ESTUDO DA FLUIDODINÂMICA EM UM LEITO DE JORRO BIDIMENSIONAL COM ALIMENTAÇÃO NÃO CONVENCIONAL

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Transcrição:

ESTUDO DA FLUIDODINÂMICA EM UM LEITO DE JORRO BIDIMENSIONAL COM ALIMENTAÇÃO NÃO CONVENCIONAL R. SCATENA, M.F. FALEIROS, B.C. SILVA, C.R. DUARTE e M.A.S. BARROZO Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Química e-mail: rafascatena@gmail.com RESUMO Desde sua descoberta em 1955, o leito de jorro cônico-cilíndrico tem encontrado diversas aplicações em virtude do eficiente contato fluido-partícula e das altas taxas de transferência de massa e calor. Porém, esse equipamento encontra sérias restrições de scale-up, o que torna impraticável certas aplicações industriais. Uma alternativa para evitar a instabilidade do leito é o uso de uma configuração bi-dimensional com uma alimentação de ar não convencional. O objetivo desse estudo foi reproduzir através de simulação via CFD (Computational Fluid Dynamics) o escoamento no interior de um leito de jorro bidimensional não convencional. A abordagem Euler-Euler, que trata ambas as fases gás-sólido como contínuas, foi empregada. Os resultados experimentais de fração de sólidos foram comparados, sob as mesmas condições, com os resultados de simulação. As simulações mostraram uma boa capacidade de previsão da dinâmica das partículas no interior do leito. 1. INTRODUÇÃO Desenvolvido inicialmente por Mathur e Gishler (1955), o leito de jorro mostrou-se muito eficaz para processos de contato entre gás e partículas. O emprego de leitos de jorro para unidades de resfriamento de sólidos, granulação, revestimento de sólidos, cristalização, etc., é comumente encontrado, no entanto tal técnica raramente é aplicada em processos industriais devido a dificuldades de scale-up. De acordo com Dogan et al. (2000), leitos com mais de 300 mm de diâmetro já apresentam dificuldades em manter uma performance contínua. Para superar tal obstáculo, modificações foram propostas por Mujumdar (1984) a fim de facilitar o scale-up desse equipamento. A ideia foi construir um leito de jorro bidimensional, que logo após foi chamado de leito de jorro retangular por Dogan et al. (2000). Sua estrutura simples e de fácil construção trouxe grande flexibilidade aos estudos dos diferentes regimes causados pelas variações dos parâmetros de projeto, como por exemplo: ângulo da base, dimensões da entrada de ar, base e coluna, velocidade do ar, densidade, diâmetro das partículas, dentre outras. A fluidodinâmica computacional (CFD) contribuiu bastante no que diz respeito à previsão de comportamentos de escoamentos de sistemas multifásico em leitos de jorro. Conforme estudos apresentados na literatura (Duarte et al., 2009; Du et al., 2006; Lu et al., 2001, 2004; Taghipour et al., 2003; Kawaguchi et al., 2000; Konduri et al., 1999; Krzywanski et al., 1992). Duarte et al. (2008) e Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 1

Wei et al. (2006), mostraram que é possível descrever a fluidodinâmica das partículas e do gás no interior de leitos de jorro utilizando uma Modelagem Euleriana Granular Multifásica implementada no pacote computacional Ansys FLUENT 14.0. A pesquisa desenvolvida neste trabalho teve como objetivo estudar, através de simulações via CFD, o escoamento no interior de um leito de jorro bidimensional. Para isso, diferentes parâmetros como velocidade de entrada do ar e altura do leito estático foram simulados e comparados com resultados experimentais obtidos por Chen (2008). Ferramentas como essas geram perspectivas positivas acerca do desenvolvimento de possíveis geometrias e condições perfeitas para leitos de jorro em maiores escalas. 2. MATERIAIS E MÉTODOS No presente estudo foi empregado um leito de jorro do tipo bidimensional, cujo material constituinte é polimetil-metacrilato (plástico acrílico), com dimensões iguais às estudadas por Chen (2008), conforme descritas na Figura 1. Na qual: a = 300 mm; h =173,2 mm; b = 100 mm; y = 60º; Hc = 1000 mm; x= 100x4 mm. Figura 1 Dimensões do leito empregado no estudo. As partículas utilizadas neste projeto foram esferas de vidro, cujo diâmetro médio (dp) = 1.33 mm, esfericidade (φs) = 1.0, fração sólida (Es 0 ) = 0.58 e densidade (ρs) = 2490 kg/m 3. No estudo de simulação via CFD, foi utilizada uma configuração de malha tridimensional (3D), hexaédrica e com aproximadamente 311.800 células, confeccionada no software ICEM (malha do tipo não-estruturada). A Figura 2 mostra a vista isométrica da malha em questão. Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 2

