trata de lapsus calami : a hipoteca, não o termo de cancelamento da mesma, é que se manterá sobre a área remanescente.



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Transcrição:

Pº R. P. 237/2006 DSJ-CT- Possibilidade ou não de destaque de parcela, resultante de doação a município para integração no seu domínio privado, de prédio sobre o qual se encontra em vigor um registo de ónus de não fraccionamento - Cedência para o domínio público de determinada área de prédio sobre o qual recaem hipotecas, sem que se mostre provada a intervenção no processo dos respectivos credores - Sua admissibilidade. PARECER O Município de requisitou na Conservatória competente vários actos de registo a que vieram a corresponder as apresentações números 19 a 25 do dia 27 de Junho de 2006. Destas, foram recusados os registos correspondentes às Aps. 22 a 24 e efectuados provisoriamente por dúvidas os relativos às Aps. 18 e 21. Analisemos, então os registos que foram objecto de qualificação desfavorável, começando por aqueles que, com carácter provisório, embora, não deixaram de ser lavrados. O primeiro, requerido pela Ap. 18, consistiu na aquisição do prédio descrito sob o n.º 03333/20020415, da freguesia de, N.ª Sr.ª do, a favor do município requisitante, em virtude da doação que lhe foi efectuada pela sociedade, SA, titular inscrita, sendo que a identificação daquele reproduz a constante da respectiva descrição predial. O segundo, peticionado sob a Ap. 21, residiu na aquisição a favor do mesmo Município, de um prédio, também doado pela mesma sociedade, a desanexar do descrito na Conservatória recorrida sob o n.º 02513/970819, da dita freguesia, cuja composição, de acordo com a identificação constante do título apresentado e reproduzida na declaração complementar, inserta no verso da respectiva requisição, era a seguinte: Parcela de terreno, para construção urbana, com a área de 691, 03m2, sita na Quinta do, a confrontar do norte com área de cedência, do sul com José e outro e rua, do nascente com arruamento e do poente com 1

Adelaide,inscrito na matriz urbana sob o artigo 11516 (artigo este que ainda não aparecia na escritura). Ambos os registos foram instruídos com uma certidão da escritura de doação lavrada em 6 de Abril de 200, a fls. do livro n.º 53, pelo Notário Privativo da Câmara Municipal de, à qual foram juntos, para efectivação do primeiro, a caderneta predial urbana do Serviço de Finanças daquela localidade, obtida via Internet, e, com vista à realização do segundo, o comprovativo da declaração para inscrição matricial de prédio urbano, emitido pelo referido Serviço, em 31/05/06. As dúvidas apostas à feitura dos dois aludidos registos circunscrevem-se, no que ao primeiro respeita, e julgamos inteligível, face ao teor do respectivo despacho de qualificação, às semelhanças que, em termos de localização e confrontações, os prédios n.ºs 03333 e 02513, apresentam, para além do facto de, na origem de ambos, se encontrar uma remota desanexação do mesmo prédio, a saber, o descrito sob o n.º 3552, a fls. 21v, do livro n.º B-10. Considerando também que a efectuar-se a desanexação pretendida e a integrar-se no domínio público a parcela indicada (14669,26m2) o prédio 02513/970819 fica com 1142,33m2, (o que leva a recorrida a questionar-se sobre a existência de uma terceira parcela envolvida na operação, não totalmente definida) a Sr.ª Conservadora a quo pergunta: Visarão as áreas de cedência servir estes três prédios (residual do 02513, 03333 e parcela de 691, 03m2 a desanexar do primeiro) ou algum (s) loteamento (s) ou prédio (s) vizinhos?. Além de que acusa a falta de apresentação do acordo para a realização de infraestruturas e planta anexa, aprovada por deliberação do executivo municipal ou de quaisquer outros documentos capazes de esclarecer as dúvidas suscitadas pela respectiva escritura, já que esta não se fez acompanhar dos ditos. No que estritamente concerne ao segundo dos referidos registos, a qualificadora faz notar que sobre o prédio n.º 02513, do qual se pretende retirar uma parcela de terreno para construção urbana, com 691, 03m2, incide um ónus de não fraccionamento, pelo prazo de 10 anos, a contar de 4 de Novembro de 2003, o qual surge na sequência da desanexação do prédio 03492, actualmente já em propriedade horizontal, e teve sempre como base a área inicial deste prédio, de 23902m2. 2

