EFEITO DO SUBSTRATO E DO ÁCIDO INDOLBUTÍRICO NO ENRAIZAMENTO DE MINIESTACAS DE Cabralea canjerana (VELL.) MARTIUS¹

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Transcrição:

EFEITO DO SUBSTRATO E DO ÁCIDO INDOLBUTÍRICO NO ENRAIZAMENTO DE MINIESTACAS DE Cabralea canjerana (VELL.) MARTIUS¹ GIMENES, E. S. 2, KIELSE, P. 3, LENCINA, K. H. 2, HEBERLE, M. 2, PIMENTEL, N. 2, QUADROS, K. M. 2, SCHWALBERT, R. 4, BISOGNIN, D. A. 4 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Curso de Engenharia Florestal (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil ³ Dr. Engenheira Florestal, Pós-doutoranda do Laboratório de Melhoramento e Propagação Vegetativa de Plantas (UFSM); 4 Curso de Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: eliseoiii@hotmail.com; RESUMO O objetivo do trabalho foi avaliar o enraizamento de miniestacas de canjerana em função do substrato, do ácido indolbutírico (AIB) e do tempo de permanência em câmara de nebulização. No primeiro experimento, as miniestacas foram tratadas com 2000 ppm de AIB e cultivadas em: S 1 substrato orgânico HF, S 2 substrato orgânico HF, areia grossa e casca de arroz carbonizada, S 3 areia grossa e S 4 casca de arroz carbonizada. No segundo experimento, as miniestacas foram tratadas com 0, 1000 e 2000 ppm de AIB e cultivadas no substrato S 2. As porcentagens de enraizamento e sobrevivência das miniestacas foram avaliadas aos 30 e 60 dias. O tratamento constituído de substrato orgânico, areia e casca de arroz carbonizada forneceu as melhores respostas de enraizamento e sobrevivência das miniestacas. A aplicação de 2000 ppm de AIB, bem como a permanência das miniestacas em câmara úmida por 60 dias, favoreceu o enraizamento adventício de canjerana. Palavras chave: Canjerana, miniestaquia, AIB 1. INTRODUÇÃO Cabralea canjerana (Vell.) Martius, conhecida popularmente por canjerana, é espécie arbórea que pertence a família Meliaceae. A madeira é considerada uma das mais valiosas do sul do Brasil, por apresentar excelente qualidade e resistência contra o ataque de insetos xilófagos. Da casca do caule da canjerana pode-se extrair corante, que tem sido empregado na indústria de tinturaria, especialmente para tingir pelegos. Além disso, a casca do caule e das raízes da árvore apresenta propriedades medicinais, podendo ser utilizada como purgativo, febrífugo, abortivo, antidispéptico, adstringente e emético. No Rio Grande do Sul, a floração de canjerana ocorre de fevereiro a março e a frutificação de julho a dezembro (CARVALHO, 2006). As sementes apresentam comportamento recalcitrante ao armazenamento, o que tem dificultado a produção de mudas em virtude da rápida perda da viabilidade das sementes durante a secagem. Este processo é iniciado quando a semente é

