EDUCAÇÃO MUSICAL E UNIDOCÊNCIA pesquisas, narrativas e modos de ser do professor de referência

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Transcrição:

EDUCAÇÃO MUSICAL E UNIDOCÊNCIA pesquisas, narrativas e modos de ser do professor de referência

Conselho Editorial Alex Primo UFRGS Álvaro Nunes Larangeira UTP André Parente UFRJ Carla Rodrigues PUC-RJ Ciro Marcondes Filho USP Cristiane Freitas Gutfreind PUCRS Edgard de Assis Carvalho PUC-SP Erick Felinto UERJ Francisco Rüdiger PUCRS Giovana Scareli UFSJ J. Roberto Whitaker Penteado ESPM João Freire Filho UFRJ Juremir Machado da Silva PUCRS Marcelo Rubin de Lima UFRGS Maria Immacolata Vassallo de Lopes USP Michel Maffesoli Paris V Muniz Sodré UFRJ Philippe Joron Montpellier III Pierre le Quéau Grenoble Renato Janine Ribeiro USP Rose de Melo Rocha ESPM Sandra Mara Corazza UFRGS Sara Viola Rodrigues UFRGS Tania Mara Galli Fonseca UFRGS Vicente Molina Neto UFRGS Apoio:

EDUCAÇÃO MUSICAL E UNIDOCÊNCIA pesquisas, narrativas e modos de ser do professor de referência Organizadora: Cláudia Ribeiro Bellochio

Autores, 2017 Capa: Letícia Lampert Projeto gráfico e editoração: Niura Fernanda Souza Revisão: Patrícia Aragão Revisão gráfica: Miriam Gress Editor: Luis Antônio Paim Gomes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960 E26 Educação musical e unidocência: pesquisas, narrativas e modos de ser do professor de referência / organizado por Cláudia Ribeiro Bellochio. -- Porto Alegre: Sulina, 2017. 262 p. ISBN: 978-85-205-0782-7 1. Música. 2. Música - Ensino. 3. Música Pesquisa. I. Bellochio, Cláudia Ribeiro. CDD:780 CDU: 372.878 78 Todos os direitos desta edição são reservados para: EDITORA MERIDIONAL LTDA. Editora Meridional Ltda. Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 Bom Fim Cep: 90035-190 Porto Alegre/RS Fone: (0xx51) 3311.4082 www.editorasulina.com.br e-mail: sulina@editorasulina.com.br Maio/2017

Sumário Prefácio...7 Luis Ricardo Silva Queiroz Professor de referência e unidocência: pensando modos de ser na docência dos anos iniciais do ensino fundamental...13 Cláudia Ribeiro Bellochio e Zelmielen Adornes de Souza Narrativas, docência e música: os sons da memória como possibilidade para a pesquisa em Educação...37 Luciane Wilke Freitas Garbosa e Vanessa Weber Pesquisa narrativa em Educação Musical: considerações de ordem epistemológica...55 Leda de Albuquerque Maffioletti e Maria Helena Menna Barreto Abrahão A presença da música nos anos inicias do ensino fundamental: uma pesquisa a partir das narrativas de professoras unidocentes...77 Cláudia Ribeiro Bellochio e Daniela Dotto Machado A importância da confiança do professor unidocente para o ensino de música...97 Vanessa Weber Indicadores educacionais de desenvolvimento profissional da docência em música nos iniciais do ensino fundamental: uma pesquisa narrativa junto a professoras unidocentes...111 Daniela Dotto Machado

Pedagogia música unidocência: a emergência em revisitar reflexões e saberes sobre a formação inicial de professores...133 Aruna Noal Gaspareto A música na formação de professores: licenciados em busca de sentidos...149 Simone Albuquerque da Rocha, Solange Dourado da Silva Souza e Rosana Maria Martins Professores unidocentes e práticas escolares: sentidos da música nos anos iniciais do ensino fundamental...171 Cláudia Ribeiro Bellochio, Iara Cadore Dallabrida e Leonardo Martins Sperb A formação de professores em cursos de Pedagogia vinculados à Universidade Aberta do Brasil: unidocência e música...193 Zelmielen Adornes de Souza Educação musical para pedagogos: uma experiência de formação continuada em Santa Catarina...217 Sergio Luiz Ferreira Figueiredo As músicas das culturas da infância: discutindo sobre o protagonismo infantil na escola...239 Kelly Werle Sobre os autores...257

