LARVA ARAME Conoderus scalaris EM CULTIVARES DE AMENDOIM SOB DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO EM PALHADA DE CANA-DE-AÇUCAR José Roberto Scarpellini Denizart Bolonhezi Osvaldo Gentilin Júnior RESUMO Com o objetivo de se avaliar os danos da larva arame em vagens de dois cultivares de amendoim, sob diferentes sistemas de cultivo sobre palhada de cana-de-açúcar, foi instalado este estudo em Ribeirão Preto, SP, no período de 06/12/2004 a 27/04/2005. Os tratamentos consistiram de três sistemas de cultivo; convencional, cultivo mínimo e semeadura direta sobre palhada e dois cultivares de amendoim, IAC-Tatu ST e IAC- Caiapó. Foram amostrados 6 (seis) metros de linha, nos quais foram colhidas todas as plantas. Avaliou-se o número total de vagens por amostra e total de vagens danificadas. Observou-se que o cultivar IAC-caiapó foi o mais danificado, sendo maior a infestação de larva arame no sistema de plantio direto que nos demais. Palavras chaves: amendoim, plantio convencional, plantio direto, Ribeirão Preto ABSTRACT An experiment was conducted at Ribeirão Preto locality from 06/12/2004 to 27/04/2005, to compare three different tillage systems and two peanut cultivars, being evaluated the damage in the pods of peanuts. The experimental design was a split-splot with four replicates in a randomized complete block design. Tillage systems included full-tillage, minimun tillage and no-tillage. The cultivars were IAC-Tatu ST and IAC-Caiapó. Near the harvest, six meters of culture per plot were collected, where the pods were counted and the damage was evaluated. The results showed that the damage is higher in the no-tillage system than the others. The cultivar IAC-Caiapó was more susceptible, maybe it stays more time in the field. (1) APTA Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, C P. 271, CEP 14001-970, Ribeirão Preto, SP. e-mail:jrscarpellini@aptaregional.sp.gov.br 246
2 1 INTRODUÇÃO Considerando que anualmente no Estado de São Paulo, dos 3,2 milhões de ha com canaviais, sejam renovados 150 mil ha colhidos sem queimar, o SPD da cultura de sucessão (soja e amendoim) sobre palhada de cana-de-açúcar, surge como uma expressiva e inovadora iniciativa.por outro lado, o Brasil é o segundo país em área cultivada com Sistema Plantio Direto (SPD), estimando-se cerca de 14 milhões de ha, que representam 25% da área total utilizada para agricultura (DERPSCH, 2000). Dentre as vantagens já comprovadas pela pesquisa e validadas pelos agricultores, a redução no custo de produção e a maior disponibilidade de água para as culturas tem sido apregoadas, mais recentemente, como as principais razões para adoção do sistema. Entretanto, devido a manutenção de restos culturais na superfícies, quando não se realiza rotação de culturas, sérios problemas fitossanitários podem ocorrer. Para as condições do Texas (EUA), o amendoim produzido sobre plantio direto apresentou perdas de produtividade da ordem de 33% (GRICHAR & BOSWELL, 1987). No Estado de Virginia (EUA), dois sistemas de cultivo mínimo foram estudados em cultivar produtora de grãos de tamanho grande, tendo-se observado reduções médias de 19% na produtividade em relação ao tratamento convencional, e resultados inconsistentes com relação ao tamanho dos grãos comerciais (WRIGHT & PORTER, 1991). Alternativamente, técnicas de preparo do solo imediatamente antes do plantio, como forma de reduzir a erosão, produziram ganhos em torno de 10% em produtividade, em relação às práticas convencionais (WRIGHT, 1991). Pesquisas conduzidas no Estado da Georgia (EUA), verificaram menor infestação por Thrips sp. e menor severidade de Rhizoctonia sp. no sistema cultivo mínimo. BOLONHEZI et al. (2001), conduzindo em Ribeirão Preto/SP, experimentos comparando os sistemas convencional (arado de aiveca e grade), cultivo mínimo (subsolador) e plantio direto de duas cultivares de amendoim sobre palhada de cana-de-açúcar. Os dados parciais, demonstraram que a produção de grãos foi 30% maior no SPD em relação ao convencional, mesmo com redução de 16% na população final de plantas. Pode-se inferir, que a grande quantidade de palhada de cana (cerca de 15 t.ha-1) nas parcelas do tratamento plantio direto, contribuiu para aumentar a disponibilidade de água, atenuando a deficiência hídrica ocorrida no período e refletindo em um aumento de 9 % no rendimento de grãos. SCARPELLINI & BOLONHEZI (2002) observaram que não houveram diferenças significativas na infestação de larva arame Conoderus scalaris nos diferentes sistemas de cultivo, com índices de infestação variando de 4 a 9 %, com o cultivar IAC-Caiapó apresentando mais danos que IAC-Tatu ST e SCARPELLINI et al. (2004) observaram maiores danos no sistema de plantio direto, bem 247
