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Transcrição:

Evolução morfodinâmica da praia de Areia Preta/RN entre 2006 e 2008 1 Lidiane de Souza Nunes 2 Tarik de Sousa Araújo 3 Zuleide Maria Carvalho Lima 4 Resumo O trabalho teve como objeto de estudo a praia de Areia Preta, localizada em Natal/RN. Esta praia vem apresentando grande adensamento imobiliário e o processo de erosão costeira. Apresenta como resultado o monitoramento da faixa de praia, o qual possibilita a comprovação ou não da eficiência do projeto de recuperação realizado na praia. O método adotado nesta pesquisa foi a análise integrada na perspectiva sistêmica e, os procedimentos práticos usados foram: pesquisa bibliográfica, trabalho de campo, levantamento de mapas e fotografias. Através do monitoramento dos perfis A, B, C e D, em 2006 e 2008, foi possível constatar a ocorrência de erosão costeira em todos eles. Constatou-se também que na praia de Areia Preta a erosão costeira é causada por fatores naturais, mas é acelerada pela ação humana. Palavras-chave: Praia; Projeto de recuperação; Erosão costeira. Abstract The work had as object of study the Areia Preta Beach located in Natal/RN. This beach has been showing big density housing and the process of coastal erosion. It shows as result the monitoring of the stretch of beach that makes possible the proof or not of the efficiency in the recovery project carried out at the beach. The adopted method in this study was the integrated analysis from the systemic perspective.the pratical procedures used were: bibliographic research, fieldwork, lifting of maps and photos. Through monitoring the A, B, C and D profiles on the 2006 and 2008 years it was possible to see that the occurrence of coastal erosion is caused by natural factors, but is accelerated by human action. Key words: Beach; Recovery project; Coastal erosion. Introdução A região costeira tem sido estudada em escala mundial com o enfoque na erosão costeira. Atualmente, grande parte das linhas de costa do mundo está sendo afetada pela erosão, o que gera grande prejuízo para a economia. Percebe-se que grande parte das praias do litoral brasileiro e nordestino são palcos de grandes empreendimentos, como hotéis luxuosos, condomínios, pousadas, restaurantes, dentre outros. Devido à importância econômica das praias 1 Agradecemos ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, através do auxílio financeiro, e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Mestre em Geografia pela UFRN. Contato: lidiane_2003@yahoo.com.br 3 Mestre em Engenharia de Petróleo pela UFRN. Contato: tarik.geo@gmail.com 4 Doutora, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Contato: zuleide@ufrnet.br

149 para a economia de muitas cidades, estas têm sido ocupadas de forma desordenada e, consequentemente, são afetadas pelos processos de erosão costeira, que faz com que os governos municipais se preocupem em resolver ou minimizar a situação, entretanto, a maioria deles prefere as obras de engenharia costeira tradicional. Essas obras na praia de Areia Preta foram realizadas pela Prefeitura de Natal, onde foram construídos três espigões em conjunto com um aterro hidráulico para a engorda da praia devido ao processo de erosão costeira. Entretanto, a prefeitura realizou apenas 60% do aterro hidráulico previsto. Sabe-se que as obras de engenharia costeira tradicional são de custo elevado e, em grande parte, consistem apenas em medidas paliativas, uma vez que transferem o problema para outro local ou se estabilizam temporariamente. Dessa forma, observa-se a necessidade de monitorar a faixa de praia para obter dados quantitativos e qualitativos, que provem que o projeto de recuperação realizado na praia foi eficiente ou não para evitar a erosão costeira. Sendo assim, esse trabalho traz uma análise morfodinâmica da praia de Areia Preta com base nos dados do monitoramento realizado nos anos de 2006 e 2008. Caracterização da área de estudo A área de estudo corresponde à praia de Areia Preta, que se localiza no bairro com o mesmo nome. O referido bairro situa-se na região administrativa Leste da cidade de Natal do Estado do Rio Grande do Norte, e limita-se ao Norte com os bairros de Petrópolis e Praia do Meio, ao Sul com o bairro de Mãe Luíza, a Leste com o Oceano Atlântico e a Oeste com os bairros de Mãe Luíza e Petrópolis (Figura 1). Caracterização socioeconômica Historicamente, Areia Preta é considerada como a primeira praia de veraneio dos natalenses. Desde a década de 1920 foi escolhida como área ideal para o lazer devido às suas condições de balneabilidade. Com o passar do tempo, as edificações dos pescadores foi dando lugar às casas de veraneio, começando ali o que mais tarde se transformaria em um dos bairros elitizados da capital, onde o uso do solo está relacionado principalmente à atividade turística e à moradia de alto padrão (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL. SEMURB, 2009a) (Fotografia 1). As edificações foram construídas sobre as dunas, o que colaborou para o processo de erosão costeira, que ocorre na praia de Areia Preta.