Prefácio Este livro assume a responsabilidade de trazer para a educação musical brasileira mais uma importante discussão acerca da formação e da prática do professor unidocente no âmbito do ensino de música escolar. Os doze textos aqui publicados são convites ao exercício de agir e de pensar a formação musical, desafiando os leitores a acompanhar curvas, percursos e desafios dessa realidade. Mas, mais que isso, esta obra lança luzes sobre questões e reflexões ainda obscuras, que precisam ser iluminadas na educação musical brasileira, nos fazendo perceber nuances de trilhas que podem nos levar a uma compreensão acurada desse universo. A mim coube o desafio de tecer um prefácio à altura desta inspirada obra e, me inspirando nas aspirações dos trabalhos aqui apresentados, traço uma breve reflexão, em dois movimentos, sobre as contribuições deste livro. 1) O contexto da produção Neste início de século XXI estamos experienciando conflitos, agonias e lutas que nos fazem perceber a insegurança de estruturas e convenções que, durante muito tempo, pareceram seguras e estáveis. A incerteza que vivemos neste momento, ao mesmo tempo em que nos desestabiliza, possibilita rever rumos, redescobrir caminhos e percorrer por trilhos que, se por um lado geram insegurança acerca dos lugares em que nos levarão, por outro abrem perspectivas para encontrar ilhas desconhecidas, como nos lembra Saramago em um dos seus conhecidos contos. É nesse cenário que se delineia a educação na contemporaneidade, fragilizada pela certeza do incerto, mas fortalecida na condição de metamorfosear concepções, processos e situações di- 7

8 versas de formação. Nessa conjuntura de instabilidades do novo milênio, a escola de educação básica vem ganhando, de forma crescente, lugar de destaque, pelo reconhecimento de que esse lugar da cultura desempenha funções imprescindíveis para a formação humana. Uma formação que coloque o sujeito no centro da ação educativa e que favoreça ao ser conhecimentos e saberes fundamentais para que se torne humano. Esse reconhecimento da escola alcançou projeção neste novo milênio em todo o cenário internacional a partir de um conjunto de proposições de mecanismos indutores das políticas públicas no mundo, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). No auge dessas proposições, as definições da ONU de que atingir o ensino básico universal é um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio fez com que as escolas de educação básica fossem assumidas mundialmente como uma das prioridades públicas fundamentais para o século XXI. Mas a escola que é valorizada e adotada como um projeto de nação em diferentes países também é colocada em xeque, haja vista a convicção de que esse espaço precisa assumir, como base da ação formativa que desenvolve, uma diversificação de formas de organizar currículos e modos de ensinar. Assim, constata-se a necessidade de uma escola que, de forma abrangente, dialogue com o paradigma dos direitos humanos da contemporaneidade, tendo como focos o respeito, a valorização e a interação das diferenças. No cenário de reconstrução da escola, as artes e a música fazem parte do reacendimento da formação humana como fim da educação. Assim, almeja-se uma escola pautada em conhecimentos e saberes que transcendam o domínio técnico de conteúdos relacionados a ciências exatas e da natureza e, também, da sintaxe da língua portuguesa, ainda absolutos em muitos contextos de ensino. No Brasil, o fortalecimento das artes e da música no âmbito da educação básica passa, entre outros aspectos, pela recolocação de saberes e reconhecimentos vinculados a esse campo no âmbito

da legislação educacional do país. A Lei 11.769/2008, ao alterar a LDB vigente (Lei 9.394/1996), impulsionou debates e ações sobre o ensino de música na escola, fazendo que diversas redes de ensino de todo o Brasil incorporassem a linguagem musical, de forma mais ou menos específica, nos currículos da educação básica. Tal aspecto propiciou a abertura de concursos para professores de música em muitas redes de ensino, incentivando, inclusive, a ampliação e a abertura de cursos de licenciatura em música em todo o território nacional. Além disso, com a emergência de inserção da música como conteúdo obrigatório, contribuiu para o fortalecimento e a inserção da música em currículos dos cursos de pedagogia e, consequentemente, na formação do professor unidocente. Em 2016, a Lei 13.278/2016 acrescentou ao Art. 26 da LDB que, além da música, conteúdos relacionados às artes visuais, à dança e ao teatro fazem parte do ensino da Arte, deixando mais evidente que essas quatro linguagens devem permear o amplo universo do ensino da Arte nas escolas. Ainda nesse cenário, a homologação da Resolução CNE/CEB n. 02, de 10 de maio de 2016, que define as Diretrizes para a Operacionalização do Ensino de Música na Educação Básica, representou mais uma importante conquista para a formação musical na escola, fortalecendo o processo de valorização e inserção da formação musical na educação básica brasileira. Certamente todas as conquistas e os avanços alcançados nestes últimos anos para o ensino de música na escola estabeleceram muitos desafios, entre eles os relacionados à formação de professores. Formação essa que, no âmbito da formação inicial e da formação continuada, passa por duas dimensões centrais: 1) a formação de professores especialistas, para atender às demandas do ensino de música, trabalhado de forma mais específica a partir do ensino fundamental II; e 2) a formação do professor unidocente, oriundos dos cursos de pedagogia, para atender às demandas importantes da música na educação infantil e no ensino fundamental II. A problematização desses dois universos tem constituído um 9

