CARACTERIZAÇÃO E HIDRÓLISE ÁCIDA DO BAGAÇO DO PEDÚNCULO DE CAJU

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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO E HIDRÓLISE ÁCIDA DO BAGAÇO DO PEDÚNCULO DE CAJU Ezenildo Emanuel de Lima 1 ; José Mariano Silva Neto 2 Flávio Luiz Honorato da Silva 3 ; Líbia de Souza Conrado Oliveira 2 ; Adriano Sant'Ana Silva 5 1 IFPE, Técnico em Agroindústria - ezenildoe@bol.com.br 2 UFPB, Departamento de Engenharia Química - flavioluizh@yahoo.com.br 3 UFCG, Unidade Acadêmica de Engenharia Química - libiac@deq.ufcg.edu.br 4 UFCG, Unidade Acadêmica de Tecnologia de Alimentos - adriano.santana@ccta.ufcg.edu.br RESUMO Atualmente, as pesquisas sobre os biocombustíveis de 2ª geração, neste caso o etanol celulósico proveniente da biomassa tem-se tornado foco das diversas pesquisas no Brasil e no mundo. O etanol celulósico, normalmente, é produzido pela fermentação dos açúcares fermentescíveis obtidos por meio do processo de hidrólise ácida ou enzimática de materiais lignocelulósicos. O bagaço do pedúnculo de caju apresenta-se como uma matéria-prima viável para a produção de bioetanol, pois esta cultura regional apresenta cerca de 85% de desperdício, além de apresentar composição química apropriada para a hidrólise. Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo caracterizar quimicamente o bagaço do pedúnculo de caju e avaliar o efeito da temperatura, no processo de hidrólise, quanto a liberação de glicose, xilose, hidroximetilfurfural (HMF) e furfural no licor hidrolisado. De acordo com os resultados obtidos a composição química do bagaço do pedúnculo de caju apresenta-se apropriado para o processo de hidrólise ácida. Quanto ao efeito da temperatura, a reação conduzida a 18 C, de maneira geral, foi a que apresentou os maiores valores para glicose, xilose, furfural e hidroximetilfurfural. Entretanto, em tempos reacionais acima de 6 minutos existe uma acentuada redução na concentração de glicose e xilose e o aumento da concentração de HMF e furfural. Palavras-chave: Biocombustível; Hidrólise; Resíduo; Despolimerização. 1. INTRODUÇÃO No novo cenário mundial as atenções estão voltadas para o aproveitamento da biomassa e suas possíveis aplicações. A biomassa pode ser definida como todo material vivo ou morto derivado de plantas, animais e possíveis resíduos provenientes destes [DHEPE; FUKUOKA, 28]. O uso da biomassa é bastante amplo, tais como substrato para processos biotecnológicos, obtenção de produtos químicos (ácido levulínico, xilose, xilitol, hidroximetilfurfural, etc.) para a indústria de química fina, até mesmo como fonte de energia. Entretanto, a biomassa das plantas, em especial o amido e os materiais lignocelulósicos (celulose, hemicelulose e lignina), tem atraído maior interesse para a obtenção de biocombustíveis, como é o caso do etanol celulósico. Todavia, o uso do amido esbarra na sua aplicação na indústria de alimentos, isto é, o uso deste polímero na obtenção de biocombustíveis, pode gerar especulação financeira e, também, falta no mesmo no mercado.