150 Foto: Lidiane de Souza Nunes, jan./2008. Fotografia 1: Prédios existentes no bairro de Areia Preta De acordo com o macrozoneamento do município, o bairro de Areia Preta está localizado na Zona Adensável, que é justamente aquela onde as condições do meio físico, a disponibilidade de infraestrutura e a necessidade de diversificação de uso, possibilitam um adensamento maior em relação aos parâmetros básicos de coeficiente de aproveitamento. Com isso, a área torna-se, cada vez mais, cobiçada para grandes empreendimentos imobiliários, principalmente para as construções verticais destinadas a condomínios multifamiliares (PMN. SEMURB, 2009) (Figura 1). No que se refere à infraestrutura do bairro, de acordo com PMN. SEMURB (2009), este possui 98% de sua área com sistema de drenagem e pavimentação. Quanto ao saneamento básico, pode-se afirmar que a quantidade de ligações de água ainda ultrapassa bastante a quantidade de ligações de esgotos, principalmente no uso residencial, significando que parte dos efluentes tem destino impróprio, levando em consideração que se trata de uma área de grande fragilidade ambiental.

151 Fonte: PMN. SEMURB, 2009. Figura 1: Macrozoneamento da cidade do Natal evidenciando o bairro de Areia Preta Caracterização física A praia de Areia Preta situa-se no litoral Nordeste do Brasil e está inserida no

152 macrocompartimento Costa do Tabuleiro Norte, no qual se registra a existência de depósitos Terciários denominados Tabuleiros da Formação Barreiras. Essa formação de Tabuleiros é coberta por depósitos arenosos Quaternários até atingir a costa, quando se apresenta como falésias. Após as falésias, observa-se o prisma praial, o qual possui uma largura que varia ao longo da área analisada, e limita-se em alguns trechos com a presença de arenitos (MUEHE, 2006). Muehe (2006) afirma que o macrocompartimento citado possui um reduzido aporte de sedimentos e, no trecho correspondente ao Estado do Rio Grande do Norte, os rios têm drenagem deficiente. Aspectos geológicos A geologia da área é caracterizada pelos depósitos tércio-quaternários da Formação Barreiras. Tal formação é encontrada numa grande faixa do litoral brasileiro e é recoberta por sedimentos eólicos. Cunha (2004) caracteriza essa formação declarando que a mesma é constituída por camadas e lentes de depósitos clásticos, os quais têm granulometria que varia entre seixos quartzosos e areias arcosianas e argilas caulínicas, pouco consolidadas e de cores avermelhadas, alaranjadas e esbranquiçadas. Tais características geológicas apontam que a área é frágil, uma vez que os depósitos são clásticos e os sedimentos constituintes destes depósitos são pouco consolidados. Diante de tal contexto, é possível perceber a necessidade de cautela quanto a sua ocupação. Aspectos geomorfológicos A evolução morfológica dessa área está ligada às flutuações glacio-eustáticas do nível do mar, que se encarrega de modelar a superfície rebaixada tectonicamente denominada Graben do Jundiaí-Potengi. A área estudada apresenta quatro unidades morfológicas denominadas de: dunas, tabuleiros costeiros, planícies praiais e promontórios (Figura 2).