Neste estudo, foi adotado o modelo Euleriano Granular Multifásico (MEGM), que trata as fases gasosa e sólida como mutuamente interpenetradas, o que torna necessário o uso do conceito de fração de volume para cada uma das fases envolvidas. As leis de conservação de massa e momentum devem ser satisfeitas para cada fase individualmente. Neste sentido, a descrição do fluxo multifásico abrange as frações volumétricas de cada fase. Mais informações sobre o MEGM podem ser encontradas em Santos (2011). Figura 2 Vista isométrica da malha 3D utilizada nas simulações. As velocidades de alimentação e altura de leito estático são parâmetros que foram escolhidos de modo que contemplasse diferentes tipos de jorros, como mostrado na Figura 3. Nesta figura, tem-se: 1 - regime jorro interno (IJ); 2 - regime de slugging (SL); 3 regime de jorro estável (SS). Figura 3 Mapeamento dos regimes de jorro no decréscimo de velocidade, utilizando partículas de 1.33 mm. Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 3

As propriedades que foram adotadas nas simulações realizadas através do software Ansys FLUENT 14.0, incluindo condições de contorno, estão descritas na Tabela 1. Tabela 1 - Condições de contorno utilizadas nas simulações Partícula granular (φ=1) Modelo Euleriano Multifásico (implícito) Interação fluido-partícula: Gidaspow Viscosidade granular: Syamlal-Obrien Viscosidade granular: Lun-et-al Pressão de sólidos: Lun-et-al Distribuição radial: Lun-et-al Referência da pressão à saída do leito Condição de entrada: Velocidade de fluido Modelo de Modelo k-épsilon Turbulência: Acoplamento Pressão-Velocidade: SIMPLE Gradiente: Least Squared Cell Based Momento: Upwind de 1º ordem Discretização espacial Fração Vol.: Upwind de 1º ordem Turbulência: Upwind de 1º ordem Parâmetros de Relaxação Pressão: 0,3 Viscosidade turbulenta: 0,8 Temperatura granular: 0,2 Momentum: 0,1 Fração volumétrica: 0,5 Critério de convergência dos resíduos 10-3 Passo de tempo (time step) 10-3 s 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados simulados foram comparados, sob as mesmas condições, com os dados experimentais obtidos por Chen (2008). As Figuras 4, 5 e 6 mostram o contorno de fração de sólidos simulado e a representação experimental do regime de jato interno, regime de slugging e regime de jorro estável propostas, experimentalmente, por Chen (2008), respectivamente. A partir da Figura 4, nota-se uma satisfatória concordância dos resultados de simulação com os regimes experimentais, mesmo com a pequena faixa de ocorrência de jorro interno (Figura 3). Esse regime de jorro não é usualmente utilizado, pois grande parte das partículas não são fluidizadas. Neste caso, a pressão exercida pelo gás para efetuar o arraste das partículas não consegue vencer a pressão relacionada ao peso das partículas, fazendo com que haja circulação apenas de uma parte do leito. Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 4

a) b) Figura 4 a) contorno de fração de sólidos obtido numericamente para jato interno; b) esquema representativo do regime de jorro interno obtido por Chen (2008). a) b) Figura 5 a) contorno de fração de sólidos obtido numericamente para slugging; b) esquema representativo do regime de slugging obtido por Chen (2008). Na Figura 5, pode-se verificar, através do contorno de fração de sólidos simulado, a ocorrência do regime de slugging, condizendo com esquema representativo proposto por Chen (2008). Este tipo de jorro é muito comum em materiais do grupo B da classificação de Geldart, porém é mais comum em leitos fluidizados do que em leito de jorro. Isso mostra mais uma vez a grande faixa de utilização das técnicas de CFD para simular tipos de escoamento não convencionais do equipamento. Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 5