Interroga-se ainda, pelo facto do termo de cancelamento apresentado, relativo ao prédio n.º 02513, autorizar o cancelamento somente quanto à parcela a destacar e que deverá constituir um prédio urbano novo, acerca do modo como fica a hipoteca relativamente às áreas de cedência. Quanto aos registos objecto das Aps. 22 a 24, respeitantes ao cancelamento das inscrições hipotecárias, C-1, C-2 e C-3, sobre o prédio a desanexar do mencionado n.º 02513 (a identificada parcela de 691, 03m2, a que veio a corresponder a descrição n.º 03719), foram recusados porque o cancelamento solicitado incide única e exclusivamente sobre esta parcela, o que, atento o carácter provisório por dúvidas do respectivo registo de aquisição (Ap. 21), impossibilita a efectivação do pretendido averbamento também como provisório, impondo-se, nos termos legais (art.º 69.º, n.º 2, C.R.P.), a correspondente recusa. A impugnação da qualificação desfavorável dos diversos registos apontados foi feita mediante recurso hierárquico, interposto em 14 de Setembro de 2006, ao qual coube a Ap. n.º 59, cujos termos se dão aqui por integralmente reproduzidos, sem prejuízo da apreciação mais detalhada que nos permitimos fazer de alguns aspectos das respectivas alegações. Iniciam-se estas com a história dos prédios envolvidos nos registos em causa. Assim, o prédio n.º 02513, de natureza rústica, tinha inicialmente a área de 23920m2, da qual foram desanexados 7417,38m2 na sequência de aprovação de projecto de edifício (processo de licenciamento n.º 542/99) -, dando origem à descrição n.º 3492/20031104 e consequente redução da área do primitivo prédio para 16502, 62m2. A aprovação do mencionado projecto ficou a dever-se à obrigação em que o respectivo titular se constituiu de executar as infraestruturas em causa para o local cfr. alínea a) do n.º 2, n.º4 e n.º 5 do artigo 63.º do DL 445/91, de 20/11, com a redacção dada pelo DL 250/94, de 15/09 e que implicou a cedência para o domínio público da área de 15811, 59m2, relativos a arruamentos, passeios, estacionamentos e espaços verdes, que servirão os edifícios em redor e o público em geral, sendo que a realização de tais obras é imperativamente objecto de acordo celebrado em 6 de Novembro de 2000 agora anexado em sede de recurso para esclarecimento das dúvidas suscitadas 3

pela Conservadora, acordo no qual é ainda referida a doação de uma parcela para o domínio privado do Município, com a área de 1203, 03 m2, parcela que, como se alega, resultará sempre da anexação da área do prédio n.º 3333/20020415 (512m2) com a parcela de 691,03m2 a desanexar do 02513/970819, e que se destina à construção de um edifício público (sede da Associação de Municípios ), que já se encontra em execução. No final, aquele prédio n.º 02513 ficará com a superfície de 1142,33m2, na qual se encontra em apreciação o processo de licenciamento de edifício n.º 140/05 que, de futuro, dará origem a uma nova descrição urbana. O ónus de não fraccionamento que, desde 3/11/2003, incide sobre aquele prédio deve-se à referida desanexação de 7417,38m2, sem prejuízo do entendimento perfilhado pelo Município recorrente no sentido de que não se aplicam às Autarquias Locais os procedimentos comuns do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, aprovado pelo DL 555/99, de 16/12, com as alterações introduzidas pelo DL 177/01, de 4/06. Conclui-se, deste modo, pela não aplicação às iniciativas do Município do disposto no art.º 6.º do aludido diploma legal, uma vez que o prédio registando se destina à construção de um edifício público. Quanto ao facto do termo de cancelamento de hipoteca 1 se manter apenas para a área remanescente que, no presente caso será de 1142,33m2, não incidindo sobre as áreas de cedência, entende-se que é absolutamente coerente, uma vez que a hipoteca é efectuada pelo proprietário do prédio e sobre ele incidirá, pois a área de cedência passou para o domínio público, logo insusceptível de se manter hipotecada. No âmbito da sustentação da qualificação efectuada, nada de relevante foi aditado pela Sr.ª Conservadora recorrida relativamente aos argumentos antes invocados. Assim, cingimo-nos à transcrição de alguns passos do seu despacho, elucidativos do entendimento perfilhado nesta matéria: não existindo dispositivo legal que expressamente autorize o destaque de uma parcela para construção de edifício, classificado como público, de um prédio de onde não foi permitido pela própria Câmara fazer, num espaço de 10 anos, outro destaque, este não é legalmente admissível mesmo que se destine à construção, pela própria, de um 1 Confessamos não entender o sentido desta expressão utilizada pela recorrente; supomos mesmo que se trata de lapsus calami : a hipoteca, não o termo de cancelamento da mesma, é que se manterá sobre a área remanescente. 4

edifício público; e deve ser respeitada por todas as entidades, sejam elas públicas ou privadas, a opção do legislador de limitar o destaque de parcelas isoladas ao decurso do prazo de 10 anos, sob pena de violação do princípio da igualdade, constitucionalmente consagrado no art.º 13.º da nossa C.R.P. Cumpre, pois, face à legitimidade das partes, tempestividade do recurso, inexistência de nulidades, excepções ou questões prévias impeditivas do conhecimento do mérito, emitir parecer. Fundamentação 1 - Começamos por uma breve nota acerca da situação tabular dos prédios objecto dos registos em apreciação. O prédio a que corresponde a descrição predial n.º 03333 é de natureza urbana, em cuja matriz se acha inscrito sob o artigo 10637, denomina-se Quinta do ou Estrada da, destina-se a construção, tem 512 m2, e confronta do norte com o respectivo titular definitivamente inscrito,, S.A., do sul com José e outro, do nascente com a estrada nacional e do poente com herdeiros de Adelaide. Incidiam sobre ele três inscrições hipotecárias, cujos cancelamentos foram pedidos na requisição em apreço (aps.19, 20 e 25), e efectuados, não se mostrando junto aos autos o respectivo documento instrutório. O registo de aquisição solicitado pela ap. 18 foi, como vimos, efectuado provisoriamente por dúvidas. O prédio a que respeita a descrição predial n.º 02513, do qual foi pedida a desanexação da já identificada parcela com 691, 03 m2, é de natureza rústica, em cuja matriz se acha inscrito sob o artigo 419, denomina-se Quinta do, tem a área de 16502,62 m2, confronta do norte com, S.A., e mais três pessoas singulares, do sul com José, outros e rua, do nascente com a estrada nacional e herdeiros de Francisco e do poente com herdeiros de Adelaide.Tal como o anterior, está inscrito definitivamente a favor da mesma sociedade, recaem sobre ele as mesmas hipotecas e, pela inscrição F-1, Ap. 18/20031104, está sujeito a um ónus de não fraccionamento pelo prazo de 10 anos. 5