153 Fonte: Araújo (2006). Figura 2: Mapa geológico e geomorfológico da praia de Areia Preta Dunas As dunas, em grande parte, foram ocupadas pela área urbana natalense. As dunas são compostas, principalmente, de areias quartzosas bem selecionadas e com granulometria arredondada. As feições dunares recobrem a Formação Barreiras e capeiam sedimentos recentes, tendo uma orientação preferencialmente SE-NW devido à direção dos ventos. Os sedimentos constituintes das dunas são oriundos da Formação Barreiras e do transporte de sedimentos da Plataforma Continental (FRAZÃO, 2003). O uso e a ocupação inadequados do solo podem causar problemas socioambientais e, em se tratando das dunas, é importante ter muito atenção, uma vez

que as dunas são feições geomorfológicas sensíveis. Observando a presença de dunas na área em estudo, é possível perceber a fragilidade desse ambiente. 154 Tabuleiros Costeiros Os tabuleiros costeiros são caracterizados por uma morfologia que pode variar de plana a suavemente ondulada, com uma topografia entre 40 e 120 metros de altitude. Essa unidade morfológica também se caracteriza por ser dissecada por uma rede de drenagem paralela a semiparalela de direções SW-NE e NW-SE, sendo relacionada à estrutura tectônica do embasamento (DINIZ, 2002). Quando a formação tabular chega à vertente costeira, apresenta-se como falésias, as quais consistem em conglomerados de arenitos incrustados de grãos e grânulos angulosos de quartzo, que são firmemente cimentados por hidróxido de ferro. Rossato et al. (2003b, p. 185) define falésia como uma escarpa costeira abrupta não coberta por vegetação que se localiza na linha de contato entre a terra e o mar. Essa mesma autora acrescenta que a falésia origina-se por causa da ação erosiva do mar, que por meio da dinâmica das ondas, provocam o solapamento da base da falésia, sendo esse último processo responsável pelo surgimento de grutas de abrasão, as quais também estão presentes na praia de Areia Preta. As falésias mais significativas encontradas na área em estudo são as encontradas na ponta do Pinto, praça da Jangada e ponta do Morcego. Como foi explicitado anteriormente, a falésia naturalmente passa pelo processo de solapamento de sua base e, consequentemente, pela erosão costeira. Por esse motivo, essa feição não deve ser ocupada por ser naturalmente suscetível. Rochas de praia Na praia de Areia Preta, também é possível encontrar resquícios da Formação Barreiras formando terraços de construção, os quais constituem os arenitos ferruginosos derivados da destruição das falésias. Estes arenitos têm formas irregulares com superfícies entalhadas e, encontram-se muito litificados por processos diagenéticos, devido à concentração de óxido de ferro e material argiloso, que é utilizado como matrizcimento nas áreas de contato com o mar (ARAÚJO, 2006). Planície Praial Muehe (1998, p. 287) define planícies costeiras como superfícies relativamente planas, baixas, localizadas junto ao mar, e cuja formação resultou a deposição de

155 sedimentos marinhos e fluviais. O mesmo autor acrescenta que a largura das planícies costeiras do Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil é comumente estreita, sendo limitada pelo mar e pela escarpa dos depósitos sedimentares da Formação Barreiras. As praias na área em estudo são formadas por material arenoso, e têm uma inclinação baixa, podendo chegar à média, sendo que essa variação ocorre entre 2º e 4º. Essas praias apresentam-se como uma faixa, que é limitada por obras de engenharia (calçadão) ou entram em contato direto com as falésias de arenito da Formação Barreiras (ARAÚJO, 2006). Promontórios Guerra e Guerra (2003), afirmam que promontório é a nomenclatura dada aos cabos que acabam por afloramentos rochosos. Os cabos, por sua vez, são considerados por Rossato et al. (2003a), como feições que se salientam em direção ao mar, sendo seu surgimento diretamente ligado à erosão diferencial, que evidencia as rochas mais resistentes. A área em estudo se apresenta fortemente condicionada pela existência de promontórios naturais (Ponta do Pinto e Ponta do Morcego), os quais têm o seu desenvolvimento relacionado às condições de erosão costeira imprimida por ondas de sudeste, que produzem uma deriva litorânea no sentindo S-N e, promovem um ataque erosivo diferencial nas rochas da Formação Barreiras, as quais possuem diferentes resistências litológicas ligadas à influência de falhas, que possibilitam o desenvolvimento de níveis lateríticos decorrentes da percolação de águas meteóricas, facilitada pela maior ocorrência de fraturas nas rochas. Essas fraturas estão intimamente ligadas a reativamentos neotectônicos na falha que origina o Graben do rio Potengi, devido ao basculhamento imprimido sobre as rochas sedimentares durante esses reveses tectônicos (DINIZ, 2002). A praia de Areia Preta possui além dos promontórios naturais já mencionados, a existência de três espigões construídos pela prefeitura, os quais foram criados para atuarem como promontórios artificiais (Fotografia 2). De acordo com Elfrink (2011), esses espigões podem ser conceituados como estruturas retas e perpendiculares à praia, podendo ser única ou diversas, formando um campo de espigões. Tais estruturas possuem a função de bloquear parte do transporte litorâneo, sendo que essa função depende diretamente do tipo de costa.

