Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e.

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Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Actas do Colóquio Internacional (Cascais, 4-7 Outubro 2005)

Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Actas do Colóquio Internacional (Cascais, 4-7 Outubro 2005) Victor S. Gonçalves Ana catarina sousa, eds. Cascais, Câmara Municipal, 2010

Secção 1 Os sítios, as paisagens e as diacronias PENÍNSULA DE LISBOA Penedos e muralhas. 19 A leitura possível das fortificações do Penedo do Lexim Ana Catarina Sousa Leceia: a evolução do sistema defensivo 43 João Luís Cardoso O povoado calcolítico fortificado de Moita da Ladra 65 João Luís Cardoso O povoado calcolítico fortificado de Outeiro Redondo (Sesimbra). 97 Notícia preliminar João Luís Cardoso Zambujal, a dinâmica da sequência construtiva 131 Michael Kunst O povoado calcolítico do Estoril, os seus furadores de sílex e os seus tempos 155 Victor S. Gonçalves Ana Catarina Sousa ALENTEJO E ALGARVE O povoado fortificado do Porto das Carretas 225 Carlos Tavares da Silva Joaquina Soares O 4.º e 3.º milénio a.c. no povoado de São Pedro (Redondo, Alentejo Central): 263 fortificação e povoamento na planície centro alentejana Rui Mataloto Ver ao longe no 3.º milénio a.n.e. Sobre a localização 297 e o significado do Monte Novo dos Albardeiros (Reguengos de Monsaraz) Victor S. Gonçalves António Alfarroba O povoado calcolítico de Alcalar: organização do espaço 325 e sequência ocupacional Elena Morán O povoado pré-histórico do Alto do Outeiro, Baleizão, Beja. 333 Resultados preliminares Carolina Grilo

Secção 2 O sagrado, os ritos e os espaços da morte PENÍNSULA DE LISBOA O megalistimo da região de Lisboa: as antas 349 Rui Boaventura ALENTEJO E ALGARVE Neolítico e megalitismo na Coudelaria de Alter 357 Jorge Oliveira O Hipogeu I de Monte Canelas as placas de xisto gravadas 399 Rui Parreira Hipogeu I de Monte Canelas: caracterização antropológica 421 dos enterramentos in situ e das conexões anatómicas Rui Parreira Ana Maria Silva Secção 3 A sul e a oriente, novas questões, monumentos e sítios Cambios y permanencias en el entorno de Castillejos (Fuente de Cantos, 433 Badajoz, España): de finales del Neolítico a comienzos de la Edad del Bronce Enrique Cerrillo Cuenca José María Fernández Corrales Francisco Javier Heras Mora Alicia Prada Gallardo José Antonio López Sáez Mineração e metalurgia no 3.º milénio a.n.e. no Sudoeste Peninsular: 453 dissimetrias sociais nos povoados de La Junta de los Ríos (Puebla de Guzmán, Huelva) e Cabezo Juré (Alosno, Huelva) Francisco Nocete Nuno F. Inácio Moisés R. Bayona María D. Cámalich Massieu Dimas Martín Socas Rafael Lizcano Prestel Ana Peramo De La Corte Esther Álex Tur Un balance de las ocupaciones históricas desde las últimas comunidades 471 cazadoras-recolectoras a las bases de la sociedad clasista inicial en el área del Estrecho de Gibraltar y banda atlántica de Cádiz José Ramos

Grafías de los grupos productores y metalúrgicos en la cuenca 489 interior del Tajo. La realidad del cambio simbólico P. Bueno Ramirez R. de Balbín Behrmann Rosa Barroso Bermejo Marroquíes Bajos (Jaén, España) c. 2800-2000 Cal ane: 519 agregación, intensificación y campesinización en el Alto Guadalquivir Narciso Zafra de la Torre Marcelo Castro López Francisca Hornos Mata Mesa redonda: Fortificar o quê, como, porquê e para quê 539 Victor S. Gonçalves João Luís Cardoso Michael Kunst Rui Parreira Carlos Tavares da Silva Ana Catarina Sousa Rui Mataloto João Carlos de Senna Martinez Narciso Jafra Joaquina Soares Manuel Calado Mesa redonda: A evolução e a cronologia dos modelos construtivos 554 megalíticos Victor S. Gonçalves Joaquina Soares José Ramos Leonor Rocha Manuel Calado João Carlos de Senna Martinez Carlos Tavares da Silva Rui Boaventura Rui Mataloto José Ramos Paco Nocete 3.º Colóquio Internacional Transformação e Mudança: 573 Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal (3500 a 2000 a.n.e.) Elías LÓPEZ-ROMERO GONZÁLEZ DE LA ALEJA

michael kunst Zambujal. A dinâmica da sequência construtiva LAGO, M.; DUARTE, C.; VALERA, A.; ALBERGARIA, J.; ALMEIDA, F.; CARVALHO, A. FAUSTINO (1998) - Povoado dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz): dados preliminares dos trabalhos arqueológicos realizados em 1997, Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 1, 1, p. 45-152. LUNA, I. (1999) ) - Investigação Arqueológica em Runa, Badaladas. Torres Vedras. 2284, supl. Freguesias: 13, p. 8. MORÁN, E.; PARREIRA, R. (2003) - O povoado calcolítico de Alcalar (Portimão) na paisagem cultural do Alvor no III milénio antes da nossa era. In JORGE, S. O. (ed.) Recintos murados da pré-história recente. Técnicas construtivas e organização di espaço. Conservação, restauro e valorização patrimonial de arquitecturas pré-históricas. Mesa-redonda internacional. Realizada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto nos dias 15 e 16 de Maio de 2003. Porto; Coimbra: Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto, p. 307-327. 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O povoado calcolítico do Estoril, os seus furadores de sílex e os seus tempos n Victor S. Gonçalves 1 n Ana Catarina Sousa R e s u m o Em 1915, Félix Alves Pereira identifica casualmente, em área anexa ao balneário do Estoril, vestígios de um provável habitat integrável numa cronologia do 3.º milénio a.n.e. A importância de esse sítio, denominado por Estoril ou Alto do Estoril, reside em duas distintas circunstâncias: a especificidade dos materiais recolhidos, maioritariamente pedra lascada e com uma forte presença de furadores, e o facto de se tratar provavelmente de um sítio de habitat. Em Cascais, escasseiam os povoados (limitando-se à Parede e ao Murtal), contrastando com o importante conjunto de necrópoles. Na ausência de contextos conservados, o conjunto das 293 peças depositadas no Museu do Conde de Castro Guimarães constitui a base para um estudo dos vários tipos de materiais recolhidos: pedra lascada, pedra polida e cerâmica. Face ao importante conjunto de furadores de pedra lascada, efectua-se um estudo detalhado dos mesmos. A análise integrada da cultura material permite avançar para uma proposta de faseamento do sítio, avançando-se duas hipóteses: a primeira das quais admite a presença de 3 fases (1. Calcolítico inicial, 2. pleno e 3. Calcolítico final com campaniforme subdividido entre marítimo e tipo Palmela) e a segunda com 2 fases (1. Calcolítico inicial, 2. Calcolítico pleno com campaniforme). Os autores consideram o primeiro de estes modelos como o mais adequado. Palavras-chave: 3º milénio a.n.e., Calcolítico, Campaniforme, furadores de sílex A b s t r a c t 1915: Felix Alves Pereira casually identified in an area attached to the resort of Estoril some artefacts nowadays connected to the 3rd millennium B.C.E. The importance of this site, refered to as Alto do Estoril or Estoril resides in two different instances: the specificity of the collected materials, mainly flaked stone with a strong presence of flint awls. In the Cascais area prehistoric settlements are sparse (the only known ones being Parede and Murtal) contrasting with a considerable number of necropolises. In the absence of preserved contexts, all the 293 artefacts at Conde Castro Guimarães Museum are the basis for a detailed study of various types of material collected: flaked stone, polished stone and ceramics. Given the large number, the flint awls have been the object of a detailed study. There are two proposed hypothesies for the phasing for the site: the first, prefered by the authors, admits the presence of 3 phases (1. Early Chalcolithic, 2. Middle Chalcolithic and 3. Late Chalcolithic with bell Beaker 3A, Maritime Beaker; 3B, Beaker Palmela Type). The second hypothesis retains only two phases (1. Chalcolithic initial, 2. Chalcolithic with Bell Beaker). Keywords: 3rd Millenium BCE, Chalcolithic, Beaker ceramics, flint awls Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 155

1. O Alto do Estoril na história da Arqueologia de Cascais 1.1. Félix Alves Pereira e um acompanhamento de obra há 90 anos 1.2. A revisão de Afonso do Paço 1.3. Que abordagem para uma colecção arqueológica histórica? 2. Localização 3. Natureza da informação. Àcerca dos contextos perdidos. 4. A colecção no Museu do Conde de Castro Guimarães: possíveis linhas de leitura 4.1. Perspectiva geral 4.2. Pedra lascada 4.2.1. Núcleos e tecnologia lítica 4.2.2. Debitagem 4.2.3. Utensilagem 4.2.3.1. Os furadores 4.2.3.2. Os foliáceos tipo «lâmina ovóide» 4.3. Pedra polida 4.4. Cerâmica 4.4.1. Cerâmica lisa e decorada 4.4.2. Os conjuntos cronologicamente classificáveis 4.4.2.1. Cerâmicas com bordos denteados 4.4.2.2. Cerâmicas caneladas 4.4.2.3. Cerâmicas do Grupo folha de acácia 4.4.2.4. Cerâmicas campaniformes 4.4.3. A cerâmica: formas e características técnicas 5. Pontos no mapa. Implantação específica do Estoril e ocupação do território no 4.º e 3.º milénio a.n.e. ANEXOS ANEXO 1. Ficha descritiva de furadores ANEXO 2: Furadores do Estoril ANEXO 3: Estudo traceológico dos furadores e lâminas ovóides do Alto do Estoril e da Parede: resultados sobre a função e o modo de funcionamento destas peças, por M. de Araújo Igreja Referências Bibliográficas Gerais 1. O Alto do Estoril na história da Arqueologia de Cascais 1.1. Félix Alves Pereira e um acompanhamento de obra há 90 anos A identificação do povoado do Alto do Estoril resulta de uma acção fortuita numa área anexa ao balneário do Estoril. Félix Alves Pereira, veraneante em Cascais em Agosto de 1915, em plena 1.ª Grande Guerra, detectou casualmente uma concentração de materiais arqueológicos junto a uma obra em curso: «no passado verão, quando eu esperava, em clara manhã de Agosto, a hora de abrir o balneário do Estoril e vagueava curioso pelos desaterros que se estavam fazendo a pouca distância comecei a ver pelo solo, ora uma lasca de sílex talhado, ora um caco de primitiva cerâmica» (Pereira, 1916, p. 210- -211). Após o pedido de autorização aos «promotores da obra» para recolher os artefactos, e de negociações com os trabalhadores para que estes lhe entregassem os materiais, foram identificadas 293 peças. A notícia destes achados foi veiculada pela imprensa nacional (Diário de Notícias) e local (A Nossa Terra), informação que foi posteriormente compilada no volume 21 de O Archeologo Português, 1916. Embora Félix Alves Pereira afirme, em nota de rodapé ao O Archeologo Português, que retomaria o estudo deste conjunto, tal não viria a suceder. Aquando da publicação, afirma que «no meu modesto sentir, a morfologia particular dos sílices desta estação merece que os investigadores lhes dediquem alguns momentos de observação» (Pereira, 1916, p. 217, nota de rodapé # 1). A publicação em O Archeologo Português de uma compilação das notícias «arqueológicas» de Cascais, originalmente publicadas no Diário de Notícias, permanece assim como a única fonte para a documentação do contexto das recolhas efectuadas no Estoril. Das 13 páginas publicadas por Félix Alves Pereira, apenas uma página e meia descreve os contextos arqueológicos, descrição muito sumária, que dificulta a contextualização do acervo em estudo. Com dificuldade se localiza o sítio exacto das recolhas, a descrição dos níveis arqueológicos é inexistente e não existe qualquer referência a estruturas. O estudo de Félix Alves Pereira centra-se assim unicamente no espólio, realçando-se a coexistência de dois tipos de artefactos muito distintos: os furadores, lascas e resíduos de debitagem tipologicamente associados ao Paleolítico, com paralelos em Casal do Monte (Loures), e a cerâmica, pedra polida e foliáceos típicos da «indústria neo-calcolítica», paralelizados com as recolhas de São Mamede e Pragança. Os materiais recolhidos por Félix Alves Pereira no Estoril foram levados para Lisboa, sendo referido que «em uma das salas do Museu do Carmo dispus metodicamente todos os objectos» (Pereira, 1916, p. 217). 156 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 1 Furadores do Estoril segundo Félix Alves Pereira (1916, Fig. 5-8: p. 214, Fig. 9 e 10: p. 215). Reconstituição do uso de furadores alongados (Piel-Desruisseaux, 1989). Fig. 2 Cerâmica campaniforme (bordo de uma taça tipo Palmela) segundo Félix Alves Pereira (1916, p. 217). Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 157