3 como o cultivar IAC-Caiapó apresentando maiores danos que IAC-Tatu ST, provavelmente por permanecer mais tempo no campo. Embora SCARPELLINI & BUSOLI, 2001; SCARPELLINI & NAKAMURA, 2002, demontrem que para a região de Ribeirão Preto-SP, as principais pragas são os tripes Enneothrips flavens e a lagarta-do-pescoço vermelho Stegasta bosqueella, nos últimos anos vem sendo constatado pragas de solo, como os percevejos Scaptocoris castanea e Cyrtonemus mirabilis, cupins de solo, larva arame Conoderus scalaris, larva alfinete Diabrotica speciosa (SCARPELLINI & BOLONHEZI, 2002). Desta forma, considerando a situação atual, o presente estudo teve como objetivos avaliar a incidência de danos por larva arame nos diferentes sistemas de cultivo sobre palhada de canade-açúcar. 2 MATERIAL E MÉTODOS Em canavial colhido mecanicamente sem queimar, localizado em Latossolo Vermelho Eutroférrico, em Ribeirão Preto, SP, instalou-se ensaio no delineamento experimental blocos ao acaso, com os tratamentos arranjados em parcelas subdivididas com 4 repetições. Os tratamentos principais consistiram de três sistemas de cultivo; convencional (1 aração com aiveca + 2 gradagens), cultivo mínimo (subsolador com rolo destorroador) e semeadura direta sobre palhada. Os tratamentos secundários, foram os dois cultivares de amendoim, IAC-Tatu ST (porte ereto, ciclo de 100 dias) e IAC- Caiapó (porte rasteiro e ciclo de 135 dias), empregando-se respectivamente os seguintes espaçamentos; 0,6m (densidade de 20 plantas/m) e 0,8 m entre linhas ( densidade de 13 plantas/m). Para destruição da soqueira foram aplicados em torno de 6 L.ha -1 de glifosate. A semeadura foi realizada no dia 06/12/2004 e a emergência considerada no dia 12/12/2004, portanto podendo-se considerar como cultivo das águas. O tamanho das parcelas foi adequado para facilitar operações de manobras e as parcelas foram dimensionadas em 30 m de comprimento por 10 m de largura. Por ocasião da colheita, em cada subparcela, foram amostrados 6 metros de linha de cultura, nos quais foram colhidas todas as plantas. Após separar a parte aérea, as vagens foram acondicionadas em sacos de papel e levadas para laboratório. Avaliou-se o número total de vagens por amostra, o número total de vagens danificadas (furos de lagarta elateriforme), conforme SCARPELLINI & BOLONHEZI (2002). 248
4 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme pode ser observado na Figura 1, a porcentagem média de vagens danificadas no cultivar IAC-Tatú apresentou-se em torno de 2,6 a 4,8 a enquanto no cultivar IAC-Caiapó os danos se mantiveram entre 3,2 a 5,2 %. AMENDOIM SOBRE PALHADA DE CANA Porcentagem de vagens atacadas por larva arame 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 a Ataque de larva arame Conoderus scalaris a ab b b ab 0,00 Plantio Direto cv tatu Cultivo Mínimo cv tatu Plantio Conv. cv tatu Plantio Direto cv caiapó Cultivo Mínimo cv caiapó Plantio Conv. cv caiapó Figura 1: Porcentagem de vagens de amendoim danificadas pelo ataque de larva arame C. scalaris em cultivares de amendoim, sob diferentes sistemas de plantio em palhada de cana-de-açúcar. Ribeirão Preto, SP, 06/12/2004 a 27/04/2005. No cultivar IAC-Caiapó, os vários sistemas de cultivo utilizados mostraram-se semelhantes, enquanto para IAC-tatú, o sistema de plantio direto apresentou intensidade de danos de larva arame significativamente maior. Entre o cultivo minimo e tradicional a infestação de larva arame foi bem semelhante, em ambos cultivares, embora os níveis de infestação fossem menores que outros anos, como obtido por SCARPELLINI & BOLONHEZI (2002). Convém ressaltar que embora os valores de infestação não sejam muito altos, existem grande potencial de se tornar um problema maior, pois os danos são porta aberta para entrada de patógenos. 4 CONCLUSÃO As maiores infestações de larva arame Conoderus scalaris foram observadas no sitema de plantio direto, com maior intensidade no cultivar IAC-caiapó. 249
5 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOLONHEZI, D.; PEREIRA, J.C.V.N.A.; DE SORDI, G.; GODOY, I.J. & CANTARELLA, H. Comportamento de duas cultivares de amendoim nos sistemas, convencional, cultivo mínimo e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, XXVIII, Londrina,PR, 2001. Resumos... Londrina, EMBRAPA- CNPSO, 2001. p.261. DERPSCH,R. A Expansão Mundial do Plantio Direto. Revista Plantio Direto, n.59, v.6, p.32-40, 2000. PORTER, D.M. & WRIGHT,F.S. Early leafspot of peanuts: Effect of conservational tillage practices on disease development. Peanut Science, v.18, p. 76-79, 1991. SCARPELLINI, J.R. & BUSOLI, A.C. Manejo Integrado de pragas na cultura do amendoim. In: Anais da IV Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico. Ed Emopi, Ribeirão Preto, SP. p.37-42, 2001. SCARPELLINI, J.R. & BOLONHEZI, D. Danos de larva arame Conoderus scalaris em duas cultivares de amendoim em sistemas de cultivo sobre palhada de cana-de-açucar. Arq. Inst. Biol., São Paulo, V. 69 (Supl.), p.251-253, 2002. SCARPELLINI, J. R. & G. NAKAMURA. Controle do tripes Enneothrips flavens (Moulton, 1941) (Thysanoptera; Thripidae) e efeito na produtividade do amendoim Arquivos do Instituto Biológico v. 69, n.385-88 p., 2002. SCARPELLINI, J.R.; BOLONHEZI, D. & GENTILIN JR., O. Incidência de larva arame Conoderus scalaris em duas cultivares de amendoim em sistemas de cultivo sobre palhada de cana-deaçucar. Arq. Inst. Biol., São Paulo, V. 71 (Supl.), 2004. WRIGHT, F.S. & PORTER, D.M. Digging date and conservational tillage influence on peanut production. Peanut Science, v. 18, p. 72-75, 1991. WRIGHT, F.S. Alternative tillage practices for peanut production in Virginia. Peanut Science, v.18, p.9-11, 1991. 250