separada do fruto, sendo observada redução do poder germinativo após 10 dias do beneficiamento (LONGHI et al., 1984). Por essa razão, a sementes de canjerana devem ser colocadas para germinar logo após a maturação. A propagação vegetativa é indicada para espécies que apresentam dificuldade de reprodução via seminal, seja pela dificuldade de germinação ou pelo fato da semente ser insumo limitante (KRAMER; KOWLOWSKI, 1960). Outra vantagem da propagação vegetativa é a redução do tempo da cultura, pois as plantas formadas são capazes de florescer mais rápido se comparadas àquelas de origem seminal, uma vez que não passam pela fase de plântula (HARTMANN et al., 2010). Além disso, o uso da propagação vegetativa é indispensável quando se deseja multiplicar genótipos com características desejáveis, pois, normalmente, os indivíduos formados são geneticamente idênticos à planta que os originou (PAIVA; GOMES, 2005), o que é de relevante importância em programas de melhoramento florestal. Entre os principais métodos de propagação vegetativa destacam-se a estaquia, a miniestaquia e a micropropagação. A estaquia é um importante instrumento em programas de melhoramento genético, considerando que o processo de seleção de genótipos desejáveis ocorre na fase adulta, pelo enraizamento de estacas para a obtenção dos clones (WENDLING; XAVIER, 2003). Entretanto, o uso dessa técnica tem sido limitado pelo baixo potencial de enraizamento de propágulos obtidos de árvores adultas (HARTMANN et al., 2010). A miniestaquia é uma técnica recente que surgiu a partir do aprimoramento da estaquia, visando contornar as dificuldades de enraizamento de alguns clones adultos de Eucalyptus. Semelhante à técnica de estaquia, a miniestaquia baseia-se no conceito da juvenilidade, característica determinante no enraizamento de espécies lenhosas (HARTMANN et al., 2010). O uso dessa técnica tem possibilitado ganhos no processo de produção de mudas de espécies do gênero Eucalyptus, pois o maior grau de juvenilidade das miniestacas confere maior potencial de enraizamento adventício. Além disso, miniestacas têm apresentado sistema radicular mais vigoroso, favorecendo o desempenho da muda no campo (WENDLING; XAVIER, 2005). No entanto, pouco se conhece sobre o uso da miniestaquia para a propagação vegetativa de espécies arbóreas nativas, sendo necessária a realização de trabalhos que elucidem os fatores que podem estar envolvidos no enraizamento adventício dessas espécies. Na propagação vegetativa, o substrato tem papel fundamental no enraizamento, pois permite a fixação da estaca e o crescimento radicular. Contudo, é difícil encontrar todas as características ideais em um único componente, sendo normalmente recomendada a mistura de materiais para a elaboração do substrato. O estímulo hormonal também é fator determinante ao enraizamento (SMART et al., 2003), sendo o ácido indolbutírico (AIB)

comumente utilizado para auxiliar a formação de raízes adventícias. Em cedro-australiano (Toona ciliata M. Roemer), não foi necessária a aplicação de auxina para a formação de raízes nas miniestacas (SOUZA et al., 2009). Em estudo de miniestaquia de leiteiro (Sapium glandulotum Vell.), também foi verificado que as doses de AIB não influenciaram as respostas de enraizamento das miniestacas (FERREIRA et al., 2010). O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da composição do substrato e das doses de ácido indolbutírico no enraizamento de miniestacas de canjerana. 2. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi desenvolvido no Núcleo de Melhoramento e Propagação Vegetativa de Plantas (MPVP), Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), nos meses de março e abril de 2012. Para a realização dos experimentos, mudas de canjerana acondicionadas em potes plásticos contendo 300 cm 3 de substrato orgânico foram submetidas à poda drástica para formar as minicepas, que após 30 dias emitiram os brotos utilizados para o preparo das miniestacas (Figura 1A). No primeiro experimento, miniestacas de gema única, com 1,5 a 2,0 cm de comprimento e uma folha reduzida pela metade, foram tratadas em solução com 2000 ppm de ácido indolbutírico (AIB), por 10 segundos, e cultivadas na posição vertical em bandejas de polietileno (55 x 34 x 15 cm) contendo os seguintes substratos: substrato 1 substrato orgânico HF, substrato 2 substrato orgânico HF, areia de granulometria grossa e casca de arroz carbonizada (1:1:1 v/v), substrato 3 areia grossa, e substrato 4 casca de arroz carbonizada. A solução de AIB foi previamente dissolvida em 50% de álcool etílico (98 GL) e diluída em 50% de água destilada. Os cultivos foram mantidos em câmara de nebulização, com temperatura de 25 C e umidade relativa do ar de 80%. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com cinco repetições de quatro miniestacas por tratamento. Foram avaliados a porcentagem de enraizamento e de sobrevivência das miniestacas, aos 60 dias da instalação do experimento. No segundo experimento, miniestacas de gema única, com 1,0 a 1,5 cm de comprimento e uma folha reduzida pela metade, foram tratadas em solução de 0, 1000 e 2000 ppm de AIB, por 10 segundos, e cultivadas em bandejas de polietileno contendo substrato orgânico HF, areia de granulometria grossa e casca de arroz carbonizada (1:1:1). Os cultivos foram mantidos em câmara de nebulização com temperatura de 25 C e umidade relativa do ar de 80%. As porcentagens de enraizamento e sobrevivência das miniestacas foram avaliadas aos 30 e 60 dias de permanência na câmara de nebulização. O experimento foi um fatorial 2 x 3 (tempo de permanência na câmara e doses de AIB) no delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições de quatro miniestacas por tratamento.