Fig. 3 Implantação provável no mapa 1: 25 000. 158 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

1.2. A revisão de Afonso do Paço Em 1943, Afonso do Paço e Maxime Vaultier retomam o estudo do sítio. E a Estação prehistórica do Estoril passa a Estação eneolítica do Estoril, título de Comunicação apresentada à 7ª Secção do Congresso Luso- Espanhol de 1942, no Porto. O estudo efectuado por Afonso do Paço insere-se já numa verdadeira perspectiva de investigação. Assim, é efectuado o estudo do conjunto de materiais arqueológicos, com a contextualização com as necrópoles da região. Destaca-se o enquadramento cronológico: «A estação eneolítica do Estoril pertence à chamada cultura do vaso campaniforme como as suas vizinhas de Cascais, Alapraia, Porto Covo, Ribeira da Laje e mesmo Monge, se quisermos subir aos pináculos da Serra de Sintra» (Paço e Vaultier, 1943, p. 15). É também destacada a volumosa presença de furadores «facto este que as distingue de todas as estações dos arredores, onde estes objectos não existem» (idem, p. 15). Deverá datar de 1945 a incorporação da colecção (oriunda do Museu do Carmo) na Sala de Arqueologia do Museu do Conde de Castro Guimarães, que abrira ao público em 1942 (Gonçalves, 2009). 2. Localização O povoado do Estoril situava-se na proximidade do antigo balneário do Estoril, também conhecido como Hotel do Parque ou Hotel das Termas. Este sítio, hoje desaparecido, implantava-se numa pequena elevação, próxima da linha de costa, actualmente a cerca de 500 m dela. A implantação cerca da foz do Tejo é comum aos (poucos) povoados registados para este período em Cascais, nomeadamente Parede e Murtal. 1.3. Que abordagem para uma colecção arqueológica histórica? Embora o sítio do Estoril tenha sido publicado logo a seguir ao ano da sua identificação, e apesar de Afonso do Paço e Maxime Vaultier lhe terem dedicado um estudo específico, este sítio arqueológico é escassamente referido na bibliografia e nas leituras que têm vindo a ser sucessivamente apresentadas para o 3.º milénio na área da Península de Lisboa. Esta «marginalidade» pode estar relacionada com o facto de, à partida, se saber que se tratava de recolhas descontextualizadas e de um sítio já destruído, não sendo possível avançar para uma escavação que esclarecesse as lacunas de informação, como sucedeu com outros sítios entretanto escavados, como Olelas, Penedo do Lexim ou Liceia. Apesar de esta limitação, importa contudo tentar analisar com maior profundidade este pequeno conjunto, até porque efectivamente traduz uma realidade perdida pela intensa antropização que decorreu naquela área na primeira metade do século 20. A metodologia de análise para uma colecção arqueológica histórica terá assim de corresponder ao desafio e traduzir grande rigor e profundidade, procurando um rumo para a interpretação do sítio. Fig. 4 Planta da implantação do sítio, segundo Afonso do Paço e Maxime Vaultier. 3. Natureza da informação. Àcerca dos contextos perdidos As circunstâncias da identificação da estação do Estoril impedem uma clara caracterização dos contextos a que a colecção de materiais estaria associada. Félix Alves Pereira refere que a camada arqueológica era pouco espessa e que já se encontrava profundamente afectada quando iniciou as suas pesquisas. A ausência de referências a estruturas não traduz a sua inexistência, quer se trate de estruturas habitacionais ou das chamadas estruturas defensivas. Com as precauções referidas, podemos considerar generica- Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 159

mente que o povoado do Estoril seria um povoado aberto, associando-se a ausência de referências a blocos de pedra ao seu tipo de implantação. Se a caracterização morfológica do tipo de ocupação oferece muitas dificuldades de interpretação, também a reconstituição da sequência de utilização do sítio é de difícil leitura. A ausência de proveniências estratigráficas torna-se perturbadora, sobretudo quando observamos os conjuntos cerâmicos e verificamos que devem ter existido diversas fases de ocupação do sítio. Félix Alves Pereira efectua inicialmente uma seriação entre uma ocupação «Paleolítica», a que corresponderia a maior parte da indústria de sílex, e uma ocupação «neo e calcolítica», a que corresponderia a cerâmica, as lâminas ovóides e a pedra polida. Apesar de inicialmente separar os artefactos nestes dois conjuntos, posteriormente é refutada a sua separação recorrendo a uma brevíssima descrição estratigráfica: «Como eles se encontravam, tanto nas zonas superficiais como nas fundas, creio que pode ser posta de parte a hipótese, aliás normal, de que o emprego destes utensílios fosse sucessivo, isto é de que duas populações ali se sucedessem se sobrepusessem os seus respectivos detritos» (Pereira, 1916, p. 218). Considerando que os vários textos foram publicados em datas distintas no Diário de Notícias (18 de Janeiro; 3 de Março; 2 de Abril e 14 de Julho), e que apenas a 14 de Julho se realça esta contemporaneidade, poderá ter existido no estudo final uma maior definição da problemática. Assim, enquanto nos textos de 18 de Janeiro, 3 de Março e 2 de Abril apenas se sublinham as características dos dois conjuntos, é apenas no texto publicado a 14 de Julho que se realça a sua contemporaneidade, partindo-se deste facto para considerações sobre as pervivências paleolíticas no Calcolítico, tomando como explicação a existência de um «hiato étnico ou industrial e do reaparecimento das necessidades próprias das populações quaternárias entre as do fim do neolítico, o que pressupõe ancestral selvagismo nas tribos que, já no último período da pedra polida (calcolítico), vieram habitar a embocadura do Tejo», p. 221. A proposta da cronologia paleolítica para o espólio lítico seria mais tarde retomada por Afonso do Paço e Maxime Vaultier. Após parecer do Abade Breuil, foi finalmente afastada esta hipótese absurda, de onde a Estação eneolítica do Estoril. Na realidade, numa primeira observação, seríamos tentados a admitir que a existência de dois momentos de ocupação seria plausível, tal é o carácter atípico de grande parte da indústria lítica, embora a seriação levante vários problemas, que serão desenvolvidos ao longo do presente trabalho, uma vez que todo o conjunto (pedra e cerâmica) é integrável em todo o 3.º milénio a.n.e., registando-se a presença de fósseis indicadores cerâmicos que podem documentar uma fase de ocupação do Neolítico final, outros o Calcolítico inicial, pleno e final. No entanto, a um milénio de ocupação correspondem apenas 165 peças de sílex, que, ainda por cima, não podemos associar directamente às fases de ocupação acima descritas. A própria natureza do conjunto em estudo resulta de uma recolha naturalmente muito orientada, efectuada por Félix Alves Pereira e pelos trabalhadores: «( ) depois dalgumas boas palavras, valorizadas por uma relativamente farta distribuição de cigarros, em câmbio de achados, consegui que os trabalhadores me guardassem e apresentassem os mais insignificantes objectos preistóricos, que, no desbancar do saibro, lhes iam surgindo debaixo da ferramenta» (Pereira, 1916, p. 211) 4. A colecção no Museu do Conde de Castro Guimarães: possíveis linhas de leitura 4.1. Perspectiva geral 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 165 114 Pedra lascada Cerâmica Pedra polida Fauna mamalógica Gráfico 1 Tipos de materiais arqueológicos do Estoril. 5 1 1 Numa leitura global, podemos verificar que a pedra lascada constitui o elemento mais significativo, com 56 % do conjunto, em valores substancialmente mais elevados do que usualmente se encontram em povoados desta cronologia e localizados nesta área regional. A título de exemplo, no Penedo do Lexim, povoado fortificado (vide este volume), a pedra lascada corresponde apenas a 18,5 % do total de materiais recolhidos, integrando neste valor fragmentos e esquírolas de pequena dimensão que só poderiam ser recolhidos numa escavação de pormenor, distinta da que foi efectuada no Estoril. O elevado número de artefactos de pedra lascada poderá estar relacionado com o tipo de recolha, 10 Pedra afeiçoada Matéria-prima 160 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

mas é também provável que se trate de um local especializado, hipótese que será analisada aquando do estudo dos materiais. O escasso número de elementos osteológicos traduz de igual forma o condicionalismo da recolha, uma vez que as condições dos solos permitem a conservação de osso e concha e ambos estão praticamente ausentes. 4.2. Pedra lascada Gráfico 2 Pedra lascada do Estoril. O conjunto de materiais de pedra lascada integra um elevado número de utensílios, correspondendo a 59 % do total da indústria lítica. Os valores da pedra lascada verificados no Estoril são curiosamente compatíveis com o nível do Neolítico final de Liceia, onde os utensílios ascendem a 52,8 % do conjunto, os núcleos a 6,8 %, subprodutos de talhe a 20,2 % e os produtos de debitagem não transformados a 20,2 % (Cardoso, Soares e Silva, 1996, p. 56). Quadro 1: Composição geral da indústria lítica N.º % Material de preparação ou reavivamento 7 4% Material de debitagem não transformado Lâmina 3 2% Lasca 10 6% Núcleos 12 7% Material residual 19 12% Utensilagem Utensilagem 75% Material preparação / reavivamento Material de debitagem 4% 8% Material residual 13% Furador 54 33% Raspadeira 9 5% Raspador 3 2% Entalhe 8 5% Denticulado 2 1% Retoque marginal 33 20% Sinais de uso 2 1% Foliáceo 3 2% TOTAL 165 100% A leitura da pedra lascada do Estoril é efectuada em termos gerais, embora seja possível existirem vários momentos de ocupação, a avaliar pela cerâmica decorada, único indicador cronológico fiável disponível. No âmbito da indústria lítica, verifica-se uma homogeneidade do conjunto em termos de suportes, tecnologia da debitagem e matéria-prima utilizada. Tratase de uma indústria expedita, direccionada para a obtenção de peças com alguma volumetria, onde a obtenção de suportes alongados é claramente residual e com a utilização e retoque de quase todos tipos de suporte. Apenas três artefactos se afastam de alguma forma desta indústria expedita: as três lâminas ovóides, integradas no conjunto das formas foliáceas. Ainda que estas peças coexistam com este tipo de utensílios (furadores, raspadeiras, raspadores, entalhes, denticulados), em outros contextos como Liceia e Parede, deve ser referido que a estratégia de debitagem dos foliáceos é completamente distinta e padronizada. Face ao hipotético faseamento da ocupação do Estoril, é provável que estes materiais se integrem no Calcolítico pleno, considerando que os foliáceos estão praticamente ausentes dos conjuntos de pedra lascada associados ao campaniforme. Num conjunto de 165 artefactos de pedra lascada, apenas seis não são de sílex, cinco dos quais em chert e um em xisto jaspóide. Este domínio do sílex traduz a abundância local de esta matéria-prima, existindo mesmo na proximidade, em Barotas (Oeiras), um sítio contemporâneo que foi interpretado como oficina de talhe (Cardoso e Costa, 1992). O sílex é sem dúvida dominante e deveria ser proveniente de diversas fontes de matéria-prima, a avaliar pela primeira observação macroscópica que foi efectuada. 4.2.1. Núcleos e tecnologia lítica Contrariamente ao que seria de esperar em contextos desta época, a debitagem não se encontra orientada para a obtenção de produtos alongados e para a produção de foliáceos. A orientação para o talhe laminar, uma das características dos conjuntos líticos do 3.º milénio, está assim ausente do Estoril. A maior parte dos núcleos recolhidos não apresenta planos de percussão preparados, não existindo uma real economia de debitagem para maximização da matéria-prima e do talhe. O tratamento térmico e a pressão estão ausentes, à excepção dos foliáceos, onde esta técnica está associada ao retoque. Existem, contudo, escassos núcleos prismáticos e respectivas tablettes, denunciando uma outra cadeia operatória. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 161

