Peixes fluviais exóticos em Portugal continental: mediação ambiental das introduções de sucesso

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Peixes fluviais exóticos em Portugal continental: mediação ambiental das introduções de sucesso Francisco Nunes Godinho Conselho Nacional da Água Rua de S. Domingos à Lapa, n.º 26, 1200-835 Lisboa Resumo São revistos aspectos ligados às introduções piscícolas em sistemas fluviais portugueses, nomeadamente: i) causas das introduções, ii) conhecimento existente sobre as populações introduzidas e sobre as relações estabelecidas com as comunidades nativas, e iii) relação entre o sucesso das espécies exóticas e as características dos ecossistemas fluviais. Aspectos legais relacionados com as introduções, bem como o seu impacte nas actividades humanas são também abordados, tentando perspectivar a gestão de peixes exóticos em Portugal. Doze espécies píscicolas exóticas dulçaquícolas ocorrem presentemente em Portugal continental - 8 aclimatadas e de ocorrência mais ou menos vasta e 4 com ocorrência mais localizada; várias destas espécies têm sido consideradas como a principal causa do declínio de taxa nativos, maioritariamente pequenos ciprinídeos endémicos da Península Ibérica. No entanto, não existe informação histórica (antes e depois das introduções) fiável sobre o estado das populações piscícolas nativas, pelo que só a partir de dados obtidos nos últimos anos foi possível iniciar a análise, não só das interacções desenvolvidas entre espécies nativas e exóticas, mas também, da ecologia das últimas em sistemas portugueses. O sucesso da invasão dos sistemas aquáticos portugueses por peixes exóticos parece ser fortemente mediado pelas características do habitat fluvial; sistemas muito artificializados facilitam e estimulam a invasão enquanto que sistemas mais naturais permitem a dominância das espécies nativas. A gestão efectiva das espécies exóticas existentes é necessária e deverá ser distinta em função da artificialidade do sistema, podendo ir da eliminação (na prática difícil para muitas espécies) em sistemas de forte naturalidade (grande valor de conservação) à optimização em sistemas artificiais sem espécies nativas adaptadas (grande valor de exploração). Tendo em conta os padrões de introdução e expansão das espécies exóticas em Portugal, o difícil controle de novas introduções deverá incluir 1. a educação ambiental da população em geral e dos pescadores em particular (focos de dispersão de muitas das espécies existentes) e 2. o cumprimento da legislação publicada (e.g. a Lei da pesca em águas interiores de 1958 proíbe a transferência não autorizada de espécies piscícolas). Pela semelhança de cenários e pela interligação existente entre os sistemas aquáticos dos dois Países seria desejável que a gestão das espécies piscícolas exóticas ganha-se um âmbito ibérico. Palavras chave: peixes fluviais, exóticas, nativas, mediação ambiental. Abstract Fish introductions in Portuguese fluvial systems are reviewed, including: i) reasons for the introductions, ii) available knowledge concerning introduced species and relationships with native communities and iii) relationships between successful invasions and environmental characteristics. Legal aspects related to introductions as well as their impact upon human activities are also discussed in an attempt to foresee the manegement of exotic fish species in Portugal. Twelve exotic species presently occur in Portugal: - 8 reproducing and with widespread occurrence and 4 reproducing but with a more restrict presence; several of those species have been considered the main cause for the decline of native taxa, mostly Iberian endemic minnows. However, there are no good quality historical information (before and after the introduction) on the status of native populations and consequentle only recently some data have been gathered on exotic species ecology and interactions with native communities in Portugal. The invasion success of Portuguese fluvial systems appears to be strongly mediated by environmental characteristics; highly altered systems facilitate the invasion while more natural systems allow native species dominance. The effective management of exotic species in Portugal in necessary and should account for the system level of human induced habitat disturbance. It may include measures ranging from exotic species elimination (in practice very difficult to achieve) in highly natural systems (high conservation value) to exotic species enhancement in highly artificial systems (high fishing/economic value). Taking into account the introduction patterns of freshwater fishes in Portugal, the control of future introductions should include: 1. environmental education of the general public and particularly of anglers

