A HORA DO PESADELO. paixões distópicas em educação

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1 A HORA DO PESADELO paixões distópicas em educação

2 Conselho Editorial Alex Primo UFRGS Álvaro Nunes Larangeira UTP André Parente UFRJ Carla Rodrigues PUC-Rio Ciro Marcondes Filho USP Cristiane Freitas Gutfreind PUCRS Edgard de Assis Carvalho PUC-SP Erick Felinto UERJ Francisco Rüdiger PUCRS Giovana Scareli UFSJ J. Roberto Whitaker Penteado ESPM João Freire Filho UFRJ Juremir Machado da Silva PUCRS Marcelo Rubin de Lima UFRGS Maria Immacolata Vassallo de Lopes USP Michel Maffesoli Paris V Muniz Sodré UFRJ Philippe Joron Montpellier III Pierre le Quéau Grenoble Renato Janine Ribeiro USP Rose de Melo Rocha ESPM Sandra Mara Corazza UFRGS Sara Viola Rodrigues UFRGS Tania Mara Galli Fonseca UFRGS Vicente Molina Neto UFRGS Apoio:

3 A HORA DO PESADELO paixões distópicas em educação Luciano Bedin da Costa Diego Souza Marques Organizadores

4 Copyright Autores, 2018 Capa: Humberto Nunes (sobre ilustração de Titi Bertol) Projeto gráfico e editoração: Niura Fernanda Souza Revisão: Simone Ceré Editor: Luis Antônio Paim Gomes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960 H811 A hora do pesadelo: paixões distópicas em educação / organizado por Luciano Bedin da Costa e Diogo Souza Marques. Porto Alegre: Sulina, p. ISBN: Sociologia da Educação. 2. Educação. 3. Ensino. I. Costa, Luciano Bedin da. II. Marques, Diogo Souza. CDU: CDD: Todos os direitos desta edição são reservados para: EDITORA MERIDIONAL LTDA. Editora Meridional Ltda. Av. Osvaldo Aranha, 440, cj. 101 Bom Fim Cep: Porto Alegre/RS Fone: (0xx51) sulina@editorasulina.com.br Julho/2018

5 Cada época tende a pensar que é, de algum modo, a última, que com ela se fecha um ciclo ou todos os ciclos. Hoje, como ontem, concebemos mais facilmente o inferno como a idade de ouro, o apocalipse do que a utopia, e a ideia de uma catástrofe cósmica nos é tão familiar quanto era aos budistas, para os pré-socráticos, para os estoicos. A intensidade dos nossos terrores nos mantém num equilíbrio estável. Emil Cioran, Ensaio sobre o pensamento reacionário

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7 Sumário À previsível mão que alcança um giz, uma taça de café ou um copo de cerveja, de Luciano Bedin da Costa...9 Morrido, de Natália Nodari Os meninos da minha escola me pareciam maus, de Hilan Bensusan...13 Apresentação da antipedagogia, de Pedro Garcia Olivo...21 A foca que não era uma foca que não gostava de chupetas, de Ricardo Carrard Morte do educador, de Gabriel Torelly...41 Sobre Educação Libertária, heterotopias anárquicas e espíritos livres, de Paulo L. A. Marques...49

8 Transformação, de Sandra Mara Corazza e Luiz Daniel Rodrigues Dinarte...69 Supressão, de Camila Bonin Liebgott Transgressão, de Edson Passetti...81 A coragem de inocência, de Édio Raniere da Silva...85 Direitos e delírios (com Artaud), de Guilherme Schröder...99 A visita, de Stéfane Dalmagro O (des)apropriado juízo da propriedade de posse: um delírio distópico ficto-jurídico em tempos esquizoneuróticos, de Luis Artur Costa Bloco de notas, de Sara Caumo Guerra Uivo, de Rodrigo Brito de Oliveira As paixões distópicas como formas de abraçar o futuro: posfácio, de Diego Souza Marques...147

9 À previsível mão que alcança um giz, uma taça de café ou um copo de cerveja Luciano Bedin da Costa 1 O pesadelo, nisso que chamamos de educação, pedagogia, história, filosofia, psicologia ou qualquer coisa que cheire a ciências do homem, é não conseguirmos levar o moribundo até o fim, o medo absurdo do minuto que precede o depois de amanhã, momento em que não estaremos mais a nos vigiar, não fazendo sentido algum em nos qualificarmos enquanto corajosos, destemidos, valentes, sonhadores, céticos ou utópicos. O pesadelo, não de um tempo corpulento ou exaurido, mas de um tempo que vigorosamente retumba o tempo que nunca passa, o grau zero do tempo que é o tempo trabalhando na estaca zero do homem, ali onde o homem-educador e o homem-curador não passam de geodésia do 1 Docente da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. 9

10 quase nada, o eterno ponto que principia a curva arremessando o quase homem que somos à vidência de ser, ele próprio, não mais do que uma trôpega derrapagem. Este livro com toda falsa modéstia que não lhe cabe convoca, cintila, vacila, atroa, ressoa, brada, repete, zoa, ronca, murmura, grita, chia, esganiça, proclama, vocifera, tosse e late, avultando o uivo daqueles que não se contentam com o valor mornamente fabricado de seus próprios quilates. A hora do pesadelo: paixões distópicas em educação é também o pesadelo da própria distopia, dado que não se propõe a imaginar nada que esteja fora do alcance da previsível mão que alcança um giz, uma taça de café ou um copo de cerveja. Os dezesseis textos que compõem este livro distribuídos entre poesias, ensaios, contos, artigos e manifestos munem-se de fagulhas distópicas apaixonadas, levando-nos, cada qual à sua maneira, a caminhos um tanto improváveis. Pouco indicado àqueles que temem a morte de seus próprios ofícios, aos moralistas de plantão, aos ontologistas do tempo perdido e aos pregadores do desespero. A hora do pesadelo é também um tanto oportunista. O fato de ter sido escrito hoje e não ontem ou amanhã faz do livro um testemunho bicudo daquilo que vive na tensão extrema entre contrários, do sim e do não confusamente misturados, capazes de evocar o que Maurice Blanchot designa como o encontro insuportável de extrema grandeza e de extrema miséria, o nada incongruente onde dois infinitos se chocam. 10