O elevado índice de utilização de esta indústria lítica está reflectido nos próprios núcleos, que são também suporte para a realização de utensílios. 4.2.2. Debitagem Gráfico 4 Utensilagem do Estoril. Gráfico 3 Lascas e Lâminas. Quando analisamos a debitagem, verificamos que o número de suportes alongados é muito reduzido, estando ausentes as lamelas, presentes em conjuntos coevos como Penedo do Lexim, Zambujal, Liceia e Parede. Apenas se regista a presença de 11 lâminas, que apresentam uma debitagem pouco padronizada, com os bordos extremamente irregulares e grandes sinais de impacto, que traduzem decerto a percussão, provavelmente apenas directa. Algumas das escassas lâminas identificadas correspondem mesmo a fases de descorticagem, conservando parte do córtex, parecendo que a debitagem no Estoril era orientada para a obtenção de suportes com o eixo maior correspondendo à largura. A debitagem de lascas parece assim dominante, correspondendo ao principal suporte escolhido para utensilagem. A possibilidade da existência de diversas fases de ocupação no Estoril poderá explicar a aparente contradição entre uma indústria altamente direccionada para a obtenção de furadores e a presença de um fundo de utensilagem geral. Outra explicação poderá residir na complementaridade das acções indiferenciadas para a função dos furadores, hipótese de alguma forma atestada para os estudos de traceologia efectuados para este conjunto. É significativa a ausência de projécteis, embora as pontas de seta surjam nas necrópoles de Cascais e em quase todos os contextos domésticos desta cronologia. Na realidade, a ausência de pontas de seta em contextos desta época é pouco comum, sendo um raro paralelo o Alto de São Francisco, na outra margem do Tejo (Silva e Soares, 1986). O tipo de utensilagem identificada não parece reflectir a importância de actividades relacionadas com a agricultura, apesar da presença de três lâminas ovóides, classicamente classificadas como «foicinhas», nas quais foi identificada a função de corte de vegetais. Suportes 4.2.3. Utensilagem Tipo de utensílios A utensilagem é dominada largamente (47 %) pela presença de furadores produzidos sobre suportes não normalizados. Os utensílios menos especializados (retoque marginal, raspadores, raspadeiras) assumem uma importância considerável, contrastando com a percentagem elevadíssima de furadores. Assim, embora seja possível que, face ao elevado número de furadores, Estoril traduzisse uma ocupação especializada, surgem complementarmente indícios de artefactos de fundo comum. Gráfico 5 Suportes da utensilagem do Estoril. 162 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Quadro 2 Suportes da utensilagem do Estoril Lasca Lâmina SNS Núcleo Total N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % Retoque marginal 16 32% 7 88% 9 20% 0 0% 32 28% Raspadeira 6 12% 0 0% 3 7% 0 0% 9 8% Furador 17 34% 0 0% 28 62% 9 82% 54 47% Raspador 2 4% 0 0% 1 2% 0 0% 3 3% Entalhe 4 8% 0 0% 3 7% 1 9% 8 7% Foliáceo 3 6% 0 0% 0 0% 0 0% 3 3% Denticulado 1 2% 0 0% 1 2% 1 9% 3 3% Sinais uso 1 2% 1 13% 0 0% 0 0% 2 2% TOTAL 50 100% 8 100% 45 100% 11 100% 114 100% A análise dos suportes utilizados para a utensilagem do Estoril parece indicar a reduzida padronização da debitagem. As lascas constituem o suporte mais utilizado (44 %), embora se verifique também um contingente de utensílios sobre suportes expeditos, quer se trate de núcleos (10 %) quer dos chamados suportes não normalizados (i.e. restos de talhe). A análise dos suportes utilizados face aos utensílios identificados reflecte, uma vez mais, a grande especialização do conjunto do Estoril. Quer as lascas, quer os núcleos ou os suportes não normalizados, foram maioritariamente utilizados para suportes de furadores (47 %). Os suportes alongados, lâminas ou lamelas, não foram utilizados para a realização de furadores. Em termos quantitativos, os artefactos com retoque marginal correspondem a 28 % do conjunto, destacando-se o uso das lascas. Regista-se ainda a presença de retoque marginal em suportes alongados, os quais evidenciam um baixo nível de padronização. No conjunto dos utensílios, seleccionaram-se duas tipologias distintas para a realização de uma análise mais aprofundada: os furadores, que são, como já foi recorrentemente referido, o objectivo central desta debitagem, e os foliáceos, que se afastam da debitagem expedita e pouco padronizada do conjunto em análise. 4.2.3.1. Os furadores Considerando a heterogeneidade do conjunto de furadores do Estoril, retoma-se aqui uma possível caracterização dos furadores: «Objectos de pedra lascada que apresentam uma ponta fina e acerada obtida por retoques convergentes rectilíneos ou mais frequentemente por encoches bilaterais» (Schmicher, 1988). Considerando o elevado número de furadores, e a ausência de estudos sistemáticos de comparação para este utensílio, efectua-se aqui uma análise mais pormenorizada deste artefacto. Esta análise é dificultada pela escassez de conjuntos estudados para comparação, uma vez que se trata usualmente de um artefacto minoritário, o que dificulta a definição de critérios de análise. O estudo efectuado para o conjunto do Abrigo do Buraco da Pala (Sanches, 1997, p. 14-16) apresenta uma abordagem exaustiva, embora o conjunto seja substancialmente mais reduzido (quatro furadores e 14 microperfuradores) e seja atribuível a uma cronologia mais antiga. Suporte Gráfico 6 Presença de córtex nos furadores. Apesar de se tratar de um conjunto de debitagem expedita, regista-se uma reduzida percentagem de córtex, verificando-se contudo a presença de córtex vestigial e Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 163

Gráfico 7 Suportes dos furadores do Estoril. Gráfico 8 Forma dos suportes dos furadores do Estoril. semi-cortical. Estes valores, associados aos tipos de núcleo, material de preparação e reavivamento, parecem indicar que as fases iniciais da debitagem não eram aqui processadas, situação comum à generalidade dos povoados do 4.º e 3.º milénios a.n.e. na Estremadura. Não existe qualquer selecção do suporte: núcleos, restos de talhe, lascas são utilizados para a produção deste tipo de artefacto. A ausência de padrão nos suportes utilizados parece indicar que a transformação em furador não configura uma cadeia operatória normalizada, situação bem patente no suporte mais comum no conjunto de furadores em estudo, onde o suporte habitual corresponde a restos de talhe, sem morfologia de debitagem reconhecível. Em casos de furadores sobre lasca, a superfície activa é usualmente uma das áreas mesiais transformadas, sem qualquer articulação com a estratégia de debitagem. As lascas parecem ter sido extraídas por percussão directa. A realização da extremidade do furador foi efectuada pela realização de retoque directo e abrupto, num ou em ambos lados. Deve ainda ser referido que a obtenção de alguns dos furadores deve ter incluído o retoque de buris (exemplo ES.226, ES.222, ES.174, ES.293), embora não exista nenhum exemplar de buril simples. O número de furadores (54) poderá ser mais elevado, se juntarmos o número de lascas e restos de talhe que parecem configurar uma extremidade pontiaguda. Também é significativa a ausência de furadores sobre lâmina. Embora a presença de furadores espessos seja relativamente comum em povoados contemporâneos (nomeadamente em Liceia e na Parede), a ausência de furadores sobre lâmina parece traduzir uma especialização funcional associada à robustez dos suportes. Observa-se a existência de dois tipos de furadores quanto à forma dos seus suportes. A classificação genérica dos furadores foi efectuada através do indicador do eixo maior. Quanto o eixo maior corresponde ao comprimento, designou-se como furador de tendência vertical. Quando esta medida é encontrada na largura, designou-se como furador horizontal. Globalmente, regista-se uma tendência para os furadores de forma vertical, mas deve ser referido que existe um número considerável (12 exemplares) de tendência mista, em que não existe uma grande diferença entre comprimento e largura. Alguns dos furadores são reutilizados em várias arestas, tendo sido identificados seis furadores duplos, situação que pode traduzir a reutilização dos mesmos. Gráfico 9 Categorias de espessura dos furadores do Estoril A maior parte do conjunto corresponde a suportes que apresentam grande espessura, tendo sido identificados três níveis de espessamento: < 10 mm pouco espesso 11 20 mm espesso 20 mm muito espesso Morfologia do furador Gráfico 10 Orientação da extremidade dos furadores do Estoril. 164 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Gráfico 11 Secção da extremidade dos furadores do Estoril. Apesar de não existir uma debitagem clássica do Calcolítico estremenho, está atestada uma debitagem que intencionalmente procura obter arestas para depois, com um retoque curto, obter furadores. A maior parte dos furadores do Estoril corresponde a furadores de eixo, o que poderá estar relacionado com a função destes artefactos. Quanto às suas extremidades, regista-se maioritariamente a presença de secções de tipo trapezoidal. Funcionalidade: furar e raspar (perfuração de matérias macias de origem animal), enquanto que as peças com pontas mais robustas serviriam preferencialmente em acções transversais sobre materiais de dureza variada, como matérias macias e duras de origem animal e matérias minerais». A presença de retoque e transformação dos bordos poderá assim estar relacionada com a raspagem ou, simplesmente, corresponder à transformação da peça e ao destacamento da extremidade do furador. Recordese que um número muito significativo das peças tem um eixo horizontal, determinando o próprio uso das mesmas. Em termos de morfologia, importa ainda referir a presença de furadores duplos (seis exemplares, exemplo: ES.149), que podem indicar o índice de reutilização das peças ou o tipo de utilização das mesmas. Existem ainda furadores com frente de raspadeira (11 exemplares, exemplo: ES.233), os quais apresentam sinais de esquírolamento nos bordos e extremidade distal. Os estudos de traceologia indicam ainda o material trabalhado pelos furadores do Estoril: «raspagem de matérias de origem animal, como a pele seca e o osso e de matéria mineral». A morfologia dos suportes também poderá indicar o tipo de manuseamento dos furadores. Trata-se de blocos de grande volumetria, utilizados apenas numa pequena aresta, não existindo uma maximização da matéria-prima e sendo pouco provável que fosse possível encabar este tipo de utensílios. Gráfico 12 Área distal dos furadores do Estoril. Os furadores do Estoril apresentam uma superfície distal (retoque e, ou, sinais de uso) não somente na extremidade distal, mas também nos bordos. Assim, 62 % dos furadores apresentam como área funcional a área destacada do furador e, complementarmente, também ambos bordos, incluindo mesmo, em muitos dos casos, esquírolamentos. Os estudos traceológicos efectuados por Marina Igreja (Relatório anexo) permitiram registar nestes artefactos uma dupla função de perfuração e raspagem: «Os resultados demonstram que estes utensílios foram utilizados de forma diferente em função da espessura da ponta. As pontas morfologicamente mais finas foram utilizadas segundo uma cinemática de trabalho rotativa Os furadores nos contextos do 3.º milénio Os furadores encontram-se escassamente representados em contextos funerários e surgem, em todo o Neolítico e Calcolítico, no contexto da utensilagem comum dos contextos domésticos. Apesar das limitações dos universos comparativos face ao escasso universo de povoados com os conjuntos líticos publicados, podemos afirmar que o número de furadores presentes neste local é largamente superior ao que se encontra em contextos coevos, quer em termos relativos quer em termos absolutos. Assim, os furadores correspondem a 3% dos utensílios do Penedo do Lexim e a 7,2% dos utensílios de Liceia da camada 4, contrastando com os 33% do Estoril. Mesmo matizando estes valores com a natureza da recolha direccionada que pode ter sido efectuada por Félix Alves Pereira, o número é muito elevado, o que pode indicar uma especialização funcional. Para além das claras diferenças estatísticas, regista-se ainda uma clara distinção ao nível tipológico. Nos contextos em comparação Liceia, Penedo do Lexim e Parede surgem dois tipos de furadores: Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 165