campo rico para pesquisas e reflexões no âmbito da educação musical brasileira, com a consciência de que um debate sério e fundamentado sobre essa realidade pode nos fornecer pistas importantes para fortalecer o ensino de música na escola, atingindo, assim, o objetivo maior de todos nós: contribuir de forma decisiva para o fortalecimento da educação básica e da formação humana no país. 2) A obra e suas nuances Vinculado a essa perspectiva, o Grupo de Pesquisa Fapem (Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical) vem realizando, desde 2002, pesquisas importantes para o universo da educação musical, com o intuito de revelar relações entre sujeitos e músicas, em processos formativos e ações práticas. De forma mais específica, o Grupo tem dado ênfase aos estudos sobre a prática e a formação do professor unidocente e seu relevante papel no processo de inserção da música no contexto escolar. Nesse universo, o Fapem vem realizando buscas para descobrir, nos terrenos da prática do unidocente, tradições e alternativas que configuram suas formas de ver, perceber e construir trajetórias e ações no âmbito da educação musical escolar. Como resultado dessas escavações, o Fapem vem revelando mundos e modos de ensinar música vinculados ao complexo universo que caracteriza a práxis do unidocente, ampliando suas análises e reflexões para pensar e propor estratégias de formação e prática direcionadas a essa realidade. É nesse contexto que este livro nos leva a uma viagem com vistas a vasculhar lugares muitas vezes já visitados. Mas as visitas agora propostas propiciarão diferentes olhares e apropriações de conhecimentos e saberes que, alinhados às experiências dos autores desta obra, conduzirão nossa (re)descoberta da práxis do professor unidocente. Para orientar nossas experiências e percepções, os membros efetivos do Fapem, fortalecidos por estudiosos ilustres convidados de outras instituições da Região Sul, nos brindam com sua visões, convicções e pesquisas que, estruturadas nos 12 textos 10

da obra, nos mostram o mundo complexo e significativo explorado por suas escavações. Em um mosaico multifacetado, composto de muitas cores, sons, casos e investigações, foi tecida a rede desta obra. Uma rede com muitos fios em que cada artesão lapidou seu material de acordo com as inspirações, aspirações e perspectivas que almejou imprimir em seu trabalho. Trata-se de um livro tocante e pungente escrito não só nas linhas, mas nas entrelinhas dos sentidos que cada texto atribui à formação e à ação do professor unidocente. Ao ler os escritos deste livro e as entrelinhas que, sabiamente, não foram esmagadas pelos autores fazendo alusão à Clarisse Lispector fica-nos a percepção e a convicção de que é possível, cada vez mais, pensar e construir importantes caminhos para a educação musical e a atuação do professor unidocente no ensino de música na escola. Chego ao fim deste prefácio evocando a sabedoria artística de Neruda para me inspirar em algumas palavras finais. Como nos ensinou o poeta: É proibido não rir dos problemas Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo, Não transformar sonhos em realidade. Entendo que este livro é a materialização de pesquisas e de reflexões em um produto científico e educacional... mas, transcendendo essa dimensão, é resultado do encontro de pessoas que, como nas entrelinhas traçadas por Neruda, não abandonaram, por medo ou qualquer tipo de receio, lutas fundamentais para educação musical brasileira e, de tal forma, fizeram desta obra a publicação de alguns dos sonhos em realidade. João Pessoa, 20 de janeiro de 2017 Luis Ricardo Silva Queiroz 11