Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Monitoramento de Pragas na Produção Integrada do Meloeiro Raimundo Braga Sobrinho Jorge Anderson Guimarães Antonio Lindemberg Martins Mesquita Marcone César Mendonça Chagas Odair Aparecido Fernandes José Arimatéia Duarte de Freitas Fortaleza, CE 2003
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Agroindústria Tropical Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici CEP 60511-110 Caixa Postal 3761 Fone: (85) 299-1800 Fax: (85) 299-1833 sac@cnpat.embrapa.br Fortaleza, CE Comitê de Publicações da Embrapa Agroindústria Tropical Presidente: Oscarina Maria da Silva Andrade Secretário-Executivo: Marco Aurélio da Rocha Melo Membros: Francisco Marto Pinto Viana, Francisco das Chagas Oliveira Freire, Heloisa Almeida Cunha Filgueiras, Edineide Maria Machado Maia, Renata Tieko Nassu, Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo Supervisor editorial: Marco Aurélio da Rocha Melo Revisor de texto: Maria Emília de Possídio Marques Normalização bibliográfica: Rita de Cassia Costa Cid Fotos: Raimundo Braga Sobrinho, José Adalberto Alencar, Francisca Nemaura Pedrosa Haji, Heraldo Negri, Antonio Apoliano dos Santos Editoração eletrônica: Arilo Nobre de Oliveira 1 a edição: (2003): 500 exemplares Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). CIP - Brasil. Catalogação-na-publicação Embrapa Agroindústria Tropical Monitoramento de pragas na produção integrada do meloeiro / Raimundo Braga Sobrinho... [et al.] - Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2003. 25 p. : il. color. (Embrapa Agroindústria Tropical, Documentos, 69). 1. Melão - Praga - Controle. 2. Melão - Produção integrada. 3. Cucumis melo L. I. Braga Sobrinho, R. II. Guimarães, Jorge Anderson. III. Mesquita, Antonio Lindemberg Martins. IV. Chagas, Marcone Cesar Mendonça. V. Fernandes, Odair Aparecido. VI. Freitas, José Arimatéia Duarte de. VII. Série. CDD 635.61193 Embrapa 2003
Autores Raimundo Braga Sobrinho Eng. Agrônomo, Ph.D., pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita, 2.270, Planalto Pici, tel.: (85) 299-1800 braga@cnpat.embrapa.br Jorge Anderson Guimarães Biólogo, D.Sc., pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical jorge@cnpat.embrapa.br Antonio Lindemberg Martins Mesquita Eng. Agrônomo, D.Sc., pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical mesquita@cnpat.embrapa.br Marcone César Mendonça Chagas Eng. Agrônomo, D.Sc., pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte marcone@rn.gov.br Odair Aparecido Fernandes Eng. Agrônomo, Ph.D., professor da Faculddade de Ciencias Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal oafernan@fcav.unesp.br José Arimatéia Duarte de Freitas Eng. Agrônomo, D.Sc., pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical ari@cnpat.embrapa.br Colaboradores Francisca Nemaura Pedrosa Haji Eng. Agrônoma, D.Sc., pesquisadora da Embrapa Semi-Árido, Petrolina, PE Antonio Apoliano dos Santos Eng. Agrônomo, M.Sc., pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical José Emílson Cardoso Eng. Agrônomo, D.Sc., pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical Luis Gonzaga Pinheiro Neto Eng. Agrônomo, Bolsista, Embrapa Agroindústria Tropical