1. furadores sobre lasca e sobre suporte não normalizado; 2. furadores sobre suporte alongado (lâmina e lamela). Apenas o primeiro tipo encontra paralelos no Estoril. Na realidade, encontramos paralelos tecnologicamente muito semelhantes aos do Estoril, ainda que com radicais diferenças na matéria-prima. Também em Liceia surgem alguns furadores sobre suportes não normalizados, aparentemente associados ao Neolítico final. A ausência, no Estoril, de furadores sobre suportes alongados reveste-se assim de particular importância. Seria necessário proceder a estudos traceológicos para os furadores sobre suporte alongado para determinar se se trataria de uma especialização funcional, relacionada com a própria tipologia do sítio, ou se esta ausência corresponde a um enquadramento cronológico o que, como veremos, se reveste de grande dificuldade. 4.2.3.2. Os foliáceos tipo «lâmina ovóide» O conjunto de foliáceos tipo «lâmina ovóide» destacase claramente da restante indústria lítica, quer a nível da matéria-prima quer a nível do tipo de debitagem. Como se sabe, a debitagem das peças foliáceas parece estar associada a uma rede de trocas de média e longa distância, com a existência de oficinas de talhe especializadas (Forenbaher, 1999). As peças foliáceas poderiam ser reparadas no habitat, mas a sua execução seria aparentemente efectuada em sítios distintos, seguindo aliás a dinâmica da debitagem do Calcolítico. Embora não se tenham efectuado estudos de proveniência de matéria-prima, o sílex em que são talhadas as lâminas foliáceas é claramente distinto do sílex utilizado para o conjunto de debitagem expedita, este último com abundantes restos de geodes e impurezas da matéria-prima que provocaram uma sucessão de peças abandonadas e reutilizadas. As peças foliáceas correspondem genericamente às chamadas lâminas ovóides, estando ausentes as restantes categorias dos foliáceos (pontas de seta e alabardas). Esta designação encontra-se já vulgarizada no léxico arqueológico, embora não sejam produzidas sobre lâminas, mas sobre lascas e, muitas vezes, não tenham a forma ovóide (Forenbaher, 1999). O conjunto do Estoril evidencia a diversidade morfológica que a designação lâmina ovóide encerra, quer ao nível da dimensão, com exemplares com grandes diferenças no comprimento, quer da forma, com exemplares semicirculares e outros com uma forma grosseiramente ovóide. 166 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 5 Núcleos. Em cima ES.129, em baixo ES.203 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 167

Fig. 6 Núcleos. Em cima ES.171, a meio ES.181, em baixo ES.134 168 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 7 Lascas semi-corticais e brutas. Em cima ES.295 e ES.168. A meio, no topo, ES.248, ES.155, ES.175, ES.176. Em baixo, ES.180 e ES.137. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 169

Fig. 8 Lascas corticais e semi-corticais e brutas. Em cima ES.162 e ES.252. A meio, no topo ES.148 e ES.146, a meio terceira fila ES.217 e ES.215. Em baixo, ES.154, ES.170 e ES.231. 170 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 9 Lascas semi-corticais e brutas. Em cima, ES.153, ES.240 e ES.261. A meio ES.156, ES.246 e ES.234. Em baixo, ES.290, ES.263 e ES.291. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 171

Fig. 10 Lascas e lâminas com retoque marginal. Em cima, lascas ES.29 e ES.288. A meio suportes alongados ES.27, ES.26, ES.24 e ES.266. Em baixo lascas ES.224 e ES.151. 172 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 11 Lascas com retoques. Em cima, ES.236, ES.258 e ES.226. A meio, no topo, ES. 132, ES.232 e ES.174. A meio, em baixo, ES.25 e ES.219. Em baixo, ES.227 e ES.158. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 173

Fig. 12 Suportes não normalizados. Em cima, ES.130 e ES.90. Ao meio, ES.265 e ES.182. Em baixo, ES.163. 174 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 13 Raspadores e Raspadeiras. Em cima ES.54 e ES.244. A meio, ES.46 e ES.56. Em baixo, ES.230, ES.203 e ES.177. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 175

Fig. 14 Raspadeiras. Em cima, ES.47 e ES.51. A meio, a raspadeira ES.235 e a tablette ES.172. Em baixo, os flancos de núcleo, ES.150 e ES.159. 176 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 15 Furadores. Em cima, ES.12, ES.18 e ES.5. A meio, ES.3, ES.4, ES.23 e ES.22. Em baixo, ES.11, ES.6 e ES.9. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 177

Fig. 16 Furadores. Em cima, ES.140 e ES.178. A meio, ES.292 e ES.249. Em baixo, ES.136 e ES.165. 178 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 17 Furadores. Em cima, ES.133 e ES.160. A meio, ES.169 e ES.214. Em baixo, ES.179 e ES.183. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 179

Fig. 18 Furadores. Em cima, ES.131 e ES.52. A meio, ES.16 e ES.19. Em baixo, ES.10 e ES.50. 180 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 19 Furadores. Em cima, ES.297 e ES.202. A meio, no topo ES.293 e ES.184. A meio, em baixo, ES.166 e ES.222. Em baixo, ES.247. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 181

Fig. 20 Furadores. Em cima, ES.149 e ES.138. A meio, ES.237 e ES.7. Em baixo, ES.229, ES.15 e ES.218. Fig. 21 Furadores. Em cima, ES.243 e ES.53. A meio, ES.14, ES.21 e ES.251. Em baixo, ES.1, ES.257 e ES.13. 182 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 183

Fig. 22 Furadores. Em cima, ES.49 e ES.139. A meio, no topo, ES.2, ES.48 e ES.20. A meio, em baixo, ES.233 e ES.17. Em baixo, ES.8 e ES.55. 184 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 23 Furadores provenientes do povoado da Parede, aqui publicados a nível comparativo. Em cima, P.858.57 e P.753.57. A meio, P.854.57 e P.472.55. Em baixo, P.486.55, P.315.57 e P.501.55. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 185

Fig. 24 Furadores provenientes do povoado da Parede, aqui publicados a nível comparativo. Em cima, P.287.56 e P.772.57. A meio, no topo, P.312.57, P.848.57 e P.1326.56. A meio, em baixo, P.687.56, P.502.55 e P.636.56. Em baixo, P.718.56. 186 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 25 Foliáceos tipo lâmina ovóide. Em cima, ES.31. A meio, ES.28. Em baixo, ES.30. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 187

4.3. Pedra polida Também a escassez de pedra polida patenteia a especificidade do Estoril. Num universo de cinco peças de pedra polida, todas se encontram integralmente polidas. Regista-se também uma grande diversidade tipológica, estando presentes uma enxó, uma goiva e três machados. O estado de conservação deste pequeno conjunto é bastante fragmentário, apenas com duas peças inteiras. Este conjunto integra um item, a goiva, mais comum em contexto de necrópole, encerrando aparentemente, tal como as «alabardas», uma relação com o mundo funerário. Face às hipotéticas fases do Estoril, não podemos associar estas peças a um faseamento cronológico fino, perdidos que estão os contextos. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DOS ARTEFACTOS N.º Inventário: ES.43 Designação: Goiva Estado de conservação: Extremidade distal Dimensão Comprimento: 41 mm Largura máxima: 19,63 mm Espessura: 16,44 mm Geometria dos bordos: paralelos rectilíneos Gume: Geometria: convexo Tipo: convexo dissimétrico Estado: ligeiros sinais de uso Talão: Secção: circular Acabamento: polimento total Matéria-prima: anfibolito N.º Inventário: ES.44 Designação: Machado Estado de conservação: Extremidade proximal Dimensão Comprimento: Largura máxima: 25,77 mm Espessura: 19,98 mm Geometria dos bordos: convergentes rectilineos Talão: ponteagudo Secção: subcircular Acabamento: polimento total Matéria-prima: anfibolito N.º Inventário: ES.44 Designação: Enxó Estado de conservação: Inteiro Dimensão Comprimento: 64,10 mm Largura máxima: 44,79 mm Espessura: 13,62 mm Geometria dos bordos: paralelos divergentes Gume: Geometria: rectilineos Tipo: bisel convexo simétrico Estado: ligeiros sinais de uso Talão: ponteagudo Secção: subrectangular Acabamento: polimento total Matéria-prima: anfibolito N.º Inventário: ES.210 Designação: Machado Estado de conservação: inteiro Dimensão Comprimento: 73,32 mm Largura máxima: 37,09 mm Espessura: 26,19 Geometria dos bordos: paralelos divergentes Gume: Geometria: rectilineos Tipo: bisel duplo Estado: fracturado Talão: plano Secção: subquadrangular Acabamento: polimento total Matéria-prima: anfibolito N.º Inventário: ES.212 Designação: indeterminado Estado de conservação: Mesial Dimensão Comprimento: 59 mm Largura máxima: 28 mm Espessura: 8 mm Secção: subrectangular Acabamento: polimento total Matéria-prima: anfibolito 188 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 26 Pedra polida. Em cima, ES.210 e ES.45. Em baixo, ES.43 e ES.44. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 189

4.4. Cerâmica 4.4.1. Cerâmica lisa e decorada tes datações para conjuntos campaniformes (no Zambujal, por exemplo) ou de povoados com a presença de cerâmicas Grupo folha de acácia surgindo em conjuntos com campaniforme (por exemplo em Casal Cordeiro 5, Ericeira). 4.4.2. Os conjuntos cronologicamente classificáveis Gráfico 13 Cerâmica do Estoril. A cerâmica decorada representa apenas 14 % do conjunto em análise. Podemos comparar esta percentagem com as obtidas para os contextos conhecidos do Penedo do Lexim, por exemplo, onde a percentagem de cerâmica decorada em níveis do Calcolítico pleno ascende a 10% e a do Calcolítico inicial a 14%. Contudo, o conjunto do Estoril integra, pelo menos, duas grandes fases de ocupação no 3.º milénio: Calcolítico pleno (com decorações do Grupo folha de acácia) e Calcolítico final (com decorações «campaniformes»). Existe ainda a probabilidade da existência de uma fase anterior, da transição do 4.º para o 3.º milénio, ou de supervivências no 3.º, mas esses indícios são raros e pouco convincentes. Seguindo as propostas de faseamento baseadas nas sequências de Liceia, Penedo do Lexim e Rotura poderíamos assim estar perante quatro fases de ocupação, ainda que os seus indicadores sejam todos traduzidos por números extremamente baixos e a primeira se nos afigure como duvidosa: Fase 1 transição 4.º para o 3.º milénio, ainda que apenas consubstanciada na presença de um fragmento de bordo denteado; Fase 2 primeira metade do 3.º milénio, após 2900 a.n.e., representada pelas escassas cerâmicas caneladas; Fase 3 meados do 3.º milénio: cerâmica do Grupo folha de acácia; Fase 4 segunda metade do 3.º milénio: cerâmica campaniforme. 4.4.2.1. Cerâmicas com bordos denteados Apenas foi recolhido um bordo com decoração denteada. Este tipo de decoração encontra-se largamente representado no sítio cascalense da Parede, registandose a presença de vários tipos de técnicas de decoração (Pombal, 2006). As datações disponíveis para contextos com este tipo de decoração são também diversas. Para Liceia, foi individualizado um nível do Neolítico final com bordos denteados que apresenta uma datação balizada entre 3630 e 2710. Recentemente referimos que «as datas das amostras de carvão para a Camada 4 Neolítico final são mais antigas que as obtidas em osso no mesmo contexto: 3630 é o limite mais antigo para as datas obtidas sobre carvão e 3337 é o limite mais antigo para as datas obtidas sobre osso. Poderá assim ter existido um ligeiro «envelhecimento artificial» do Neolítico final.» (Gonçalves e Sousa, 2007, p. 251). As datas obtidas para a Parede assumem naturalmente as dificuldades inerentes às escavações antigas: as datas absolutas não confirmam a separação entre Parede 1 e 2 proposta pelos escavadores, integrandose na mesma baliza cronológica, entre 2900 e 2500 a.n.e. Em Vale de Lobos, foram datados dois contextos que apresentam semelhante cultura material (nomeadamente bordos denteados), com datações que, felizmente, não se sobrepõem, mas que indicam uma cronologia desde finais do 4.º milénio até 2800 a.n.e. Quadro 3 Cronologia absoluta para o povoado da Parede (Gonçalves, 2005, corrigida em Gonçalves e Sousa, 2006) Ref.ª Lab Beta- 190859 Tipo amostra Osso polido Contexto Parede 2 R δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) -20.4 4230±40 Cal BC 1 σ 2871-2640 Cal BC 2 σ 2879-2589 Este faseamento quadripartido poderia ter matizes de fases intermédias, considerando exemplos de recen- Beta- 188388 Osso polido Parede 1-20.7 4230±40 2850-2578 2870-2498 190 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Quadro 4 Cronologia absoluta para os níveis do Neolítico final de Liceia (Soares e Cardoso, 1995; Cardoso, 1997-1998) Ref.ª Lab. ICEN- 1160 ICEN- 312 Tipo amostra Contexto δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) carvão Camada 4-21,81 4630± 45 carvão Camada 4-20,22 4530± 100 Cal BC 1 σ 3500-3350 3360-3040 Cal BC 2 σ 3260-3110 3610-2920 canelados, que no Estoril estão ausentes. Esta ausência pode assumir significados cronológicos, correspondendo a um momento posterior no Calcolítico inicial ou a um significado funcional, e não cronométrico, relacionado com o tipo de sítio. Com efeito, são muito escassos os contextos abertos (não fortificados) que apresentam esta cronologia. Quadro 5 Cronologia absoluta para o Penedo do Lexim (Sousa, 2006) ICEN- 313 ICEN- 316 carvão Camada 4-22,02 4520± 70 carvão Camada 4-22,02 4520± 70 3490-2930 3350-3050 3630-2890 3490-2930 Ref.ª Lab. Tipo amostra Fase: Início do povoado? Contexto δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) Cal BC 1 σ Cal BC 2 σ ICEN- 1161 osso Camada 4-23,39 4440± 50 3292-2827 3337-2917 Beta- 186854 osso (Sus sus) Lcs 1, UE 19-20,5 4080 ± 50 2870-2630 2880-2580 ICEN- 1159 ICEN- 1158 osso Camada 4-21,35 4430± 50 osso Camada 4-21,45 4320± 60 3261-2925 3020-2880 3333-2915 3090-2710 Beta- 175775 Beta- 175774 osso (Bos sp) osso (Ovis aries) Lcs 3b, UE 10 Lcs 3b, UE 16 21,2 4080±40-20,2 4100±40 2830-2570 2880-2680 2860-2490 2890-2620 Sac- 2069 Osso Lcs 3b, UE7b -21,2 3930 ± 30 2480-2344 2568-2118 Quadro 5 Cronologia absoluta para o povoado da Vale de Lobos (Valente, 2006) Ref.ª Lab. Beta- 220075 Tipo amostra Osso (Bos) Contexto Sector 7 δ 13 C (0/00) -21.3 0/00 Data convencional (BP) 4490±40 Cal BC 1 σ 3340-3040 Cal BC 2 σ 3350-3020 Quadro 6 Cronologia absoluta para os níveis antigos (transição do 4.º para o 3.º milénio) e do 3.º milénio de Liceia (Soares e Cardoso, 1995; Cardoso, 1997-1998) Fase: Calcolítico inicial Beta- 220074 Osso (Bos) Cabana 1-21.5 0/00 4290±40 2910-2890 2930-2880 Ref.ª Lab. Tipo amostra Contexto δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) Cal BC 1 σ Cal BC 2 σ 4.4.2.2. Cerâmicas caneladas Apesar de estarem ausentes os copos canelados, alguns escassos materiais poderão apontar para a primeira metade do 3.º milénio, tal é o caso das taças caneladas (dois recipientes), que apresentam as tradicionais linhas horizontais, com um dos exemplares a apresentar complementarmente uma decoração geométrica. As cerâmicas caneladas (copos e taças) encontramse associadas ao Calcolítico inicial, estando cronometricamente datadas em povoados como Liceia e Penedo do Lexim. Em Liceia, esta fase está balizada entre 2880 a 2410 a.n.e. e no Penedo do Lexim esse mesmo faseamento pode ser aplicado, ainda que com algumas datas desviantes (vide discussão em Gonçalves e Sousa, 2006). Este tipo de cerâmica decorada surge em contextos funerários desta cronologia e surge associada aos copos ICEN-I 173 osso Camada 3-20,50 4170± 50 ICEN-91 osso Camada 3-20,00 4130± 60 ICEN- 673 ICEN- 675 ICEN- 1175 ICEN- 1176 ICEN- 1177 carvão Camada 3-24,9 4130± 100 carvão Camada 3-25,42 4100± 120 osso Camada 3-19,85 4090± 80 osso Camada 3-20,02 4090±60 osso Camada 3-21,12 4050±50 LY-4205 carvão Camada 3 21,20 4030±120 2878-2621 2870-2580 2880-2500 2870-2490 2870-2490 2860-2500 2615-2485 2860-2410 2888-2581 2880-2490 2920-2460 2890-2410 2880-2460 2880-2460 2860-2461 2890-2460 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 191