156 Foto: Lidiane de Souza Nunes, jan./2008. Fotografia 2: Promontório artificial na praia de Areia Preta Aspectos climatológicos Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), o clima de Natal pode ser classificado como Clima Tropical Nordeste Oriental, quente e semi-úmido com quatro a cinco meses secos. Maia (1998), declara que as velocidades médias dos ventos na faixa costeira nordestina são maiores do que as encontradas em locais mais distantes da costa, os quais são geralmente os centros urbanos, onde o meio urbano interfere no seu deslocamento. Em se tratando do litoral Oriental do Rio Grande do Norte, é possível afirmar que os ventos são, principalmente, de Sudeste na maior parte do ano, sendo acompanhados pelos ventos de Leste. A umidade relativa do ar em Natal possui uma média anual de 77%, com pequenas mudanças ao longo do ano, as quais estão relacionadas às alterações pluviométricas, visto que os meses mais úmidos são os mais chuvosos e, os mais secos são os menos úmidos (ARAÚJO, 2006). A temperatura do ar em Natal é alta durante todo o ano e apresenta uma média anual de 27,1ºC (IDEMA, 2011). O clima quente e semi-úmido favorece o processo de erosão das rochas, uma vez que possibilita o intemperismo das rochas de forma mais intensa do que em áreas com clima seco e frio. Tais características climáticas aumentam a fragilidade potencial da área e, consequentemente, colaboram com o processo de erosão costeira. Aspectos oceanográficos Segundo Wright e Short (1983), as ondas incidentes correspondem a principal fonte de energia para o sistema praial e para a sua variabilidade, que é ligada a

157 variabilidade do clima de ondas. Araújo (2006), afirma que a praia de Areia Preta é morfologicamente variável por ser exposta ao clima de ondas oceânico aberto. Entretanto, é importante ressaltar que a área se apresenta inserida em um contexto sinótico, no qual é rara a incidência de tormentas de grandes magnitudes, estando essencialmente sob a ação de ondas geradas pelo cinturão de ventos alísios (ARAÚJO, 2006, p. 35). No que diz respeito às marés, pode-se afirmar que a maré local pode ser classificada como mesomaré (2-3 m) de regime semidiurno. Esta dinâmica de maré juntamente com as características geológicas, geomorfológicas e climatológicas da área favorece a ocorrência da erosão costeira, que se dá em parte pela ação das ondas como já foi mencionado. Procedimento metodológico A elaboração desta pesquisa foi norteada pelo método da análise integrada, na perspectiva sistêmica. A abordagem sistêmica deriva da Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy. Primeiramente, faz-se necessário conceituar o termo sistema. Haigh (1993 apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 5), conceitua sistema como: (...)uma totalidade que é criada pela integração de um conjunto estruturado de partes componentes, cujas interrelações estruturais e funcionais criam uma inteireza que não se encontra implicada por aquelas partes componentes quando desagregadas. Christofoletti (1999) afirma que os fatos relacionados aos fatores ambientais físicos (Meteorologia, Climatologia, Hidrologia, Biogeografia, Geomorfologia, Tectônica, Geodinâmica, etc) estão ligados aos efeitos provocados pelas atividades antrópicas (urbanização, industrialização, exploração mineral, usos agrícolas do solo, construção de vias de transporte, etc). Por conseguinte, do ponto de vista holístico da análise dos sistemas ambientais físicos, não é possível desconsiderar os estudos sobre os sistemas socioeconômicos, levando em consideração os seus elementos e seus processos, além do estudo sobre o comportamento e a tomada de decisões políticas. A partir da caracterização da análise sistêmica, é possível perceber a importância desse tipo de análise para esta pesquisa, uma vez que a praia de Areia Preta precisa ser analisada de forma sistêmica e integrada. A análise é sistêmica por considerar que esse ambiente físico é um sistema, em que cada elemento é importante na elaboração de sua análise, sendo imprescindível a consideração dos seus aspectos físicos e

