Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica

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Transcrição:

Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012 Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica RESUMO Ana Machado 1 Zuzana Dimitrovová 2 Válter Lúcio 3 A utilização de estruturas pré-fabricadas em betão é uma solução bastante competitiva na construção de edifícios industriais, armazéns e áreas comerciais. Apesar de esta solução apresentar boas características de segurança, durabilidade, fiabilidade e relação custo/qualidade, mesmo para zonas sísmicas, não existem modelos de cálculo nem recomendações de projeto que permitam abordar certos tipos de ligações entre os elementos pré-fabricados, especialmente para a ação sísmica. Com o presente trabalho pretende-se contribuir para o estudo da ligação pilar-fundação em que as armaduras na base dos pilares se encontram salientes e são introduzidas em negativos existentes nas fundações. No presente estudo apresentam-se modelos de análise numérica para diferentes soluções de ligação entre a armadura do pilar e a fundação, as quais são calibradas com resultados experimentais que foram obtidos no âmbito de trabalhos anteriores. Foi analisada a importância do comprimento de embebimento da armadura na fundação e também a presença de vários varões e da sua proximidade. As análises numéricas foram efectuadas usando dois códigos de elementos finitos. Nomeadamente, foi utilizado o código comercial ATENA e o código de utilização livre OOFEM. Para os resultados preliminares implementou-se apenas a solicitação estática. Em primeiro lugar procedeu-se à comparação de resultados numéricos entre estes dois softwares. Em segundo lugar os dois códigos foram avaliados baseado nos seguintes critérios: (i) proximidade a resultados experimentais, (ii) tempo de cálculo, (iii) facilidade de calibração numérica. Nos trabalhos futuros implementar-se-á a solicitação sísmica e posteriormente proceder-se-á a uma optimização multiobjectivo desta ligação. Os resultados deste trabalho podem ter uma aplicação directa no projecto de ligações pré-fabricadas, nomeadamente na ligação pilar-fundação. O presente trabalho foi elaborado no âmbito do projecto PRECASEISMIC Palavras-chave: Pré-fabricação, ligação, pilar-fundação, modelação numérica, ATENA, OOFEM. 1 Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil, Caparica, Portugal. as.machado@fct.unl.pt 2 Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil, Caparica, Portugal. zdim@fct.unl.pt 3 Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil, Caparica, Portugal. vlucio@fct.unl.pt

Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica 1. INTRODUÇÃO Uma das formas usuais de executar a ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas em betão armado consiste em deixar as armaduras salientes do pilar pré-fabricado, as quais são introduzidas posteriormente em negativos na fundação (Fig. 1). Figura 1. Ligação pilar-fundação com as armaduras salientes do pilar pré-fabricado. Foi feita por Reguengo (2010) [1] uma série de ensaios que visaram o estudo experimental dessas mesmas ligações por forma a caracterizar o comportamento das mesmas, quer sob cargas monotónicas quer sobre cargas cíclicas. 2. DIMENSIONAMENTO DA LIGAÇÃO O dimensionamento da ligação entre o pilar e a fundação em que o varão se encontra embebido em betão não fendilhado deve ser feito tendo em conta os seus elementos condicionantes, isto é, o varão de aço, o betão envolvente e a aderência entre estes. A quantificação da resistência da ancoragem pode ser feita a partir da aderência de varões e a rotura da ligação pode ocorrer por um dos modos ilustrados Figura 2. Figura 2. Modos de rotura da ligação executada com o varão embebido em betão não fendilhado, adaptado de [1]. A rotura do Tipo 1 (F 1 ) se caracteriza pela cedência do varão em tracção a ser definida pela Eq. (1). A rotura pela ligação, Tipo 2 (F 2 ), em que se dá um arrancamento do varão pela superfície em contacto 2

