HISTÓRIAS EM RETALHOS

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Transcrição:

HISTÓRIAS EM RETALHOS

SUMÁRIO ROSAS DE CABECEIRA OS FILHOS DO MEU PAI QUERIDO LOUIS CARTAS O INVERNO DE AURORA A MORTE NÃO FAZ EXIGÊNCIAS! MANGA LONGA OU MANGA CURTA? VERSOS E ANTÍTESES O CICLO ACRÓSTICO PLAYLIST NOTA DA AUTORA

Para Christian e Érica!

A vida é maravilhosa se não se tem medo dela. Charles Chaplin disse, mas Lia retrucou: Então sou uma tremenda covarde!

Rosas de Cabeceira

VERÃO DE 2004 Todas as noites desde que o diagnóstico de Laurie fora revelado, Cindy entrava no quarto da filha para ler histórias que a menina sabia de cor e que não se importava ouvir repetidas vezes. O ritual sempre era o mesmo. Cindy batia na porta, colocava uma rosa branca ou vermelha na cabeceira da cama da filha, sentava na cadeira de frente e lia um capítulo de O Sol é Para Todos, em seguida dava um beijo de boa noite e ia embora. Laurie sorria, feliz e dizia: te amo, mamãe. Sempre assim. Naquela noite não houve nada de tão diferente, mas algo aconteceu. _ Seguimos o seu dedo e, de súbito, sentimos um baque nos nossos corações... _ Mamãe, - Laurie interrompeu a mãe depois de uma tosse seca quero ir à praia amanhã. Para ver o mar que há muito não vejo. Depois quero andar de bicicleta. Tudo bem? _ É claro, minha filha. Cindy arrumou o cabelo fino e pouco da filha atrás da orelha e esboçou um sorriso triste. Laurie estava cada vez mais magra e fraca e Cindy não

sabia se deveria encorajar a menina a sair. Boa noite, querida. Cindy deu um beijo na testa quente da menina e ao chegar à porta Laurie disse: _ Te amo, mamãe. ela apertou os olhos e voltou sua atenção para a porta onde sua mãe estava. Também sei que você me ama. Vejo nos seus olhos. Sei que também não tem costume de dizer isso por causa de sua mãe... mas eu sei que você me ama! Cindy tornou o olhar em outra direção, assentiu, sutil e envergonhada com aquelas palavras, e segurou as lágrimas enquanto fechava a porta do quarto. Ela viu um sorriso fino antes de fechar a porta e a escuridão da noite inundar todos os cômodos da casa. No dia seguinte Laurie foi à praia com seus pais como pedira. Ela ficou sentada a beira mar, os olhos fitos nas ondas que se quebravam logo adiante, os braços cobertos por um casaco fino. Ela estava abraçada aos seus pais; era o que mais gostava de sentir. Conforto. O vento, o barulho das ondas, a visão do horizonte, nada se comparava ao aconchego que aqueles braços de amor, desvelo e afagos

proporcionavam, principalmente nos últimos dias de dor e angústia. Laurie sentia-se segura, calma e tranquila naquela manhã. Todo dia precisava enfrentar injeções e muitos remédios em horários já propostos, o único momento calmo do seu dia era a noite. _ Queria voar como os pássaros e poder correr sem sentir dor e perder o fôlego. _ Oh, querida! _ Papai, você faz um monte de máquinas. Eu já vi. Lembra-se do alimentador de peixe? ela sorriu com a lembrança. Você ganhou muito dinheiro, não foi? ela arqueou as sobrancelhas de um modo sugestivo e esboçou um sorriso travesso. Pode até fazer um avião para a gente, não pode? _ Um dia tentarei fazer um pra você, minha filha. _ Precisa ser logo, papai. ela disse, os olhos extasiados com o céu azul, os lábios sorrindo com as pipas cortando as nuvens. Não tenho muito tempo. Esqueceu? Precisa se apressar. ela alertou e bateu as mãos nas coxas

para mostrar o quão rápido ele devia ser para atender ao seu pedido. Cindy baixou os olhos ao comentário da filha, entristecida por esta ser a realidade dura da menina. No hospital as pessoas comentavam. Alguns colegas dela da oncologia diziam que ela iria morrer logo e de alguma forma isso não assustava Laurie como antes. Cindy ficava bastante preocupada, pois certa vez encontrara a menina conversando com Wilbur na sala de brinquedos e a filha o acalmava com palavras cruas. _ Não chore mais, Wilbur. Laurie segurava as mãos do menino e apertava os dedos, tentando ao máximo reconforta-lo. Não há porque se preocupar com isso. _ Laurie... eu não gosto das injeções e já estou careca. Não quero morrer. _ Ei, não se preocupe. Você é bonito careca. ela sorriu e passou a mãozinha fina na cabeça dele, depois se inclinou e beijou a careca com carinho. E a gente vai morrer mesmo. Não tem porque ter medo agora.

_ Não fale isso, Laurie! ele pediu, a voz um tanto embargada, os olhos marejados e cheios de um denso medo. _ Essa doença é só um contratempo. Não se preocupe com nada, cara! ela sorriu, brincalhona; - A gente pode brincar enquanto isso, não quer? Minutos se passaram e Cindy observou toda a cena com os olhos cheios de lágrimas e o rosto sujo de rímel através do vidro que os separava. _ Gosto de você, Wilbur! _ Gosto de você, Laurie. ele sorriu ao passo que montava seu Lego. Mas, por favor, Laurie, não fale mais em morte. _ Não falarei, prometo! E mesmo com todas as certezas da menina, Cindy tentava afastá-la dos comentários das outras crianças, um instinto protetor e de negação a invadia toda vez que a menina precisava ir para o hospital. Ali na praia, Ted, o pai de Laurie, a puxou para um abraço e a beijou no topo da cabeça, triste.