158 socioeconômicos, os quais interferem na evolução desse sistema. O monitoramento foi realizado durante cinco meses, sendo realizado nos meses de abril, maio, junho, agosto e setembro de 2006 e 2008. As datas foram escolhidas de acordo com a tábua de maré e com o período influenciado pela lua cheia. O monitoramento não foi realizado durante um ano porque não foi possível. Mas os dados apresentados neste trabalho permitem verificar a dinâmica costeira da praia de Areia Preta nos anos de monitoramento. O trabalho de campo de monitoramento englobou a coleta de dados hidrodinâmicos, nivelamento topográfico e coleta de sedimentos. Entretanto, o material sedimentar coletado não foi analisado. Após essa etapa de trabalho de campo, foi efetuada a tabulação dos dados de hidrodinâmica e topografia, para a confecção dos perfis topográficos e para a análise e interpretação de todos os dados obtidos para a elaboração do relatório. Os perfis escolhidos foram baseados nos adotados por Araújo (2006), sendo que esse autor adotou sete, dos quais foram eleitos apenas quatro para a presente pesquisa. Araújo (2006) denominou seus perfis de A, B, C, D, E, F e G. Para esta pesquisa foram selecionados os perfis B, C, E e F. Estes quatros perfis adotados nesta pesquisa são denominados respectivamente de A, B, C e D, os quais podem ser visualizados na Figura 3. Essa escolha deve-se aos seguintes fatos: o ponto A situa-se antes do espigão e a força da corrente litorânea é amortecida no mesmo, causando a deposição de sedimentos no choque com o espigão, que funciona como um anteparo. Isto forma uma faixa de praia maior do que a encontrada no ponto B. Por sua vez, o ponto B fica mais desprotegido da ação das ondas, provocando o transporte de sedimentos e a consequente erosão nessa área. O mesmo ocorre com os pontos C e D, respectivamente, explicando a escolha dos mesmos. O levantamento hidrodinâmico foi feito na maré alta de sizígia de lua cheia, sendo necessária a utilização dos seguintes materiais: trena, cronômetro, planilha de dados hidrodinâmicos e cinco balizas, das quais uma possuía fita métrica para a obtenção dos dados referentes à altura das ondas. Esse procedimento ocorreu no ponto A durante os dias de monitoramento em 2006 e 2008. O primeiro procedimento realizado foi verificar a altura da onda, a qual foi observada por uma pessoa deitada no assoalho com o auxílio de uma baliza acoplada com uma fita métrica. O observador verificou doze vezes a altura máxima da crista de onda num ponto fixo de arrebentação. No momento da quantificação dos dados, foram

159 descartadas as duas alturas de onda mais discrepantes e, posteriormente, feita a média do restante. Após a medição da altura da onda, foi feita a contagem do período de onda, sendo iniciada a partir de um ponto fixo na zona de arrebentação e após a passagem de uma onda, a partir da qual foi contado o tempo de passagem de dez ondas. Essa contagem foi efetuada doze vezes. Para a obtenção da média do período de onda, foi necessário descartar o maior e o menor período e fazer uma média dos dez valores restantes. Outros parâmetros verificados foram o ângulo de incidência da onda e a direção do vento por meio de uma bússola. A última etapa do levantamento hidrodinâmico consistiu na observação da velocidade da corrente litorânea, a qual foi calculada a partir da fixação, na zona de estirâncio, de quatro balizas, onde cada par ficou disposto a uma distância de dez metros no comprimento e dois metros na largura, formando um retângulo, sendo assim possível a observação, a uma distância fixa em terra, de um flutuador (coco) jogado após a zona de arrebentação na direção do primeiro par de balizas, onde o tempo foi cronometrado até o momento em que o flutuador ultrapassou o segundo par de balizas. Para quantificar esses dados fez-se uso da seguinte fórmula: V= S/ T, onde V corresponde à velocidade, S é a variação do percurso e T é a variação do tempo. Fonte: Adaptado de Araújo (2006). Figura 3: Mapa de localização dos perfis de monitoramento da praia de Areia Preta

