APROXIMAÇÃO BIOMÉTRICA AO ESTALÃO NO CÃO DA SERRA DA ESTRELA

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Transcrição:

APROXIMAÇÃO BIOMÉTRICA AO ESTALÃO NO CÃO DA SERRA DA ESTRELA Carla Cruz Quinta do Álamo, Apartado 29, 6234-907 Alpedrinha; e-mail: carla_cruz@oninet.pt RESUMO Um estalão é a descrição do exemplar ideal de uma raça. De acordo com o país onde é redigido, poderá ser mais ou menos preciso. Porém, um estalão demasiado vago pode levar a diferentes interpretações; em contrapartida, um estalão demasiado preciso pode ser excessivamente restritivo, sem permitir a evolução da raça. Ora, toda a raça tende a desviar-se do seu modelo inicial para outro, em função de modas ou alteração de aptidão. No caso particular do Cão da Serra da Estrela, originalmente usado fundamentalmente na protecção de rebanhos e guarda de quintas, nota-se uma evolução da sua funcionalidade, diferenciada consoante a variedade enquanto a variedade de Pêlo Comprido, hoje utilizada principalmente na guarda de propriedades e companhia, é seleccionada principalmente pela sua adequação ao estalão, a variedade de tem sido sempre seleccionada essencialmente pela sua aptidão como cão de gado. Na sua génese, o estalão do Cão da Serra da Estrela foi baseado em indivíduos de trabalho, dado que quando foi redigido (1934), não se podia ainda falar de criação selectiva para um ideal de beleza. Ao longo dos anos, foi sujeito a várias revisões, visando melhorar as descrições e acompanhar a evolução da raça. Com este trabalho, pretende-se averiguar qual a correspondência que existe entre o estalão actualmente em vigor e a população existente, considerando as duas variedades da raça. Foram amostrados 115 exemplares adultos de ambas as variedades da raça Cão da Serra da Estrela, considerando 18 variáveis biométricas. Consultou-se a revisão mais 267

recente do estalão da raça em vigor no Clube Português de Canicultura para aferir quais as descrições que podiam ser comparadas directa e objectivamente com os dados morfológicos, tendo-se determinado a percentagem de exemplares de cada variedade e sexo que se enquadra no descrito e que tipos de desvios ocorrem. No que respeita as relações altura do peito/altura ao garrote e altura da garupa/altura ao garrote e a profundidade do peito, a maioria dos exemplares enquadra-se no descrito. No que se refere ao índice corporal e à relação comprimento do chanfro/comprimento do crânio, o estalão parece não descrever correctamente o que se verifica na população. Relativamente à altura ao garrote, apesar de uma altura excessiva ser considerada defeito grave, os exemplares de maior porte amostrados foram admitidos ao Livro de Origens por exame, evidenciando que mais importante que um único carácter per si, é o tipo geral o factor mais valorizado no animal. INTRODUÇÃO Um estalão é a matriz ideal de uma raça (Queinnec, 1979, in Triquet, 1999). De acordo com o país de origem onde o estalão é redigido, este poderá ser mais ou menos preciso. Porém, um estalão demasiado vago pode levar à interpretação de modelos diferentes para uma raça; em contrapartida, um estalão demasiado preciso pode ser demasiado restritivo, capturando a raça num dado momento mas sem lhe dar oportunidade de evoluir (Triquet, 1999). Em 1987, na sua Assembleia-Geral de Jerusalém, a Fédération Cynologique Internationale (FCI) adoptou um modelo de estalão, com vista a uniformizar a linguagem dos estalões no seio dos seus paísesmembros. Segundo Quéinnec (2001), toda a raça tende a desviar-se do seu modelo inicial para um outro; mas como esta só se isolou porque correspondia a uma procura, que justificou a sua fixação, se a procura evolui, quer pela moda, quer pela alteração das aptidões procuradas, a raça deverá evoluir, sob pena de desaparecer. No caso particular do Cão da Serra da Estrela, originalmente usado quase exclusivamente na protecção de rebanhos e guarda de quintas, nota-se uma evolução da sua funcionalidade, diferenciada consoante a variedade enquanto a variedade de Pêlo Comprido, hoje utilizada principalmente na guarda de propriedades e companhia, é seleccionada principalmente pela sua adequação ao estalão, a variedade de 268