1.º Simpósio sobre Espécies Exóticas (the main dispersal vector of many introductions) and 2. the implementation of available legislation. Due to the similarity between Spanish and Portuguese fish invasion patterns and the natural connection by common rivers, it should be desirable to manage the exotic species in an Iberian context. Keywords: fluvial fishes, exotic, native, environmental mediation Introdução Apesar da presença de espécies piscícolas exóticas na Península Ibérica ser tão antiga quanto a civilização Romana, a maior parte dos taxa foram introduzidos nas águas interiores portuguesas durante os últimos 100 anos e algumas das aclimatações de maior sucesso ocorreram nos últimos 50 anos. Muitas introduções tiveram um objectivo determinado (e.g. piscicultura ou pesca desportiva) mas outras foram acidentais, nomeadamente a partir de espécies que se terão deslocado de Espanha pelos rios internacionais. Como seria de esperar, nunca se realizaram estudos de impacte ambiental prévios à introdução de qualquer das espécies oficialmente aclimatadas. Da mesma forma, existindo forte discussão acerca do impacte de alguns taxa exóticos sobre as espécies nativas (e.g. Almaça, 1983, 1986), só recentemente se iniciou o estudo da ecologia das espécies entretanto aclimatadas em Portugal, bem como das interacções destas com as comunidades nativas. Em todo o mundo a área de estudo da biologia da invasão só nos últimos 10 anos passou das abordagens anedóticas, típicas do passado, para outras mais consistentes, mas continuam a faltar, muitas vezes, estudos experimentais (por oposição aos estudos descritivos, Rodriguez & Magnan, 1995) e, por consequência, uma maior capacidade de predição (Kareiva, 1996). A ausência de monitorização piscícola em Portugal, nomeadamente no âmbito da acção dos Serviços que gerem a pesca em águas interiores, tem limitado uma avaliação clara das consequências das introduções realizadas e.g. através da análise da situação antes e depois da introdução. É de salientar que devido à grande variabilidade natural dos sistemas fluviais Ibéricos as análises de longo prazo permitiriam, com maior precisão, destrinçar as consequências das introduções sobre as comunidades nativas. Neste trabalho são revistos aspectos ligados às introduções piscícolas em sistemas fluviais portugueses, incluindo: i) as razões invocadas para as introduções, ii) o conhecimento existente sobre as populações introduzidas e as relações estabelecidas com as comunidades nativas, e iii) a interacção entre o sucesso das espécies exóticas e as características dos ecossistemas fluviais. Alguns aspectos legais relacionados com as introduções piscícolas, prévios ao Decreto-Lei nº 565/99 de 21 de Dezembro, bem como o seu impacte nas actividades humanas são também abordados, tentando perspectivar a gestão destas espécies em Portugal. Espécies exóticas introduzidas em Portugal Até ao momento foram introduzidas doze espécies fluviais exóticas em Portugal continental; exceptua-se o Fundulus heteroclitus, que ocorre em áreas salobras da bacia do Guadiana. Na realidade existem relatos não confirmados pelo autor acerca da existência de outras espécies exóticas em sistemas isolados (e.g. pequenas albufeiras), como é o caso da carpa herbívora, (Ctenopharyngodon idella, e do Cyprinidae europeu entretanto introduzido em Espanha, Alburnos alburnos. Outra espécie existente em Espanha e com probabilidade de vir a ocorrer em Portugal, nomeadamente por já ocorrer em rios internacionais, é ainda o peixe gato europeu, Silurus glanis. A carpa comum é a espécie de introdução mais antiga na Península Ibérica, originariamente utilizada como peixe de cultura. Além das introduções antigas esta espécie, em particular a variedade espelhada, foi durante vários anos utilizada em repovoamentos oficiais e particulares de sistemas fluviais. Está