160 Para a realização dos levantamentos topográficos foram utilizados os seguintes instrumentos: piquetes, tripé, nível, trena, mira de 4 m e cadernetas topográficas. O levantamento topográfico foi executado no período de maré baixa nos pontos A, B, C e D, onde os piquetes foram distribuídos equidistantes 3 m no monitoramento feito no ano de 2006 e 5 m no de 2008, partindo de um ponto fixo situado na pós-praia, em direção à lâmina d água. Para se fazer as leituras no nível, a mira vertical foi deslocada, de um piquete a outro, até o último dentro d água, sendo os resultados registrados na caderneta topográfica, com a finalidade de determinar a altura de cada ponto em relação ao ponto fixo. Para coletar os sedimentos foram necessários sacos plásticos para acondicionamento do material, etiquetas com o dia da coleta, o perfil e o local da retirada das amostras, e uma pá usada para recolher apenas os primeiros cinco centímetros de sedimentos, já que, dessa maneira, a análise é feita apenas com o material que acaba de ser depositado. As amostras foram coletadas nos dias de visita ao campo juntamente com a execução dos perfis de praia nos pontos A, B, C e D. Apresentação e análise dos resultados A análise apresentada é referente à comparação dos dados dos meses de abril, maio, junho, agosto e setembro de 2006 e 2008. Essa comparação foi realizada com os dados da topografia e da hidrodinâmica da praia de Areia Preta. O perfil A sofreu redução em seu comprimento em todos os meses monitorados, exceto em abril, mês em que ocorreu deposição de sedimentos no perfil. A comparação dos dados de 2006 e 2008 mostra que nesse perfil está acontecendo erosão costeira e diminuição da faixa de praia (Figuras 4 e 5). O perfil B apresentou deposição e redução do seu comprimento nos meses de abril, junho, agosto e setembro. No mês de maio ocorreu grande redução do comprimento do perfil. Nesse perfil também se verifica a ocorrência de erosão costeira na maioria dos meses (Figuras 6 e 7). No perfil C aconteceu redução no seu comprimento nos meses de maio e de setembro. No mês de junho de 2008 ocorreu deposição em relação ao mesmo período de 2006. O mês de agosto não apresentou mudanças (Figuras 8 e 9). Ao se comparar os dados de 2006 e 2008 do perfil D, percebeu-se uma grande redução no seu comprimento nos meses de abril, maio e junho. No mês de agosto notou-se

pequena redução do perfil e, em setembro não ocorreram mudanças. Através do monitoramento, verificou-se que está ocorrendo erosão costeira (Figuras 10 e 11). 161 Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Figura 4: Comportamento do perfil A Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Figura 5: Comportamento do perfil A Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Figura 6: Comportamento do perfil B Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Figura 7: Comportamento do perfil B Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Figura 8: Comportamento do perfil C Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Figura 9: Comportamento do perfil C

162 Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Figura 10: Comportamento do perfil D Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Figura 11: Comportamento do perfil D Hidrodinâmica A caracterização hidrodinâmica foi realizada apenas no ponto A durante os meses de abril, maio e junho. Nessa etapa foi determinada a altura de onda, que representa a energia da onda a ser dissipada no estirâncio. Essa altura depende do vento e do tipo de assoalho marinho. As alturas das ondas observadas mostraram uma significativa variação entre os anos comparados e entre os meses do ano de 2008. Ao comparar as médias de 2006 e 2008, nota-se uma expressiva diminuição da altura da onda. As maiores oscilações do ano de 2008 ocorreram entre os meses de abril e maio e, entre os meses de maio e junho, pois maio apresentou as alturas mais baixas, tendo uma média de 13,15 cm (Figuras 12 e 13). O período de onda é influenciado pela velocidade e direção dos ventos e possibilita o conhecimento dos intervalos e distâncias da geração de ondas longitudinais. Na praia de Areia Preta, a oscilação dos períodos de onda entre 2006 e 2008 foi bastante significativa, mostrando que a condição de onda mudou bastante entre os anos comparados, já que no ano de 2008 o período de onda aumentou para médias acima de um minuto (Figuras 14 e 15). Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Figura 12: Média da altura de onda em centímetros do ponto A Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Figura 13: Média da altura de onda em centímetros do ponto A