Por outro lado, os materiais lignocelulósicos, em especial a celulose, apresentam-se viáveis em virtude de sua disponibilidade e de não ter aplicação direta na indústria de alimentos. Além disso, resíduos de agroindústrias, no caso a cana-de-açúcar, o bagaço de caju, polpa do sisal, resíduo da indústria de extração de óleo vegetal, etc., antes sem nenhum valor financeiro e fontes certas de poluição, podem ser aproveitadas na produção de carboidratos, como glicose, xilose, arabinose, etc. que, posteriormente, podem ser convertidos, por meio de fermentação, em diversos produtos, dentre estes o etanol celulósico. Os biocombustíveis derivados dos materiais lignocelulósicos, em especial a celulose, apresentam-se viáveis em virtude de sua disponibilidade e de não ter aplicação direta na indústria de alimentos. Além disso, resíduos de agroindústrias, por exemplo, cana-deaçúcar, bagaço de caju, polpa de sisal, resíduo da indústria de extração de óleo vegetal, etc., antes sem nenhum valor financeiro e fontes certas de poluição, podem ser aproveitadas na produção de carboidratos, como glicose, xilose, arabinose, etc. que, posteriormente, podem ser convertidos, por meio de fermentação, em diversos produtos, dentre estes o etanol celulósico. Dentre as várias matérias primas lignocelulósicas disponíveis, o pedúnculo do caju apresenta-se como uma matériaprima viável visto o grande resíduo gerado do processamento deste material e, também, a grande quantidade desperdiçada em campo, devida à reduzida estabilidade pós-colheita, associada à baixa absorção pela agroindústria nos períodos de safra. Guo e colaboradores [212] destacam que a biomassa pode fornecer uma grande quantidade de produtos de base sustentável como biocombustíveis (biodiesel, bioetanol, gás de síntese) e produtos químicos (ácido acético, hidroximetilfurfural, glicose, furfural, etc.) que, primariamente, são derivados do petróleo. O hidroximetilfurfural é um composto proveniente da decomposição da glicose, sendo um produto chave na obtenção de vários produtos químicos, tais 2,5 ácido furanodicarboxilíco [GORBANEV et al., 29], ácido levulínico [CHANG; CEN; MA, 27] e 2,5 dimetilfurano [ROMAN- LESHKOV; BARRET; LIU, 27]. Estes compostos por sua vez são considerados produtos químicos de alto valor agregado [e combustíveis de alta qualidade KAY; NOTTINGHAM, 27]. O furfural, composto proveniente da decomposição da xilose e arabinose, é um produto sem uma rota sintética de produção, sendo exclusivamente obtido pela despolimerização ácida das pentoses (xilose e arabinose) provenientes da hemicelulose [RONG et al., 212]. Devido à presença do grupo aldeído, os furfurais são compostos interessantes para a produção de uma grande quantidade de produtos químicos, de interesse para empresas no seguimento de refino de óleo, produção de plásticos, produtos farmacêuticos, indústria agroquímica, etc. [DIAS et al., 26]. Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo caracterizar e avaliar o efeito da temperatura na hidrólise ácida do bagaço do pedúnculo de caju, quanto a liberação de glicose xilose, furfural e hidroximetilfurfural no licor hidrolisado. 2. METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida em dois laboratórios da Universidade Federal de Campina Grande: Laboratório de Engenharia Bioquímica (LEB) e Laboratório de Transferência em Meios Porosos e Sistemas Particulados (LTMPSP).

2.1. Matéria prima Como matéria prima utilizou-se o bagaço do pedúnculo do caju, o qual foi adquirido da indústria de produção de sucos, FRUTNAT, localizada na cidade de Campina Grande, Paraíba. Em laboratório o bagaço foi previamente lavado em água aquecida a 5 C, com o objetivo de lixiviar os açúcares remanescentes após o processamento do pseudofruto do caju. A lavagem foi executada até que a água de lavagem apresenta-se ºBrix zero, para garantir que no bagaço não exista açucares remanescentes do processo de extração. Após a lavagem o bagaço foi acondicionado em bandejas de alumínio e, posteriormente, foi posto para secar em estufa com circulação de ar a uma temperatura média de 55 C. Uma vez seco o bagaço de caju seco (BCS), este foi moído e peneirado em peneira 48 mesh para reduzir a granulometria, sendo acondicionado sob vácuo, em sacos de polietileno de alta densidade para o posterior uso. 2.2. Caracterização da matéria prima O BCS foi caracterizado quanto ao teor de ao teor de açúcares redutores [SLUITER, et al., 28], teor de cinzas [BRASIL, 25], celulose, hemicelulose, lignina e extratíveis [TAPPI, 21]. 