presente na maior parte das bacias hidrográficas portuguesas e tem grande sucesso em albufeiras, onde domina muitas vezes, numericamente e em biomassa, a comunidade piscícola (Portugal-Castro et al., 1993; Portugal-Castro, 1997). Pelo contrário, em rios não é muito abundante (Collares-Pereira et al., 1995; Godinho et al., 1997a; Pires et al., 1999). As populações deste Cyprinidae em albufeiras são muitas vezes desequilibradas, apresentando uma proporção muito alta de exemplares velhos, ausência de recrutamento e pequeno crescimento médio (Godinho et al., 1992). Caracteristicamente são populações dominadas por exemplares de dimensão intermédia e onde os exemplares de grandes dimensões (> 3 kg) são raros. Outra espécie de Cyprinidae também de introdução antiga é o pimpão, Carassius auratus (Almaça, 1986). De dimensões mais reduzidas e introduzida inicialmente como peixe ornamental tem sucesso também em sistemas lênticos, aparecendo em várias bacias mas com abundância muito localizada. Por outro lado, o góbio, Gobio gobio, foi pela primeira vez introduzido na Península Ibérica no Século XIX, tendo sido referenciado no rio Douro em 1896 (Almaça, 1986 e referência nele contida). Terá sido importado como alimento para Salmonidae e por ser utilizado também como isco vivo em pesca ter-se-á dispersado. Ocorre actualmente nas bacias do Tejo, Douro, Leça, Vouga e Mondego. Um outro Cyprinidae sobre o qual subsistem algumas dúvidas acerca do seu estatuto exótico é a tenca, Tinca tinca. Seja como for e

apesar de produzida nos Centros Aquícolas Oficiais para eventuais repovoamentos sempre foi cultivada em pequena quantidade (em associação com a carpa) e ocorre de forma muito dispersa, sendo sempre rara. A truta arco-íris é outra espécie de introdução antiga na Europa e em Portugal, inicialmente importada pela sua maior rusticidade em condições de cultura foi também introduzida em algumas bacias, muitas vezes a partir de exemplares fugidos de pisciculturas, ocorrendo quase só em certas albufeiras (Godinho et al., 1998a). Subsistem algumas dúvidas sobre a capacidade da forma existente em Portugal para se reproduzir naturalmente e as populações são mantidas por repovoamento. A gambusia, Gambusia holbrooki, e o chanchito, Chiclasoma facetum, foram introduzidos no nosso País na primeira metado do Século XX. A primeira espécie foi aclimatada com a intenção de controlar os vectores de propagação da malária enquanto que a segunda poderá ter surgido em consequência da libertação de exemplares utilizados em aquarofilia. O chanchito ocorre no Guadiana, quer no rio (Godinho et al., 1997b), quer em albufeiras (Godinho & Ferreira, 1996) mas é geralmente pouco abundante. Apesar de ser descrito como táxone consumidor de larvas de Diptera, os estômagos da população existente na albufeira da Tapada Pequena (Mina de São Domingos, Mértola) estavam dominados por macrófitos (Godinho e Portugal-Castro, 1996). De acordo com Collares-Pereira (1985) o chanchito ocorre também nas bacias do Sado e do Mira. A gambusia é, pelo contrário, de distribuição mais geral em Portugal mas tem abundância localizada. O lúcio, Esox lucius, foi introduzido em Espanha em 1955 e terá através dos rios internacionais alcançado Portugal, onde é capturado no Tejo, Douro e Guadiana, essencialmente nos cursos principais e próximo das zonas de fronteira. No entanto, não parece ter alcançado nestas bacias abundâncias comparáveis às de algumas áreas de Espanha (Pena, 1986). Problemas ambientais relacionados com a temperatura e a abundância de macrófitos poderão ter limitado a sua dispersão. Além dos troços lóticos acima referidos o lúcio apareceu entretanto (nos anos 90) na albufeira do Azibo (Macedo de Cavaleiros), muito provavelmente introduzido por pescadores, tendo-se estabelecido com uma abundante população (Albuquerque, 1996). Pescadores também o terão introduzido em algumas albufeiras do Cávado. Um outro piscívoro apareceu muito recentemente no nosso País, a lúcio-perca, Stizostedion sp. e aparentemente teve sucesso em albufeiras do Ave e do Cávado. O peixe gato Ictalurus melas existirá no Sado mas restrito a algumas albufeiras. Duas espécies da família americana Centrarchidae foram introduzidas em Portugal (e em Espanha): a perca sol e o achigã. A história da aclimatação do achigã é bem conhecida, tendo