Foram juntos ao processo a requisição de registo e os documentos correspondentes àquela apresentação, decorrendo da respectiva certidão camarária que foi o destaque da área de 7417,38 m2 daquele prédio n.º 02513 legalmente admissível, ao abrigo do disposto no n.º 4 do artigo 6.º do D.L. n.º 555/99, alterado pelo D.L. n.º 117/01 que esteve na origem do registo de tal ónus. Destinou-se a referida superfície à construção de um edifício formado por 10 blocos, de cave, rés-do-chão e cinco andares, com a área coberta de 1860, 01 m2, e descoberta de 5557, 37 m2, consoante resulta da descrição predial n.º 03492/20031104 - em que se veio a concretizar a dita desanexação -, sobre a qual se mostra, como é óbvio, registado o mesmo ónus, bem como, além de outras, a inscrição de constituição de propriedade horizontal, desde o início (15/03/2004), com carácter definitivo. A Câmara Municipal de, ora recorrente, limitou-se, como, de resto, é legal, a comprovar, mediante a referenciada certidão, que estavam presentes, no caso concreto, os requisitos do destaque, já que a mesma não tem, em tais processos, qualquer intervenção que se traduza num acto de controle preventivo. Por outro lado, a escritura notarial cuja certidão foi apresentada como título dos registos em causa refere-se apenas à circunstância quando se ocupa da doação para integração no domínio privado do Município da parcela de terreno a destacar do prédio n.º 02513 de sobre este recair um ónus de não fraccionamento, acrescentando a referência ao acordo para a realização das infraestruturas em falta e planta anexa, aprovado por deliberação do Executivo Municipal, tomada em reunião ordinária de 6 de Novembro de 2000, tão só, a propósito, da declarada cedência de uma parcela de terreno, a desanexar daquele mesmo prédio, com a área de 14669,26 m2, destinado a arruamentos, passeios, estacionamentos e espaços verdes, para integrar no domínio público do município. Acordo esse que, como se conclui do exposto, não foi trazido ao conhecimento da conservatória no momento da requisição do registo, mas somente nesta fase de impugnação, pelo que, na linha do que vem sendo insistentemente defendido por este Conselho, o seu teor não poderá ser levado em conta na apreciação do actual recurso, sem que tal inviabilize, contudo, a ponderação que entendemos 6

conveniente efectuar do respectivo alcance e efeitos, na perspectiva da solução abstracta a encontrar, em casos semelhantes. 2 A questão que, do ponto de vista jurídico, os presentes autos suscitam de imediato prende-se com a relevância do ónus de não fraccionamento inscrito e em vigor sobre determinado prédio, caso venha a ser pedida a desanexação deste de outra parcela de terreno, evento que, ocasionando o seu desmembramento material, vai infringir a referida proibição. Na génese do registo daquele ónus está, como se sabe, a divisão de um prédio em lotes para efeitos de construção, divisão que é característica dos loteamentos em sentido estrito, uma das operações de transformação ou recomposição fundiária, em que hoje se analisa a noção legal de loteamento urbano. Vários são os elementos que o integram, sendo o nuclear a divisão fundiária, que sempre deverá importar a constituição voluntária de lotes, ou seja, a formação de unidades autónomas, novos prédios perfeitamente individualizados, capazes de ser objecto, em termos gerais, do direito de propriedade, e ainda a destinação de, pelo menos, um desses lotes assim constituídos, imediata ou sucessivamente a construção urbana. A não verificação cumulativa dos apontados elementos constitutivos permite excluir do âmbito do loteamento situações em que, por exemplo, a divisão fundiária operada não tem origem num acto voluntário dos particulares - ou porque resulta de factos naturais, ou porque é devida a acções da responsabilidade da administração (v.g. parcelas expropriadas para construção de arruamentos públicos, nelas se incluindo os lotes resultantes da cedência amigável de um terreno dentro de um processo de expropriação) -, ou em que o fraccionamento do terreno tem finalidade diversa da construção urbana. A selecção de umas e outras demanda, como é lógico, a indagação casuística sobre a presença ou não, no caso concreto, dos enunciados elementos, incumbindo essa tarefa, obviamente, às entidades com intervenção no aludido processo de divisão fundiária, a saber, câmaras municipais, notários e conservadores. Se, como se adivinha, a identificação das situações sujeitas a licença ou autorização de loteamento nunca foi trabalho fácil, mais difícil passou a ser com o aditamento ao Código Civil, através do D.L. n.º 267/94, de 25 de Outubro, do artigo 1438.º - A, que veio permitir a constituição da propriedade horizontal para 7