2.3. Processo de hidrólise As reações hidrólise e pré-hidrolise ácida do BCS foram conduzidas em reator de aço inox, com capacidade de 75 ml, pressão autógena, temporizador e sistema controlador de temperatura. Previamente às reações de hidrólise o BCS foi pré-hidrolisado a 15 ºC por 1 h, com razão mássica de 1:1 e solução de ácido sulfúrico a 1% (v/v), condições estas previamente estabelecidas por testes experimentais. As reações de hidrólise ácida foram conduzidas nas temperaturas de 14, 16 e 18 C, na presença de solução de uma solução de H 2 SO 4 a 3% (v/v), com razão mássica BSC:solução de 1:1 e tempo reacional de 15 minutos. A cada 15 minutos, ao longo da reação foram retiradas alíquotas para caracterização de glicose, xilose, hidroximetilfurfural e furfural [SLUITER, et al., 28]. As análises de açúcares foram realizadas através de cromatografia líquida, utilizando-se do HPLC. Os dados do cromatógrafo e as condições das operações serão as seguintes: cromatógrafo líquido equipado com uma bomba modelo ProStar 21 (Varia n); Injetor manual com loop de 2 µl; Detector de índice de refração modelo ProStar 356 (Varian); Coluna analítica de aço inox Hi-Plex H (3 mm x 7,7 mm; Varian); Temperatura da coluna de 4ºC; Fase móvel: água miliq com vazão de,6 ml/min 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 os resultados referentes aos açúcares redutores, cinzas, celulose, hemicelulose, lignina e extrativos do bagaço de caju seco (BCS) encontram-se apresentados. Tabela 1: Caracterização química do BCS Parâmetros Analisados BCS Açúcares redutores (%),31 Cinzas (%) 2,86 Celulose (%) 25,6 Hemicelulose (%) 15,1 Lignina (%) 23,7 Extrativos (%) 18,54 BCS - Bagaço de caju seco A análise destes resultados indica que a lavagem do bagaço foi eficaz quanto a reduzir o teor de açúcares. redutores do BCS, de forma a garantir que os resultados de glicose e xilose

sejam provenientes da hidrólise ácida do BCS. Ademais, os valores de açúcares redutores foram inferiores aos obtidos por Brandão et al. (23), cerca de 8,1%, e Machado (29), com 11,74%. Com relação aos valores de celulose, hemicelulose e lignina os valores obtidos nas análise foram inferiores aos observados por Morais e Broetto [212], para o bagaço de cana de açúcar lavado, cerca de 43,5; 35,4; e 14,94%, respectivamente. Gouveia, Nascimento e Souto-Maior [29] encontraram valores para a celulose, hemicelulose e lignina de 5; 8; e 33%, respectivamente. Os resultados referentes à celulose, hemicelulose e lignina para o BCS, embora inferiores ao bagaço de cana, indicam que o BCS potencial aplicação em processos de despolimerização de materiais lignocelulósicos. Sua aplicação pode ser desde puro ou até mesclado a outras fontes lignocelulósica. Um contraponto do uso do BCS refere-se ao elevado teor de lignina e extrativos. Segundo Gupta e Demirbas [21] a principal função da lignina nas plantas é de suporte estrutural e de impermeabilização, além de fornecer resistência contra o ataque de microorganismos. Os extrativos, por outro lado, são componentes das biomassas em que estão inclusos terpenos, ceras, matéria graxa, pigmentos, aromáticos entre outros [BEVILAQUA, 21]. Estes componentes quando presentes podem afetar drasticamente o processo de hidrólise enzimática, impedindo o acesso das enzimas à celulose, além de poderem formar compostos tóxicos para as enzimas e micro-organismos empregados no processo de fermentação. Portanto, fazse necessário empregar pré-tratamentos para a remoção parcial ou plena destes componentes. No tocante a reação de hidrólise ácida do BCS, verificou-se que o processo é drasticamente afetado pelo incremento da temperatura (Figura 1). Figura 1: Efeito da temperatura na formação de glicose e xilose no processo de hidrólise ácida do BCS. 3 275 25 225 2 175 15 125 75 5 25 8 7 6 5 4 3 2 14 C 16 C 18 C 15 3 45 6 75 9 15 12 14 C 16 C 18 C GLICOSE 15 3 45 6 75 9 15 12 XILOSE Notadamente, é observado maiores valores de conversão da biomassa em glicose e xilose para a temperatura de 18 C. Entretanto, a influência do binômio temperatura-tempo, já que para a temperatura de 18 C, a partir de 6 minutos de reação, ocorre um acentuado declínio na concentração de glicose e xilose. Estes resultados, quando comparados à produção de hidroximetilfurfural (HMF) e furfural, encontram concordância, uma vez que a concentração destes, após 45 minutos de reação aumentam cerca de cinco vezes.