sido introduzido pela primeira vez com sucesso em 1952. Desde essa altura rapidamente foi disperso por várias bacias hidrográficas, estando actualmente presente em quase todas as bacias Portuguesas. Um cenário semelhante ocorreu em Espanha (Elvira, 1995). Nos dois países o achigã está particularmente adaptado a albufeiras, onde ocorre com maior ou menor abundância, mas nos rios as populações são de abundância localizada e geralmente desequilibradas para os exemplares mais jovens (F.N. Godinho, dados não publicados). Pelo contrário, a história da introdução portuguesa (e também espanhola, Sostoa et al., 1987) da perca sol é desconhecida com detalhe; foi pela primeira vez introduzida na Europa nos finais do Século XIX, de acordo com alguns autores para a prática da aquarofilia (Crivelli & Mestre, 1988), mas de acordo com outros para pesca (Roule, 1931). Em Espanha há relatos da sua ocorrência no lago de Bañolas desde 1910 e posteriormente (1969) em albufeiras próximo de Barcelona. No final da década de 70 e início da de 80 e quase ao mesmo tempo há registos da espécie mais a Sul, nomeadamente no Sul de Portugal (Tejo Sado e Guadiana) e no Guadiana espanhol (Almaça, 1983; Rebollo & Cruz, 1985; Sostoa et al., 1987). Seja como for, este pequeno Centrarchidae está disperso actualmente com sucesso em muitas bacias ibéricas, ocorrendo com abundância quer em troços fluviais quer em albufeiras. Como é típico nas introduções a maior parte das espécies apareceram em Portugal para uma qualquer utilização humana; a maior parte para serem objecto de pesca desportiva (achigã, lúcio, lúcio-perca, truta arco-íris, carpa, tenca e como isco o góbio, 7/12), mas também para cultura (carpa e truta arco-íris, 2/12), para utilização como peixe ornamental (pimpão e chanchito 2/12) ou para controlo do paludismo (gambúsia 1/12). A perca sol e o peixe gato terão aparecido inadvertidamente a partir de Espanha. Mediação do habitat no sucesso e consequência das introduções A grande variabilidade temporal (sazonal e interanual) e espacial dos sistemas fluviais ibéricos dificulta o seu estudo ecológico; ambas as fontes de variação podem produzir consideráveis alterações na abundância de muitas das espécies nativas e exóticas, sendo necessário conhecer a influência destas fontes de variabilidade para destrinçar o efeito das espécies exóticas sobre as comunidades nativas. A influência do ambiente sobre as espécies piscícolas pode ser ainda diferente ou mesmo contrária entre taxa nativos e exóticos (Meffe, 1984; Castleberry & Cech, 1986). Por exemplo, na transição de uma sequência de anos secos para um mais chuvoso a abundância dos jovens de barbo (Barbus comiza e B. microcephalus) e de boga (Chondrostoma willkommi) aumentou no Guadiana ~10, independentemente da abundância das

1.º Simpósio sobre Espécies Exóticas principais espécies exóticas presentes (Godinho et al., 1998b, 2000). Em Portugal, a argumentação acerca do impacte das espécies exóticas sobre os ecossistemas tem variado muito consoante os taxa envolvidos. O efeito dos Cyprinidae introduzidos sobre as espécies nativas e o ambiente aquático é desconhecido e não tem sido muito discutido na Península Ibérica (mas ver Godinho et al. 1992 & Fernandez-Delgado, 1997). A omnipresente carpa domina a biomassa piscícola de muitas albufeiras mas é provável que tal domínio reflicta apenas uma melhor adaptabilidade desta espécie ao novo sistema e não uma mais eficiente capacidade competitiva por um qualquer recurso limitante. Pelo contrário, os Cyprinidae nativos com capacidade para proliferar em albufeiras são potamódromos, estando dependentes dos troços fluviais afluentes à albufeira para aí se reproduzirem e persistirem, assim, no sistema (Granado-Lourencio & Novo, 1981, 1985). Este cenário é suportado pelas populações envelhecidas e pela ausência de recrutamento destas espécies em anos de seca, quando as albufeiras ficam isoladas dos tributários, bem como por estudos experimentais entretanto realizados que demonstraram que o barbo do norte (Barbus bocagei) consegue maturar em albufeiras (i.e. tanques de terra) mas não se consegue aí reproduzir, o que acontece, no entanto, na presença de substrato grosseiro (M.I. Portugal e Castro e F.N. Godinho, Projecto PAMAF 8166, dados não publicados). As características do habitat (albufeira