CADERNO OPINIÃO MARÇO 2016 ENERGIA NUCLEAR

Documentos relacionados
ESTRATÉGIAS DE ACEITAÇÃO PÚBLICA DA GERAÇÃO ELÉTRICA NUCLEAR

A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ENERGIA E ÁGUA

A TECNOLOGIA DAS NOVAS USINAS NUCLEARES SERÁ A CHAVE PARA O SUCESSO OU O FRACASSO

AGENDA MÍNIMA PARA DESTRAVAR OS INVESTIMENTOS NO SETOR DE PETRÓLEO

ENERGIAS RENOVÁVEIS COMPLEMENTARES: BENEFÍCIOS E DESAFIOS

A CRISE DO RIO DE JANEIRO IMPULSIONANDO A MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA

PROJETOS DE MODERNIZAÇÃO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA POR PPPS: REDUÇÃO DE CUSTOS PARA OS MUNICÍPIOS, EFICIÊNCIA PARA A SOCIEDADE E MOTOR PARA A ECONOMIA

CONSTRUÇÃO E SEGURANÇA EM BARRAGENS BRASILEIRAS

A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E A NOVA REALIDADE DO SETOR ELÉTRICO

O MERCADO BRASILEIRO DE COMBUSTÍVEIS

CAMINHOS DA OFERTA E DEMANDA DE ENERGIA AO LONGO DO SÉCULO XXI

O SETOR ELÉTRICO E AS NOVAS POLÍTICAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

CIDADES INTELIGENTES E HUMANAS

ENERGIA NUCLEAR autor: José Luiz Alquéres abril

PLANEJAMENTO E SEGURANÇA ENERGÉTICA: CONTEXTUALIZAÇÃO E PANORAMA

A UBERIZAÇÃO DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA

A INDÚSTRIA DE ENERGIA EÓLICA BRASILEIRA: DA INSERÇÃO A CONSOLIDAÇÃO.

O BRASIL, A ENERGIA ELÉTRICA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

PORQUE FALAR DE GÁS? autora: Ieda Gomes novembro

O BIOGÁS DO AGRONEGÓCIO: TRANSFORMANDO O PASSIVO AMBIENTAL EM ATIVO ENERGÉTICO E AUMENTANDO A COMPETITIVIDADE DO SETOR

TECNOLOGIA FOTOVOLTAICA NO BRASIL: GERANDO ENERGIA, BEM-ESTAR, EMPREGO E RENDA

O CONTROLE DE PREÇOS E A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-SAL

O MEDO NUCLEAR autor: Leonam dos Santos Guimarães novembro.2016

DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA POR FONTES RENOVÁVEIS NO BRASIL

O CURIOSO CASO DO MONOPOLISTA QUE QUEBROU O MONOPÓLIO

A REFUNDAÇÃO DA PETROBRAS

TARIFA BRANCA: OPORTUNIDADES EM MEIO A INCERTEZAS

O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO E A INTEGRAÇÃO ELÉTRICA REGIONAL

ENSAIO SOBRE EXPANSÃO SOLAR FOTOVOLTAICA NA MATRIZ ELÉTRICA

OS DESAFIOS DO ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO SETOR ELÉTRICO

POR QUE O GSF VIROU PESADELO?

TERMELÉTRICAS E SEU PAPEL NA MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA

INFRAESTRUTURA: OPORTUNIDADES NO NORDESTE BRASILEIRO

A POLÍTICA NACIONAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS E OS GANHOS DE EFICIÊNCIA NO SETOR PRODUTIVO

ENERGIA SOLAR AMPLIA A CARACTERÍSTICA SUSTENTÁVEL DA MATRIZ ELÉTRICA DO BRASIL

ANEXO B. DADOS MUNDIAIS DE ENERGIA

OPORTUNIDADES NO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NO BRASIL

DOIS ANOS DO CADERNO DE GÁS NATURAL: QUAIS REFLEXÕES PODEM SER FEITAS?