Em ambos os experimentos, os dados foram submetidos à análise de variância, com médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro experimento, foi verificada influência do substrato no enraizamento e sobrevivência das miniestacas de canjerana (p 0,05). O tratamento constituído pela mistura de substrato orgânico, areia e casca de arroz carbonizada (1:1:1 v/v) forneceu as melhores respostas de enraizamento e sobrevivência (Tabela 1). Resultado similar foi obtido em miniestacas de erva-mate (Ilex paraguariensis Saint Hill.), no qual foi observado que a mistura de substratos (casca de arroz carbonizada, substrato comercial à base de pinus e vermiculita) possibilitou maior porcentagem de enraizamento (BRONDANI et al., 2007). Por outro lado, em estudo de miniestaquia de espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek), observou-se maior capacidade de enraizamento das miniestacas cultivadas em substrato orgânico puro (LIMA et al., 2009), discordando dos resultados obtidos no presente estudo (Tabela 1). Segundo Wendling e Gatto (2002), a escolha da composição do substrato deve ser realizada em função da espécie e das condições de enraizamento, sendo este último variável de acordo com o manejo adotado na produção de mudas. Tabela 1. Porcentagens de enraizamento e sobrevivência de miniestacas de canjerana (Cabralea canjerana) tratadas com 2000 ppm de ácido indolbutírico e cultivadas em diferentes substratos, avaliadas aos 60 dias em câmara de nebulização. Santa Maria, RS, 2012. Fonte de variação Porcentagem de enraizamento Porcentagem de sobrevivência Substrato 1 15 b * 70 b Substrato 2 75 a 100 a Substrato 3 45 b 30 c Substrato 4 30 b 15 c Média 41,25 53,75 CV (%) 39,44 14,13 * Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade de erro. Substrato 1 - substrato orgânico, Substrato 2 - substrato orgânico, areia e casca de arroz carbonizada (1:1:1 v/v), Substrato 3 - areia e Substrato 4 - casca de arroz carbonizada. No segundo experimento, não foi observada interação significativa entre as doses de AIB e o tempo de permanência das miniestacas na câmara úmida (p 0,05), sendo os fatores avaliados de forma independente. As miniestacas de canjerana tratadas com 2000 ppm de

AIB (Figura 1B) apresentaram maior porcentagem de enraizamento (52,5%), diferindo significativamente dos demais tratamentos (Tabela 2). A permanência das miniestacas em câmara úmida por 60 dias favoreceu o enraizamento. Em ambos os tempos de permanência, observou-se boas respostas de sobrevivência das miniestacas, indicando que as condições do ambiente foram adequadas para a manutenção do material vegetal, tanto aos 30 quanto aos 60 dias de cultivo. Em miniestacas de leiteiro (Sapium glandulatum Vell.) tratadas com 2000 ppm foi observado 68,5% de enraizamento, mas esse tratamento promoveu as piores respostas de sobrevivência (7,45%), justificada por possível efeito tóxico da auxina (FERREIRA et al., 2010). Fachinello et al. (2005) mencionam que o uso de auxina favorece o enraizamento adventício até uma dose máxima, a partir da qual provoca efeito fitotóxico. Neste experimento, a dose de 2000 ppm não se mostrou tóxica às miniestacas de canjerana. A B Figura 1. Brotos em minicepa de canjerana (Cabralea canjerana) (A) e raízes em miniestaca de canjerana tratada com 2000 ppm de ácido indolbutírico A (AIB), aos 60 dias de avaliação (B). Barra = 1,0 cm. Santa Maria, RS, 2012. Na propagação vegetativa, o curto período de enraizamento e uma adequada aclimatização das plantas são fatores de relevante importância para a eficiência do processo de produção de mudas. No caso da canjerana, estudos têm mostrado que miniestacas mantidas em ambiente de enraizamento, por 30 dias, não apresentam bom desenvolvimento durante a fase de aclimatização (dados não publicados). Por outro lado, miniestacas