vs rio) parecem assim condicionar fortemente o sucesso relativo desta espécie em Portugal. O impacte directo da carpa sobre os ecossistemas aquáticos e indirecto sobre várias espécies piscícolas está bem documentado noutras zonas do mundo. Das outras famílias introduzidas a Centrarchidae destaca-se pela sua grande dispersão e por ser a principal envolvida no aparente declínio de várias espécies nativas, nomeadamente dos Cyprinidae endémicos de pequena dimensão média (e.g. Almaça, 1983; Elvira, 1995); porque ambos os Centrarchidae são predadores (o achigã piscívoro primário, sensu Keast, 1985, e a perca sol insectívora e ocasionalmente consumidora de ovos e jovens de peixe), relações de competição e predação são invocadas como determinantes na organização presente das comunidades nativas (e.g. Elvira, 1995); como já referido, não existe infelizmente informação fiável sobre as comunidades piscícolas portuguesas anterior à maior parte das introduções, o que dificulta a análise não enviesada do impacte das espécies exóticas sobre o ambiente aquático e as comunidades nativas. Muitas das introduções coincidiram também com períodos de grande modificação dos ambientes fluviais, nomeadamente pela construção de inúmeras albufeiras, aumentando ainda mais a dificuldade de isolar o efeito das espécies exóticas sobre as espécies nativas devido à possível autocorrelação entre factores. Acresce que, para além do conhecimento sobre a composição das comunidades aquáticas, o estudo do seu funcionamento (muito recente em Portugal) é fundamental para compreender os mecanismos das interacções estabelecidas entre espécies exóticas, nativas e os factores ambientais. Apesar das dificuldades metodológicas envolvidas nos estudos de ecologia fluvial, a utilização de técnicas de análise multivariada directa recorrendo ao uso de covariáveis permite isolar a influência de blocos de factores sobre variáveis resposta (e.g. a influência de espécies exóticas e de variáveis ambientais sobre a abundância de espécies nativas) (Borcard et al. 1992; Magnan et al., 1994; Rodriguez & Magnan, 1995). Esta capacidade para isolar o efeito de uma determinada variável mantendo as outras (estatisticamente) constantes num universo multivariado permitiu, por exemplo, avaliar a influência relativa das espécies exóticas presentes no Guadiana sobre a composição da comunidade nativa (Godinho & Ferreira, 1998 e figuras nele contidas). De acordo com este estudo, as principais variáveis ambientais relacionadas com as associações nativas foram a variável binária RIO, que diferenciou os troços de amostragem do rio dos troços dos tributários e a variável binária SAL, que diferenciou os tributários que desaguam na porção salobra do Guadiana; associações piscícolas caracterizadas por espécies nativas de pequena dimensão média e pelos juvenis dos maiores Cyprinidae (Barbus sp. e C. willkommi) estiveram associadas a troços localizados nos tributários por oposição a associações caracterizadas pelos grandes exemplares de barbo e por Cobitis paludica e Blenius fluviatilis, associadas ao rio principal. Esta análise explicou 31% da variação total nas espécies nativas. Por sua vez, as espécies exóticas (achigã, perca sol e gambusia, por ordem decrescente de importância) explicaram 20,0% na variação das associações nativas. Todavia, uma grande porção da variação explicada pelas espécies exóticas foi simultaneamente explicada pelas variáveis ambientais, i.e. ambos os grupos de factores foram parcialmente redundantes; a influência pura das espécies exóticas (i.e. a variação explicada unicamente por este factor após a remoção do efeito das variáveis ambientais com análises parciais, ver Godinho & Ferreira, 1998) explicou 12,4% da variação total, a pura ambiental 24,4%, enquanto que a variação explicada simultaneamente pelas variáveis ambientais + espécies exóticas explicou 9.2%. 54% da variação ficaram por explicar. Numa outra aplicação desta abordagem analítica na bacia do Raia, incluindo troços de amostragem em zonas regularizadas lênticas (no regolfo das albufeiras do Furadouro, Gameiro e açude de Mora) e regularizadas lóticas (a jusante das albufeiras e a montante dos regolfos), o padrão geral observado foi semelhante ao do Guadiana, mas aqui a principal variável ambiental associada com a variação nas associações piscícolas nativas foi a distância ao paredão (na direcção montante-jusante), uma clara medida 10