FLEXIBILIZAÇÃO DE MONOPÓLIO 1 E 2

O IMPACTO DE VARIÁVEIS CLIMÁTICAS NA OPERAÇÃO DO SIN - ESTADO DA ARTE E REFLEXÕES

5º Seminário Internacional de Energia Nuclear

POR UMA POLÍTICA INDUSTRIAL QUE INDUZA A COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA LOCAL

EVITAR, MUDAR E MELHORAR: ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DOS TRANSPORTES

HORÁRIO DE VERÃO: UMA POLÊMICA HISTÓRICA AUTORES

Geração Elétrica. Prof. Dr. Eng. Paulo Cícero Fritzen

ENERGIA LOCAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL LOCAL

O DESENVOLVIMENTO DA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL

A CONSTANTE EVOLUÇÃO DO MERCADO GLOBAL DE GÁS NATURAL E OS DESAFIOS PARA O BRASIL: ALL OF THE ISSUES ARE ABOVE GROUND

AS AGÊNCIAS REGULADORAS NO BRASIL E SUA INVOLUÇÃO

A FRUSTRAÇÃO DE PROJETOS DE GERAÇÃO E A EXPANSÃO DO SIN

UM MERCADO DE TÍTULOS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

PONTOS CRÍTICOS DE SUCESSO E FRACASSO DOS PROJETOS PREVISTOS NO PLANO DECENAL DE EXPANSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

João Roberto Loureiro de Mattos

5º Seminário Internacional de Energia Nuclear

PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS: A LIVRE INICIATIVA EM NÚMEROS

O PAPEL DA REGIONALIZAÇÃO NA INTEGRAÇÃO DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS AUTORA

APRESENTAÇÃO PATROCÍNIO GOLD

5º Seminário Internacional de Energia Nuclear

SISTEMA DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO BRASIL: A CAMINHO DA MATURIDADE

Inovação Tecnológica no Setor de Energia Elétrica

Recursos e oferta de energia - petróleo e gás natural. Ano base 2004 (Resources and energy supplies - oil and natural gas.

Seminário Brasil-Alemanha de Eficiência Energética. A escassez de água no Brasil e o impacto na geração de energia

Planejamento nacional e Integração elétrica regional. Amilcar Guerreiro Diretor de Estudos de Energia Elétrica

Fontes Renováveis de Energia: viabilidade da criação de um fundo especial de fomento às energias eólica e solar

TRANSIÇÃO, SEGURANÇA E DIVERSIFICAÇÃO ENERGÉTICAS NO BRASIL E EM OKLAHOMA: PARALELOS E SEMELHANÇAS

BELO HORIZONTE É PIONEIRA EM GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR E FOTOVOLTAICA

14º Encontro de Energia - FIESP

Indicadores Macro para o Brasil na área de Ciência e Tecnologia

Futuro Energético e Geração Nuclear

Declaração de Posicionamento da Eletrobras Eletronuclear

Contextualização e Panorama Macro do setor Ieda Gomes


INVESTIMENTOS CHINESES NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO: OPORTUNIDADES PARA O BRASIL AUTOR

SEMINÁRIO RECURSOS ENERGÉTICOS DO BRASIL: PETRÓLEO, GÁS, URÂNIO E CARVÃO Rio de Janeiro 30 de setembro de Clube de Engenharia

A POSIÇÃO ESTRATÉGICA DO COMPLEXO HIDRELÉTRICA DO RIO MADEIRA PARA O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO. Felipe Botelho Tavares

PLANO DE APRESENTAÇÃO

3- Funcionamento de uma Usina Nuclear. 5- Benefícios indiretos para as comunidades circunvizinhas

O Setor Elétrico do Brasil

Características do potencial hidroenergético COPPE-UFRJ

Título Qual a Matriz Energética Ideal para o Brasil? Veículo Revista Greenpeace Data 02 outubro 2014 Autor Claudio J. D. Sales