163 Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Figura 14: Média do período de onda em minutos do ponto A Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Figura 15: Média do período de onda em minutos do ponto A Em se tratando da corrente litorânea, constatou-se que a velocidade das correntes litorâneas oscilou entre 0,1 e 0,8 m/s em 2006 e, entre 0,04 m/s e 0,27 m/s em 2008, mostrando que a velocidade diminuiu nesse intervalo de tempo. A direção do vento predominante foi Noroeste (NW) nos dois anos observados e, o ângulo de incidência das ondas variou entre 10º e 40º em 2006 e, entre 15º e 31º em 2008. Outra característica importante da praia de Areia Preta é o tipo de arrebentação da onda, que corresponde a do tipo deslizante na maioria dos meses monitorados do ano de 2006 e, mergulhante no ano de 2008. Os dados hidrodinâmicos mostraram que ocorreu diminuição da altura de onda e da velocidade da corrente litorânea e, aumento do período de onda. A redução da altura de onda implica em ondas com menor força de erosão nas praias, uma vez que as ondas foram mais baixas em 2008 do que em 2006. A diminuição da velocidade da corrente litorânea significa que o transporte de sedimentos foi mais lento em 2008 do em que 2006. E o aumento do período de onda também colabora para uma menor erosão, já que as ondas foram mais fracas em 2008 do que em 2006. Entretanto, a mudança do tipo de onda interferiu nessa possível tendência de menor erosão, visto que em 2006 a onda era deslizante e em 2008 era mergulhante. A onda mergulhante colabora com uma maior erosão, porque este tipo de onda tem maior força e poder de destruição na praia do que as ondas deslizantes. Considerações finais O trecho de linha de costa que compreende a praia de Areia Preta possui uma série de condicionantes geomorfológicos, geológicos e climáticos, que promovem um processo natural de erosão costeira. Porém, o adensamento urbano, perpetrado na área ao longo da história do crescimento da cidade do Natal, interferiu na dinâmica sedimentar

164 costeira, acelerando os processos de erosão que se desenvolveram na praia de Areia Preta. Pois se tratando de uma área de tamanha fragilidade, a urbanização jamais deveria ter sido adensada na forma como foi. As edificações em Areia Preta eliminaram as dunas que mantinham contato com o prisma praial e, funcionavam como uma reserva de sedimentos. Isso provocou o aparecimento imediato do substrato rochoso terciário e o aparecimento de falésias em detrimento das dunas. Os processos erosivos passaram a solapar as falésias, sob as quais estavam posicionadas edificações urbanas. No que se refere ao monitoramento da faixa de praia, foi possível observar o processo de erosão costeira em todos os perfis monitorados. Ao se deparar com essa realidade, é possível perceber e sugerir a necessidade do poder público concluir o aterro hidráulico, já que efetuou apenas 60%. Com a realização desse trabalho, foi possível constatar que o objetivo do projeto de recuperação da praia de Areia Preta não foi atingido, já que a obra realizada apenas paralisa o problema temporariamente, pois a tendência é que as estruturas físicas reconstruídas sejam novamente destruídas pela ação das ondas. Sendo assim, é perceptível que as obras efetuadas em Areia Preta consistiram apenas em medidas paliativas. A presente pesquisa serve como um alerta, já que ao longo de todo o litoral nordestino há trechos de costa com estruturas e morfologias semelhantes às encontradas em Areia Preta, e o crescimento urbano, dinamizado pelo potencial econômico das atividades turísticas, vem avançando indiscriminadamente nestes trechos. Estudos semelhantes a este são necessários para que se possa embasar o planejamento urbano e ambiental de áreas costeiras. Referências ARAÚJO, Tarik de Sousa. Estudo da morfologia costeira da praia de Areia Preta em Natal-RN, frente aos processos de uso e ocupação do solo. Monografia (Bacharelado em Geografia) UFRN, Departamento de Geografia, Natal/RN, 2006. CHRISTOFOLETTI, Antônio. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgar Blücher, 1999. CUNHA, Eugenio. Evolução atual do litoral de Natal-RN (Brasil) e suas aplicações a gestão integrada. Tese (Doutorado em Ciências do Mar) Universidade de Barcelona, Barcelona, 2004. DINIZ, Ronaldo, F. A Erosão costeira ao longo do litoral oriental do Rio Grande do Norte: causas, conseqüências e influencia nos processos de uso e ocupação da região

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