do grau de lênticidade do sistema (Godinho & Ferreira, 2000). Mais uma vez as variáveis ambientais explicaram, só por si, a maior parte da variação nas espécies nativas (27,6%), as espécies exóticas só por si (mais uma vez o achigã foi a mais importante) explicaram 12,6% e a interacção entre ambos os factores 14,5%. De salientar que no Raia a porção da variância explicada simultaneamente pelas variáveis ambientais e pelas espécies exóticas foi maior do que no Guadiana, sugerindo aqui uma interacção mais forte entre ambos os grupos de factores sobre as comunidades nativas. Em toda a bacia do Tejo um padrão de resultados semelhante ao detectado no Raia foi também determinado (J. Oliveira, Comunicação Pessoal). Em comparação com a carpa e com os Centrarchidae, as outras espécies exóticas são de ocorrência e abundância mais localizada, existindo ainda poucos dados sobre a sua possível influência no ambiente aquático e nas comunidades nativas. O lúcio, introduzido na albufeira do Azibo, parece ter contribuído para a diminuição dos efectivos de truta (e do sucesso de repovoamentos com trutas arco-íris) por predação (Albuquerque, 1996). A gambusia, por outro lado, tem sido associada a declínios de várias espécies em diversa áreas do mundo (Meffe, 1984, 1985; Artingthon, 1991) e o estudo exaustivo da sua ecologia em Portugal deveria ser prioritário. Mesmo com o ainda reduzido conhecimento sobre ecologia de espécies exóticas em Portugal e Espanha é possível, nomeadamente com base nos trabalhos acima referidos, formular algumas hipóteses: i) que os factores de habitat são os principais determinantes da estruturação das comunidades nativas; ii) que as espécies exóticas, apesar de menos importantes, também influenciam as comunidades nativas e iii) que uma grande parte da influência das espécies exóticas é mediada pelas características de habitat - nos casos referidos (Guadiana e Raia) parece ser importante a dicotomia rio principal-tributários (e variáveis associadas como a profundidade) e rio-albufeira (e variáveis associadas como a profundidade e velocidade da corrente). A variabilidade ambiental dos sistemas fluviais portugueses (e ibéricos) não regulados, com cheias invernais ocasionais e extensos períodos de seca, em particular no sul, e com diferenças substanciais entre rio principal e tributários, coloca uma grande pressão ecológica (e evolutiva) sobre os peixes nativos, limitando e controlando a sua distribuição e tornando assim as variáveis ambientais na principal força organizadora (hipótese i). No entanto, de acordo com a hipótese ii) alguma influência por parte das espécies exóticas será de esperar (no caso do Guadiana o achigã, a perca sol e a gambusia) sobre as associações nativas, mesmo assumindo condições ambientais semelhante entre troços de amostragem. Curiosamente, a principal espécie exótica associada com as comunidades nativas nas análises do Raia e Guadiana (o achigã) foi também a variável que perdeu maior relevância explicativa após a remoção da influência das variáveis de habitat (em particular a variável RIO no Guadiana e a distância ao paredão na direcção montante-jusante no Raia), sugerindo para esta espécie uma influência fortemente mediada pelo habitat. De acordo com uma síntese recente sobre introduções piscícolas na Califórnia (Estado americano de clima Mediterrânico, Moyle & Light (1996) formularam a hipótese de que são os factores abióticos, em particular os associados com a hidrologia, a condicionar nos sistemas fluviais o sucesso das espécies invasoras, i.e. será a adaptabilidade às condições hidrológicas locais o factor determinante deste sucesso. Como corolário desta hipótese foi ainda formulada a sugestão de que em sistemas alterados pelo homem (e.g. albufeiras) o número de invasores potenciais é muito superior do que em sistemas naturais. Os estudos portugueses realizados até ao momento suportam, no global, esta previsão, nomeadamente em relação às espécies exóticas de grande sucesso, o achigã, a perca sol e a carpa. Alguns dos exemplos da Califórnia e de outros Estados do Sul dos EUA utilizados por estes autores são, de facto, muito semelhantes aos ibéricos, com rios fortemente modificados por albufeiras, que