PAINEL REGIONAL DA INDÚSTRIA MINEIRA REGIONAIS FIEMG. Vale do Rio Grande

15 a 19 de setembro. Inscrições abertas

COLÉGIO 7 DE SETEMBRO DISICIPLINA DE GEOGRAFIA PROF. RONALDO LOURENÇO 1º 1 PERCURSO 26 (PARTE 3) A PRODUÇÃO MUNDIAL DE ENERGIA

Fundação Getúlio Vargas Instituto Brasileiro de Economia Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura

INOVAÇÕES AMBIENTAIS ENERGIA Fundação Dom Cabral 07/06/2011

Mudança de Paradigma do Sistema Elétrico Brasileiro e Papel das Energias Complementares

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: Desafios e Oportunidades

GEOGRAFIA 3ª SÉRIE EM TAREFA DA SEMANA DE 25 DE AGOSTO A 29 DE AGOSTO 14ª SEMANA

São Paulo, novembro 2015

Outras Regionalizações do Espaço Mundial. Percurso 4. Expedições Geográficas. Profª Bruna Andrade 8ºANO

ITAIPU: MODELO PARA APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS DE GRANDE PORTE

O impulso à energia solar no Brasil Renata Camargo

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Dinâmica das Potencias Climáticas, Governança Global e Transição para o Baixo Carbono Rio,CINDES,10/6/2011

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE COUROS E PELES

FÓRUM E MOSTRA TECNOLÓGICA ÁGUA E ENERGIA.

FIESP - 8º Encontro de Logística e Transportes A Hora do Investimento Privado

Marinha confirma os avanços do Programa Nuclear Brasileiro (Vídeo)

Transcrição:

CADERNO OPINIÃO MARÇO 2016 ENERGIA NUCLEAR autor: Leonam dos Santos Guimarães março.2016 2

3

SOBRE A FGV ENERGIA A FGV Energia é o centro de estudos dedicado à área de energia da Fundação Getúlio Vargas, criado com o objetivo de posicionar a FGV como protagonista na pesquisa e discussão sobre política pública em energia no país. O centro busca formular estudos, políticas e diretrizes de energia, e estabelecer parcerias para auxiliar empresas e governo nas tomadas de decisão. Diretor Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella Coordenação de Relação Institucional Luiz Roberto Bezerra Coordenação Operacional Simone C. Lecques de Magalhães Coordenação de Pesquisa, Ensino e P&D Felipe Gonçalves Pesquisadores Bruno Moreno Rodrigo de Freitas Larissa de Oliveira Resende Mariana Weiss de Abreu Renata Hamilton de Ruiz Tatiana de Fátima Bruce da Silva Vinícius Neves Motta Consultores Associados Ieda Gomes - Gás Nelson Narciso - Petróleo e Gás Paulo César Fernandes da Cunha - Setor Elétrico Estagiárias Júlia Febraro F. G. da Silva Raquel Dias de Oliveira 4

OPINIÃO pública. Há, contudo, uma ligação importante entre essas duas causas. Leonam dos Santos Guimarães Diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletrobrás Eletronuclear Hoje no mundo existem 67 usinas nucleares em construção: 23 na China, 9 na Rússia, 6 na Índia, 5 nos EUA, 4 na Coréia do Sul, 4 nos Emirados Árabes Unidos, 2 no Japão, 2 na Belarus, 2 na Ucrânia, 2 no Paquistão, 2 na Eslováquia, 2 em Taiwan, 1 na Argentina, 1 na Finlândia, 1 na França e 1 no Brasil. Recentemente o Reino Unido lançou a construção de mais 2 usinas. A potência dessas novas unidades representa 18% de acréscimo à potência instalada das 439 usinas em operação, que atualmente geram 12% da eletricidade produzida no mundo. Nos últimos 10 anos, 45 novas usinas entraram em operação. Isso demonstra a competitividade da geração nuclear em termos de custos de produção. Entretanto, duas razões explicam por que o número de usinas nucleares em construção não é bem maior: custos de construção e aceitação A aceitação pública não constitui impedimento para novos empreendimentos em muitos importantes países, como o número de usinas em construção demonstra. O maior problema é o custo crescente de investimento de capital e as dificuldades de estruturar projetos para financiar esses investimentos de longo prazo de maturação. Contudo, os números mostram que se abriu uma distância entre esses custos no Ocidente e no Oriente, onde se concentram a maioria das novas construções. Há formas que permitem que essa distância seja diminuída e que questões relativas à competitividade da energia nuclear sejam tratadas. Entretanto, as questões que envolvem a aceitação pública são pelo menos em parte responsáveis pelo problema subjacente dos custos de construção no mundo ocidental. Se Fukushima impôs mais obstáculos para a aceitação pública e, portanto, também aos custos da geração, o que a indústria nuclear pode fazer a esse respeito? O primeiro ponto a assinalar é que a opinião pública e o nível de apoio político para a energia nuclear são basicamente locais. Há diferenças importantes de país para país, mas sabemos que mesmo dentro de países onde há significativa aceitação da energia nuclear, ela varia consideravelmente segundo a 5

