em alguns princípios inegociáveis. Alguns dos mais fundamentais são: O princípio de sola Scriptura (somente a Bíblia), o qual significa para o Protestante que em matéria de fé e prática, somente a Bíblia é fonte de ensino e julgamento. Nenhuma Igreja tem autoridade para mudar as Escrituras. O princípio de um sole Salvador, isto é, somente Jesus Cristo salva. Fora de Cristo não há salvação. Nenhuma Igreja tem poder para salvar. A Igreja simplesmente leva as pessoas ao Salvador. O princípio de salvação só pela graça, através fé. Nenhuma cerimônia da Igreja ou obras humanas conquista a salvação.
Igreja Universal Invisível Uma Igreja Um organismo Membros salvos Membros vivos e mortos Todo o corpo de Cristo Cristo é Cabeça visível no Céu Sem pastores ou diáconos Sem ordenanças Sem denominação Indestrutível Igreja(s) local(is) Visível Muitas Igrejas Uma organização Membros salvos e perdidos Membros vivos Parte do corpo de Cristo Cristo é Cabeça invisível na terra Pastores e diáconos Duas ordenanças Muitas denominações Destrutível
A Igreja é formada por crentes nascidos de novo (João 3:3,7). Em poucas palavras, os redimidos, os salvos do pecado, que lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro (Apocalipse 7:14). A Igreja é formada por pessoas arrependidas e crentes (Atos 2:38a; 16:31). A Igreja é composta de crentes batizados (Atos 2:41; 8:12; 8:36-38).
A Igreja é composta de crentes em formação. Os discípulos de Cristo devem ser a extensão, a reprodução e a manifestação de Sua vida, isto é, Seu caráter santo. Quando alguém nasce de novo, tem início um processo de transformação com o objetivo de que o caráter de Cristo seja refletido. Paulo declara: Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós (Gálatas 4:19). O que isso quer dizer? De forma simples, que a imagem de Deus em Cristo fosse restabelecida neles e eles se tornassem semelhantes a Jesus (Romanos 8:29; 2 Coríntios 3:18).
A Igreja, no que concerne o lado dos seres humanos, é uma comunidade de pessoas de fé que, convencidas pelo Espírito Santo dos seus próprios pecados, da justiça de Jesus, e do julgamento vindouro (João 16:8), pela pregação do Evangelho, clamaram como o carcereiro de Filipos: o que eu devo fazer para ser salvo (Atos 16:30)? Eles ouviram a resposta: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa (Atos 16:31). Eles, então, responderam arrependendo-se de seus pecados e colocando sua fé em Jesus como Senhor e Salvador.
Deste modo eles experimentaram a graça de Deus em Cristo, como está escrito: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Efésios 2:8). Como um testemunho público de seu novo nascimento em Cristo e seu batismo pelo Espírito Santo no corpo de Cristo, eles se submeteram ao batismo nas águas. Juntaram-se a uma Igreja local para ser parte de um Corpo militante que tem a meta suprema de se tornar como Jesus (caráter) (2 Coríntios 3:18) e realizar Sua missão (Mateus 18:18-20), até Jesus vir e estabelecer Seu reino visível sobre a Terra.