conjuntos de edifícios funcionalmente ligados entre si pela existência de partes comuns, dispensando, assim, a licença até então exigida para a construção de vários prédios no mesmo terreno operação que, em princípio, configurava um loteamento, só passível de efectivar mediante licenciamento municipal. Face à diferença de encargos a que então se encontravam submetidos os dois regimes, passou a assumir relevância a destrinça das situações a submeter a um e a outro. O que deixou de ocorrer, praticamente, com a entrada em vigor do RJUE, aprovado pelo D.L. n.º 555/99, de 16 de Dezembro (alterado pelos D.L. n.º 177/2001, de 4 de Junho, e Lei n.º 4-A/2003, de 4 de Fevereiro), já que este veio diluir os ganhos decorrentes do recurso ao regime da propriedade horizontal traduzidos em economia de tempo, não cedência gratuita de terrenos para o domínio público (espaços verdes e de utilização colectiva, infra-estruturas) ou a respectiva compensação em numerário ou em espécie, inexigíveis nos licenciamentos de obras de construção civil, bem como o pagamento das respectivas taxas aproximando os dois regimes, mediante a subordinação de ambos às mesmas obrigações em matéria de cedências, compensações e pagamento de taxas, quando estejam em causa edifícios contíguos e funcionalmente ligados entre si que determinem, em termos urbanísticos, impactes semelhantes a uma operação de loteamento, desde que tal esteja definido em regulamento municipal (cfr. art.º 57.º, n.º 5, RJUE) 2. Deste modo, tendo em vista a protecção do interesse público, passou a ser fundamental nesta matéria o impacto urbanístico da operação e não o modo de licenciamento. A simplicidade da divisão fundiária projectada levou, todavia, o legislador a isentar de licença ou autorização as situações em que tal se verifique, desde que nelas concorra a verificação dos requisitos previstos nos n.º s 4 e 5 do artigo 6.º, 2 Estando a possibilidade de exigir o cumprimento do mesmo tipo de encargos aqui limitada às situações expressamente previstas em regulamento municipal, tal significa que incumbe ao município e não ao legislador a definição das obras de edificação que devem ficar sujeitas aos mesmos encargos dos loteamentos. De um modo mais geral e a propósito do regulamento, o que o legislador pretende é que os municípios aí identifiquem as obras de edificação que ficam dispensadas de licença ou autorização tarefa em que gozam de larga margem de discricionaridade -, garantindo igual tratamento aos munícipes colocados na mesma situação. Cfr. Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, comentado por Maria José Castanheira Neves, Fernanda Paula Oliveira e Dulce Lopes, págs. 321 e88/9. 8

do Regulamento em apreço, consoante o destaque se verifique em área situada dentro ou fora do perímetro urbano. Do ponto de vista jurídico, trata-se de um verdadeiro loteamento em sentido estrito, que comporta apenas dois lotes, isento de permissão camarária, quando, situado dentro do perímetro urbano, as parcelas resultantes do destaque confrontem com arruamento público existente 3 ; e a construção a erigir na parcela a destacar disponha de projecto aprovado quando exigível no momento da construção 4. O facto deste projecto poder não chegar a ser concretizado, realizando-se até, posteriormente, uma edificação diferente da projectada, explica também a possibilidade de, nos termos preconizados no n.º 5 do citado artigo 57.º, virem a ser impostos pela autarquia ao promotor da construção encargos não equacionados, à data do destaque e que assim acrescerão àquele que é legalmente inerente ao mesmo, o já referido ónus de não fraccionamento durante 10 anos, obrigatoriamente sujeito a registo (art.º 6.º, n.º s 7 e 9). Ónus que recai sobre os dois prédios a parcela destacada e a parcela sobrante -, uma vez que o objectivo legal é impedir que se efectivem indirectamente, através de sucessivos actos de destaque sobre elas, verdadeiras operações de loteamento sujeitas a licença ou autorização. Face a este propósito do legislador, é evidente que o dito ónus significa apenas que, durante esse lapso temporal, não é permitido efectuar novos destaques nas parcelas (prédios) dele objecto; o que não invalida a possibilidade de qualquer delas vir a ser fraccionada antes de decorrido o fixado 3 Na obra antes citada, chama-se a atenção para a necessidade de recompreender a figura do destaque (uma vez que a sua utilização pode comprometer um adequado ordenamento do território), frisando, quanto à exigência prevista na alínea a) do citado n.º 4, que mais do que a confrontação com a via pública deve exigir-se que as parcelas possam ter, efectivamente ligação com a mesma, já que, atento o disposto no artigo 86.º do Estatuto das Estradas Nacionais, aprovado pela Lei n.º 2037, de 19/08/49, não é permitido entrar nas estradas nem sair delas fora das serventias estabelecidas segundo as normas deste estatuto, sendo que os acessos autorizados serão efectuados a título precário, o que implica que o Instituto das Estradas de Portugal se reserva sempre a faculdade de revogar, sem qualquer direito a indemnização, o acto administrativo emanado, já que o que se visa tutelar é o interesse impostergável e altamente mutável da segurança rodoviária. Cfr. pág.91, ob. cit.. 4 A aprovação do projecto de arquitectura que aqui se exige é-o apenas para efeito de destaque, não sendo exigível que o mesmo venha a ser concretizado (podendo até acabar por ser realizada posteriormente uma edificação diferente da constante do projecto que esteve na base do destaque). Tal exigência visará somente garantir uma intervenção municipal que confirme que o lote a constituir através do destaque permite uma utilização urbanística de acordo com as normas legais e regulamentares em vigor para o que bastaria uma informação prévia favorável ou mesmo uma simples informação camarária confirmativa da referida capacidade urbanística. Ob. cit., pág. 93. 9

