Boletim 992/2016 Ano VIII 03/06/2016 Pesquisa da CNI ainda mostrou piora de indicadores do setor em abril Por Lucas Marchesini O setor manufatureiro do país ficou mais ocioso em abril e registrou um faturamento menor, o que resultou em mais demissões no período, indica a pesquisa "Indicadores Industriais", divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O resultado, segundo a CNI, mostra "a continuidade do ciclo recessivo da indústria de transformação brasileira". Os indicadores contrastam com a produção industrial do mês, do IBGE. A Utilização da capacidade instalada (UCI) da indústria brasileira caiu 0,3 ponto percentual entre março e abril, com ajuste sazonal, chegando a 76,9%, o menor nível desde que a série começou, em 2002. Em abril de 2015, esse indicador era de 79,8% e de 77,2% em março deste ano. Na comparação com abril de 2015, quando o uso da capacidade foi de 79,8%, na série com ajuste sazonal, a UCI da indústria, diminuiu 2,9 pontos percentuais. Sem ajuste, o índice de abril ficou em 77,6%. "O ciclo de recessão que se instalou na indústria há alguns anos, anterior ao da economia como um todo, prossegue", analisou o gerente executivo de Política Econômica da entidade patronal, Flavio Castelo Branco. Ele acrescentou que, se a economia pode ter chegado a um ponto de estabilização, há uma "dificuldade em observar inflexão na trajetória", para a indústria." Ainda não há sinais concretos disso, o nível é muito baixo", disse. Ainda segundo a CNI, no mesmo sentido da UCI, o faturamento real do setor em abril caiu 0,6% ante março, e diminuiu 9,9% entre abril de 2015 e de 2016. 1
O nível de emprego industrial, por sua vez, teve baixa de 0,5% entre março e abril, a décima quinta consecutiva, apontou a CNI. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o indicador recuou 8,7%. No acumulado de 2016 frente aos primeiros quatro meses de 2015, o recuo já é de 9,4%. As horas trabalhadas, por outro lado, subiram 0,3% entre março e abril, mas não na comparação com o quarto de mês de 2015 (8,6%). Os indicadores de renda na indústria cresceram em abril. A massa salarial real avançou 0,4% entre março e abril, mas recuou 10% na comparação janeiro a abril de 2015 com igual período de 2016. O rendimento médio real, por sua vez, subiu 1,1% entre o terceiro e quarto mês deste ano e caiu 0,7% na comparação anual. Ambos os indicadores são deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Castelo Branco não vê com otimismo esses dados, que, segundo ele, "não reflete vigor do setor, mas muito ao contrário, a permanência de aumento de custos de produção". "Se a folha salarial cresce e faturamento não, significa que há pressão de custo no setor industrial e competitividade está sendo prejudicada", apontou. A CNI acredita ser possível que a economia brasileira tenha chegado ao fundo do poço, mas se esse for o caso, "o poço é bem fundo e o esforço para sair dele será bem grande", avaliou Castelo Branco. Esse esforço, analisou o economista, pode ter como alavanca inicial o setor externo. 2
(FONTE: Valor Econômico dia 03/06/2016) 3
Indústria surpreende com ligeira alta de 0,1% em abril e alimenta otimismo BRUNO VILLAS BÔAS / DO RIO A indústria brasileira surpreendeu em abril com um ligeiro aumento na produção e alimentou as expectativas de economistas sobre uma estabilização do setor no segundo semestre. Dados do IBGE divulgados nesta quinta-feira (2) mostraram que a produção industrial teve ligeiro aumento de 0,1% em abril, frente ao mês anterior, após já ter avançado 1,4% em março. Embora aparentemente modesto, o resultado foi bem melhor que esperado: consultorias e bancos consultados pela agência Bloomberg previam queda de 0,9% da produção no mês. 4
Além disso, dois meses consecutivos de avanço não aconteciam há quase dois anos, desde julho e agosto de 2014. Para o Credit Suisse, indicadores sugerem um avanço em maio, de 1,3%. "Essa estabilização deve ficar clara no segundo semestre, mas o pior parece ter ficado para trás", disse Pedro Ramos, gerente de análise do banco cooperativo Sicredi. Os dados chamaram atenção um dia após a divulgação que o Produto Interno Bruto, medida dos bens e serviços produzidos, caiu 0,3% no início do ano, menos desastroso que o esperado. O detalhamento da produção industrial mostra a contribuição de setores como alimentos (4,6%), refino de petróleo e biocombustíveis (4,6%), celulose (2,7%) e máquinas e equipamentos (2%). Das grandes categorias econômicas, os bens de capital (que inclui máquinas e equipamentos) tiveram sua quarta taxa positiva consecutiva. Em abril, o avanço foi de 1,2% frente a março. Isso seria fruto, em parte, de um pessimismo um pouco menor de empresários. Segundo sondagem da Fundação Getulio Vargas, a confiança atingiu em maio o maior nível em 14 meses. De forma geral, as fábricas vêm ajustando seus estoques desde o segundo semestre de 2015, o que pode ter ajudado na alta da produção. O câmbio também contribui para alta das exportações. Apesar dos sinais positivos, os analisas alertam que é cedo para falar em início de recuperação do setor, que está 20,3% abaixo de seu pico histórico, registrado em junho de 2013. Até porque há incertezas no caminho. Rodrigo Nishida, economista da LCA, cita possíveis turbulências no cenário político em meio aos desdobramentos da Operação Lava Jato. "Embora o impeachment [da presidente Dilma] tenha sido favorável para a confiança [dos empresários], há sempre incertezas. A queda de dois ministros de Temer nos mostram isso", disse. O técnico do IBGE André Macedo também prefere a cautela. Ele diz que o avanço da produção em março e abril, combinados, não chegam a compensar a queda de fevereiro (- 2,9%). Além disso, a antecipação da moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul do país gerou uma forte alta no resultado de açúcar e álcool combustível no mês, o que impulsionou atipicamente o mês. "Duas altas consecutivas é uma boa notícias, mas esse avanço não está ainda disseminado. E 13 dos 24 segmentos da indústria ainda tiveram queda na passagem dos meses", disse Macedo. (FONTE: Folha de SP dia 03/06/2016) 5
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