Figura 2: Efeito da temperatura na formação de HMF e furfural no processo de hidrólise ácida do BCS. 2 175 15 125 75 5 25 2 175 15 125 75 5 25 14 C 16 C 18 C 15 3 45 6 75 9 15 12 14 C 16 C 18 C HIDROXIMETILFURFURAL 15 3 45 6 75 9 15 12 FURFURAL Segundo Gurgel e colaboradores [212] os produtos resultantes da degradação das hemiceluloses e celulose, durante a reação de hidrólise ácida, são o furfural e o HMF. O HMF e o furfural são compostos considerados tóxicos para os microorganismos utilizados na fermentação alcoólica, quando em elevada concentração no meio [GURGEL, 21]. 4. CONCLUSÕES Conforme os resultados obtidos no presente estudo pode-se concluir que o bagaço de caju apresenta-se como uma matéria prima viável para ser utilizada em processos de despolimerização de materiais lignocelulósicos. Com relação a hidrólise ácida do bagaço de caju seco o aumento da temperatura resulta no acréscimo da concentração de glicose e xilose no licor hidrolisado. O licor hidrolisado com altas concentrações de glicose e xilose são promissores para produção de etanol e xilitol por processo biotecnológico. Também, o aumento da temperatura resulta no aumento do furfural e hidroximetilfurfural. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEVILAQUE, D. B. Produção de ácido levulínico por meio de hidrólise ácida da casca de arroz. 21, 87p Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Pós-Graduação em Química. Santa Maria-RS. CHANG, C.; CEN, P.L.; MA, X.J. Levulinic acid production from wheat straw. Bioresource Technology, v. 98, p. 1448 1453, 28. DHEPE, P. L.; FUKUOKA, A. Cellulose conversion under heterogenenous catalysis, v. 1, p. 969-975, 28. DIAS, A. S.; LIMA, S.; PILLINGER, M.; VALENTE, A. A. Acidic cesium salts of 12-tungstophosphoric acid as catalysts for the dehydration of xylose into furfural. Carbohydrate Research, v. 341, n. 18,p. 2946-2953, 26. GORBANEV, Y.Y.; KLITGAARD, S.K.; WOODLEY, J.M.; CHRISTENSEN, C.H.; RIISAGER, A. Gold-catalyzed aerobic oxidation of 5-hydroxymethylfurfural in water at ambient temperature. ChemSusChem, v, 2 p. 672 675, 29. GOUVEIA, E. R.; NASCIMENTO, R. T.; SOUTO-MAIOR, A. M. Validação de metodologia para a caracterização química de bagaço de cana-de-açúcar. Química Nova, v. 32, p. 15-153, 29. GUO, F.; FANG, Z.; XU, C. C; SMITH JR., R. L. Solid acid mediated hydrolysis of biomass for producing biofuels. Progress

in Energy and Combustion Science, v. 38, n. 5, p. 672-69, 212. GUPTA, R. B.; DEMIRBAS, A. Gasoline, diesel, and ethanol biofuels from grasses and plants. Cambridge University Press, 21. TAPPI Technical Association of the Pulp and Paper Industry. Official Test Methods (OM), Provisional Test Methods (PM) and Useful Test Methods (UM). Atlanta: One Dunwoody Park, 21 GURGEL, L. V. A. Hidrólise ácida de bagaço da cana-de-açúcar: estudo cinético de sacarificação de celulose para produção de etanol. 21 315f. Tese de Doutorado, Universidade Federal de São Carlos, Pós-Graduação em Ciências. São Carlos-SP. KAY, S.J.; NOTTINGHAM, S.F. Biology and Chemistry of Jerusalem Artichoke:Helianthus tuberosus L, CRC Press: Boca Raton 27, 61p. MORAIS, A. P.; BROETTO, F. Préhidrólise ácida de bagaço de cana-deaçúcar e sua caracterização físicoquímica. Revista Energia na Agricultura, v. 27, p. 1-12, 212. ROMAN-LESHKOV, Y.; BARRETT, C.J.; LIU, Z.Y.; DUMESIC,J.A. Production of dimethylfuran for liquid fuels from biomass-derived carbohydrates. Nature, v. 447, p.. 982 986, 27. RONG, C.; DING, X.; ZHU, Y.; LI, Y.; WANG, L.; QU, Y.; MA, Y.; WANG, Z. Production of furfural from xylose at atmospheric pressure by dilute sulfuric acid and inorganic salts. Carbohydrate Research, v. 35, n. 1 p. 77-8, 212. SLUITER, A.; HAMES, B.; RUIZ, R.; SCARLATA, C.; SLUITER, J.; TEMPLETON, D. (28). Determination of Sugars, Byproducts, and Degradation Products in Liquid Fraction Process Samples. 28, 67p. NREL-National Renewable Energy laboratory: Laboratory Analytical Procedure (LAP).