a) b) Figura 6 a) contorno de fração de sólidos obtido numericamente para jorro estável; b) esquema representativo do regime de jorro estável obtido por Chen (2008). A Figura 6 apresenta resultados de um regime de jorro estável, que é muito utilizado industrialmente, tanto no recobrimento de partículas quanto na secagem de grãos de uma maneira geral. Os resultados representativos do regime de jorro estável mostrou-se um pouco diferente dos resultados simulados, porém de acordo com resultados de Santos (2011), o regime de jorro estável se comporta, fielmente, como o mostrado pela Figura 6.a. Foram testados ainda outros tipos de jorro, como o de jorro instável, jorro oscilante normal à fresta de alimentação, jorro oscilante perpendicular à fresta de alimentação, jato fluidizado, múltiplos jorros, etc. Porém, devido ao fato deste tipo de leito de jorro apresentar comportamento de jorros diferentes ao se utilizar a velocidade superficial do ar crescente e decrescente, não foi possível confrontar outros tipos de jorros experimentais com os simulados. Isso deve-se à dificuldades que a modelagem Euler-Euler tem na diferenciação de jorros entre as curvas de ida (acréscimo de velocidade) e volta (decréscimo de velocidade). 4. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos nesse trabalho e junto aos dados experimentais de Chen (2008) é possível concluir que: 1- A utilização da fluidodinâmica computacional (CFD) mostrou-se qualitativamente positiva no estudo de caracterização de regimes em leitos de jorros não convencionais; 2- Não foi possível, utilizando a modelagem Euler-Euler, caracterizar regimes onde o decréscimo ou o acréscimo de velocidade definem mais de um tipo de jorro. Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 6

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHEN, Z., Hydrodynamics, stability and scale-up of slot-rectangular, Tese (pós-doutorado), Vancouver, The University of British Columbia, 2008. DOGAN, O. M., FREITAS, L. A. P., LIM, C. J., GRACE, J. R., LUO, B., Hydrodynamics and stability of slot-rectangular spouted beds - part i, Thin bed. Chem. Eng. Commun., v. 181, p. 225 242, 2000. DU, W., BAO, X., XU, J. AND WEI, W., Computational fluid dynamics (CFD) modeling of spouted bed: assessment of drag coefficient correlations, Chem. Eng. Sci., v. 61, p. 1401-1420, 2006. DUARTE, C. R.; MURATA, V. V.; BARROZO, M. A. S., Experimental and numerical study of spouted bed fluid dynamics, Braz. J. Chem. Eng., v. 25, p. 95-107, 2008. KAWAGUCHI, T., SAKAMOTO, M. AND TSUJI, T. T., Quasi-three-dimensional numerical simulation of spouted beds in cylinder, Powder Technol., v. 109, p. 3-12, 2000. KONDURI, R.K.; ALTWICKER, E.R.; MORGAN III, M.H., Design and scale up of a spouted-bed combustor. Chem. Eng. Sci., v. 54(2), p. 185 204, 1999. KRZYWANSKI, R.S.; EPSTEIN, N.; BOWEN, B.D., Multi-dimensional model of a spouted bed. Can. J. Chem. Eng., v. 70(5), p. 858 872, 1992. LU, H. L., HE, Y. R., LIU, W. T., DING, J. M., GIDASPOW, D., BOUILLARD, J., Computer simulations of gas-solid flow in spouted beds using kinetic-frictional stress model of granular flow, Chem. Eng. Sci., v. 59(4), p. 865-878, 2004. MATHUR, K. B. & GISHLER, N., A technique for contacting gases with coarse solid particles, AIChE J., v. 1, p.157-164, 1955. MUJUMDAR, A., Spouted bed technology - a brief review, Drying, v. 84, 1984. SANTOS, D. A., Contribuições ao estudo da fluidodinâmica em leito de jorro estudos experimentais e de simulação via CFD, dissertação (mestrado), UFU, 2011. TAGHIPOUR, F., ELLIS, N. AND WONG, C., Experimental and computational study of gas-solid fluidized bed hydrodynamics, Chem. Eng. Sci., v. 60, p. 6857-6867, 2005. 6. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelos recursos concedidos no Projeto de Participação Coletiva em Eventos Técnicos- Científicos (PCE-00082-14) ao CNPq e a CAPES pelo apoio técnico-financeiro destinado à execução deste trabalho. Área temática: Simulação, Otimização e Controle de Processos 7