tem sido sempre seleccionada essencialmente com base na sua aptidão como cão de gado. Na sua génese, o estalão do Cão da Serra da Estrela foi baseado em indivíduos de trabalho, dado que na altura em que foi redigido (1934), não se podia ainda falar de criação selectiva organizada para um ideal de beleza. Ao longo dos anos, foi sujeito a várias revisões, visando melhorar as descrições e acompanhar a evolução da raça. Com este trabalho, pretende-se averiguar qual a correspondência que existe entre o estalão actualmente em vigor e a população existente, considerando as duas variedades da raça. MATERIAL E MÉTODOS Foram amostrados 115 exemplares adultos da raça Cão da Serra da Estrela, 68 da variedade de (28 machos e 40 fêmeas) e 47 da variedade de (22 machos e 25 fêmeas), considerando 18 variáveis biométricas, segundo a metodologia descrita anteriormente (Cruz, 2006). Destes, 58.8% indivíduos de Pêlo Curto e 8.5% de são ainda usados na função original de guarda de rebanhos ou são descendentes directos destes. Dos exemplares de, 13 possuem título de campeão de beleza (e 3 poderiam tê-lo se tivessem ascendência reconhecida); dos de, são 5 a possuir este título. Consultou-se a revisão mais recente do estalão da raça em vigor no Clube Português de Canicultura (CPC, 2005), de adaptação ao modelo de Jerusalém da FCI, para aferir quais as descrições que podiam ser comparadas directa e objectivamente com os dados morfológicos, tendo-se determinado a percentagem de exemplares de cada variedade e sexo que se enquadra no descrito e que tipos de desvios ocorrem. Os valores do Índice Corporal (IC) calculados foram interpretados segundo o descrito por Ortiz (1963) IC 86, animais brevilíneos; 86<IC<88, mediolíneos; IC 88, longilíneos. A profundidade do peito foi interpretada segundo as indicações de Drumond (1987) peito profundo, chega até à linha dos cotovelos; muito profundo, abaixo dos cotovelos; pouco ou não muito profundo, não chega até à linha dos cotovelos. Para avaliar esta característica, recorreu-se à relação entre a altura do vazio subesternal e a altura ao 269

cotovelo, uma vez que estas variáveis dão uma noção directa desta relação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Indicam-se em seguida descrições do estalão do Cão da Serra da Estrela, confrontadas com os dados quantitativos obtidos. Estalão Cão sub-longilíneo, com tendência a mediolíneo A tabela I indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade que se enquadra nos diferentes tipos corporais descritos pelo Índice Corporal. TABELA I PROPORÇÃO DE EXEMPLARES APRESENTANDO OS DIFERENTES TIPOS CORPORAIS CARACTERIZADOS PELO ÍNDICE CORPORAL. Brevilíneos 1 3.6 2 5.0 2 9.5 3 12.0 Mediolíneos 5 17.8 2 5.0 1 4.8 1 4.0 Longilíneos 22 78.6 36 90.0 18 85.7 21 84.0 Verifica-se que a maioria dos exemplares apresenta uma estrutura corporal longilínea. Com valores médios de IC de 94.4 para o e 95.7 para o, constata-se que de uma forma geral não se verifica a tendência a mediolíneo desejada pelo estalão. No entanto, frequentemente, quando os estalões se referem a um animal longilíneo, referem-se não à relação entre o comprimento do corpo e o perímetro torácico, mas sim a um Comprimento do Corpo superior à Altura ao Garrote. A tabela II indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade que se enquadra em diferentes categorias de Relação Altura/Comprimento. Verifica-se assim que todos os exemplares exibem um Comprimento do Corpo (CC) igual ou superior à Altura ao Garrote (AG), sendo que a maioria apresenta CC até 10% superior a AG. São os exemplares de Pêlo Comprido que exibem um Comprimento do Corpo proporcionalmente superior, em particular as fêmeas. 270