prazo de 10 anos, sendo, então, em princípio, necessário para o efeito o recurso a uma operação de loteamento sujeita à referida licença ou autorização. Dizemos, em princípio porque pode suceder que o novo fraccionamento configure uma daquelas situações em que, como atrás referimos, a divisão fundiária que envolve não tem origem num acto voluntário dos particulares ou porque resulta de factos naturais, ou porque decorre de acções da responsabilidade da administração -, ou tem finalidade diversa da construção urbana o que a exclui do âmbito do loteamento. Arredadas, como razões determinantes da necessidade de recurso a este, as situações em que o novo fraccionamento se ficou a dever a causas naturais ou a destinação diferente da construção urbana, sobra, no caso em análise, o motivo decorrente da circunstância da nova divisão fundiária decorrer de acções da responsabilidade da administração. 3 Cabe, pois, interrogarmo-nos sobre a relevância do aludido ónus nas situações em que a entidade promotora do figurado fraccionamento esteja enquadrada na Administração Pública, considerando o que, a este respeito, se acha previsto no artigo 7.º do RJUE. Consagra este preceito uma nova isenção de licença ou autorização, estabelecida aqui, não em função do tipo de operação urbanística em causa (elemento objectivo) como sucede no apreciado caso do destaque -, mas em função da entidade promotora da dita operação (elemento subjectivo). Assim, nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do citado artigo, estão isentas de licença ou autorização as operações urbanísticas promovidas pelas autarquias locais em área abrangida por plano municipal de ordenamento do território. 5 Na hipótese de não estar abrangida por tal plano a área em que as ditas operações urbanísticas vão ser levadas a efeito, devem as mesmas ser previamente autorizadas pela assembleia municipal, depois de submetidas a parecer prévio vinculativo da direcção regional do ambiente e do ordenamento do território (n.º 3, art.º cit.). 5 In pág. 99, ob. cit.: tal isenção apenas vale verdadeiramente se a área estiver abrangida por plano municipal de ordenamento do território [não valendo, por isso, tendo em consideração que todo o território nacional continental já se encontra praticamente coberto por planos, naquelas situações em que o respectivo plano tenha sido suspenso (estejam ou não em vigor medidas preventivas), caso em que serão aplicáveis aos loteamentos e às obras de urbanização as exigências particulares previstas no n.º 3 do artigo 7.º)].. 10

Atenta a previsão contida no n.º 7 do preceito em exame, a aludida isenção de licença ou autorização não dispensa aquelas operações de um procedimento prévio à sua realização, o qual passa pela elaboração obrigatória dos respectivos projectos por técnicos habilitados que declaram a sua conformidade com as normas em vigor (art.º 10.º, Regulamento cit.), e pela publicitação do seu início e fim (art.º s 12.º e 78.º, mesmo diploma). Acresce que a isenção de que falamos respeita apenas ao licenciamento ou autorização municipal, não dispensando como, de resto, acontece na eventualidade do destaque de que antes nos ocupámos o cumprimento das normas aplicáveis, quer se trate de disposições legais de instrumentos de planeamento, quer de normas técnicas aplicáveis, porventura constantes de regulamentos municipais. Tendo presente que neste domínio a regra é a da sujeição a licenciamento ou autorização municipal de todas as operações urbanísticas, compreende-se o cuidado do legislador na definição dos casos que devem legitimamente ficar subordinados a um regime particular de aprovação. Assim é que, não obstante o normativo em causa referir, de modo expresso, que as operações a que respeita são as promovidas pelas entidades nele indicadas, deve exigir-se, em princípio, que se refiram a terrenos ou prédios que sejam propriedade das mesmas, podendo aventar-se a mobilização destes procedimentos especiais relativamente a terrenos que sejam propriedade dos particulares quando se trate de operações de gestão urbanística levadas a cabo pela Administração em colaboração com os particulares, mas dependendo sempre dos termos dessa colaboração. 6 4 Quando foram submetidos a registo os factos cuja qualificação minguante motivou a interposição do presente recurso hierárquico, os dados objectivos disponíveis para a apreciação do caso sub judice estavam limitados à existência registral de um ónus de não fraccionamento em vigor sobre os prédios com as descrições prediais n.º s 02513 e 03492. Por seu turno, a escritura de doação apresentada como título pouco esclarecia relativamente aos prédios identificados sob as alíneas a) e b) respectivamente, prédio urbano descrito sob o n.º 03333, da freguesia de - Nossa Senhora do, e parcela de terreno, para construção urbana, com 691, 03m2, sito no mesmo lugar, a desanexar daquele prédio descrito sob o n.º 02513 - para 6 Ob. cit., pág. 101. 11

