Funções gramaticais: Exercícios. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Documentos relacionados
Funções gramaticais: Objeto direto e indireto. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Funções gramaticais: Complemento e adjunto. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

HL396 Língua Portuguesa IV Segunda avaliação

Posiçã o sintã ticã e pãpe is temã ticos

Classes gramaticais: Verbo e nome. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

ESTRUTURA DE CONSTITUINTES FUNDAMENTOS DE SINTAXE APOIO PEDAGÓGICO 02/05/2018 SAULO SANTOS

Diagramas em árvore. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Funções gramaticais: Sujeito e predicado. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Introdução a uma abordagem formal da sintaxe Teoria X-barra, II

Estudo dos pronomes. Professora: Raysa Ferreira

Classes gramaticais: Determinante e adjetivo. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Estudo dos pronomes. Professora: Raysa Ferreira

TÓPICO III: INTRODUÇÃO A UMA ABORDAGEM FORMAL DA GRAMÁTICA 1. Teoria X-barra (ou: dos Constituintes Sintáticos)

(2) SN N (SP)/(Adj) {gerando por exemplo: SN = N-livro SP-de chocolate; SN = N-rabo Adj-amarelo]

Estrutura de constituintes. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Classes gramaticais: Pronome. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Gramáticas Livres de Contexto

Sumarizando: o que é uma língua. Métodos para seu estudo...44

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM

Uma proposta de arquitetura

LINGUAGEM LIVRE DE CONTEXTO GRAMÁTICA LIVRE DE CONTEXTO

REFLEXÕES SOBRE A FUNÇÃO SINTÁTICA DE ATRIBUTO Antônio Sérgio Cavalcante da Cunha (UERJ; UNESA)

1 Complementos e modificadores Distinção estrutural entre complementos e modificadores... 3

Morfologia e Classes Apresentação da Professora Gramaticais Licenciatura em Letras Língua Portuguesa e Literaturas Ementa Organização da Disciplina

Sintaxe. Prof. Dr. Felipe Venâncio Barbosa

Morfologia, Sintaxe e Morfossintaxe substantivo, verbo, Morfologia. Morfologia classes gramaticais

Sexta semana do curso de Linguística III Professor Alessandro Boechat de Medeiros Departamento de Linguística e Filologia.

5 Comentários. 5.1 O Problema do Predicativo do Sujeito

INTRODUÇÃO À SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA

GUIA DE AULAS - PORTUGUÊS - SITE: EDUCADORES.GEEKIELAB.COM.BR


Um dos principais filtros impostos pela estrutura de superfície é o filtro de Caso. O filtro de Caso pode ser expresso da seguinte maneira:

Pronome relativo A língua portuguesa apresenta 7 formas de pronomes e advérbios relativos consensuais: Que O que Quem O qual Onde Quanto Cujo

CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS

PORTUGUÊS CONCORDÂNCIA NOMINAL (ESTUDO DIRIGIDO)

Sumário. Apresentação. Parte 1 Período simples 1 Quadro geral dos termos da oração 3 Frase, oração e período 3

Professor Marlos Pires Gonçalves

FUNÇÕES SINTÁTICAS. Ficha 2 FUNÇÕES SINTÁTICAS A NÍVEL DA FRASE. 1. Sujeito. Classificação do sujeito

VERBOS LEVES OBSERVAÇÕES SOBRE O PORTUGUÊS DO BRASIL 3 Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ, UNISUAM)

Questões de Concursos Aula 02 CEF PORTUGUÊS. Prof. Carlos Zambeli

PREDICATIVO DO OBJETO. A vitória tornou eleito o vereador.

Marcação nominal de gênero no português, segundo Mattoso Câmara. Luiz Arthur Pagani

6 Atributos. A dívida da empresa subiu.

Nomes e sintagmas nominais, aula 3 de Aulas Informais de Semântica Formal (Bach 1987) Luiz Arthur Pagani

Professora Patrícia Lopes

15/03/2018. Professor Ariel da Silva Dias Aspectos sintáticos e semânticos básicos de linguagens de programação

Processamento de Linguagem Natural

Professora Patrícia Lopes

Processamento de Linguagem Natural

Professora: Jéssica Nayra Sayão de Paula Disciplina: Introdução aos estudos linguísticos II

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém

Oração subordinada: substantiva relativa e adjetiva relativa

Gramáticas e Linguagens independentes de contexto

Língua Portuguesa A MORFOSSINTAXE. Profª. Fernanda Machado

Gabarito Exercícios de Sintaxe. Considere a gramática G abaixo e responda às questões a seguir:

3 Estudos sobre a nominalização na Língua Portuguesa

Funções gramaticais: Coordenação e subordinação. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Anexo B Relação de Assuntos Pré-Requisitos à Matrícula

LÍNGUA PORTUGUESA 3º ANO. Professora: Juliana Prado

Um problema formal na interpretação dos sintagmas preposicionados. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

A morfologia divide as palavras em classes gramaticais; já a sintaxe estuda a função das palavras dentro de um contexto oracional.