4.4.2.3. Cerâmicas do Grupo folha de acácia Ainda que não esteja presente a impressão com o clássico motivo em folículos, podemos considerar que as decorações que integram o Grupo folha de acácia correspondem ao tipo decorativo mais abundante (sete fragmentos, num universo de 13 decorados). Os exemplares decorados correspondem aos seguintes tipos decorativos e técnicas: a) Pote decorado com linhas horizontais, canelura funda ES.288. Estado: Bordo; Forma: Pote; Descrição da decoração: linhas Horizontais; Técnica da decoração: canelura funda; Características técnicas: pasta semicompacta e cozedura oxidante; ES.40. Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas Horizontais; Técnica da decoração: canelura funda; Características técnicas: pasta semi-compacta e cozedura oxidante com arrefecimento redutor; ES.198. Estado: Bordo; Forma: Pote; Descrição da decoração: linhas Horizontais; Técnica da decoração: canelura funda; Características técnicas: pasta semicompacta e cozedura oxidante; Quadro 7 Cronologia absoluta para o Penedo do Lexim para os níveis com cerâmica tipo folha de acácia (Gonçalves e Sousa, 2006) Ref.ª Lab. Beta- 186855 Sac- 2156 Sac- 2168 Tipo amostra Osso (Human sapiens) Osso, (Sus sus) Osso, (Sus sus) Fase: Níveis médios, pré-campaniformes Contexto Locus 3, UE 19 Locus 1, UE 9 Locus 5, UE 8 δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) -19,6 3760 ±40 3640 ±40 3760±50 Data cal. (1 σ) Cal BC** 2400-2220 2125-1939 2280-2051 Quadro 8 Cronologia absoluta para os níveis com cerâmica tipo folha de acácia de Liceia (Cardoso e Soares, 1996) Ref.ª Lab. Tipo amostra Fase: Calcolítico pleno Contexto δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) Data cal. (1 σ) Cal BC** Data cal. (2 σ) Cal BC** 2460-2200 2188-1887 2343-2026 Data cal. (2 σ) Cal BC** b) Motivos geométricos, canelura funda ES.39. Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas horizontais e linhas oblíquas; Técnica da decoração: canelura funda; Características técnicas: pasta semi-compacta e cozedura oxidante com arrefecimento redutor; ES.76. Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas oblíquas configurando triângulos; Técnica da decoração: canelura funda; Características técnicas: pasta semi-compacta e cozedura oxidante. ES.81 Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas horizontais e linhas oblíquas; Técnica da decoração: canelura funda; Características técnicas: pasta semicompacta e cozedura oxidante. ICEN- 92 ICEN- 89 ICEN- 1217 Ly 4205 ICEN- 1220 ICEN- 1217 ICEN- 737 carvão Camada 2-24,56 4200±70 osso Camada 2-19,91 4200±70 osso Camada 2-21,02 4110 ±70 carvão Camada 2 4030 ±120 osso Camada 2-20,05 4030 ±70 osso Camada 2-22,64 4020 ± 80 osso Camada 2-19,56 3920±70 2870-2500 2890-2630 2870-2500 2860-2410 2620-2460 2620-2460 2470-2290 2820-2580 2920-2580 2880-2470 2890-2200 2870-2250 2870-2310 2578-2147 c) Decoração tipo folha de acácia? ES. 36. Estado: Bojo; Descrição da decoração: motivo espinhado, folha larga; Técnica da decoração: impressão (matriz); Características técnicas: pasta semicompacta e cozedura oxidante. ICEN- 102** ICEN- 95** ICEN- 315 concha (Patella sp) concha (Venus sp.) Camada 2 +1,68 3970±70 Camada 2 +1,34 3970±70 carvão Camada 2-21,91 3730±170 2570-2360 2580-2410 2450-1890 2840-2210 2580-2290 2580-1680 A presença de formas e decorações claramente integráveis no Calcolítico pleno reveste-se de grande importância, uma vez que são escassos os povoados abertos na Estremadura com este enquadramento cronológico. Tal será o caso de Carnaxide (Oeiras) ou Casal Cordeiro 5 (Ericeira, Mafra). As datações absolutas de conjuntos domésticos com folha de acácia tal como Penedo do Lexim e Liceia parecem indicar uma cronologia de meados do 3.º milénio a.n.e. ICEN- 1213 ICEN- 1218 ICEN- 1211 ICEN- 1215 ICEN- 1216 osso Camada 2-23,21 3970±70 osso Camada 2-23,27 3910±60 osso Camada 2-25,05 3900±80 osso Camada 2-20,90 3900±70 osso Camada 2-21,22 3880±80 2570-2360 2470-2280 2470-2210 2470-2280 2460-2200 2840-2210 2570-2150 2580-2140 2570-2140 2570-2050 192 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fase: Calcolítico pleno Ref.ª Lab. Tipo amostra Contexto δ 13 C (0/00) Data convencional (BP) Data cal. (1 σ) Cal BC** Data cal. (2 σ) Cal BC** ICEN- 1214 osso Camada 2-26,21 3840±110 2460-2060 2580-1950 ICEN- 314 carvão Camada 2-25,74 3770±130 2450-1980 2560-1780 Gráfico 14 Cerâmica do Estoril, estado de conservação. 4.4.2.4. Cerâmicas campaniformes Muito provavelmente contemporâneas das extraordinárias taças com pé da gruta artificial São Pedro do Estoril 1, as cerâmicas campaniformes do Estoril constituem um reduzido conjunto (quatro exemplares) ainda que estejam registados os tipos marítimo e Palmela. a) Marítimo ES.38. Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas horizontais pente, preenchidas por linhas incisas horizontais; Técnica da decoração: impressão (pente) e incisão; Características técnicas: pasta compacta e cozedura redutora com arrefecimento oxidante. b) Cerâmica campaniforme tipo Palmela ES.42. Estado: Bordo; Forma: taça de bordo plano; Descrição da decoração: Bordo decorado com linhas intercruzadas. Faixa horizontal preenchida por linhas verticais. Linha zig-zag impressa; Técnica da decoração: impressão e incisão; Características técnicas: pasta semi-compacta e cozedura oxidante. ES.32. Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas horizontais preenchidas por linhas verticais; Técnica da decoração: incisão; Características técnicas: pasta semi-compacta e cozedura redutora com arrefecimento oxidante. ES.33. Estado: Bojo; Descrição da decoração: linhas horizontais e triângulos preenchidos por linhas horizontais; Técnica da decoração: incisão; Características técnicas: pasta friável e cozedura oxidante. 4.4.3. A cerâmica: formas e características técnicas De acordo com o que foi atrás mencionado, a percentagem elevada de bordos (82%) está relacionada com a época e a maneira como foram efectuadas as recolhas. Entre os 20 bojos recolhidos, regista-se a presença de oito cerâmicas decoradas, o que evidencia o carácter direccionado das recolhas efectuadas no Estoril. Em termos morfológicos, verifica-se que 69 % dos bordos apresentam formas abertas. Gráfico 15 Cerâmica do Estoril, formas abertas e fechadas. Gráfico 16 Cerâmica do Estoril, formas. Ao nível das formas, foi adaptado o catálogo de formas publicado anteriormente pelos autores (Gonçalves, 1989; Gonçalves, 2003; Sousa, 2004). Foram identificadas as seguintes formas: A1. Prato: incluindo recipientes com e sem bordo espessado; A2a. Taça: integra uma taça canelada; A2b. Taça de bordo em aba (também designado por Vaso de bordo em aba por J. L. Cardoso), forma que surge também em valores significativos em Liceia (34,3% na estrutura R da C4 Neolítico final; 31,6% na C3 Calcolítico inicial; 13,3% no Calcolítico pleno), poderá corresponde ao antecedente «autóctone» da taça tipo Palmela (Sousa, 1998) e é a forma base do exemplar de taça de bordo denteado; A3. Taça em calote: trata-se da forma com valores mais elevados, correspondendo a 43% das peças classificáveis; Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 193