INTRODUÇÃO O meloeiro (Cucumis melo L.) é uma planta de ciclo curto, com plantio praticado de forma escalonada, a cada sete a 14 dias. Esse tipo de cultivo favorece o desenvolvimento de pragas que migram de uma cultura velha para uma recémplantada, dificultando o manejo preconizado na produção integrada de melão. O conhecimento da fenologia da cultura (Fig. 1), a identificação e o monitoramento das populações das pragas são de fundamental importância para o estabelecimento dos níveis de dano e de controle, para determinar, de forma consciente, um programa de manejo adequado, que viabilize a redução dos custos com pulverizações, contribuindo para a manutenção dos inimigos naturais, minimizando riscos de poluição ambiental e de segurança alimentar. Este documento visa fornecer aos interessados em produção integrada de melão, as orientações tecnológicas sobre o reconhecimento e monitoramento das principais pragas associadas a essa cultura, auxiliando na aplicação do manejo integrado de pragas para um controle mais racional e eficaz. 4
Semeadura Germinação (I) Plântulas Fase de crescimento (II) (Dia 0) (4-5 dias*) (6-30 dias) Plantas jovens no início do florescimento Fase de floração (III) (30-40 dias) Plantas com floração plena (4 0-50 dia s) F as e de frutificaçã o (IV) (Após 65 dias) Colheita Fase de desenvolvimento dos frutos (V) (45-65 dias) Plantas com frutos jovens Fig. 1. Fases fenológicas do meloeiro (segundo F. M. P. Viana). (* Dias após plantio) 5
MONITORAMENTO DE PRAGAS EM MELOEIRO Deverão ser realizadas vistorias sistemáticas à lavoura, de modo a verificar quaisquer ocorrências de pragas em seu início. As vistorias deverão ser efetuadas conforme descrito a seguir: Pecorrer cada parcela em ziguezague, examinando-se 20 pontos por amostragem, para parcelas de até 2,5 ha e para parcelas de 2,5 a 5 ha, avaliar 40 pontos conforme esquema sugerido na (Fig. 1). A primeira amostragem será iniciada na primeira fileira à esquerda da parcela/subparcela, saltando-se quatro fileiras para a segunda amostragem, repetindo esse procedimento até a última planta a ser avaliada. Amostrar cerca de 40% dos pontos na bordadura. As vistorias deverão ser efetuadas no máximo a cada três dias. OBS: A metodologia de amostragem e os níveis de controle utilizados neste documento serão atualizados em função dos avanços das pesquisas. 6
Legenda: a 1 amostragem a 2 amostragem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38... Fig. 2. Sugestão de caminhamento para amostragem de pragas em lavoura de melão (adaptado de F.M.P. Viana). 7
PLANILHA PARA AMOSTRAGEM NO CAMPO A correta amostragem dos insetos é de fundamental importância para auxiliar na tomada de decisão sobre o controle das pragas. Para isto, utiliza-se uma planilha ou ficha de campo (Fig. 3), onde são anotados todos os resultados das amostragens. A amostragem deve ser realizada no máximo a cada três dias e os dados anotados nesta planilha (Fig. 3), a qual apresenta cabeçalho e corpo com alguns itens que devem ser preenchidos pelo operador: nome do produtor, propriedade, lote, área, cultivar, fase fenológica, etc. As duas primeiras colunas mostram as pragas e suas fases. A numeração das colunas 1 a 20 correspondem aos pontos que devem ser percorridos. Cada ponto corresponde a uma planta, folha, talo ou fruto. Para mosca-branca, a penúltima coluna será preenchida com a média de insetos em 20 pontos amostrais e para as demais pragas, preencher com o número absoluto de insetos. A última coluna contém os níveis de ação para cada praga, os quais devem ser comparados com os dados observados na coluna anterior para a tomada de decisão sobre a necessidade de controle. 8
PLANILHA DE AMOSTRAGEM DE PRAGAS DA CULTURA DO MELOEIRO Nome do Produtor/Empresa: Horário: ás hs Lote/Talhão: Área(ha): Cultivar: Idade da Cultura: Data: / / PRAGAS PONTOS AMOSTRADOS Nomes Fases 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Mosca Branca Minadora Pulgão Diafânia Adulto Ninfa Larva viva Larva morta Adulto C/asa S/asa Lagarta Mede-palmo Lagarta * Na ausência de sintomas do amarelão o nível de ação deverá ser de 10 insetos (média) nos 20 pontos amostrados. Fig. 3. Planilha para amostragem das principais pragas do meloeiro. Nº de Insetos Nível de Ação 2 adultos ou ninfas (média) nos 20 pontos amostrados* 4 larvas nos 20 pontos - 10 adultos nos 20 pontos 3 insetos nos 20 pontos 3 lagartas nos 20 pontos 4 lagartas nos 20 pontos 9
Mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) Sintomas de ataque: Redução do tamanho e peso dos frutos, produtividade, aparência, teor de açúcares ( o Brix) e excreção de substâncias açucaradas mela, que propiciam o surgimento de fumagina. São vetores do vírus causador do amarelão (Fig. 4B). Amostragem: Amostrar durante o período mais fresco do dia, das 8:00 às 10:00 horas da manhã. Para o adulto da mosca branca, amostrar uma folha do terceiro ou quarto nó, a partir do ápice do ramo, observando-se, cuidadosamente, a parte inferior da folha (Fig. 4A). Quando as plantas são jovens, antes da emissão dos ramos, amostrar a folha mais velha. Para as ninfas, amostrar uma folha do oitavo ao décimo nó do ramo. Para a contagem das ninfas maduras ou pré-pupas (com olhos vermelhos), deve-se usar uma lupa de bolso com aumento 10x. A área de abrangência da lupa, na parte inferior da folha, deve-se limitar a 2,5 cm x 2,5 cm (6,25 cm 2 ) próxima da nervura central da folha. Nível de ação ou controle: Na presença de sintomas do amarelão, deve-se considerar o nível de controle de duas moscas (adultos ou ninfas) em média, nos 20 pontos amostrados. Na ausência de sintomas do amarelão, o nível de controle deverá ser de dez moscas (adultos ou ninfas) em média nos 20 pontos amostrados (Fig. 3). 10
A B Fig. 4. A - Adultos de mosca-branca; B - Meloeiro com amarelão transmitido pela mosca-branca. 11
Mosca-minadora (Liriomyza sativae e L. huidobrensis) Sintomas de ataque: As larvas de L. sativae fazem galerias em formato de ziguezague (Fig. 5A) e as larvas de L. huidobrensis causam destruição total do parêquima foliar (Fig. 5B). Amostragem: A amostragem dessa praga deve seguir o mesmo sistema de caminhamento no campo com um total de 20 pontos amostrais, onde cada ponto corresponde a folha do terceiro ou quarto nó a partir do ápice da planta. Em plantas desenvolvidas, cerca de 30 dias, utiliza-se a mesma folha amostrada para os adultos da mosca-branca. Como os adultos são muito sensíveis à luz e a qualquer movimento, a folha amostrada deve ser manuseada de forma a não expor os insetos diretamente à luz do sol. Nível de ação ou de controle: Quatro larvas vivas ou dez adultos nos 20 pontos amostrados (Fig. 3). 12
A B Fig. 5. A - Dano causado pelas larvas de L. sativae; B - dano causado pelas larvas de L. huidobrensis. 13
Pulgão (Aphis gossypii) Sintomas de ataque: Encarquilhamento e deformação nas plantas jovens, brotações e folhas novas. Podem atuar como vetores de doenças, como o mosaico-do-meloeiro (Fig. 6). Amostragem: Serão examinados um total de 20 pontos, onde cada ponto corresponde a uma folha do quarto nó do ramo, a partir do ápice da planta. Nível de ação ou de controle: três insetos nos 20 pontos amostrados (Fig. 3). 14
Fig. 6. Colônia de pulgões Aphys gossypii na face inferior da folha do meloeiro. 15
Broca-das-cucurbitáceas (Diaphania nitidalis e D. hyalinata) Sintomas de ataque: As lagartas de D. nitidalis atacam flores e frutos. Quando o ataque é severo, ocorre abertura de galerias na polpa dos frutos inviabilizando-os para a comercialização. Já as lagartas de D. hyalinata atacam preferencialmente as folhas, causando desfolha total da planta, quando em altas populações (Fig. 7). Amostragem: Serão examinados um total de 20 pontos, onde cada ponto corresponde a um fruto e uma folha do terceiro nó do ramo, a partir do ápice. Nível de ação ou de controle: Três lagartas nos 20 pontos amostrados (Fig. 3). 16