além de referir que a primeira outorgante fazia doação pura e simples dos mesmos ao Município, para integrar no domínio municipal. As informações adicionais constantes da escritura cingiram-se à referência ao acordo para a realização de infraestruturas em causa e planta anexa, aprovado por deliberação do Executivo Municipal, tomada em reunião ordinária de 6 de Novembro de 200 - a propósito da cedência aí declarada, para integração no domínio público do Município em apreço, de uma parcela de terreno, com a área de 14669,26m2, destinada a arruamentos, passeios, estacionamentos e espaços verdes, a destacar do dito prédio n.º 02513 e à indicação final de que foi dito pelo segundo outorgante (como representante do Município) que de harmonia com as deliberações n.º s 385 e 3150 do Executivo Municipal, tomadas nas reuniões ordinárias de 7 de Fevereiro e 6 de Novembro, ambas de 2000, e o acordo atrás mencionado, aceita a presente doação e cedência, em nome do seu representado.. Apenas em sede de impugnação, foram trazidos ao conhecimento da Sr.ª Conservadora recorrida, o referido acordo subordinado ao título Acordo para realização das infraestruturas em falta, celebrado em 6 de Novembro de 2000, ao abrigo do disposto no n.º 5 do artigo 63.º do D.L. 445/91, de 20/11, com a nova redacção dada pelo D.L.250/94, de 15/10, entre os então titulares inscritos do mencionado prédio n.º 02513 e o dito Município, bem como duas fotocópias, contendo extractos relativos a este processo, das actas n.º s 6 e 45, ambas do ano 2000, da Câmara Municipal de. Como atrás dissemos não obstante os documentos ora juntos não poderem ser levados em consideração para efeitos da decisão final a proferir nos presentes autos entendemos dever encarar a situação à luz dos novos dados carreados para o processo, na perspectiva da ulterior efectivação, com carácter definitivo, dos solicitados registos. Deste modo, ficamos a saber que a celebração de tal acordo 7 surgiu na sequência do indeferimento pela Câmara Municipal de um pedido de licenciamento, indeferimento esse motivado pela ausência de arruamentos ou de infra-estruturas de abastecimento de águas e de saneamento [alínea a) do n.º 2 do artigo 63.º, 7 Note-se que o referido acordo tem a data de 6/11/2000, altura em que já havia sido publicado o D. L. n.º 555/99 que, todavia, só entrou em vigor em 2/10/2001. 12

D.L. 445/91, alterado pelo D.L.250/94], em cumprimento do previsto no n.º 5 do mesmo preceito. Dispunha o n.º 4 deste artigo que a decisão de indeferimento com esse fundamento podia ser revista e deferido o licenciamento sob condição de execução por parte do requerente e a cargo deste, das obras cuja necessidade de execução decorra directa e exclusivamente da realização do empreendimento ou que nele se integrem. E o n.º 5 concluía que a realização daquelas obras seria objecto de acordo escrito entre a câmara municipal e o requerente, devendo o mesmo identificar o valor pecuniário das obras a cargo do requerente. É, de facto, isto que o aludido acordo patenteia, sendo conveniente ressaltar neste domínio o teor dos números I, III, VI e VIII, do qual decorre que os requerentes se obrigam a mandar celebrar por sua conta, durante o período de vigência do alvará de licença para construção do edifico a que se reportava o solicitado licenciamento, as obras das infra-estruturas aí discriminadas, devendo ser cedidas ao município todas as áreas de propriedade àquelas destinadas, não podendo, antes da realização das mesmas, ter lugar a construção do projectado edifício, comprometendo-se, ainda, a doar à Câmara Municipal de para integrar no domínio privado, a área de 1203, 03 m2 8, de acordo com a planta de implantação, documento que faz parte integrante do presente acordo (não junta aos autos). O mencionado motivo legal de indeferimento ausência de arruamentos ou intra-estruturas de abastecimento de águas e saneamento manteve-se no actual RJUE [que, como é sabido, revogou aquele D.L. n.º 445/91 (cfr. art.º 129.º), incorporando nas respectivas normas o regime aplicável ao licenciamento de obras particulares], onde encontra assento, no n.º 5 do artigo 24.º, entre os diversos fundamentos de indeferimento do pedido de licenciamento aí elencados, contandose como um dos que recaem no âmbito dos poderes vinculados da câmara municipal no que às obras de construção, alteração, ampliação e reconstrução de edifícios concerne. E também, de modo idêntico ao que sucedia no domínio do revogado diploma, subsiste a possibilidade de reconverter uma decisão que, à partida, seria de indeferimento, num acto de aprovação do licenciamento, mediante a negociação e celebração de um acordo entre o requerente e a autarquia 8 Superfície correspondente à soma das áreas do prédio descrito sob o n.º 03333 512 m2 e da parcela 691,03 m2 a desanexar do prédio descrito sob o n.º 02513, superfície que, de acordo com o esclarecimento constante do ponto 6 das alegações de recurso, destina-se à construção de um edifício público (sede da Associação de Municípios ) que, aliás, já se encontra em construção. 13