mantidas por 60 dias em câmara apresentaram satisfatório vigor vegetativo durante a fase de aclimatização, indicando que o maior período de permanência do material vegetal no ambiente de enraizamento favorece o posterior desenvolvimento das plantas, apesar de aumentar o tempo para a produção de mudas. Tabela 2. Porcentagens de enraizamento e sobrevivência de miniestacas de canjerana (Cabralea canjerana) em função das doses de ácido indolbutírico (AIB) e do tempo de permanência na câmara de nebulização. Santa Maria, RS, 2012. Doses de AIB (ppm) Porcentagem de enraizamento Porcentagem de sobrevivência 2000 52,5 a * 100 a 1000 15,0 b 85 b 0 7,5 b 80 b Tempo de permanência (dias) 60 40 a 86 a 30 10 b 90 a CV (%) 51,15 14,98 * Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade de erro. Estudos adicionais estão sendo desenvolvidos no Núcleo de Melhoramento e Propagação Vegetativa de Plantas, para avaliar o comportamento das miniestacas em função do tempo de permanência em câmara de nebulização, visando à obtenção de plantas que apresentem maior vigor vegetativo durante a aclimatização e um eficiente processo de produção de mudas. 4. CONCLUSÕES Miniestacas de canjerana cultivadas em substrato comercial à base de casca de pinus, areia e casca de arroz carbonizada (1:1:1 v/v) apresentam maior capacidade de enraizamento e sobrevivência. O uso de 2000 ppm de AIB favorece a indução de raízes em miniestacas de canjerana. REFERÊNCIAS

BRONDANI, G.E. et al. Ambiente de enraizamento e substrato na miniestaquia de ervamate. Scientia Agraria, Curitiba, v. 8, n. 3, p. 257-267, 2007. CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, v. 2, 2006, 628 p. FACHINELLO, J. C.; HOFFMANN, A.; NACHTIGAL, J. C. (Eds). Propagação de plantas frutíferas. Brasília: Embrapa Informações Tecnológicas. 2005. 221 p. FERREIRA, B. G. A.; ZUFFELLATO-RIBAS, K. C.; WENDLING, I.; KOEHLER, H. S.; NOGUEIRA, A. C. Miniestaquia de Sapium glandulatum (Vell.) Pax com o uso de ácido indolbutírico e ácido naftaleno acético. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 20, n. 1, p. 19-31, 2010. HARTMANN, H. T.; KESTER, D. E.; DAVIES, F. T.; GENEVE, R. L. Plant propagation: principles and practices. New Jersey: Prentice Hall, 2010. 915 p. KRAMER, P. J.; KOSLOWSKI, T. T. Fisiologia das árvores. 1 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1960. 745p. LIMA, D. M. de; TANNO, G.N.; PURCINO, M.; BIASI, L.A.; ZUFFELLATO-RIBAS, K.; ZANETTE, F. Enraizamento de miniestacas de espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek) em diferentes substratos. Ciência Agrotécnica, Lavras, v. 33, n. 2, p. 617-623, 2009. LONGHI, R. A.; MARQUES, S. E.; BISSANI, V. Época de colheita, tratamento de sementes e métodos de semeadura utilizados no viveiro florestal de Nova Prata. In: CONGRESSO FLORESTAL ESTADUAL, 5., 1984, Nova Prata. Anais... Nova Prata: 1984. v.2, p.533-553. PAIVA, H. N.; GOMES, J. M. Propagação vegetativa de espécies florestais. 3. ed. Viçosa: UFV, 2005. 46 p. (Caderno didático, 83) SMART, D. R.; KOCSIS, L.; WALKER, A.M.; STOCKERT, C. Dormant buds and adventitious root formation by Vitis and other woody plants. Journal of Plant Growth Regulation, New York, v. 21, p. 296-314, 2003.

SOUZA, J. C. A. V.; BARROSO, D.G.; CARNEIRO, J.G.A.; TEIXEIRA, S.L.; BALBINOT, E. Propagação vegetativa de cedro-australiano (Toona ciliata M. Roemer) por miniestaquia. Revista Árvore, Viçosa, v. 3, n. 2, p. 205-213, 2009. WENDLING, I.; GATTO, A. Substrato, adubação e irrigação na produção de mudas. Viçosa: Aprenda Fácil, 2002. 145 p. WENDLING, I; XAVIER, A. Miniestaquia seriada no rejuvenescimento de clones de Eucalyptus. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 38, n. 4, p. 475-480, 2003. WENDLING, I.; XAVIER, A. Influência da miniestaquia seriada no vigor radicular de clones de Eucalyptus grandis. Revista Árvore, Viçosa, v. 29, n. 5, p. 681-689, 2005.