Bárbara da Silva. Português. Aula 52 Adjunto adnominal

CAPÍTULO 01 - INTERPRETAÇÃO DE TEXTO TIPOS DE TEXTO GÊNERO DE TEXTO TIPOS DE DISCURSO... 21

Processamento de Linguagem Natural

REVISÃO. Profª Fernanda Machado

Língua Portuguesa. Professoras: Fernanda e Danúzia

ORDEM DIRETA DOS TERMOS DA ORAÇÃO

Gramática de Montague

4 A expressão do tempo através da conjunção quando

Cinco maneiras fáceis de diferenciar o Adjunto adnominal do Complemento Nominal

Pronomes relativos São aqueles que retomam um substantivo (ou um pronome) anterior a eles, substituindo-o no início da oração seguinte.

AULA 11. Sintaxe da oração e do período MINISTÉRIO DA FAZENDA

Semântica de Eventos Aula 1

Compiladores - Análise Léxica

Questão 01 Os hobbits

a) houve uma mudança na direção de cliticização do PB (NUNES, 1996); b) os pronomes retos estão sendo aceitos em função acusativa;

APOIO PEDAGÓGICO AO NÚCLEO COMUM

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9. O ESTUDO DO SIGNIFICADO NO NÍVEL DA SENTENÇA...13 Objetivos gerais do capítulo...13 Objetivos de cada seção...

Concordância nominal no português através de Gramáticas de Estrutura Sintagmática

Raciocínio Lógico. Quantificadores Lógicos: Todo, Nenhum e Existente. Professor Edgar Abreu.

Língua Portuguesa Questões AOCP Professor Alexandre Luz

Parte 4 - Semântica. Papéis Temáticos

(2) Alteração no papel temático do sujeito a depender da semântica do argumento: matou dez pessoas matou dez pessoas

MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO EXÉRCITO DIRETORIA DE EDUCAÇÃO PREPARATÓRIA E ASSISTENCIAL

(2) Alteração no papel temático do sujeito a depender da semântica do argumento: matou dez pessoas matou dez pessoas

Bárbara da Silva. Português. Aula 54 Predicado II

Definições Exemplos de gramáticas

Colégio Diocesano Seridoense Ensino Fundamental II 2º Bimestre. Verbo. Professora: Caliana Medeiros.

DESDEMONIZANDO O ENSINO DE GRAMÁTICA. Emilio Pagotto - USP

Exercícios de múltipla escolha

Aula 09 PALAVRA SE. VOZ PASSIVA Sujeito agente Agente da passiva. VOZ ATIVA Objeto direto Sujeito paciente

1 Complementos e Modificadores de Nome... 2

Terceiro Trabalho de Inteligência Artificial / Sistemas Inteligentes. Entrega: 29/04/2016


ORDEM DIRETA DE ORAÇÕES E PERÍODOS E OS USOS DA VÍRGULA

Funções sintáticas. Porto Editora

Estudo do Predicado e Predicativo do Sujeito

Transcrição:

Funções gramaticais: Exercícios (UFPR) 1

1. Justique como podemos classicar Maria e cantou, na sentença Maria cantou, respectivamente como substantivo (nome) e verbo. A sentença Maria cantou é uma das mais simples que se pode construir em português, contendo apenas duas palavras (só não é mais simples do que choveu, com apenas uma palavra), e por isso, num certo sentido, ela revela o princípio mais elementar de construção das sentenças: a justaposição de dois elementos para constituir um sintagma. Esses elementos, por sua vez, apresentam caracterísitcas exionais distintas: Maria pertence ao paradigma nominal (apresenta exão nominal), enquanto cantou pertence ao paradigma verbal (apresenta exão verbal). Do ponto de vista sintático, podemos constatar que só outras construções do mesmo paradigma nominal podem ser substituídos no lugar de Maria (como meninos cantaram); no outro lado, apenas construções do mesmo paradigma verbal podem ocupar o lugar de cantou (como Maria está caindo). Funções gramaticais: Exercícios 2

2. Faça a análise sintática comparativa das sentenças: o jovem cego saiu o cego jovem saiu Na primeira sentença, identicamos uma ambiguidade estrutural que não se constata na segunda. Podemos construir para ela duas paráfrases como o jovem que era cego saiu e o cego que era jovem saiu; já a segunda sentença só aceita como paráfrase o cego que era jovem saiu. Isso mostra que na primeira sentença há uma ambiguidade de atribuição de classe, de forma que jovem e cego podem alternar entre nome e adjetivo, como mostram as árvores a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 3