A4. Taça em calote alta: corresponde de alguma forma à taça em calote de bordo direito de Cardoso, Soares e Silva, 1996; F1. Taça em calote fechada: forma que equivale à taça em calote, introvertida de Cardoso, Soares e Silva, 1993; F2. Esférico. F3. Pote: forma de bordo introvertido, exclusiva dos exemplares decorados com a gramática decorativa do «Grupo folha de acácia», situação confirmada nos dois exemplares do Estoril: F4. Globular: apenas representado com um exemplar. A nível das ausências, destacam-se as formas carenadas e os copos, formas que são características respectivamente do Neolítico final e do Calcolítico inicial. Quando analisamos comparativamente as formas de Liceia, podemos verificar que os valores são equivalentes (Cardoso, Soares e Silva, 1996). Em termos do bordo, verifica-se o domínio do bordo arredondado. No que se refere à taça em calote, por exemplo, verifica-se que os bordos são predominantemente arredondados (61%), seguindo-se os bordos planos (28%) e os bordos em bisel (11%). Gráfico 19 Cerâmica do Estoril cozedura. Gráfico 20 Cerâmica do Estoril tratamento de superfície. Em termos técnicos, as cerâmicas do Estoril registam uma cozedura predominantemente oxidante, com a maior parte das cerâmicas a revelar uma homogeneidade semi-compacta. Entre o escasso conjunto de cerâmicas decoradas (11 exemplares), verifica-se uma tendência que acompanha de alguma forma os valores globais: a maior parte das cerâmicas apresenta uma homogeneidade semi-compacta (55%), seguindo-se as cerâmicas compactas (36%) e até friáveis (9%). Os componentes não plásticos são pouco abundantes e, em termos de granulometria, a maior parte dos fragmentos regista componentes não plásticos de granulometria fina e média (50%) e um número considerável com componentes finos, médios e grandes (29%). Gráfico 17 Cerâmica do Estoril forma do bordo. Gráfico 21 Cerâmica do Estoril homogeneidade Gráfico 18 Cerâmica do Estoril espessura do bordo. Gráfico 22 Cerâmica do Estoril componentes não plásticos 194 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 27 Recipientes cerâmicos. Em cima, Taça de bordo denteado ES.273. Taças, ES.271, ES.69 e ES.197. Taças caneladas com decoração geométrica, ES.65 e ES.41. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 195

Fig. 28 Recipientes cerâmicos decorados do grupo folha de acácia, motivos geométricos. ES.76, ES.81 e ES.40. 196 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 29 Recipientes decorados do grupo folha de acácia, linhas horizontais fundas. Potes com caneluras fundas: ES.288, ES.280 e ES.198. Pratos lisos, ES.64 e ES.104. Taça tipo Palmela, ES.42. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 197

Fig. 30 Recipientes cerâmicos decorados. Decoração campaniforme, ES.32, ES.39, ES,33. Decoração tipo folha de acácia, ES.36. Decoração campaniforme marítimo, ES.38. 198 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

5. Pontos no mapa. Implantação específica do Estoril e ocupação do território no 4.º e 3.º milénio a.n.e. O contexto da descoberta do povoado do Alto do Estoril evidencia as dificuldades em efectuar um estudo integral ou mesmo parcial (mas significante) do povoamento pré-histórico do actual concelho de Cascais. A intensa antropização registada aqui obliterou certamente muitos sítios desta cronologia, sendo de mais fácil detecção os contextos de necrópole, onde habitualmente se preservam materiais de excepção. A coincidência entre a actual malha urbana e o povoamento antigo será assim a principal explicação para a rarefacção de povoados. A existência de sítios do Calcolítico pleno muito próximo do Tejo, e com uma implantação discreta, parece indicar que o modelo dos povoados com elevado grau de defensabilidade não constitui o único tipo de implantação deste período. Idêntica implantação parece apresentar Casal de Barronhos, implantado na «parte inferior da encosta meridional do alto do mesmo nome» (Carreira, Cardoso, Lopes, 1996, p. 301), sem quaisquer condições naturais de defesa. Infelizmente, também este sítio já foi destruído, perdendo-se a importante leitura estratigráfica (o sítio apresentava ocupações do Neolítico final, Calcolítico inicial, pleno e final) e morfológica. Também o caso de Carnaxide e Casal Cordeiro 5 podem revelar uma situação semelhante. Perante a ausência de indicadores, e pela sua própria localização, somos levados a pensar que o Estoril teria uma morfologia «aberta». A ausência de povoados fortificados em Cascais foi aliás registada por Afonso do Paço e comentada com alguma ingenuidade: «Estas populações de Cascais deviam ser gentes pacíficas, pois os seus povoados parecem estar desprovidos de muralhas» (Paço, 1964). Constituiria então Liceia o único povoado fortificado da margem direita da Foz do Tejo? Não nos parece, mas é difícil ter certezas. A implantação do Estoril junto à foz do Tejo indica, de per se, uma relação com os recursos aquáticos, apesar de não dispormos de indicadores fundamentais, como a fauna marinha. A presença de sítios marcadamente relacionados com os recursos aquáticos levou mesmo à designação «economia agro-marítima» para finais do 4.º milénio (Soares, 2003, p. 153), representada em sítios como Ponta da Passadeira (Tejo), Comporta (Sado) ou Las Marismillas (Huelva), reflectindo a especialização funcional de grupos agro-pastoris. Esta especialização funcional não se encontra devidamente registada na margem norte da foz do Tejo, mas a ausência poderá reflectir simplesmente a fragilidade da documentação arqueológica disponível para esta área. O estudo traceológico do tipo de utensílio mais importante do conjunto, os furadores, parece contudo evidenciar uma distinta função, relacionada com o processamento de peles. Face a este conjunto de 293 peças, recolhidas sem contextualização arqueológica, e na ausência actual de datações radiocarbónicas, a reconstituição do faseamento revela-se uma tarefa complexa. Noutras ocasiões, a propósito de Parede, um dos autores do presente estudo (VSG) já referiu a dificuldade e os riscos em efectuar a «reconstituição de estratigrafias» em gabinete, exercício particularmente complexo quando aplicado a sítios de habitat. Esta dificuldade reside também na situação de, na Península de Lisboa, os paradigmas serem constantemente baseados numa única sequência estratigráfica publicada, o povoado fortificado de Liceia. As diferenças e os problemas, em termos cronométricos, que esta sequência revela, face aos dados recolhidos no Penedo do Lexim e Zambujal, parece indicar que muito provavelmente não podemos aplicar uniformemente um mesmo esquema crono-tipológico. Novas escavações, como as que foram efectuadas em Casal Cordeiro 5, parece também indicarem que, no 3.º milénio, na Península de Lisboa, poderiam coexistir vários modelos de ocupação do território e que os povoados fortificados são apenas uma das faces do povoamento, ainda que o mais importante. Para o Estoril, existe apenas um fragmento de osso eventualmente datável, mas, como nada mais se conservou, apenas teríamos uma data (que, como se sabe, não são datas ), não esclarecendo o problema do faseamento do sítio. Ainda assim, pensamos que algumas considerações podem ser avançadas. A cerâmica indica-nos que podem ter existido várias fases de ocupação, umas pré campaniformes e outra, ou outras, campaniformes, uma vez que as divisões lineares poderão sempre ter leituras mais finas. Assim, entre as fases pré-campaniformes, poderíamos talvez identificar uma fase mais antiga, integrável genericamente no Calcolítico inicial, à qual estariam associadas as cerâmicas caneladas e talvez mesmo os bordos denteados. A fase com a cerâmica tipo folha de acácia corresponderia assim a um segundo momento pré-campaniforme? Se seguirmos o esquema clássico do faseamento do Calcolítico estremenho, a resposta a esta interrogação seria claramente afirmativa. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 199

Fig. 31 Principais sítios de povoamento de finais do 4.º e 3.º milénio nas Penínsulas de Lisboa e Setúbal. Sítios escavados ou com significativos dados de caracterização. Segundo Gonçalves, 2009, Sousa, 2010. Cartografia digital por Maia Langley. POVOADOS FORTIFICADOS: 1. Outeiro da Assenta; 2. Outeiro de S. Mamede; 3. Columbeira; 4. Vila Nova de São Pedro; 4. Pragança; 5. Ota; 6. Fórnea; 7. Zambujal; 8. Penedo (?); 9. Pedra do Ouro; 10. Castelo; 23. Penedo do Lexim; 25. Moita da Ladra; 34. Olelas; 43. Penha Verde; 48. Liceia; 64. Rotura (?); 62. Chibanes; 66. Castro de Sesimbra POVOADOS ABERTOS: 14. Casal Cordeiro 5; 15. Sobreiro; 16. Casas Velhas; 17. Gonçalvinhos; 19. Quintal 1; 20. Cabeço de Palheiros 2; 21. Cabecinho da Capitôa 2; 22. Sopé do Cabecinho da Capitôa; 24. Moinho dos Bichos; 26. Anços; 27. Negrais (Barruncheiros); 28. Salemas; 30. Negrais (Pedraceiras); 31. C. P. Lousa; 32. Negrais (Fonte Figueira); 33. Lameiras; 35. Penedo da Cortegaça; 36. C. Mortal; 37. Gaitadas; 38. Serra da Amoreira; 39. Vale de Lobos; 41. Alto da Cabreira; 42. Espargueira; 44. Baútas; 45. Serra das Éguas; 46. Alfragide; 47. Vila Pouca; 50. Montes Claros; 51. Carrascal; 52. Monte Castelo; 53. Carnaxide; 54. Barotas; 55. Encosta de Santana; 56. Estoril; 57. Parede; 58. Alto do Dafundo; 59. Murtal; 61. Miradouro dos Capuchos; 63. Pedrão; 65. Moinho da Fonte do Sol SÍTIOS ESPECIALIZADOS: 12. Casal Barril; 13. Cova da Baleia; 18. São Julião; 29. Magoito; 40. Pedreira do Aires; 49. Campolide; 60. Ponta da Passadeira 200 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Contudo, existe a possibilidade de as cerâmicas do Grupo folha de acácia estarem associadas a um momento mais avançado no Calcolítico, contemporâneas das cerâmicas campaniformes marítimas. Esta situação surge no sítio de Casal Cordeiro 5 e em Carnaxide, ambos povoados abertos, com folha de acácia e campaniforme. Aparentemente, a única certeza reside no facto de o conjunto de cerâmicas caneladas e as cerâmicas campaniformes não serem contemporâneas. Quando analisamos a indústria lítica, também parece claro existir duas realidades bem distintas: 1. a industria expedita, direccionada para o fabrico dos furadores; 2. a industria foliácea normalizada, que estaria relacionada com o corte de cereais. Uma leitura evolucionista poderia levar-nos a associar o primeiro conjunto à fase antiga do Estoril e a debitagem normalizada estaria relacionada com a fase mais avançada. Contudo, o cenário poderá ser distinto, se considerarmos que as peças foliáceas praticamente não se encontram associadas aos contextos do Calcolítico final. Com efeito, podemos considerar que em finais do 3.º milénio se regista o colapso da economia do sílex, que se relaciona com a mudança dos paradigmas sociais e económicos. Enquanto na primeira metade do 3.º milénio se afirma uma rede de trocas a longa distância, relacionada com uma procura económica, mas também simbólica e funerária, em finais do 3.º milénio a indústria lítica assume uma morfologia exclusivamente local e expedita, com um reduzido desenvolvimento tecnológico (Marques Romero, 2004). Aliás, deve ser referido que no vizinho povoado de Carnaxide a indústria lítica também se revela de carácter expedito, com abundantes raspadeiras e raspadores, também robustos e com elevados índices de utilização. Se já falámos suficientemente de uma complexa rede de sequências, que a escassez de materiais torna frágil, poderíamos talvez voltar a uma perspectiva menos flexível e reduzir os campos disponíveis. O Quadro abaixo exemplifica esta opção. Quadro 9 Hipóteses «duras» para o faseamento do Estoril HIPÓTESE 1 HIPÓTESE 2 Fase 1 Fase 1 2900-2600 a.ne. 2900-2600 a.ne. Cerâmica canelada Cerâmica canelada Foliáceos? Foliáceos? Furadores? Furadores? Fase 2 Fase 2 2600 2400 a.ne. 2600 2000 a.ne. Folha de acácia Folha de acácia e campaniforme Foliáceos? Foliáceos? Furadores? Furadores? Campaniforme marítimo 2500-2300 a.n.e. Campaniforme com taças tipo Palmela 2300-2000 a.n.e. Fase 3A Fase 3B Mas, claro, sobre amostras fragmentárias e sem contexto preciso, os riscos da tipologia não valem uma romã. E é pena. Até porque um de nós gosta muito de romãs Lisboa, Setembro de 2005 (Texto e bibliografia revistos em 2010) Os autores agradecem à Câmara Municipal de Cascais o apoio concedido na aquisição de serviços a Fernanda Sousa, cujos desenhos ilustram este trabalho. Um dos autores, responsável pelas fotografias dos artefactos agrupadas no fim do texto (VSG), queria sublinhar que as imagens foram obtidas, em 2004, com equipamento hoje obsoleto, e em condições de trabalho muito difíceis. Não foi possível repeti-las. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 201