Machado, Dimitrovová e Lúcio com o betão, com o valor de resistência definido pela Eq. (2). E por último a rotura pelo cone de betão, com resistência determinada pela Eq. (3) e ilustrada na Fig. 2 por F 3. F A f Rd, 1 S yd (1) F Rd, 2 hef f bd, betão (2) F 0,5 1,5 Rd, 3 7, 0 f cd hef (3) Das equações anteriores A S, e h ef caracterizam a área, diâmetro e comprimento de embebimento do varão de aço, respectivamente. O valor de cálculo da tensão de cedência do varão corresponde a f yd, assim como f bd,betão e f cd correspondem aos valores de cálculo de resistência por aderência do aço no betão e à resistência deste à compressão, respetivamente. A Eq. (3) é válida apenas nos casos em que h ef <0,28 m. As equações (2) e (3) aplicam-se para ações monotónicas e, segundo o estudo realizado por [2], os valores obtidos por (1) e (2) devem ser reduzidos para metade nos casos em que o betão se encontra fendilhado. 3. LIGAÇÃO ENSAIADA Foram ensaiadas por Reguengo (2010) [1] uma série de possíveis ligações entre o pilar e a fundação, entre elas a ligação de referência em que se betonou um bloco de betão (fundação) com um varão de aço, com diâmetro de 20 mm e com uma altura de embebimento em betão de 0,20 m. Posteriormente este modelo foi ensaiado à tracção por arranque do mesmo do bloco de betão (tipo pullout test). Esta ligação foi designada por V20. A Figura 3 apresenta o diagrama de força-deslocamento obtido do ensaio de arrancamento. Durante o ensaio foram medidos a tensão de aderência e o escorregamento relativo entre o varão de aço e o betão envolvente, sendo o resultado apresentado no diagrama tensão de aderênciaescorregamento ilustrado na Fig. 4. Figura 3. Diagrama força-deslocamento do ensaio experimental da ligação V20 [1] 3

Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica Figura 4. Diagrama tensão de aderência-escorreagento do ensaio experimental da ligação V20. 4. MODELAÇÃO NUMÉRICA O objectivo deste estudo é a modelação numérica do mesmo caso. O programa utilizado foi ATENA 3D (Advanced Tool Engineering Nonlinear Analysis). Este programa baseia-se no modelo de comportamento Fracture-plastic em que o betão armado tem um comportamento distinto nas fases de compressão e tracção, permitindo o esmagamento e fendilhação nessas fases, respectivamente. 4.1. Modelos constitutivos dos materiais Os modelos dos materiais são característicos do próprio programa de elementos finitos, com as suas leis definidas segundo as Figs. 5 e 6. Os seus parâmetros característicos foram definidos a partir dos materiais utilizados em [1]. Figura 5. Lei de tensão-deformação uniaxial para o betão no modelo numérico [3]. Figura 6. Lei bilinear de tensão-deformação do aço da armadura no modelo numérico [3]. No Quadro 1 apresenta os resultados médios da resistência à compressão (f cm ) e da resistência à tracção (f ctm ) do betão, determinados segundo a NP EN 206-1 [4] e EN 1992.1.1 [5]. Quadro 1. Caracterização do betão. f cm (MPa) f ctm (MPa) E C (GPa) 38,0 2,9 33,0 4

Machado, Dimitrovová e Lúcio Foram usados varões de 20 mm de diâmetro em aço A500NR e apresentam uma tensão de cedência média de 543,8 MPa, que equivale à força de cedência 170,8 kn. As suas características apresentam-se no Quadro 2. Quadro 2. Caracterização do aço. f yd (MPa) E S (GPa) 543,8 200,0 4.2. Modelo, malha de elementos finitos e carregamento O modelo utilizado para modelação em ATENA 3D tem como dimensões 0,67x0,60x0,30 m 3 (Fig. 7), com os apoios simulados no topo do bloco por chapas de aço com 30 mm de espessura, a sua superfície tem os deslocamentos horizontais (direcção x e y) e vertical (direcção z) restringidos. A malha de elementos finitos tem como dimensão de referência 50 mm. Esta dimensão foi escolhida a partir análises paramétricas anteriores que não se inserem no âmbito deste artigo, tendo em conta o tempo de cálculo do modelo e os resultados obtidos. O carregamento do modelo foi feito por imposição de um deslocamento vertical na extremidade do varão, traccionando-o. Todo o processo de carregamento dividiu-se por 350 incrementos de 0,015 mm cada, fazendo um deslocamento total de 5,25 mm. Figura 7. Modelo de elementos finitos para simulação do ensaio de arranque da ligação V20. 5. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS 5.1. Ensaio da ligação V20 A modelação considerou a aplicação de dois modelos distintos para a ligação entre o varão de aço e o betão envolvente. A primeira considerou que esta ligação se caracteriza como rígida, não permitindo deslocamento relativo (escorregamento) entre as superfícies dos dois materiais. O segundo caso abordou o problema aplicando a lei de escorregamento observada no ensaio experimental ilustrada na Fig. 4. A Fig. 8 mostra os resultados obtidos para ambas as situações em comparação com os resultados obtidos experimentalmente. A rotura do primeiro modelo deu-se pelo varão de aço (rotura Tipo 1), enquanto que a rotura do modelo com a aplicação da lei de escorregamento (bond-slip) se deu pela ligação, ou seja, uma rotura do Tipo 2. 5

Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica Figura 8. Diagrama força-deslocamento da ligação V20, modelo numérico com ligação rígida, com ligação modelada com lei do escorregamento, com comparação do diagrama experimental. A Figura 9 exibe o estado de fendilhação do maciço de betão, na fase final do carregamento, para o modelo da ligação com aplicação da lei de escorregamento. Figura 9. Estado de fendilhação do maciço de betão no final do carregamento, modelo numérico com lei de escorregamento, vista 3D e plano de corte central, respectivamente. 5.2. Modelação da ligação com variação do número de varões e distância entre eles Este estudo foi feito fazendo variar o número de varões existentes no bloco de betão e por sua vez a distância entre os mesmos. A Figura 10 apresenta os modelos 2V20 e 3V20, com dois e três varões, respectivamente, a serem comparados com a modelação da ligação de referência V20. Os afastamentos entre varões são de 33,5 cm e 16,75 cm, respectivamente para os modelos 2V20 e 3V20. Também nestes modelos foram aplicados o mesmo carregamento, malha e lei de escorregamento que em V20, visto que a altura de embebimento do varão é também de 0,20 m. 6

Machado, Dimitrovová e Lúcio Figura 10. Modelos das ligações 2V20 e 3V20, respectivamente. Como é possível visualizar na Fig. 11 a proximidade de um ou mais varões altera o tipo de rotura que a ligação tem (Tipo 2), sendo apenas um varão traccionado. O que altera é o comportamento depois de atingir a cedência, a ligação perde rigidez considerável, quanto maior for o número de varões traccionados na mesma zona. Figura 11. Diagrama de força-deslocamento dos modelos V20, 2V20 e 3V20. 6. ANÁLISE DE RESULTADOS No Quadro 3 mostra-se os resultados dos modelos numéricos com a ligação rígida e com a ligação modelada com a lei do escorregamento (bond-slip), com comparação com os resultados obtidos por [1] em ensaio experimental. Apresentam-se os valores da força de cedência (F ced ), o deslocamento correspondente à força de cedência, a força máxima (F max ), e o deslocamento correspondente à força máxima ( 2 F max ). Apresenta-se também o erro calculado para cada modelo numérico em relação ao modelo experimental, quer na fase de cedência, quer na fase de força máxima. Nos resultados do modelo numérico em que se considera a ligação com aplicação da lei de escorregamento verifica-se um erro bastante reduzido, com 6% na carga de cedência e 4% na carga máxima em relação ao ensaio experimental. O que não acontece com o modelo que considera a ligação aço-betão como rígida, com erros que rondam os 30%. Este modelo apresenta uma rotura do tipo 1, pela cedência do varão, sendo que a sua força máxima é o valor da cedência do varão (F Rd,1, Eq. (1)). Pelo diagrama força-deslocamento ilustrado na Figura 8 é possível observar que esta ligação tem uma resistência bastante superior à do modelo experimental. No entanto, o modelo numérico com a ligação caracterizada pela lei de escorregamento mostra um comportamento bastante próximo do ensaio. O tipo de rotura pela ligação entre os dois materiais é do Tipo 2, o que pode ser observado pelo diagrama força-deslocamento. 7

Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica Quadro 3. Comparação dos resultados dos modelos experimental e numérico da ligação V20. Modelo F ced [kn] δ 1 F ced [mm] F max [kn] δ 2 F máx [mm] Erro na Cedência Erro no Máximo Experimental [1] 110,5 0,23 120,0 2,74 - - Numérico (c/ bond-slip) 117,7 0,34 124,9 2,93 6% 4% Numérico (ligação rígida) 170,8 0,93 170,8 0,93 35% 30% Sobre a inflência da existência de mais varões na proximidade da ligação o Quadro 4 apresenta os resultados das modelações numéricas em que se consideram dois e três varões em tracção na ligação, comparativamente à ligação de referência (V20), 2V20 e 3V20 respectivamente. Pelos resultados obtidos da modelação verifica-se que a resistência da ligação não diminui muito, sendo que 2V20 e 3V20 apresentam uma resitência de certa de 90% do caso varão isolado V20. No entanto, visualizando a Figura 11, o diagrama de força-deslocamento mostra perda substancial de resistência na ligação após atingir o máximo da carga, o que pode ser devido aos cones de fedilhação gerados pelo arrancamento, os quais diminuem a resistência do betão na zona da ligação (Figura 12). Quadro 4. Comparação resultados dos modelos numéricos com variação do numero de varões na ligação. Modelo F ced [kn] δ 1 F ced [mm] F máx [kn] δ 2 F máx [mm] Relação com V20 V20 117,71 0,34 124,94 2,93-2V20 114,95 0,33 120,29 1,20 98% 3V20 107,26 0,32 116,37 1,17 91% Figura 12. Estado de fendilhação do maciço de betão no final do carregamento, modelos 2V20 e 3V20, respectivamente. CONCLUSÕES No presente artigo foi modelada numericamente uma ligação por ancoragem das armaduras do pilar à fundação. Foi reproduzido numericamente um caso estudado experimentalmente, tendo em conta os resultados obtidos nesse mesmo ensaio. Desta simulação observa-se que os resultados da ligação modelada com a aplicação da lei do escorregamento são bastante próximos dos obtidos experimentalmente, quer no tipo de rotura, quer na forma do diagrama força-deslocamento. A consideração de um ou mais varões traccionados na ligação pode alterar significativamente a resistência da mesma após a faze da cedência, visto que o bloco de betão está sujeito a forças de arranque superiores. No entanto, a sua resistência não é significativamente diminuída (na ordem dos 90%). 8

Machado, Dimitrovová e Lúcio Existem parâmetros cuja importância na resistência deste tipo de ligações, em nosso entender, não está completamente estudada, designadamente: a calibração da lei de escorregamento, a introdução de outros materiais na ligação, como grout ou resina epoxídica; a consideração de uma ligação feita à posteriori por ancoragem da armadura do pilar na fundação. AGRADECIMENTOS Ao Engenheiro Romeu Reguengo por facultar os resultados dos ensaios experimentais referentes à ligação V20 e outras a serem estudadas posteriormente. Este trabalho foi executado no âmbito do Projecto PTDC/ECM/116161/2009 PRECASEISMIC. REFERÊNCIAS [1] Reguengo, R., Comportamento da ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas com armaduras salientes do pilar, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, Caparica, Portugal, 2010. [2] Matthew Miltenberger, P.E.; Capacity design of grouted anchors ; 16th International Conference on Structural Mechanics in Reactor Technology; Washington, DC, USA, 2001. [3] Cervenka, V., Jendele, L., ATENA Program Documentation, Part 1,Theory, Praga, República Checa, Março 2010. [4] Eurocode 2: Design of Concrete Structures Part 1-1: General rules for buildings. CEN EN 1992-1-1, Abril de 2004. [5] NP EN 206-1Betão: Especificação, Desempenho, Produção e Conformidade, Norma Portuguesa, IPQ, Junho 2007. 9