TABELA II PROPORÇÃO DE EXEMPLARES COM DIFERENTES VALORES DE RELAÇÃO ALTURA/COMPRIMENTO RAC<0.9 8 28.6 16 40.0 11 52.4 19 76.0 0.9 RAC 1.0 20 71.4 24 60.0 10 47.6 6 24.0 Estalão A altura do peito é inferior a metade da altura ao garrote A tabela III indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade que se enquadra em diferentes relações Altura do Peito/Altura ao Garrote (AP/AG). TABELA III PROPORÇÃO DE EXEMPLARES COM DIFERENTES RELAÇÕES ALTURA DO PEITO/ALTURA AO GARROTE AP/AG<0.45 7 25.0 11 27.5 3 13.6 8 32.0 0.45 AP/AG 0.55 21 75.0 28 70.0 19 86.4 16 64.0 AP/AG>0.55 - - 1 2.5 - - 1 4.0 Verifica-se que a maioria dos exemplares apresenta uma altura de peito (AP) correspondendo aproximadamente a metade da altura ao garrote. Os exemplares que apresentam AP excessiva são raros, e na amostragem efectuada tal apenas ocorreu em fêmeas. São as fêmeas de que apresenta uma maior proporção de AP, correspondendo a menos de metade da altura ao garrote, enquanto que os machos desta variedade são o sub-grupo que apresenta uma maior conformidade a este ponto do estalão. Estalão O comprimento do chanfro e do crânio devem ser aproximadamente iguais, 271

não o sendo, será o crânio ligeiramente mais comprido A tabela IV indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade que se enquadra em diferentes relações Comprimento do Chanfro/Comprimento do Crânio (CCh/CCr). TABELA IV PROPORÇÃO DE EXEMPLARES COM DIFERENTES RELAÇÕES COMPRIMENTO DO CHANFRO/COMPRIMENTO DO CRÂNIO 0.5<CCh/CCr<0.75 16 57.1 24 60.0 7 33.3 12 48.0 0.75 CCh/CCr 0.90 11 39.3 15 37.5 12 57.2 12 48.0 0.90<CCh/CCr<1 1 3.6 1 2.5 2 9.5 1 4.0 Todos os exemplares apresentam um comprimento do chanfro (CCh) inferior ao comprimento do crânio (CCr). No entanto, a indicação do estalão de que neste caso o chanfro deverá ser apenas ligeiramente mais curto parece não corresponder à realidade populacional. Uma elevada proporção de animais apresenta CCh correspondendo a 51 a 75% do CCr, principalmente na variedade de ; apenas uma pequena proporção exibe CCh aproximadamente igual a CCr. São os machos de que apresentam uma maior proporção de exemplares aproximando-se ao pretendido pelo estalão. Estalão A altura da garupa deverá ser igual ou ligeiramente superior à altura ao garrote A tabela V indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade que se enquadra em diferentes relações Altura à Garupa/Altura ao Garrote (AGar/AG). 272

TABELA V PROPORÇÃO DE EXEMPLARES COM DIFERENTES RELAÇÕES ALTURA À GARUPA/ALTURA AO GARROTE AGar/AG<1.0 7 25.0 13 32.5 10 45.5 8 32.0 1.0 AGar/AG 1.05 20 71.4 22 55.0 11 50.0 16 64.0 AGar/AG>1.05 1 3.6 5 12.5 1 4.5 1 4.0 A maioria dos exemplares apresenta uma Altura à Garupa 0 a 5% superior à Altura ao Garrote (AG), como pretendido pelo estalão; são as fêmeas de que apresentam uma maior proporção de exemplares com maior diferença entre estas alturas. No entanto, é de realçar a existência de uma elevada proporção de exemplares que apresentam uma altura à garupa inferior à altura ao garrote, em particular na variedade de. Quéinnec (2001) alerta para a preferência da FCI (Fèderation Cynologique Internationale, a federação que rege a canicultura num plano internacional e à qual Portugal está associado) por, entre outros, uma linha superior oblíqua e descendente em direcção à traseira. Tal será possivelmente porque esta linha, conjugada com outros parâmetros anatómicos, leva a um trote (o andamento avaliado em exposições caninas) mais vistoso, permitindo o realce, mesmo que inconsciente, dos exemplares que o apresentam do conjunto de animais em concurso. Assim, e dado que a maioria dos exemplares de amostrados são cães de exposição ou provém de linhas de cães para tal seleccionados, não será de surpreender o número de exemplares que apresentam uma garupa mais baixa que o garrote, mesmo se tal vai contra o indicado no estalão. Estalão Peito ( ) profundo; ( ) bem descido, junto ou ligeiramente abaixo do codilho A tabela VI indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade que se enquadra em diferentes relações Altura ao Cotovelo/Altura do Vazio Subesternal (ACot/AVS). 273