V V Det N' saiu Det N' saiu o N Adj o Adj N jovem cego jovem cego Funções gramaticais: Exercícios 4

Já a segunda sentença só apresenta uma conguração estrutural, apresentada na árvore abaixo. V Det N' saiu o N Adj cego jovem Funções gramaticais: Exercícios 5

3. Aponte na sentença Pedro colocou um livro na estante as relações de caso e de papel temático, relacionado-as às funções de sujeito, objeto direto e objeto indireto. Identicamos associado ao verbo colocar o estabelecimento de três argumentos (alguém é o colocador, alguma coisa é colocada, e há um lugar ou posição de colocação); a cada um deles corresponde um papel temático: agente, para o primeiro; tema para o segundo; e posição para o terceiro. Já do ponto de vista da atribuição de caso, o nominativo é atribuído pelo V ao irmão precedente; o verbo atribui caso acusativo para o irmão que o sucede; e P atribui caso oblíquo ao irmão que o sucede. Todas estas relações são representadas no diagrama em árvore a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 6

nom. V Pedro ag. V' P V ac. tema loc. P obl. colocou o livro n a estante Funções gramaticais: Exercícios 7

4. Identitique (aplicando o teste de acarretamento) os complementos e os adjuntos da sentença Maria viu Pedro no parque de manhã. Desenhe as árvores para representar as estruturas sintáticas desta sentença (observe que ela é estruturalmente ambígua). A sequência Maria viu não parece constituir uma sentença autônoma; de qualquer maneira, ainda que a pudéssemos tratar como tal, uma sequência como Maria viu, mas não viu nada soaria contraditória. O mesmo vale para viu Pedro: se viu Pedro fosse uma sentença, viu Pedro, mas ninguém viu seria contraditória. Isso mostra que Maria e Pedro funcionam como argumentos do verbo viu na presente sentença. Funções gramaticais: Exercícios 8

Por outro lado, sentenças como Maria viu Pedro, mas não no parque e Maria viu Pedro, mas não de manhã parecem perfeitamente possíveis (e consistentes). Assim, constatamos que no parque e de manhã não são argumentos de viu. Isso sugere que o verbo ver possibilita a distribuição de dois papéis temáticos: o de agente para seu sujeito, e o de tema para seu complemento (objeto direto), como podemos observar na árvore a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 9

P P de manhã V no parque Maria V viu Pedro Funções gramaticais: Exercícios 10

No entanto, com uma pequena alteração sintática, podemos construir uma sentença como Pedro, enquanto estava no parque, foi visto por Maria de manhã; essa observação mostra que há uma conguração sintática na qual no parque é constituinte junto com o Pedro (do qual é adjunto). É esta conguração que procuramos representar com a árvore a seguir. Funções gramaticais: Exercícios 11

P V de manhã Maria V viu P Pedro no parque Funções gramaticais: Exercícios 12

Numa outra alteração, podemos construir a sentença Pedro, enquanto estava no parque, durante a manhã, foi visto por Maria. Nesta nova conguração, portanto, de manhã também pertence ao domínio do objeto direto, como vemos no diagrama a seguir. (Como no parque intervém linearmente entre Pedro e de manhã, não é possível que este esteja no sem que o outra esteja; as relações se inverteriam se a sentença fosse Maria viu Pedro de manhã no parque.) Funções gramaticais: Exercícios 13

V Maria V viu P P de manhã Pedro no parque Funções gramaticais: Exercícios 14

4. Tente encontrar os cinco argumentos que, como vimos, Cançado diz que o verbo alugar tem. No máximo que consigo chegar é a uma sentença como Pedro alugou uma casa para Antônio por R$500, que evidenciaria que alugar é um verbo com quatro argumentos: o locador, o locatário, a coisa alugada e o valor do aluguel. Que são argumentos, ca comprovado pelo teste de acarretamento, já que uma sentença como uma casa foi alugada, mas niguém é seu locador, ninguém é seu locatário, e não há aluguel a ser pago soaria contraditória, já que estamos tentando negar os acarretamentos relativos ao locador, ao locatário e ao valor do aluguel; já numa sentença como Pedro alugou, mas nada foi locado, que também soa contraditória, o acarretamento negado é o da coisa alugada. O diagrama em árvore com a estrutura sintagmática e as relações de caso e de papel temático pode ser visto no próximo slide. Funções gramaticais: Exercícios 15

nom. V Pedro V val. P ag. V ben. P P obl. V ac. P obl. por R$500 tema alugou uma casa para Antônio Funções gramaticais: Exercícios 16