ANEXO 1 Ficha descritiva de furadores N.º Inventário: Designação do Museu do Conde Castro Guimarães (não subsistiu uma eventual marcação de Félix Alves Pereira ou de inventário no Museu do Carmo) Designação Furador sobre lasca Furador sobre suporte não normalizado Furador sobre núcleo Estado (as categorias mesial e proximal não se aplicam) Inteiro Distal Córtex Ausente Córtex vestigial Cortical Semi-cortical Suporte Lasca Suporte não normalizado Núcleo Orientação do furador (Leroi-Gourhan, 1966, p. 268) Fig. 32 Orientação do Furador (Leroi-Gourhan, 1966, p. 268). 1 Eixo (239) 2 Oblíquo (240) 3 Ângulo (241) Secção do furador (Leroi-Gourhan, 1966, p. 268) Fig. 33 Secção do furador (Leroi-Gourhan, 1966, p. 268). 1 Triangular (242) 2 Quadrada (243) 3 Losangular (244) 4 Trapezoidal (245) 5 Poligonal (246) Área funcional extremidade distal extremidade distal e bordo direito extremidade distal e bordo esquerdo extremidade distal e ambos os bordos Medidas Largura Comprimento Espessura Peso Índices Forma: Horizontal ou Vertical calculado através do eixo maior dos furadores Espessura, calculado através de análise estatística: 0-10 mm pouco espesso, 11 20 mm espesso, > 20 mm muito espesso. 202 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

ANEXO 2 Furadores do Estoril N.º INV. ESTADO CÓRTEX SPR ORT SECÇÃO ÁREA FUNCIONAL FORMA LARG. COMP. ESP. ESPS. PESO ES.001 inteiro ausente lasca eixo losangular ES.002 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ED e ambos bordos ED e bordo esquerdo Horizontal 43,47 28,6 8 Pouco esp. 11,42 Vertical 30,26 49,24 14,54 Espesso 16,91 ES.003 inteiro ausente lasca ângulo trapezoidal ED Vertical 30,72 31,03 7 Pouco esp. 5,85 ES.004 inteiro ausente SNN ângulo trapezoidal ES.005 inteiro ausente núcleo eixo trapezoidal ES.006 inteiro ausente lasca eixo trapezoidal ES.007 inteiro semi-cortical SNN ângulo trapezoidal ES.008 inteiro ausente núcleo eixo losangular ES.009 inteiro ausente núcleo ângulo trapezoidal ES.010 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ES.011 inteiro ausente SNN ângulo losangular ES.012 inteiro semi-cortical SNN ângulo trapezoidal ES.013 inteiro ausente SNN eixo triangular ES.014 inteiro ausente núcleo eixo triangular ES.015 distal ausente lasca ângulo trapezoidal ED e ambos bordos ED e bordo esquerdo ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e bordo esquerdo ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e ambos bordos Vertical 22,12 45,98 7 Pouco esp. 9,74 Vertical 37,64 48,32 12 Espesso 26,95 Horizontal 46,91 37,69 9 Pouco esp. 22,65 Horizontal 41,59 27,34 16,96 Espesso 22,45 Horizontal 38,71 34,82 17,47 Espesso 22,24 Horizontal 36,7 34,63 19 Espesso 18,84 Vertical 37 58 21 Mto. Esp. 31,99 Vertical 27,6 53,37 19,2 Espesso 25,53 Vertical 33,57 45,42 18,2 Espesso 17,98 Horizontal 49,83 35,44 21,1 Mto. Esp. 26,73 Horizontal 47 34,41 17,83 Espesso 30,61 Vertical 27,43 29,84 11 Espesso 6,22 ES.016 inteiro cortex vestigial SNN obliquo trapezoidal ED e ambos bordos Vertical 42 49 17 Espesso 30,9 ES.017 inteiro cortex vestigial SNN eixo trapezoidal ED e ambos bordos Horizontal 33,99 32,51 14,28 Espesso 12,21 ES.018 inteiro ausente SNN obliquo losangular ED Vertical 35,15 51,54 9,2 Pouco esp. 15,01 ES.019 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ES.020 inteiro semi-cortical lasca ângulo trapezoidal ES.021 inteiro semi-cortical SNN eixo trapezoidal ED e ambos bordos ED e ambos bordos ED e ambos bordos Horizontal 33,73 27,83 13,31 Espesso 11,8 Vertical 32,24 35,32 12,93 Espesso 12,76 Vertical 39,85 53,37 22,1 Mto. Esp. 41,19 ES.022 inteiro ausente lasca ângulo losangular ED e bordo direito Vertical 35,86 36,89 11,2 Espesso 10,91 ES.023 inteiro ausente lasca obliquo trapezoidal ES.048 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ED e ambos bordos ED e ambos bordos Vertical 29 51 9 Pouco esp. 13,48 Vertical 34,09 43,73 10,09 Pouco esp. 15,48 ES.049 inteiro semi-cortical SNN ângulo losangular ED Vertical 32,89 70,67 10,88 Pouco esp. 22,53 ES.050 distal ausente lasca eixo trapezoidal ED e ambos bordos Vertical 40 52 14 Espesso 30,33 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 203

N.º INV. ESTADO CÓRTEX SPR ORT SECÇÃO ÁREA FUNCIONAL FORMA LARG. COMP. ESP. ESPS. PESO ES.052 distal semi-cortical lâmina eixo triangular ED Vertical 26 51 13 Espesso 17,02 ES.053 inteiro ausente núcleo eixo triangular ED e ambos bordos Vertical 38 40 28 Mto. Esp. 28,52 ES.055 inteiro cortex vestigial SNN eixo trapezoidal ED e ambos bordos Horizontal 44 24 14 Espesso 19,18 ES.056 inteiro ausente lasca eixo trapezoidal ED e bordo direito Vertical 29 52 15 Espesso 18,67 ES.131 inteiro ausente núcleo obliquo trapezoidal ED Vertical 42 58 32 Mto. Esp. 84,94 ES.136 inteiro ausente lasca ângulo trapezoidal ED Vertical 37,41 41,71 11,55 Espesso 15,23 ES.138 inteiro ausente lasca obliquo trapezoidal ED e ambos bordos Vertical 29,55 37,25 9,83 Pouco esp. 9,64 ES.140 inteiro ausente lasca ângulo trapezoidal ED Vertical 53,49 54,31 14,47 Espesso 41,81 ES.149 inteiro ausente lasca obliquo triangular ED e ambos bordos Horizontal 28,21 34,58 5,31 Pouco esp. ES.160 inteiro cortex vestigial núcleo eixo trapezoidal ED Horizontal 44,26 33,7 23,37 Mto. Esp. 22,67 ES.165 inteiro ausente núcleo eixo trapezoidal ED e ambos bordos Vertical 25,89 31,42 10,65 Pouco esp. 11,72 ES.166 inteiro ausente SNN eixo triangular ED Vertical 32,38 34,17 24,11 Mto. Esp. 18,8 ES.174 inteiro ausente SNN eixo losangular ES.178 inteiro ausente SNN eixo losangular ED e ambos bordos ED e ambos bordos Vertical 21 34 14 Espesso 6,84 Vertical 34,77 41,37 6,8 Pouco esp. 13,23 ES.181 inteiro ausente núcleo eixo triangular ED Horizontal 54,89 43,78 14,01 Espesso 38,15 ES.183 inteiro ausente núcleo eixo trapezoidal ED e ambos bordos Horizontal 48,65 36,38 20 Espesso 35,38 ES.184 inteiro ausente núcleo eixo triangular ED e bordo direito Horizontal 44,37 41,83 29,37 Mto. Esp. 42,98 ES.214 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ES.218 inteiro ausente SNN ângulo trapezoidal ED e ambos bordos ED e ambos bordos Horizontal 35,86 28,69 14,3 Espesso 19,05 Horizontal 34,14 21,08 10,81 Espesso 9,66 ES.222 inteiro ausente SNN eixo losangular ED e bordo direito Vertical 27,78 31,48 23,35 Mto. Esp. 14,12 ES.229 inteiro ausente lasca eixo trapezoidal ED e ambos bordos Horizontal 39 33 14 Espesso 16,11 ES.233 inteiro semi-cortical SNN ângulo trapezoidal ED Horizontal 38,3 34,1 14,83 Espesso 14,49 ES.237 inteiro ausente SNN eixo triangular ES.249 inteiro ausente SNN eixo triangular ED e ambos bordos ED e bordo esquerdo Vertical 24,58 38,34 10,64 Espesso 9,17 Horizontal 40,15 52,94 15 Espesso 28,4 ES.251 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ED Vertical 31 48 14 Espesso 21,25 ES.257 inteiro ausente SNN eixo trapezoidal ED Horizontal 34,33 32,99 12,5 Espesso 10,27 ES.292 inteiro ausente núcleo eixo trapezoidal ES.293 inteiro ausente lasca eixo trapezoidal ED e ambos bordos ED e ambos bordos Horizontal 55,01 24,49 21,49 Mto. Esp. 24,37 Horizontal 45 38 14 Espesso 21,54 ED: extremidade distal ORT: orientação SNN: suporte não normalizado 204 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

ANEXO 3 Estudo traceológico dos furadores e lâminas ovóides do Alto do Estoril e da Parede: resultados sobre a função e o modo de funcionamento destas peças M. de Araújo Igreja 2 Já depois de apresentada esta comunicação, os autores solicitaram à Doutora Marina Igreja, actualmente investigadora da UNIARQ, um estudo prévio sobre os traços de uso em artefactos provenientes do Estoril e que os comparasse com outros do povoado da Parede. É esse estudo que se inclui agora como Anexo. 1. Introdução O fabrico e o uso de utensílios são atributos fundamentais das sociedades pré-históricas. Os utensílios fabricados pelo Homem, em particular os utensílios de pedra lascada, constituem um testemunho arqueológico privilegiado, dada a sua resistência aos factores mecânicos e químicos naturais de destruição. A utilização e manutenção dos utensílios líticos provocam modificações na morfologia geral e na microtopografia dos bordos e superfícies das peças. Tais alterações podem ser voluntárias, no caso dos processos de fabrico (ex. retoque, reavivamento, etc.) ou involuntárias, quando provocadas pela utilização. Após o abandono, e em resultado do contacto com o contexto sedimentar envolvente, os materiais sofrem outro tipo de alterações susceptíveis de serem observadas e descodificadas pela Traceologia. O contacto do utensílio fabricado em pedra com matérias-primas como a pele, a madeira, o osso, etc. não só transforma os materiais em questão, como também modifica a parte activa do próprio utensílio. Tal modificação dos bordos e superfícies, designados pela Traceologia como vestígios de uso, resulta de fenómenos mecânicos e, ou, químicos e pode ser observada a diferentes escalas: macroscopicamente, sob a forma de levantamentos, de arredondamento e de fracturas; e ao microscópio, sob a forma de estrias, de polidos e de depósitos de resíduos. Os vestígios ou estigmas de utilização conservados no objecto testemunham a natureza do material trabalhado, a intensidade da utilização do artefacto, o tipo de gesto efectuado e ainda, em alguns casos, o próprio modo de preensão do utensílio (directamente com a mão ou através de encabamento). A interpretação da função e das modalidades de utilização dos utensílios arqueológicos pela Traceologia baseia-se na leitura e na tradução dos vestígios de uso macro e microscópicos, primeiramente reproduzidos pela experimentação (utilização de utensílios no contacto com diferentes matérias) e comparados posteriormente com os materiais arqueológicos. A abordagem traceológica de utensílios líticos recolhidos nos sítios arqueológicos do Alto do Estoril e da Parede, cujos resultados são aqui apresentados, procurou responder a questões específicas levantadas pela análise tipo-tecnológica da colecção. A amostra estudada é composta por 108 peças fabricadas em sílex: 35 furadores e 3 lâminas ovóides do Alto do Estoril e 91 furadores e 14 lâminas ovóides da Parede. Foram considerados pertinentes os seguintes objectivos: - Averiguar o estado de preservação dos materiais e a sua adequação ao estudo traceológico; - Determinar a natureza funcional dos furadores e das lâminas ovóides - Numa perspectiva alargada e paleocomportamental, visar a reconstituição do conjunto de actividades desenvolvidas nos sítios do Alto do Estoril e da Parede, assim como as cadeias operatórias do tratamento de cada material trabalhado (pele, osso, etc.). Os resultados obtidos pela Traceologia, ainda que preliminares fornecem um conjunto de hipóteses sobre a função e o modo de funcionamento dos furadores e das lâminas ovóides. 2. Metodologia: microscopia óptica de reflexão O estudo foi conduzido segundo o protocolo tradicionalmente utilizado em traceologia (S. A. Semenov, 1964; H. Plisson, 1985). Numa primeira fase, as peças foram observadas à lupa binocular (SZ-PT Olympus, oculares GSWH10x/22) com aumentos até 60x, para identificar potenciais zonas activas (levantamentos de impacto, fracturas, etc.). Posteriormente, recorreu-se a um microscópio óptico de reflexão (Olympus, oculares HC Plan s 10x/25, objectivas 10x e 20x) para a leitura de vestígios microscópicos (micropolidos, estrias, por exemplo). Os vestígios de uso mais representativos foram fotografados com uma câmara fotográfica digital (Nikon coolpix 4500) acoplada ao microscópio. O estudo traceológico dos materiais foi efectuado segundo um sistema de inferências e níveis de informação progressivos; ou seja, das informações mais genéricas às mais específicas: 1. Reconhecimento das peças utilizadas e identificação das respectivas zonas activas. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 205

