Funções gramaticais: Exercícios (UFPR) 1
1. Justique como podemos classicar Maria e cantou, na sentença Maria cantou, respectivamente como substantivo (nome) e verbo. A sentença Maria cantou é uma das mais simples que se pode construir em português, contendo apenas duas palavras (só não é mais simples do que choveu, com apenas uma palavra), e por isso, num certo sentido, ela revela o princípio mais elementar de construção das sentenças: a justaposição de dois elementos para constituir um sintagma. Esses elementos, por sua vez, apresentam caracterísitcas exionais distintas: Maria pertence ao paradigma nominal (apresenta exão nominal), enquanto cantou pertence ao paradigma verbal (apresenta exão verbal). Do ponto de vista sintático, podemos constatar que só outras construções do mesmo paradigma nominal podem ser substituídos no lugar de Maria (como meninos cantaram); no outro lado, apenas construções do mesmo paradigma verbal podem ocupar o lugar de cantou (como Maria está caindo). Funções gramaticais: Exercícios 2
2. Faça a análise sintática comparativa das sentenças: o jovem cego saiu o cego jovem saiu Na primeira sentença, identicamos uma ambiguidade estrutural que não se constata na segunda. Podemos construir para ela duas paráfrases como o jovem que era cego saiu e o cego que era jovem saiu; já a segunda sentença só aceita como paráfrase o cego que era jovem saiu. Isso mostra que na primeira sentença há uma ambiguidade de atribuição de classe, de forma que jovem e cego podem alternar entre nome e adjetivo, como mostram as árvores a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 3
V V Det N' saiu Det N' saiu o N Adj o Adj N jovem cego jovem cego Funções gramaticais: Exercícios 4
Já a segunda sentença só apresenta uma conguração estrutural, apresentada na árvore abaixo. V Det N' saiu o N Adj cego jovem Funções gramaticais: Exercícios 5
3. Aponte na sentença Pedro colocou um livro na estante as relações de caso e de papel temático, relacionado-as às funções de sujeito, objeto direto e objeto indireto. Identicamos associado ao verbo colocar o estabelecimento de três argumentos (alguém é o colocador, alguma coisa é colocada, e há um lugar ou posição de colocação); a cada um deles corresponde um papel temático: agente, para o primeiro; tema para o segundo; e posição para o terceiro. Já do ponto de vista da atribuição de caso, o nominativo é atribuído pelo V ao irmão precedente; o verbo atribui caso acusativo para o irmão que o sucede; e P atribui caso oblíquo ao irmão que o sucede. Todas estas relações são representadas no diagrama em árvore a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 6
nom. V Pedro ag. V' P V ac. tema loc. P obl. colocou o livro n a estante Funções gramaticais: Exercícios 7
4. Identitique (aplicando o teste de acarretamento) os complementos e os adjuntos da sentença Maria viu Pedro no parque de manhã. Desenhe as árvores para representar as estruturas sintáticas desta sentença (observe que ela é estruturalmente ambígua). A sequência Maria viu não parece constituir uma sentença autônoma; de qualquer maneira, ainda que a pudéssemos tratar como tal, uma sequência como Maria viu, mas não viu nada soaria contraditória. O mesmo vale para viu Pedro: se viu Pedro fosse uma sentença, viu Pedro, mas ninguém viu seria contraditória. Isso mostra que Maria e Pedro funcionam como argumentos do verbo viu na presente sentença. Funções gramaticais: Exercícios 8
Por outro lado, sentenças como Maria viu Pedro, mas não no parque e Maria viu Pedro, mas não de manhã parecem perfeitamente possíveis (e consistentes). Assim, constatamos que no parque e de manhã não são argumentos de viu. Isso sugere que o verbo ver possibilita a distribuição de dois papéis temáticos: o de agente para seu sujeito, e o de tema para seu complemento (objeto direto), como podemos observar na árvore a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 9
P P de manhã V no parque Maria V viu Pedro Funções gramaticais: Exercícios 10
No entanto, com uma pequena alteração sintática, podemos construir uma sentença como Pedro, enquanto estava no parque, foi visto por Maria de manhã; essa observação mostra que há uma conguração sintática na qual no parque é constituinte junto com o Pedro (do qual é adjunto). É esta conguração que procuramos representar com a árvore a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 11
P V de manhã Maria V viu P Pedro no parque Funções gramaticais: Exercícios 12
Numa outra alteração, podemos construir a sentença Pedro, enquanto estava no parque, durante a manhã, foi visto por Maria. Nesta nova conguração, portanto, de manhã também pertence ao domínio do objeto direto, como vemos no diagrama a seguir. (Como no parque intervém linearmente entre Pedro e de manhã, não é possível que este esteja no sem que o outra esteja; as relações se inverteriam se a sentença fosse Maria viu Pedro de manhã no parque.) Funções gramaticais: Exercícios 13
V Maria V viu P P de manhã Pedro no parque Funções gramaticais: Exercícios 14
4. Tente encontrar os cinco argumentos que, como vimos, Cançado diz que o verbo alugar tem. No máximo que consigo chegar é a uma sentença como Pedro alugou uma casa para Antônio por R$500, que evidenciaria que alugar é um verbo com quatro argumentos: o locador, o locatário, a coisa alugada e o valor do aluguel. Que são argumentos, ca comprovado pelo teste de acarretamento, já que uma sentença como uma casa foi alugada, mas niguém é seu locador, ninguém é seu locatário, e não há aluguel a ser pago soaria contraditória, já que estamos tentando negar os acarretamentos relativos ao locador, ao locatário e ao valor do aluguel; já numa sentença como Pedro alugou, mas nada foi locado, que também soa contraditória, o acarretamento negado é o da coisa alugada. O diagrama em árvore com a estrutura sintagmática e as relações de caso e de papel temático pode ser visto no próximo slide. Funções gramaticais: Exercícios 15
nom. V Pedro V val. P ag. V ben. P P obl. V ac. P obl. por R$500 tema alugou uma casa para Antônio Funções gramaticais: Exercícios 16