TABELA VI PROPORÇÃO DE EXEMPLARES COM DIFERENTES RELAÇÕES ALTURA AO COTOVELO/ALTURA DO VAZIO SUBESTERNAL ACot/AVS<0.95 7 25.0 13 32.5 5 22.7 8 32.0 0.95 ACot/AVS 1.05 19 67.9 17 42.5 11 50.0 12 48.0 ACot/AVS>1.05 2 7.1 10 25.0 6 27.3 5 20.0 Verifica-se que, de facto, a maioria dos exemplares apresenta o peito próximo do cotovelo (codilho). No entanto, é maior a proporção de exemplares que apresenta o peito pouco profundo (ACot/AVS<0.95) do que muito profundo. Isto ocorre em ambas as variedades, mas é mais marcado nos machos de. Estalão Altura ao Garrote: Machos:65-73 cm, Fêmeas: 62-69 A tabela VII indica a proporção de exemplares de cada sexo e variedade com diferentes alturas ao garrote. TABELA VI I PROPORÇÃO DE EXEMPLARES COM DIFERENTES ALTURAS AO GARROTE (MACHOS/FÊMEAS) AG<65/62 (Defeito Grave) 4 14.3 3 7.5 5 22.7 3 12 65/62 AG 73/69 15 53.6 30 75 13 59.1 21 84 73/69<AG 75/71 (Defeito) 7 25 4 10 2 9.1 1 4 AG>75/71 (Defeito Grave) 2 7.1 3 7.5 2 9.1 - - Verifica-se que, de facto, a maioria dos animais se enquadra no pretendido. No que se refere aos desvios, notam-se diferenças entre as variedades enquanto que no Pêlo 274

Comprido, os animais apresentando o defeito grave (segundo o estalão) de altura inferior são mais frequentes que os que têm AG superior, nos Pêlos Curtos passa-se o inverso, sendo relativamente frequentes os animais superando a AG mencionada. No entanto, é importante salientar que os 2 machos e a fêmea de e o macho de (filho de animais de ) com maior AG (logo, apresentando pelo menos esse defeito grave segundo o estalão) são exemplares que foram admitidos ao Livro de Registo Inicial por exame de admissão à raça, tendo sido avaliados por juízes da raça. Isto evidencia que, mais importante do que a altura ao garrote, ou qualquer outra variável per si, é o tipo e a construção geral do animal o factor mais valorizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Triquet, R., 1999. Dictionnaire encyclopédique des termes canins (2 ème ed.). Éditions Maradi, L Isle en Dodon, France, 672 pp. Clube Português de Canicultura (CPC), 2005. Cão da Serra da Estrela. [On-line] http://racas.cpc.pt/pt/standards/sestrela.pdf. Cruz, C, 2006. Aspectos biométricos do Cão da Serra da Estrela. XVI Congresso de Zootecnia. 1 a 4 de Novembro, Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Drumond, H.T.S. (Coord.), 1987. Manual de estrutura e dinâmica do cão. Confederação do Brasil Kennel Clube, Brasil, 248 pp. Quéinnec, G., 2001. Intérêt et incovénients des expositions canines. Bulletin Technique de l Élevage Canin, 33: 24-32. 275