2. Identificação da cinemática de trabalho: longitudinal (ex. cortar), transversal (ex. raspar), translação (ex. incisão), rotação (ex. perfurar) e percussão lançada. 3. Determinação da matéria trabalhada: quando tal não foi possível, pelo menos de forma exacta, foram utilizadas categorias genéricas em função da dureza do material matérias macias e matérias duras. Quando se dispunha de informações mais precisas, foi possível afinar a determinação das seguintes categorias: macia de origem animal ou dura de origem animal. Nos casos em que não foi possível identificar a matéria trabalhada utilizou-se a categoria indeterminada; 4. Intensidade de utilização do utensílio: esta informação foi obtida com base no grau de desenvolvimento dos vestígios de uso e da quantidade de zonas activas por peça; 5. Reavivamento e reutilização : a interrupção brusca dos polidos no bordo da peça é um indício de reavivamento do utensílio. 3. Resultados Os resultados do estudo traceológico estão inventariados no Quadro: Cinemática de trabalho e matérias trabalhadas TRANSVERSAL (raspagem) LONGITUDINAL (corte) ROTATIVA (perfuração) Estado de conservação animal TOTAL Tipologia P. analisadas analisável s/vestígios uso c/vestígios uso alteradas Duras indet. macias * duras * mineral vegetais macios animais macias* Furadores 56 10 7 3 46 2 0 0 0 0 1 3 Parede Lâminas ovóides 14 4 2 2 10 0 0 0 0 2 0 2 Total 70 14 9 5 56 2 0 0 0 2 1 5 Furadores 35 27 14 13 8 0 4 1 5 0 3 13 Alto do Estoril Lâminas ovóides 3 1 1 2 0 0 0 0 1 0 1 Total 38 28 14 14 10 0 4 1 5 1 3 14 Estoril 3.1. Estado de conservação do material Foram analisadas 38 peças, 35 furadores e 3 lâminas ovóides. O material encontra-se, na sua generalidade, em muito bom estado de conservação, permitindo a leitura dos estigmas de utilização ao microscópio. Das 38 peças analisadas apenas 10 não permitem a análise ao microscópio por apresentarem fortes indícios de alteração natural de origem pós-deposicional (sedimentar) dos bordos e superfícies (fig.1:1, 2). Em 14 furadores não foram detectados quaisquer tipos de vestígios de uso (ver, como exemplo, fig.1: 3, 4, 5). Esta ausência pode resultar de uma utilização demasiado expedita e breve ou simplesmente com a não utilização das mesmas. Em todo o caso, a hipótese de tal se dever a problemas de conservação pós-deposicional poderá ser excluída, já que os bordos e superfícies dos artefactos se apresentam em excelente estado de preservação ao microscópio. 3.2. Vestígios de uso Catorze furadores apresentam vestígios de uso bem característicos e similares aos que foram obtidos em contexto experimental (fig. 2:1-8). Os vestígios observados localizam-se nas pontas e são essencialmente relativos à raspagem de matérias de origem animal, como a pele seca (n=4) e o osso (n=1), e de matéria mineral (n=5). Três furadores serviram na perfuração de matérias macias de origem animal (ex. pele seca). Em relação às lâminas ovóides, apenas foram identifi- 206 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

cados vestígios de uso numa peça, utilizada no corte de matérias vegetais macias (fig. 2: 9). Parede 3.3. Estado de conservação do material Das 70 peças analisadas, 56 furadores e 14 lâminas ovóides, apenas 14 permitiram a observação ao microscópio. Os bordos e superfícies da maior parte do material encontram-se afectados por uma forte alteração natural, de origem mecânica (evidenciada pela presença de estrias sem orientação precisa e de lustre) e química com a presença de pátina branca. 3.2.Vestígios de uso Foram detectados vestígios de uso em 5 peças, três furadores e duas lâminas ovóides. Dois furadores foram utilizados na raspagem de matérias duras e um apresenta indícios de perfuração de matérias macias de origem animal (fig.3:1). As duas lâminas ovóides mostram vestígios de uso relativos ao corte de matérias vegetais macias (fig.3: 2). 4. Inferências 4.1. Abordagem do estatuto funcional dos furadores e das lâminas ovóides do Alto do Estoril e da Parede Os furadores com vestígios de uso apresentam características morfológicas particulares que sugerem opções deliberadas quanto ao tipo de gesto pretendido e quanto ao tipo de matéria-prima trabalhada. Com efeito, as pontas destas peças que apresentam vestígios relativos a uma cinemática de trabalho transversal (raspagem) apresentam-se mais robustas e largas do que as pontas de peças que serviram para perfurar, estas ultimas mais finas. Os resultados do estudo traceológico mostram que o furador é um utensílio funcionalmente polivalente em função do tipo morfológico da ponta, utilizado na raspagem (pontas mais largas) ou para a perfuração (pontas mais finas). No que diz respeito às lâminas ovóides, este tipo de utensílio serviu exclusivamente enquanto faca no corte de matérias vegetais. 4.2. Abordagem do comportamento técnico-económico O estudo traceológico não pretende fornecer apenas um inventário dos materiais trabalhados e dos gestos efectuados. Para além deste primeiro nível de informação, procura-se integrar os vestígios de uso observados em cada uma das etapas do processo técnico. O fabrico de um objecto ou a preparação de um material compreende diferentes etapas sucessivamente ordenadas (Lemonnier, 1976; Karlin, 1991): aquisição, transformação, utilização, consumo, manutenção e abandono. Os modelos estabelecidos (relativos às actividades de subsistência e de produção de artefactos) fundamentam-se geralmente em dados etnoarqueológicos de sociedades de caçadores-recolectores sub-actuais. Esta abordagem actualista permite enriquecer o trabalho de interpretação dos materiais arqueológicos (Audouze, 1991). Com efeito, os comportamentos dos grupos de caçadores-recolectores modernos, ainda que não possam ser directamente comparáveis com os dos grupos pré-históricos, fornecem-nos bases de reflexão e de estudo úteis à reconstituição dos comportamentos técnicos das sociedades pré-históricas. No entanto, as diferentes etapas de um processo técnico nem sempre estão representadas na sua totalidade nos contextos arqueológicos. A este padrão não é alheio o facto de lidarmos com grupos pouco ou nada sedentários. A presença ou ausência da totalidade das etapas que compõem os diferentes processos técnicos (de debitagem dos artefactos líticos e de transformação das matérias) é um indicador da existência ou não de uma planificação importante dos sistemas técnicos no tempo e no espaço: processos contínuos traduzem uma fraca planificação e inversamente processos descontínuos indiciam uma forte planificação. Tratando-se do presente estudo especificamente orientado para a análise dos furadores e lâminas ovóides, não se pretende propor hipóteses sobre a finalidade das ocupações que tiveram lugar no Alto do Estoril e na Parede. No entanto, algumas reflexões são possíveis acerca das actividades efectuadas. Os vestígios de uso identificados nas amostras de materiais resultam de actividades relacionadas com o tratamento de matérias macias de origem animal (raspagem, perfuração), de matérias minerais (raspagem) e de vegetais macios (corte). A natureza das operações efectuadas associada ao fraco desenvolvimento dos vestígios de uso, indica que os estigmas de uso documentados se integram nas operações finais (acabamento) dos processos técnicos destes materiais. O tipo de consumo dos furadores e das lâminas ovóides caracteriza-se pela ausência de várias zonas activas por peça e pela presença de vestígios de uso relativamente pouco desenvolvidos. Estes dados indiciam uma utilização dos utensílios e uma exploração económica das matérias-primas pouco intensa. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 207

ES 20 ES 181 ES 2 ES 5 ES 18 Fig. 34 Furadores do Estoril: polidos de acção natural (1, 2), bordos e superfícies sem vestígios de uso. 200 aumentos. 5. Conclusão As duas amostras de materiais do Alto do Estoril e da Parede, compostas por furadores e lâminas ovóides, apresentam estados de conservação bem distintos. O material do Alto do Estoril encontra-se excepcionalmente bem preservado sendo possível efectuar a analise microscópica, enquanto que grande parte das peças provenientes do sitio da Parede exibem uma forte alteração dos bordos e das superfícies de natureza pósdeposicional que inviabiliza o seu estudo. Foram detectados vestígios de uso em 17,5% das peças analisadas do Alto do Estoril e da Parede. Cada utensílio, quer no caso dos furadores como para as lâminas ovóides, apresenta uma única zona activa, tendo sido utilizado para efectuar um único tipo de gesto. Os vestígios de uso observados nos furadores e lâminas ovóides dos dois sítios são similares podendo-se pressupor que estes foram utilizados de forma idêntica no Alto do Estoril e na Parede, tanto em termos de modo de funcionamento como em relação ao tipo de materiais trabalhados. No caso dos furadores, esta hipótese deve ser relativizada pelo facto dos furadores da Parede não terem sido analisados na totalidade, devido ao estado de conservação das peças. A análise dos furadores do Alto do Estoril é a que melhor documenta a função destas peças. Os resultados demonstram que estes utensílios foram utilizados de forma diferente em função da espessura da ponta. As pontas morfologicamente mais finas foram utilizadas segundo uma cinemática de trabalho rotativa (perfuração de matérias macias de origem animal), enquanto que as peças com pontas mais robustas serviram preferencialmente em acções transversais sobre materiais de dureza variada, como matérias macias e duras de origem animal e matérias minerais. Relativamente às lâminas ovóides, em ambos os sítios elas serviram no corte de matérias vegetais macias. Globalmente, os vestígios de uso observados nos furadores e lâminas ovóides são pouco desenvolvidos e testemunham etapas finais dos processos técnicos do tratamento dos diferentes materiais identificados. A ausência de várias zonas activas por peça indicia uma utilização pouco intensa destas peças. 208 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

1 - ES 11 2 - ES 17 3 - ES 149 4 - ES 218 5 - ES 178 6 - ES 233 7 - ES 48 8 - ES 138 7 - ES 48 Fig. 35 Pontas de furadores com vestígios de uso: perfuração de pele seca (1, 2a, 2b, 3, 4). Raspagem de osso (5). Raspagem de pele seca (6, 7, 8). Lâmina ovóide com vestígios de uso corte de matérias vegetais macias (9). 200x. Fig. 36 Ponta de furador utilizado para perfurar pele seca (1). Lâmina ovóide com vestígios de corte de materiais vegetais macios. 200x. 1 - P 51657 2 - P 27 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 209

1 Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ). Workgroup on the ancient peasant societies. Faculdade de Letras. P-1600-214. Lisboa. Portugal. vsg@fl.ul.pt, sousa@campus.ul.pt 2 ESEP UMR 6636 do CNRS (Aix-en-Provence, França). Em pós-doutoramento no Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ). R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s G E R A I S CARDOSO, G. (1991) Carta Arqueológica de Cascais. Cascais: Câmara Municipal. 111 p. CARDOSO, J. L. (1989) Leceia. Resultados das escavações realizadas: 1983-1988. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras. CARDOSO, J. L. (1993) Leceia. 1983-1993. Escavações do povoado fortificado pré-histórico. Estudos arqueológicos de Oeiras. Oeiras. N. especial, 163 p. CARDOSO, J. L. (1995) O povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras). Resultados das escavações efectuadas (1983-1993). 1.º Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia. 35: 1, p. 115-131. 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Fig. 37 (nesta Figura e nas seguintes, a escala é sempre indicada 1:1 ou 2:1. Os números são os do registo dos artefactos no Museu do Conde de Castro Guimarães). 212 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 38 Lascas e raspadores. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 213

Fig. 39 Lâminas ovóides. 214 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 40 Grande lâmina ovóide. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 215

Fig. 41 Furadores duplos. 216 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 42 Furadores horizontais. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 217

Fig. 43 Furadores verticais. 218 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Fig. 44 Produtos alongados. Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 219

Fig. 45 Pedra polida. Fig. 46 (página seguinte) Cerâmica com bordo decorado, cerâmica canelada e cerâmicas do «Grupo Folha de Acácia». 220 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222

Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222 221

Fig. 47 Cerâmicas campaniformes tardias, a última um fragmento de uma taça tipo Palmela. 222 Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. p. 155-222