contrato relativo ao cumprimento das obrigações assumidas pelo requerente relativamente à realização dos trabalhos necessários ou à assumpção dos encargos inerentes à execução das infra-estruturas em falta (cfr. art.º 25.º, n.º s 1 e 3) 9. O certo é que, em qualquer dos aludidos diplomas, a contratualização prevista diz respeito somente à realização ou execução das obras em causa pelo requerente, ficando excluídas desse âmbito as cedências de parcelas ao município, com vista à implantação de tais obras, a qual terá, naturalmente, que ser titulada pela via da escritura pública notarial. 10 No que a tais cedências concerne, o regime jurídico hoje constante dos artigos 43.º e 44.º do RJUE que transitou com pouco significativas alterações, do antes contido nos artigos 15.º e 16.ºdo D. L. 448/91 preconiza, no âmbito das operações de loteamento, a previsão de áreas destinadas à implantação de espaços verdes e de utilização colectiva, infra-estruturas viárias e equipamentos, parcelas estas que podem assumir natureza privada (subordinadas então à disciplina jurídica que decorre dos artigos 1420.º a 1438.º do Código Civil) ou pública, sem, todavia, impor a obrigação de cedência de certas parcelas de terreno para aquelas finalidades. 11 Já no campo das obras de edificação em locais não abrangidos por operação de loteamento, só após a introdução inovadora do artigo 57.º, n.º 5, do Regulamento em apreço, aquela exigência de previsão de tais áreas lhes passou a ser também aplicável quando respeitem a edifícios contíguos e funcionalmente ligados entre si que determinem impactes semelhantes a uma operação de loteamento, desde que tal se mostre previsto em regulamento municipal. Parece, contudo, nada invalidar a possibilidade de através de contrato do tipo referido ser convencionada a cedência ao Município de áreas com as preditas finalidades, a integrar no respectivo domínio público ou privado; sucede é que as mesmas não se configuram como efeitos inerentes e consequências necessárias do 9 Esta contratualização traduz o último grau de participação dos particulares nos procedimentos de planeamento urbanístico; trata-se da celebração de um contrato administrativo na medida em que, com a devida permissão legal, se admite que a Administração e os particulares possam, através de um acordo de vontades, alterar ou modelar o conteúdo de uma relação jurídico-administrativa. Ob. cit., págs. 212/3. 10 Terá ocorrido, no caso concreto, um considerável desfasamento de tempo entre a data da contratualização e a data da titulação. 11 Vide Parecer do CT, emitido no P.º R. P. 231/2004 DSJ-CT, in BRN, II, pág.5. 14

licenciamento da respectiva obra de edificação. Muito menos, diríamos, quando essa contratualizada cedência tem por objecto áreas cuja utilização pela autarquia não se insere nas finalidades previstas no mencionado artigo 15.º, correspondente ao actual artigo 43.º, antes se destina à satisfação de outros interesses de ordem pública, porventura, deste ponto de vista, tão meritórios se não tão importantes quanto aqueles. Do exposto ressalta, com evidência, que a utilidade dos documentos apresentados em sede de recurso, designadamente, o acordo celebrado entre os requerentes do licenciamento e a Câmara, com vista à efectivação dos demandados registos, se revela apenas como elemento indiciador da existência de uma operação de gestão urbanística levada a cabo pela Câmara Municipal em colaboração com os particulares, justificando, assim, o facto de, no caso concreto, não obstante o prédio em causa (n.º 02531), não ser propriedade da autarquia, se estar perante uma operação urbanística promovida pela administração (visando a construção de um edifício público) isenta, por isso, nos termos do n.º 1 do artigo 7.º do diploma que temos vindo a citar, da respectiva licença ou autorização, supondo que o plano municipal de ordenamento do território em cuja área se inscreve o dito prédio se encontra em vigor (atenta a certidão camarária comprovativa das condições do destaque, arquivada na conservatória recorrida). 12 Mas pode também aventar-se, considerando a área desconectada do mesmo prédio, para cedência ao domínio público - com vista à abertura de arruamentos, construção de passeios e estacionamentos e arranjo de espaços verdes que o fraccionamento material da dita parcela seja o resultado natural de tais operações (pese embora a sua previsão no aludido acordo celebrado entre os particulares e a autarquia). O destaque da parcela em causa cujo registo foi solicitado pela Ap. 21 é, assim, a nosso ver, compaginável com o ónus de não fraccionamento em vigor sobre o prédio do qual se pretende retirar a parcela registanda. Ponto é que o correspondente pedido do registo seja instruído com certidão passada pela Câmara 12 Identicamente, de acordo com o previsto nos artigos 1.º, n.º 3 e 64.º, n.º 1, alínea a) do D.L. n.º 448/91, de 29/11, conforme o regime jurídico em cujo domínio tenha decorrido o respectivo processo (cfr. art.º 128.º, n.ºs 1 e 2 do citado D. L. 555/99), tendo em linha de conta que a data do acordo, em execução do qual, aquele foi levado a cabo, é anterior à entrada em vigor do mais recente, em data, destes dois diplomas. 15