região. Sabemos também que, mesmo em países onde há um forte sentimento antinuclear, há importante aceitação nas regiões que estão ao redor das instalações nucleares. Seria equivocado concluir que o apoio à energia nuclear nessas regiões decorra exclusivamente dos empregos associados a essas instalações. A familiaridade com a tecnologia e as próprias usinas, aceitas simplesmente como parte da vida cotidiana na região, é muito mais importante. Esta é a razão fundamental pela qual a energia nuclear não consegue aceitação pública em outros lugares. A sua distância da sociedade em geral leva ao desentendimento e à susceptibilidade às imagens negativas difundidas com tanto êxito pelos antinucleares. Este Caderno de Energia Nuclear, lançado pela FGV Energia, constitui uma grande contribuição a um melhor entendimento, pela sociedade, do importante papel que a geração elétrica nuclear tem a desempenhar no mundo, e também no Brasil. Nele são apresentadas as razões pelas quais a opção nuclear faz parte da solução para o desafio mundial da transição energética, necessária ao enfrentamento das mudanças climáticas, e do desafio nacional da transição hidrotérmica do sistema elétrico brasileiro no século XXI. A tecnologia nuclear e seus riscos são discutidos, bem como é feita uma visão panorâmica da energia nuclear no mundo. São ainda feitas considerações sobre modelo de negócio para a expansão da geração nuclear no Brasil, propondo aperfeiçoamentos a serem considerados para estruturação de projetos futuros. O Caderno propicia um melhor entendimento das diversas facetas do problema do futuro energético e geração nuclear pelos leitores leigos no tema, mas também é uma fonte de informações de grande utilidade para aqueles que, de alguma forma, já possuem algum envolvimento nesse setor industrial. Esse entendimento contribui significativamente para a aceitação pública e, consequentemente, redução dos custos, da nucleoeletricidade, de forma a permitir sua expansão a níveis compatíveis com as necessidades de descarbonização da matriz energética mundial. Leonam dos Santos Guimarães. Doutor em Engenharia Naval e Oceânica pela USP e Mestre em Engenharia Nuclear pela Universidade de Paris XI, é Diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletrobrás Eletronuclear, membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do DiretorGeral da Agência Internacional de Energia Atômica AIEA, membro do Conselho de Representantes da World Nuclear Association WNA, membro no Conselho Empresarial de Energia Elétrica da FIRJAN/CIRJ e Vice-Presidente da Seção Latino Americana da Sociedade Nuclear Americana. Foi Diretor Técnico-Comercial da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa SA AMAZUL, Assistente da Presidência da Eletrobrás Eletronuclear e Coordenador do Programa de Propulsão Nuclear do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo CTMSP. Este texto foi extraído do Caderno de Energia Nuclear. Veja a publicação completa no nosso site: fgvenergia.fgv.br 6

CADERNO OPINIÃO MARÇO 2016 7