A C A B D Fig. 7. Brocas-das-cucurtitáceas. A - Adulto de Diaphania nitidalis; B - adulto de D. hyalinata; C - danos de D. nitidalis no fruto; D - danos de D. hyalinata na folha. 17
Lagarta-mede-palmo (Thricoplusia ni) Sintomas de ataque: As lagartas causam desfolha nas plantas (Fig. 8). Amostragem: Serão examinados um total de 20 pontos, onde cada ponto corresponde a uma folha do quarto nó do ramo, a partir do ápice da planta. Nível de ação ou de controle: Quatro lagartas nos 20 pontos amostrados (Fig. 3). 18
A B Fig. 8. Lagarta mede-palmo. 19
PRAGAS SECUNDÁRIAS E DE IMPORTÂNCIA QUARENTENÁRIA Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) Sintomas de ataque: As larvas cortam as plantas jovens, próximo às raízes. Atacam nos primeiros 25 dias do plantio. É considerada praga secundária na cultura do melão (Fig. 9). Vaquinha (Diabrotica speciosa) Sintomas de ataque: A fêmea perfura a casca do fruto com o ovipositor para a oviposição. A larva se desenvolve no interior do fruto, tornando-o inviável para consumo e industrialização. Geralmente, não necessitam de controle químico (Fig. 10). Percevejo-dos-frutos (Leptoglossus gonagra) Sintomas de ataque: Os insetos sugam continuamente a seiva das brotações e dos frutos (Fig. 11). As plantas atacadas ficam depauperadas, enquanto que os frutos apresentam a área atacada totalmente enrijecida. 20
Fig. 9. Lagarta-rosca Agrotis ipsilon Fig. 10. Adulto de vaquinha Diabrotica speciosa Fig. 11. Adulto de percevejo-do-fruto Leptoglossus gonagra 21
Mosca-das-frutas (Anastrepha grandis) Sintomas de ataque: A fêmea perfura a casca do fruto com o ovipositor para a oviposição. A larva se desenvolve no interior do fruto, tornando-o inviável para consumo e industrialização (Fig. 12). Amostragem: É considerada praga quarentenária da cultura do melão, devendo ser rigorosamente monitorada com o uso de armadilhas do tipo McPhail (2 a 3 armadilhas por hectare), contendo proteína hidrolisada (500 ml para 10 L de água) como atraente (Fig. 12). 22
A A B Fig. 12. A - Adulto de Anastrepha grandis; e B - armadilha para amostragem de moscas-das- frutas. 23
Referências Bibliográficas AZEVEDO, F.R de. Manejo integrado da mosca branca na cultura do melão. Fortaleza: Secretaria de Agricultura Irrigada, 2001. 32 p. BLEICHER, E.; MELO, Q.M.S. Manejo da mosca branca, Bemisia argentifolii Bellows & Perring 1994. Fortaleza: Embrapa CNPAT, 1998. 15p. (Embrapa CNPAT. Circular Técnica, 3). FERNANDES, O. Pragas do meloeiro. In: BRAGA SOBRINHO, R.; CARDOSO, J.E.; FREIRE, F. das C.O. Pragas das fruteiras tropicais e de importância agroindustrial. Fortaleza: Embrapa-CNPAT, 1998. Cap. 11., p.181-189. FERNANDES, O.F.; FERREIRA, C.C.; MONTAGNA, M.A. Manejo integrado de pragas do meloeiro: manual de reconhecimento das pragas e táticas de controle. Jaboticabal: Funep-CNPq, 2000. 28p. LOURENÇÃO, A.L.; NAGAI, H. Surtos populacionais de Bemisia tabaci no Estado de São Paulo. Bragantia. Campinas, v.53, n.1, p.53-59, 1994. 24
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D. ; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p. OLIVEIRA, M.R.V.; SILVA, O.L.R. Mosca branca, Bemisia argentifolii (Hemiptera: Aleyrodidae) e sua ocorrência no Brasil. Brasília: Ministério da Agricultura e Abastecimento, Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal, 1997. 16p. (Alerta Fitossanitário 1). PALUMBO, J.C.; KERNS, D.L. Melon insect pest management in Arizona. University of Arizona, Cooperative Extension, 1998. 12p. (IPM serie, n. 11). PICANÇO, M.C.; MOURA, M.F.; MOREIRA, M.D.; ANTÔNIO, A.C. Biologia, identificação e manejo de Moscas-brancas em fruteiras. Cap. A10, p.243-284. In: ZAMBOLIN, L (ed.). Manejo Integrado; B produção integrada; fruteiras tropicais; doenças e pragas. Viçosa, MG, 2003. 587p. 25