Municipal competente que naturalmente integre as plantas respectivas da qual resulte provado que o fraccionamento determinado pela cedência ao domínio privado da autarquia da aludida parcela se insere num procedimento que envolve a realização de uma operação urbanística promovida pela Administração, não configurando, assim, novo destaque, pelo que a sua efectivação não importa a violação do ónus inscrito no registo. 5 Por último, relativamente ao problema suscitado quanto à parcela com 14669, 26 m2 - cedida para integração no domínio público do Município (destinada a arruamentos, passeios, estacionamentos e espaços verdes), a desanexar do descrito sob o n.º 02513 -, a propósito das hipotecas que sobre este recaem, já que o título de cancelamento apresentado respeita apenas à área de 691,03 m2 (cedida pelo mesmo título), não se nos afigura, considerados os registos pedidos, que assuma aqui relevância. Não tendo ocorrido in casu, qualquer licença ou autorização de loteamento, a referenciada parcela não se integra automaticamente, com a emissão do alvará, no domínio público municipal (art.º 44.º, n.º 3, a contrario, mesmo Regulamento, e 16.º, n.º 2 do D.L. n.º 448/91, de 29/11). A escritura notarial através da qual foi formalizada a cedência da dita parcela, não é, necessariamente, documento comprovativo da sua natureza pública, a qual dependerá do momento em que aquele bem fica sujeito às regras próprias do regime jurídico das coisas públicas, ou seja, da altura em a mesma adquire carácter dominial. Não há, no sentido rigoroso do termo, cedência de parcela/parcelas dos particulares para o domínio público; quando essa cedência ocorra, processa-se, em primeira linha, para o domínio privado de uma pessoa colectiva de direito público; só mais tarde, pela afectação, esses bens se podem tornar dominiais. 13 Sem prejuízo do aludido título, quando exista, poder comprovar a redução da área comerciável do prédio a que respeita, única que, de facto, revela interesse do ponto de vista registral, já que os bens fora do comércio jurídico não estão sujeitos a registo, e esse é o caso das coisas pertencentes ao domínio público. Questão diversa, que não está propriamente em tabela nos autos ainda que tenha sido equacionada pela Sr.ª Conservadora recorrida -, é a da 13 Cfr. parecer proferido no P.º R. P. 160/2003, in BRN, II. 16

legitimidade para a referida cedência por parte apenas da titular inscrita do prédio, a sociedade SA - quando sobre o mesmo incidiam três hipotecas a favor da - para, mediante acto voluntário seu, subtrair ao prédio delas objecto toda a área cedida ao Município, com vista à respectiva integração no domínio público, concretizando, deste modo, sem consentimento do credor, uma diminuição das garantias respectivas, isto mesmo admitindo, face à situação factual descrita, o conhecimento da situação em causa e eventual consentimento por parte da identificada entidade credora. Problema que poderia, de igual modo, suscitar-se no caso da transferência da referenciada parcela para o Município se ter efectivado pela via da expropriação por utilidade pública e não mediante a sua cedência voluntária, sendo que, naquele procedimento, em razão da dita declaração, o bem é transferido para o património do expropriante em consequência da adjudicação judicial ou da celebração do acordo de expropriação amigável, enquanto os direitos anteriores sobre o prédio são abolidos e substituídos pelo crédito indemnizatório. De tal sorte que, extintos pela referida declaração os direitos reais inerentes ao prédio, os sujeitos atingidos pela expropriação ficam com um direito de crédito à indemnização, sub-rogado no seu património, no lugar do prédio, o que justifica que os direitos do credor hipotecário, indirectamente afectados pela medida, passem a exercer-se sobre a indemnização [Cfr. art.º s 730.º, alínea c) e 692.º, n.ºs 1 e 3, C. C.]. No caso em análise, perecendo a coisa hipotecada, ou tornando-se a hipoteca insuficiente para segurança da obrigação, o credor tem o direito de exigir que o devedor a substitua ou reforce, sendo que, no caso deste o não fazer nos termos da lei do processo, pode exigir o imediato cumprimento da obrigação [Cfr. art.º s 730.º, alínea c) e 701.º, n.º 1]. Eis o que, muito sinteticamente, nos cumpre dizer a propósito; atento o facto de, pelo motivo aduzido, a questão exposta não assumir relevo na qualificação dos factos registandos, nada mais entendemos acrescentar ao anteriormente esplanado. 6 Deste modo, entendemos que o recurso merece provimento parcial, devendo ser convertido em definitivo o registo de aquisição requisitado pela Ap. 18. A conversão do outro registo efectuado provisoriamente por dúvidas 17

Ap.21, bem como a feitura dos registos recusados Aps. 22/24, só poderá efectuar-se com base no correspondente pedido, instruído, no 1.º caso, com a certidão camarária a que fizemos referência na parte final do ponto 4 da Fundamentação, para além do acordo junto em sede de impugnação, e, nos demais (cancelamentos) com o documento autêntico ou autenticado de que conste o consentimento do credor, nos termos previstos no artigo 56.º do Código do Registo Predial. Em conformidade, formulamos a seguinte C O N C L U S ÃO O ónus de não fraccionamento por um prazo de dez anos, contados da data do destaque anterior, previsto nos números 4 e 5 do artigo 6.º do D.L. n.º 555/99, de 16/12, com as alterações introduzidas pelo D.L. n.º 177/2001, de 4/06 e pela Lei n.º 4-A/2003, de 19/02, e inscrito no registo predial, nos termos da previsão contida no n.º 7 do mesmo preceito, sobre as parcelas resultantes do destaque, significa que, durante esse lapso temporal, não é permitido efectuar novos destaques nas parcelas (prédios) dele objecto, sem prejuízo do recurso a uma operação de loteamento sujeita à respectiva licença ou autorização. Não configuram destaque para os ditos efeitos, as situações em que o fraccionamento fundiário em nova parcela, antes de decurso do prazo referido, tem como causa, não um acto voluntário dos particulares, mas uma acção da responsabilidade da administração (v.g. parcelas expropriadas para construção de arruamentos públicos, nelas se incluindo os lotes resultantes da cedência amigável de um terreno dentro de um processo de expropriação ou mesmo dentro de um procedimento contratualizado entre os particulares e a administração), no âmbito de uma operação de gestão urbanística levada a cabo pela Câmara Municipal, tendo por objecto a construção de um edifício público. 18

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em 04.06.2007. 19