distorcem o sistema fluvial original e facilitam a aclimatação de espécies exóticas adaptadas a esses sistemas, como o achigã. Em Portugal as albufeiras colocam problemas difíceis às espécies nativas e a maioria das exóticas de sucesso em Portugal e Espanha são espécies adaptadas a este tipo de sistema mas com dificuldades em persistir em sistemas fluviais variáveis. Por exemplo, o achigã é uma espécie de características iminentemente lacustres e ao ser introduzido em albufeiras desenvolve geralmente abundantes populações (e.g. Moyle & Light, 1996), mas tem dificuldades em colonizar rios intermitentes (Moyle & Cech, 1996). A carpa apresenta um comportamento semelhante. Em Portugal, rios pouco alterados (i.e. pouco represados) deverão ser mais resistentes à invasão das espécies exóticas enquanto que rios muito represados serão muito susceptíveis à invasão. Gestão das espécies exóticas em Portugal A gestão efectiva das espécies exóticas existentes em Portugal deverá distinguir a artificialidade do sistema e poderá ir desde a eliminação (difícil na prática para muitas espécies) em sistemas de forte naturalidade (grande valor de conservação) até à optimização em sistemas artificiais sem espécies nativas adaptadas (grande valor de exploração). Como é de prever esta distinção nem sempre será fácil. No entanto, 11

1.º Simpósio sobre Espécies Exóticas serão claramente de diferenciar os rios, por um lado, e as albufeiras, por outro. Em albufeiras as espécies piscícolas presentes são muitas vezes exóticas e a gestão piscícola destes sistemas terá de passar, obrigatoriamente, pela gestão destas espécies. Algumas das espécies introduzidas tiveram impactes positivos em actividades económicas, em particular o achigã, que se tornou uma das espécies preferidas pelos pescadores desportivos (Marta et al., 2001; J. Bochechas, Comunicação Pessoal), entrou na gastronomia de algumas regiões e até na poesia (Alegre, 1996); O seu fomento, através de acções de gestão sustentadas na ciência pesqueira e devidamente programadas, poderá ser realizado nas albufeiras onde está bem aclimatado, até porque as relações complexas que desenvolve com a perca sol conduzem frequentemente a populações onde o Centrarchidae mais pequeno domina, o que não é interessante do ponto de vista piscatório e económico. Também em termos de conservação das espécies nativas o fomento do piscívoro poderá ser benéfico ao permitir um maior controle das populações de perca nas albufeiras, reduzindo assim a colonização de troços lóticos que realizam a partir deste sistema, seu principal foco de dispersão. A perca sol parece ter a capacidade de chegar a troços lóticos aonde o achigã não chega, geralmente troços mais instáveis ambientalmente e com maior integridade biótica potencial (Poff & Allan, 1995). Em função dos padrões de introdução e expansão das espécies exóticas em Portugal, (i.e. algumas introduções ocasionais e várias dispersões não controladas) o controle, difícil, de novas introduções deverá incluir, em primeiro lugar, a educação ambiental da população, em geral, e dos pescadores, em particular, já que parecem ser os principais focos de dispersão de muitas das espécies existentes no nosso País. Será também importante implementar a legislação existente. Por exemplo, desde 1958/1962 que a lei (e correspondente decreto regulamentar) da pesca em águas interiores proíbe a transferência não autorizada de espécies piscícolas. Claramente, não chegou legislar para prevenir muitas das introduções e subsequentes dispersões registadas em Portugal. A educação das pessoas e uma postura pragmática em relação às espécies exóticas já aclimatadas (da eliminação ao fomento consoante os objectivos e sistema) são, seguramente, a única via para controlar, definitivamente, a introdução de peixes em Portugal. Finalizando, seria desejável que a gestão das espécies piscícolas exóticas ganha-se um âmbito ibérico pela semelhança de cenários e pela interligação natural existente entre os sistemas aquáticos dos dois Países. Referências Albuquerque, A. 1996. Comunidades piscícolas das albufeiras de Azibo, Montargil e Cabril. Relatório do trabalho de fim de curso de engenharia florestal. Univ. Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia. Alegre, M. 1996. 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